segunda-feira, janeiro 17, 2011

UM MOÇO QUE SABE O QUE EU SEI - A voz-olhar de Daniel Gehlen


1-Bem...intitulei esta entrevista como Um moço que “ sabe o que eu sei”.Na verdade faço referência a música de Lupicínio Rodrigues “Estes Moços”.Já explico...A primeira vez que te vi, estavas sentado num dos bancos da Estação da Cultura.De repente, te vi.Tive a nítida impressão que esperava o trem, mas nós sabemos que não há mais trens por ali (ehehehehe).Quero dizer que tive a certeza de que tu irias embora e que cantavas com uma voz de muitos anos atrás.E veja bem...estavas mudo, só olhando, esperando...Tinha o violão descansado na parede, só.É como se soubesse o mesmo que Lupi. Pois bem...Concordas comigo?
Sim, lembro que era durante um intervalo entre o primeiro e o segundo bloco da apresentação que fiz no café da estação de Montenegro nesse encontro.


2-Para além da voz, que é belíssima, carregas um traço na enunciação que registra uma vivência, uma história com a música.Lembras de quando começou  teu envolvimento com esta mulher ( eheheheh), a música?
Comecei a ter aula de violão clássico aos dez anos de idade na Fundarte. Lá aprendi muito sobre violão com meu grande mestre e amigo Daltro Kenan Junior.  Mas antes de iniciar meus estudos na Fundarte, convivia com o ambiente musical em casa, pois meu pai que é músico me influenciou desde quando eu era criança.


3-A nota musical não é passível de ser apreendida. Neste aspecto tem a mesma estrutura da letra: sem a próxima não se diz, não se revela.Porém, na música, a nota tem uma propriedade que é o tempo da nota, sem pensar no tempo que faz a melodia.Este tempo da nota é uma enunciação sem significado, sem ter como nomear.Este intervalo, este vazio , consegues sentir?Como expressa isto nas tuas interpretações?
Acho que cada nota traz em si o que a música por inteira quer expressar no momento oportuno. Sinto o som no corpo, na mente e na natureza. As melodias são diferentes de uma cultura para outra, assim como, de um tempo para outro, pois expressam os nossos sentimentos e nossas vivências em diferentes circunstâncias. É assim que expresso a nota,a melodia, o tempo e o ritmo. Não sei se é bem assim que me perguntastes...(hehehe)  


4-É comum pensarmos no intérprete como aquele que deve dançar,  movimentar-se, para atrair os olhares, a atenção. Percebo, nas tuas interpretações , que fazes isto num movimento de voz e olhar...respiração,mesmo!É que o olhar faz casa, chega e não vai mais embora!Comparo teu jeito com o do Caetano e Chico Buarque, em que sentados, em pé, parados, atraem a atenção simplesmente pelo encanto do encontro. O que pensas destas exigências a respeito de atrair a atenção do público?
Acho que estas falando de desempenho no palco? Realmente, eu fico mais na minha. Mas já pensei um pouco sobre isso e acho que vai de cada interprete mesmo. Ora me sinto mais a vontade para me movimentar com a música que estou interpretando, ora me concentro mais na respiração e no desempenho ao violão.


5-Não são raras as vezes que o artista é contratado para entreter muito mais do que fazer valer a música, voz de cada um. Esta diferenciação entre entretenimento e encontro...o que achas disto?
Isso depende do tipo trabalho como aniversário, evento de final de ano, jantar,  formatura, casamento . Acho que o músico pode tentar entreter as pessoas sem que isso interfira no seu jeito natural de agir. Eu tento agradar as pessoas, mas sem que isso interfira no meu gosto e na minha criatividade.  Contudo, é uma questão a ser trabalhada pelo artista, pois envolve algumas habilidades como saber jogar e negociar com o público. Tem artistas que não se interessam em agradar e interagir com o público, outros fazem disso parte fundamental de seus shows.


6-Então...O Daniel estava na Estação, pegou o trem e...?
Parei em Porto Alegre para fazer faculdade de música e conhecer mais sobre o universo musical.


7-Todo artista passa pelo inferno ( eheheheheh). Quero dizer sobre aquele momento em que parece fora do mundo, que está fazendo nada, que é uma bobagem seguir esta estrada esquisita(ehehehe)...Foi assim?Poderia contar um pouco da tua trajetória?
Algumas vezes pensei nisso. Quando me sento um pouco sem graça abro uma revista de música e leio histórias de outros músicos que passaram por momentos de estranheza com o mundo. Tento me inspirar de alguma forma nos grandes músicos do passado. Daí vejo que o caminho musical é de persistência e de coragem mesmo. Por isso que muitos desistem no meio do caminho sem pegar aquele trem (hehehe).


8-Quais os trabalhos que te deram e dão maior vontade de fazer?Quais os que te impulsionaram a seguir?
Quando estava estudando na Fundarte, participava da orquestra jovem regida pela professora Adriana Bozzeto. Esse tipo de trabalho me chama muito a atenção, pois penso em ter um grupo com violinos, piano, flautas que possam estar tocando músicas minhas. Gosto muito de pensar nos arranjos das músicas e criar música, por isso acho que esse tipo de trabalho me impulsiona a seguir estudando para desenvolver mais as habilidades no âmbito da composição e de arranjo musical.  Contudo, sigo sempre com meu trabalho solo que é outra fonte de inspiração que me impulsiona a continuar atuando como violonista e cantor.


9-O que é ser artista da música para ti?
É procurar sempre pela música. Esteja onde estiver, a relação do músico com a música está sempre no plano do possível, do real e do irreal. É procurar sempre conhecer mais sobre música, descobrir mais e se entregar totalmente a ela. Mas sem dúvida, tentar ter uma relação saudável pela música.


10-Todo mundo tem seus amigos, ídolos, pessoas ou aspectos que dão referência. Com quem ou com o que gostaria de contar sempre neste caminho que inicias?
Acho que com meu pai, meus professores de música e amigos que me ajudam a entender mais sobre essa arte.


11-Nestas vivências como “ encantador” é comum um certo “ despertar de paixões”, geralmente nas mulheres.Como lidas com isto?Tens algo interessante para compartilhar conosco?Quero dizer...indecentes palavras ?
Eu tento agradar as pessoas com a minha música, mas tenho um tanto de timidez. Mas confesso que fico contente em saber que sentes esse encanto de que falas. Não sei bem como lidar com isso, espero aprender mais sobre isso (hehehe).


12-Quais as coisas mais importantes para ti neste momento?
As pessoas queridas e amigas que fazem parte da minha história, a minha família de um modo geral e claro a música.


13-Porto alegre é...?Montenegro é...?
Porto Alegre é demais. Montenegro é minha querida cidade natal das artes.


14-Querias registrar mais alguma coisa?
Adriana, gostaria agradecer pelo convite para registrar um pouco da minha história nessa entrevista! Vou ensaiando “Estes Moços” para um momento oportuno te apresentar. Beijos!


Agradeço muitíssimo ter sido meu convidado. Agradeço e abuso, pedindo que no nosso próximo encontro possas tocar “Estes Moços” de Lupicínio ( eheheheh).Promete?...E mais uma lista de canções na tua voz, que é toda olhar que despe.
Beijo com todas as letras.
Adriana Bandeira

5 comentários:

  1. Logo, logo estarei lendo e curiosa para escutar esta voz... volto de mais ujm momento Vidráguas _ Postigos e compartilho contigo, que foi ótimo. Saudade eseguimos.

    Carmen.

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  2. Adriana, estou adorando essas entrevistas indecentes, hehe! Gostei com o Diego K e agora o Daniel, parabéns, pois essa ação com certeza auxilia a movimentar a arte e cultura na cidade. E quando vai chegar a vez do Válvula? kkkk!
    Abraços!
    Diego Ferreira
    www.escapeteatro.blogspot.com

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  3. Carmen!
    Postiguando?Adorei o verbo.Podes compartilhar conosco?
    adriana bandeira

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  4. Diego!
    A idéia é esta! Vamos fundar a távola redonda no Peña?
    Sexta-feira, as 19:00, na Estação.Vai mais gente!
    beijo grande

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  5. Adriana, é muito interessante visitar e ler as postagens de indecentespalavras. Tenho lido as matérias e acho bem importante essa maneira de tornar visível os artistas e suas produções culturais. Para mim é uma satisfação enorme estar aqui também. Um grande abraço!

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