sábado, setembro 21, 2013

Nesta manhã soube de ti pelas postagens...Enxerguei teus olhos, tua paisagem que nem conheço, que nem experimentei.Partiste e eu nunca voltei.Aguarda-me em terra porque sem saber, sempre te amei.
Luciano P.
Uma memória
de flores
visita-me

sou outra.
Minha morte
Tens esta dor no lado esquerdo, no terço do pai, arroz, festejo...esta sombra quando o sol vem, a morte tua que me tem.
Erótica

Solte uma
das mãos
e a outra
leve insônia
breve espanto
lábios
boca

respira o vento
entreaberto na flor
molhada
tua palavra entrando
sem fim
sem dizer
nada

Como se fosse a primeira vez... meu coração batendo, por cima da blusa, dos olhos, do tempo.Assim, repetição sem repetição...como se fosse a primeira vez, ali no chão.
Quando vem esta neblina,esta densa tarde de luzes, de cansaço...durmo nua no teu braço.
-Não veio....
-Mas como?Ele sempre vem!
-Naquele ano as crianças caçaram vaga-lumes e colheram ameixas amarelas .A mãe os trouxe para perto cantando alguma coisa sobre o sol, a lua...as estrelas.O pai descansando...ouvia ,como menino, esta história toda!
-Mas não era natal?
-Era sim.Quero dizer...era dezembro!...Mas neste tempo eles não sabiam destas coisas de comprar e comprar...e dormiram encantados depois que soltaram as luzes, feito lanternas como barcos no mar.
-Pois é mãe...quem será que inventou o papai noel?
Dias de sereia

Prefiro observar daqui, no meio delas, com as canções calados para quando a noite chegar.As embarcações andam e os deuses, com medo... sonham em sobressaltos.As pedras sempre passam...as pedras são espelhos,retratos.

quarta-feira, setembro 18, 2013

Jorge Ricardo Dias em indecentes palavras

                 Dias de Jorge em ricardias: músicas e letras do menino do rio. 





1- Sabendo que não gostas de saídas sem despedidas rsrsr... prefiro dizer que estamos em festa! Parafraseando: “O começo é estar pronto”...Pois bem, estás inaugurando a retomada das entrevistas em indecentes palavras.Uma longa história, uma longa história...Mas é fato que as entrevistas me emocionam!E simplesmente quando  leio as respostas...choro.Pelo que ali se revela aos poucos, de cada um.Pois bem...Jorge, o que te emociona muito?




Várias coisas me emocionam muito. O que me vem mais imediatamente é a inocência e a beleza. Constatar inocências me renova a crença e a esperança num mundo melhor e também me mostra que o cinismo, que tem crescido, não esterilizou a inocência. Beleza também me toca muito, mais as belezas impalpáveis, as do espírito. Nunca me esqueço do impacto que me causou a exposição da escultora Camile Claudel; suas esculturas, muitas das quais de pequeno tamanho, parecem gritar angústia. A beleza na arte pra mim é muito mobilizadora. Tem poemas que se eu disser em voz alta, corro o risco da voz nem sair. Desprendimentos e fraternidade me comovem também.




2- Pensando nas palavras e no que tens com elas, estas tantas...Que caso de amor é este?



Penso que uma coisa infantil que, nesse caso específico só adultos têm, que é o senso lúdico com as palavras. Você foi feliz ao se referir a essa relação como um “caso de amor”; é uma expressão que sempre uso pra descrever a minha intimidade e prazer ao lidar com elas. Tenho inclusive alguns poemas metalinguísticos sobre isso. É de fato um caso de amor antigo e com todos os ingredientes que todo caso de amor tem. Enamoramentos, inseguranças, rusgas, prazer, crises, alegrias... A palavra é feito larva, sem você perceber te crava.




3-  Menino do rio...Perdoa se soa estranho... mas é um elogio! Talvez pelo que aparece nas tuas criações, este ar de moleque, de graça, de infância séria mas...verdadeira.Nas composições em música...como “Bumerangue”... Isso é uma sintonia marcante que nos convida a brincar!Poderia nos contar um pouquinho da tua história de menino...isso que aparece vez ou outra nas palavras que usas?

Vou tentar. Fui um menino introspectivo. Só depois de bem adulto é que fui me dar conta de um dos principais fatores dessa introversão. Desde os 6 anos eu uso óculos e o grau é forte. Isso contribuiu muito pra que eu limitasse meu universo a um perímetro pequeno, dada a minha visão de alcance limitado. Então isso, de certa forma foi compensado com muita imaginação, ou seja, visão física curta, visão imaginativa, não fisica, potente. Com isso eu frequentemente brincava dentro desse microcosmo que fui construindo. Somese a isso meu gosto inato e precoce pela leitura e dei a sorte de ter em casa o que ler e do bom. Devorei uma coleção inteira de livros do Monteiro Lobato e também uns com as fábulas de Esopo. Rapidamente tomei gosto por toda essa riqueza que foi me fascinando. Lá pelos 11 ou 12 anos tomei contato com a poesia e aos 14 li A metamorfose, de Franz Kafka e gostei muito. Daí em diante acho que fui me tornando cada vez mais ávido como leitor. Penso que essa é a origem dessa coisa imaginativa, lúdica e sonora que perpassa a minha escrita.




      4-   Pois é, Jorge...dizem que o amor não se aprende, ele nasce e teu amor pelas palavras nasceu.Dizem outros que não se aperfeiçoa isso na escola, na universidade, no conhecimento...Não sei, não sei.Costumo pensar que conhecimento e amor andam juntos e que amar é querer saber.Mas, afinal, qual tua formação acadêmica ou de trabalho?

Concordo, Adriana. Porque o coração pode entender e a mente pode sentir, não só racionalizar. Não entendo como entidades uma excludente da outra. Na Física humana duas coisas podem ocupar o mesmo lugar. Meu amor pelas palavras é sim inato, mas ao longo do tempo fui aprendendo a amá-las melhor e também de certa forma retribuir, fazer disso uma interação e não apenas um egoísta sugar de energia. Quanto à minha formação acadêmica...me graduei em Cinema, pela UFF. Não sei até que ponto minha paixão pela fotografia e pelo cinema contribuíram pro tanto de imagética que é a minha poesia. As voltas que a vida dá me levaram a ser, há 24 anos já, terapeuta corporal.






5- Jorge...e as mulheres? E a cidade?

Curioso isso de você fazer essa pergunta casada. Sou um carioca assumida, eterna e irremediavelmente apaixonado pela minha cidade. E até em poema eu já a comparei com uma mulher. O Rio é uma cidade mulher, com suas curvas sedutoras no seu singular recorte geográfico e também por ser femininamente cheia de surpresas. Com frequência nos deparamos  com microcidades dentro da cidade. Santa Teresa, Bairro Peixoto e o Alto da Boa Vista são bons exemplos disso. O Rio é uma mulher dessas que ninguém adivinha a idade, seus encantos nos fazem esquecer desses detalhes mesquinhos. E ela mesmo maltratada mantém seu charme e viço. Se houvesse uma mutação genética que levasse os homens a se auto fecundarem e com isso as mulheres desaparecessem da face da Terra, não creio que a humanidade fosse durar nem mais um milênio. Acho que isso resume minha admiração e reverência às mulheres. Se os homens tivessem um pouco mais da profundidade e delicadeza das mulheres, certamente teríamos um mundo melhor.




6- Dizem que o poeta fala de verdades e que isso é extremamente   político.Nisso penso que não existe um poeta sem a sua denúncia, seu   sagrado destino de dizer o que, certamente, modifica o outro.Não sei se esta intenção é inconsciente,se ela existe na hora da criação.Aliás: como crias teus poemas?Necessitas de algo especial para fazê-los?



Penso que a arte tem sim, um papel que ultrapassa o âmbito do estético. Ela pode formar e mudar consciências, quando não se contenta em ser meramente escapista. Tem textos meus em que abordo questões existenciais, comportamentais, políticas, de forma bem consciente, mas certamente uma parte disso, por estar impregnada na alma, sai de forma menos racional e vem na esteira do lirismo. Receio me estender muito no afã de descrever meu processo de criação, mas vou tentar ser conciso. Meus textos nascem e se desenvolvem de maneiras variáveis. Podem partir de uma palavra isolada, de uma sonoridade, de um estado de espírito singular que me traga imagens que aí converto em palavras para traduzir esse estado, enfim, varia muito e às vezes surpreende até a mim. Vou ilustrar com um exemplo que me ocorreu agora; certa vez estava num reduto carioca de samba de raiz, fui lá conhecer e, enquanto o samba rolava, animado e alto, subitamente me veio ao pensamento a ideia de leveza e a palavra leve e seu duplo significado. Então ali mesmo, nessa situação, mentalmente escrevi um soneto chamado Leve o leve e que, pelo menos conscientemente nada tinha a ver com aquilo que eu estava vivenciando naquele momento. Ah, a música me inspira muito também e adoro escrever ouvindo coisas de que gosto. Me inspira bastante.




7-As preferências existem...não estamos livres delas.Quais tuas criações que mais aprecias?Quais os escritores que preferes enquanto leitor? E os escritores contemporâneos?

Olha, é meio difícil dizer de quais textos meus gosto mais, porque tenho muitos e sou pai afetuoso com todas as crias, mas pra não me omitir e te deixar sem resposta, destaco um soneto chamado Dança, repleto de metáforas eróticas sutis e um poema chamado Continuum que foi escrito de forma circular e de tal maneira que pode ser lido tanto no sentido horário quanto anti horário e faz sentido nas duas direções. Quanto aos meus escritores preferidos, é outra longa história e pra encurtar vou só citar alguns, tanto poetas quanto prosadores: Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Franz Kafka, Edgar Alan Poe, Fernando Pessoa, Jorge Luis Borges, José Saramago e Manoel de Barros.




8- Jorge...sexo, drogas e rock in roll...?O que dizer?



Sexo, se não fosse ele, não estaria aqui dando essa entrevista e não teria ninguém pra lê-la e nem vc pra fazê-la. Com o tempo aprendi que cada um vê as coisas da vida com sua ótica particular e que não devemos ser prescritivos das nossas “verdades”. Relutamos muito ainda em admitir, mas somos cheios de preconceitos. Sexo só tem sentido com amor? São prescrições. Prefiro tentar aceitar a diversidade dos hábitos e conceitos humanos. Drogas, já experimentei cannabis, o santo daime, álcool e açúcar (risos). Só não tenho nenhuma vontade de experimentar as mais destrutivas, mas de novo friso que prefiro não julgar quem as consome. Rock and roll eu curto até hoje, mas sou meio chato e só escuto o que acho realmente bom, assim como no jazz, na música erudita, na MPB, etc. E “sexo, drogas e rock and roll”, eu acho que cada um pode ter a sua versão subjetiva. Eu tenho a minha. Mas isso não publico (risos).





9- Estes dias informalmente falávamos de fantasmas...O que são eles para ti? Ou melhor: eles existem? rsrsr



Tua pergunta me fez lembrar de Sartre, que disse: “o inferno são os outros”. Remete a incompreensão, incomunicabilidade e solidão, mesmo sem estar sozinho. Esse certamente é um fantasma que assombra a muitos, à maioria, eu diria. Amor não correspondido também produz fantasmas meio resistentes a rezas fortes. Mas o consolo é que os artistas sempre arranjam um jeito de tirar proveito mesmo disso e fazer boas limonadas de azedos limões-fantasmas.




10-Terapias?Terá...pias? rsrsr



Vomitar na pia pode ser uma boa terapia, ao menos emergencial, pra aliviar a pressão. Mas se você está perguntado se faço ou já fiz terapia e o que acho disso, eu já fiz, mais de uma vez, diferentes linhas, atualmente não faço, mas se achar um dia que estou precisando, volto a fazer. Dependendo da empatia entre terapeuta e paciente, o que considero fundamental, pode ser muito proveitoso.




11-Tua poesia, para mim, traz um frescor estranho. É familiar demais, naquilo que conserva a rima, a ficção e por vezes ela me faz lembrar minha rua da infância onde a turma jogava bola e não tínhamos hora para dormir. A rua era nossa casa! Tua poesia me faz lembrar disso e...na verdade são ruas distantes, a minha e a tua. Jorge...como pode a lembrança abrir lugar na letra de um outro?




Adriana, só posso entender isso pela ótica e pelo sentimento da humanidade que nos faz iguais. Alguém (quiçá varios alguéns em diferentes momentos) que agora não lembro quem pra citar, disse que quanto mais particulares somos, mais universais. Curiosamente é isso mesmo. Não é por acaso que escritores como Dostoieviski, Shakespeare, Pablo Neruda, cineastas como Felini, Akira Kurosawa, Glauber Rocha, pintores como Da Vinci, Picasso, Portinari, músicos como Bach, os Beatles, Tom Jobim, artistas de diversas culturas e línguas, com suas vivências e expressões artísticas tão locais e particulares, são tão amados, cultuados e conhecidos no mundo todo. A minha rua e brincadeiras infantis é muito afim com a tua e certamente semelhante, mesmo com suas diferenças geográficas e culturais, à maioria das ruas e os personagens infantis que as povoam.






     12-Filhos...Pai...?

Tenho dois, já adultos e o caçula mora comigo. Sou meio o arquétipo do pai amigo e de doce convivência. Neste momento estou fazendo a revisão da monografia de conclusão da faculdade da minha filha. Meu caçula faz aniversário junto comigo e todo ano comemoramos juntos e no grande estilo que essa coincidência merece.




13-Blábláblá blog, artistas de rua...e um encantamento pelo que não é tão visível,é detalhe, é o dia a dia da tua poesia...Concordas?O que te faz escrever?

É, acho que concordo sim. Você observou agudamente bem, o encantamente pelo que não é tão visível e o desejo meu de através da escrita trazer isso mais à tona. Tem sim o detalhismo que torço pra não “soar” enfadonho (risos). O que me move a escrever, além do encantamento pela palavra, seus significados, o que elas podem traduzir em termos de ideias e sentimentos, além da sua musicalidade (ser também músico me ajuda nisso), é a necessidade premente de me expressar e meu canal mais fácil pra isso é a escrita e em particular a poesia.. Confesso que não consigo nem imaginar como eu seria hoje se não escrevesse. A escrita, mas devo acrescentar que em quase tão grande escala, também a música, já que amo musicar meus poemas e transformá-los em canções, eu adoro canções, a escrita me constitui. Escrever me traz certo alívio não sei bem de que, talvez das inquietações internas. Meus poemas são minha prole impalpável, são órgãos externos ao meu corpo físico com funções semelhantes aos internos, ainda que abstratas, de metabolimso, nutrição, excreção, oxigenação e circulação.









14-Gostarias de dizer alguma outra coisa?



Quero só dizer que adorei a entrevista, que ela me levou a conversar com o leitor e com você sobre coisas relevantes sobre mim e pra mim e que o mundo ainda vai ser salvo pela beleza. Muito obrigado por essa auspiciosa oportunidade. Um beijo!






Querido Jorge, muito me emociona esta tua visita em indecentes palavras.Por ter sido tu a vir, depois de tanto tempo!É que a casa estava fechada para reformas... necessárias! (esta coragem que se tem quando é desejo escolher!) Pois bem, nesta rua tão tua, tão minha sinto-me honrada com tua chegada, naquilo que nos toma em parte como estrada, este amor que nos faz dizer, cantar e escrever.Esteja sempre convidado , em indecentes palavras...pelo que nos faz crianças ou pessoas...na rua da nossa casa.



Beijo com todas as letras!

Adriana Bandeira
O amor fora das telas

No filme adotei teu traçado,moço, bandido,afilhado, o padre e a puta vestida de fome e de dor.Mas o vento falou tanto,tanto...Ouça, meu amor, hoje abre a porta com cuidado e deita em concha, mar, azul sagrado, no fundo do meu lado sul.Lá te recebe como porto, cais, estrelas,guias loucos o que nos couber...para desenharmos enquanto a chuva não vem.

O sonho e a morte
 
Briguei com o sonho a noite inteira...sobre a razão das coisas, dos assombros, dos medos.E foram tantos argumentos que, ao final, ao final de tudo, me convenci de que o sonho é independente.É...porque por toda a infinita certeza que tracei com palavras e gestos e cheiros, com as precisas verdades escaneadas da mídia, do dito contexto...ainda assim, silenciosamente ele aguardava.Sabia que o cansaço me tomaria.
Por alguns segundos, horas ou gestos, esta noite, uma borboleta me visitou com suas delicadas cores, no céu que carrega em si.O sonho é como a morte dos argumentos...Ele apenas vem, e fim.
Pedra palavra

A " pedra" que mais gosto...é a pérola.Mas sempre desconfiei que não era uma pedra.Ela tem esta coisa de entranha, esta cor de camada, de terra, do tempo.Temos tantas, como as ostras,...esta cicatriz que oferece ao mundo,uma outra palavra.

terça-feira, setembro 17, 2013

Somos diferentes, Sancho.O que desejo é somente colher as flores! Meu senhor, não há colheita delas.Rocinante leva água, pão e armas! E nós mesmos... apenas as espadas! Silêncio Sancho! Não escutas as vozes que as estradas nos trazem? São as flores que nascem e eu as colho.Estou com os olhos cheios delas...para que Dulcinéia me tenha para sempre.
O vento entrando
flor de sinais na pele
cicatriz de espada na palavra
febre
Na fotografia
estava o vento
que partia
em dois
o antes e depois

na terra e na flor

sexta-feira, setembro 13, 2013

E o mar nasceu com o barco, que desenhou o cansaço do vento....Vela!
Quando tem cheia de rio, aperto o nó na garganta.Perco o Leco que foi com a última vez da andança.Um barco passava e recolhi: as roupas, o frio, os guris...Mas o Leco só abanava o rabo e não entendeu a gente.Leco não dormiu mais aqui.Arrumei outro, preto, igual mas de latido estranho.E depois de agora, dois anos...a cheia volta a lembrar.Que Leco vou botar no lugar?Apesar disso gosto da cheia...dá esta dor de saber...que a estrada não tem fronteira.A rua, no ano que foi, há mais de muito depois...tinha o barco maior no meio do meu galinheiro...e eu me senti dona do lugar inteiro!Gosto de rio que se enche, que se engravida e volta, que ninguém entende e xinga e gosta...mata,morre, emagrece, engorda.O rio é mulher, vez ou outra.
Ignoro as cores que não te contam em segredos... és página de um livro e embora exista o destino, ele te perdeu.Ficaram as fomes e os vestígios do desejo teu.
Diz-me que não entendes uma palavra do que digo .Mas é verdade que a cada não dito, te ergues diferente ...por vir a ser.
As casas são diferentes.Tem seus barulhos e cobertas nas janelas.Os fantasmas...coloridos ou transparentes .Decentes ou indecentes.São alegres ou tristes...são estrelas ou sol poente.Podem ser xícaras de café ou uma música certeira.Casas são passageiras...deste simples desejo de estar.
Na linha da mão o pequeno dorme escondido.Estrada que segue sem estar sozinho.Deus deu-se ao tempo, seu destino.
Descansava na paisagem das cores, um vermelho sem tamanho, sem fim, sem nome! Este rastro do sangue das coisas que escrevem, sem que as tomem.

domingo, julho 28, 2013

Poemas para crianças

Para Anita, Luiz, Cássio, Carolina,Luti,Deise, Daniela,Joana,Ester,Maira,Aimée,Léo,Gui,Vagner,Fantasminha Pluft Georgius,Andressa, euzinha,Carlos,Silvio,Naná,Júlio,Neni,Gi,Jú e toda a galera que está vindo aí!

...E tinha um livro que não se podia abrir...um livro esquisito guardado a sete chaves no jardim.Um dia abriu-se sozinho e de tão colorido...vôou pelo dia, pela porta...só para mim.
Para Anita e as crianças, as mais de mil...de todos nós!


Lá na noite
tem um gato
que se esconde
no retrato
da vó
ela que rodopia
quando a gente
nem sabia
que fantasma
não dança só


agora entendo
o sapato da bailarina
que me leva
feito sina
a saltar
sem nunca
cair

a avó deve rir de verdade
já que estas coisas
nem tem idade

estas que vieram antes de mim.
Perdi o sono quando a luz da noite entrou no quarto.Pé ante pé queria o tempo repetido, cada segundo sentido como parto ao contrário.Voltando ao instante antes...assim, meu amor, como enrolar teu cabelo na ponta dos meus dedos.
...a lasca de pele, arrepio... pulsando como semente no meio da alma.
Pés enlameados, com a lata de girinos embaixo do braço.O joelho aberto e dentro, deus! na sua cor laranja avermelhada.Eu não sabia que o mundo não era a casa da tia.Mas afinal, sempre se chega assim...com a aberta ferida do desejo de mais.
Trechos da entrevista à estudante Chaiane Stalter, de Portão:


"... Bem...não decidi escrever.Na verdade é uma necessidade minha, diária.Somos todos escritores porque o inconsciente teme sta estrutura da linguagem: metáfora-metonímia.A escrita é da natureza humana...como o sonho.Porém, alguns registram, publicam, são reconhecidos como escritores.A minha escrita nasceu de uma impossibilidade, quando ainda eu me alfabetizava.Havia dois extremos: a minha facilidade e o discurso materno dizendo que eu teria problemas com a aprendizagem.Eu tinha umas dores de cabeça que com o passar do tempo...revelou-se como sendo enxaqueca.Isso assustava minha mãe que achava que...eu não ia "aprender".
Em análise recordei uma leitura, antes de ir para o colégio...ou seja, antes de entrar no primário eu já lia! Era uma placa próxima aos trilhos dos trens.Dizia: parar, olhar,escutar!Reconheci ali também a minha escolha pela psicanálise! rsrsr Pois é...é nisso que penso na grande diferença entre analisar( estar a frente da análise de alguém) e ler.Acho as duas coisas extremamente parecidas e importantes.Bem...a única diferença é que quando leio, a letra ainda é minha, ou seja, eu me dou ao direito de interpretar como bem entender.Mas, na análise do outro, preciso escutar a letra que não é minha, a palavra que faz diferença não para mim...mas para o outro.Escrever...Ah! Como não falar de si numa letra, numa palavra que é única e sua? "

"...A minha inspiração para escrever é, simplesmente...o som, a palavra, a coisa...qualquer coisa! rsrsr Como eu disse...o poema está lá...basta somente recebê-lo. Gosto de vários autores de diferentes estilos!Sou uma vampira!Gosto não somente da história mas da letra, do sangue do autor.Gosto de pensar de onde ele escreve,d e que lugar subjetivo ele fala! Nisso amo: Clarice Lispector, Saramago, Garcia Marquez,Ítalo Calvino, Lacan( psicanalista),Freud, Cervantes, Sheakspear,Carpinejar,Fernando Pessoa...Gosto da poesia em música de Silvio Rodriguez(poeta cubano),Adoro Pablo Neruda...enfim...estou convencida de que gosto de tudo o que me faz outra."

"...Gosto das tradições gaúchas...mas as de verdade!O que vemos são pseudos tradições, são traços de costumes que não tem lógica alguma.Por exemplo: uma das tradições do gaúcho é o trabalho, o campo! Onde assistimos os movimentos tradicionalistas juntarem-se aos movimentos de preservação, de crítica aos agrotóxicos ou outras questões? Nosso hino é belíssimo mas....atualmente, quando assistimos a luta do gaúcho pelo que lhe é de direito? Então relembro uma belíssima poesia-música de Mário Barbará:"sopram ventos desgarrados carregados de saudade..."

Querida Chaiane Stalter!Agradeço tua atenção e vontade de saber da minha escrita, da nossa, desta coisa toda que é viver num tempo e lugar.Espero ter podido te auxiliar mas, digo com toda a minha verdade, tu me auxiliaste muito...porque escrevendo estas coisas para ti, reconheci outras que eu havia esquecido, me fiz diferente ...e te agradeço, para sempre, por isso.Beijo grande!
Qualquer dia destes te recebo com ar de domingo e como vinho tinto mancho minha vida para sempre.Num destes dias, faço a comida, coloco a mesa e uma música dos anos 80.Assim, num destes sonhos, no Natal e na Páscoa compomos...um poema simples, sem palavras.Qualquer dia destes...a vida nos cala.

domingo, junho 02, 2013

Procuro teu verso na chuva , nas partes úmidas da terra, onde meu corpo nasceu.Não percebes que não tenho roupas sem o desejo teu?
Poemas de rua

A calçada desenhou uma palavra com giz.E foi onde aprendi a ir de mim, de ti...de tudo o que não desenha mais, como o outro lado da rua faz, antes de também seguir.
Dias de mulher
Ando no sempre da volta terrestre.Circulante, estreita, uma lágrima de tempo certo.Ando no sempre de uma descoberta, e se me quiseres...não espera: pega-me pela simples mão.
Aos poucos componho meu quarto, engano, meus livros e discos estranhos.Aos poucos construo minha casa, minha cama, minha parede de sorrir.Aos poucos volto do mundo como morri e sem esperar nada, sem que saibas, volto por ti.
Da série: Freud e eu
-Então combinei estas coisas comigo...Estes dias ...já faz tempo...conversava com um amigo poeta.Ele compartilhava o mesmo medo que eu.Ele dizia: Adriana...e se eu fico um velho solitário e cheio de manias! E se eu perco a crítica e nem tô mais nem aí? rsrsrs Mas...na época eu também comentei deste meu medo...
-Medo?
-É...de ficar com as manias ahahahah
-hum! Boas?
-como assim?
-Boas manias?
-Ah! Bem ...não sei.Este é o problema!
-Quais?
-hummm ...Dormir vendo tv, tomar café em silêncio,escrever, escrever, escrever...O que mais? Ficar de pijama, não supervisionar o serviço da empregada ahahah...
-Não! Quais os problemas?
-Ah! Bem...naquele dia pensei que tinha medo.Mas nem isso tenho mais!
-...
-Talvez uma saudade...estas de quando eu queria mais do que isso!
-Como assim?
-Quando eu queria mais do que a verdade...será que eu era mais feliz? Não sei.O que eu sei é que hoje não quero mais do que um dia de verdade, de gente de verdade e de palavras de verdade.E quando o dia termina, estou feliz!
-O que é mentira?
-Como assim?Acabei de dizer o contrário! Começa tu aí com isso! Tô falando sério! Não há mentiras!Chego em casa, feliz!
-Esta é uma.
-Como?
-Toda verdade surge daquilo que é seu não.Para que chegue no dia que desejas...ah! Quantas mentiras tens que inventar!
-Não.Acho que estás saindo do teu lugar de analista e fazendo algum juízo de mim.Oras Freud!Vem com esta para cima de mim?
-Analista? Lista de " as" ?
-Como?
-Lista de "as"...conceito lacaniano: a= objeto causa do desejo.Uma lista grande de causas, de coisas que fazem desejar viver, trabalhar e amar.Tuas causas!
-Acho que tu não és do tempo do Lacan...então não podes falar.Aliás:Tu já não morreu,hein?
-Repara que nem o que enxergas é da cor que realmente é.Repara que nem o que desejas, na continuidade das horas...é o que sentes.Repara também que...o que surge é o desejo.E o que surge ainda está por vir.A verdade...está...onde?
-Sem fim.
-humm...
-Mas gosto de arrumar minhas coisas, minhas músicas, meus pertences.
-Até o ...
- objeto a?
Ficamos hoje, certo?


Como pode
o traço
da mão
ser breve e
passageira estrada
para tua boca
teu corpo
tua palavra
como pode
o destino
recordar
do nada
o dia
a hora
a fala
em que o desejo
te desenhou
em mim
Pele

Na pele
da cor
das horas
esta fresta
estranha
da palavra
agora
pedindo
mais do que
o tempo pode
nunca dar
pedindo
para
ficar
Dias de sereia
E na pressa das pedras o pó construiu uma palavra e mais uma e mais.Fui invadida por estrelas nuas, letra por letra até aprender a nadar.
Poemas de rua
E se na rua a hora da febre me tomar, serei parte, estarei em casa, como o vento que passa, como uma forma de amar.
Dias de tristeza
Quero uma palavra que me dê o espaço, buraco da urgência do ir; quero uma voz que me chame no tempo em que aprendi a sorrir.
Poemas de frio

alcança
a pétala
da letra
para vestir
a flor
de inverno
que se
aquece
somente
da palavra
que vem
deste rio
Dias de solidão!

E nas vezes em que estas dores estranhas me acordam, quando sou pequena ainda, como agora, tenho medo do que não lembrar. Permito-me recolher somente os restos de antes , as palavras de antes , as flores que nunca murcham e a água que leva os barcos sem mar. Como parte infinita faço listas, poesias, para guardar como relíquias tudo...sem conseguir o tudo que nunca há.Lembra das corredeiras? Elas não param...quando estou assim! Ainda ontem...te ouvi e hoje há uma chuva sem fim lá fora.Ah! perdoa se a chuva, o mar, e as fomes turvam meus ouvidos neste embaraço de cores! Mas quando assim estou pequena e quieta...não consigo escutar nada que não me faça lembrar de quando aprendi a falar!

sexta-feira, março 29, 2013


Contornos

Voltaram um a um das profudenzas, das correntes estranhas, da camada fina que nem é todo o mar. Retornaram aos poucos, restantes, exauridos...dos anos descobertos na quietude sem par.Todos, aos poucos, respirando a verdade que sempre há, iluminados pelas velas do vento que sabem falar.Os barcos, todos eles...voltaram para me levar.

sábado, março 23, 2013

 Encontro

E nos dias de frio, colher flores de primavera, como nas noites de antes do fim.E nos calores escaldantes, aliviar os pés nas águas das pequenas vertentes, adolescentes, como sempre ainda somos, por fim.Ah! E nos silêncios que a solidão traz, dar as mãos e escutar, não a voz!...mas somente a respiração.Quando isso acontecer...estarás, estarei.

sexta-feira, março 22, 2013

Significante

De mim nasceram juncos, espécimes estranhas de caules.E brotaram folhas e seivas.Eu nem sabia que era árvore!

quinta-feira, março 21, 2013

Som

Não costuro mais as palavras!Visto-as como são.Absolvido das tantas culpas, o tecido é o som... das coisas que nos trazem a fome, do silêncio restou.(Adriana Bandeira)

terça-feira, março 19, 2013

Não quero teus cabelos  de volta!Amo a falta deles ...nas  tuas costas desguardadas.
Luciano P

Aprendendo a falar
 
sobre a mesa
sem pressa
tua flor
esparramada
feito palma
destino
mãos

ainda o vaso
vazio
da palavra
na pele
aguardada
como próxima
canção

no gesto de taça
este líquido
esta dor
nisso tudo
que
hoje não

segunda-feira, março 18, 2013

 
 Dias de antes
 
nas primeiras horas do tempo
no plantio das sedes
das vinhas
era o sol
que nos cegava
a fonte
as fotografias

e de agora
tínhamos pensado
em voltar nas tardes
como antes
perdidos em traços
amarrados
na saudade que nunca
há de ser
verso

repara que em nós
só resta
o que plantamos
nas mãos a ternura
de quando
acreditei
em nunca
partir.

sábado, março 16, 2013

 Borboleta

Eu não sabia que as tuas mãos me abririam assim.Um escultor...pousou em mim.

quinta-feira, março 14, 2013

 Lembrança

E tua frase presa na garganta como a telha da casa da infância terminando a construção.

Amantes

Ouço pela fresta tua procura.E me queres! Olhas na cozinha, na sala...no pátio.Eu estaria colhendo flores? Caminhas pelas ruas, pelos bares.Eu estaria dançando?Ouço somente pelos buracos tua ânsia sem palavra.Há tanto tempo não me falas e não me vês.Ouça-me...lá não estarei.Olha para o lado...enquanto matamos um leão por dia.

quarta-feira, março 13, 2013



Cobertor
 
Onde andavas? Se é da espera das cartas que falas...não as enviarei.Quero tuas palavras ao pé do ouvido.Te ouvirei,te ouvirei.
Irei logo...irei trem.

Luciano P.

 Nua

Cortei os cabelos
os receios
agora os beijos
não há mais nenhum
atrativo em mim
somente tem
a outra
minha
a que está
por vir
Dias de abandono

Diz que não é dor esta vontade esquisita , esta batida aflita que a pele reclama aberta.Diz que não é saudade esta ferida que arde de quando eu diria que sim.

segunda-feira, março 11, 2013


  Teu cheiro

Tenho um gesto preso na garganta e minhas vozes queimam em doses de sereno.Falta-me isso que reclamo, que chamo estranho.Tenho teu nome rasgado em flor desenhando meu sexo, meu outro ,meu inquieto sonho, porque me acobertaste o segredo.

 Trabalho diário

A calmaria traz uma onda diferente, nos dias quentes, nos dias frios.Quando o silêncio habita as pedras temo que as primaveras serão tardias.Há de verter a verdade, nas estações da palavra saudade, e ternura nos barcos que vem.Canto...mesmo sem saber.

 Para o cavaleiro

pactá,pactá,pactá,pactá....Ouça! É o silêncio anunciando a estrada.São cavalos ...fomos roubados! Psssiuu!...é a madrugada dizendo adeus.Seja gentil com ela, pois está sempre só.

 Mar

Os pássaros anunciam chão que flutua, destas verdades da carne crua: onde há céu existe um mar.Mergulho só para encontrar.
 Tatuagem

O dia escreveu uma palavra aqui em mim.E "coragem" adormeceu no cansaço destas horas tantas...O dia nunca aprende para sempre. Ele volta sempre a escrever.

 Flor de dentro

E eu coloquei esta flor no cabelo para enfeitar a luz do teu rosto moreno ,quando me toma sem querer.Pintei os olhos e a boca... só para ser tua a flor que trago dentro de mim.Não te apresses ...dentro e fora são meus fins.


Pele da manhã
 
Depressa, depressa que a manhã já chegou e as cobertas devem apanhar sol!Urgência da pele: que respire , que se entregue...ao calor dos tecidos, palavra de amor!

Galope galopando...

Num" lembro não senhor! Foi só um galope..."galopando".Um desses de zunir ouvido de cão.Eram muitos, tantos!.Andantes como os outros, foram passando.Deixaram esta poeira, depois da promessa!.Sempre é assim! Poeira!.Mas nem dá para reclamar!Gente que é gente tem destes ventos , estes farelos.Onde se vai... se deixa resto.Eu aqui deixei de querer mal.Até ajuda a passar o tempo.Porque , este sim, o tempo, que não deixa nada prá trás.Falo por experiência, que lembrança não é resto.É dor de viver para sempre cada coisa que nunca foi.


 Uma questão do tempo
 
Já ias longe quando gritei que sim.E voltaste correndo, desde o mar aberto,coração ainda no peito.Como pôde ouvir-me há tantos anos luz de tempo?

 Espécies

Frio...tímida espécie que treme, bebe e ama.Frio é o prazer da cama, cálice para onde voltam todos os pássaros.


Sons do mar
 
São as nuvens , tuas carícias que abrigam os barcos clandestinos.E são sempre subersivos, os que levam e trazem tuas mãos.

 Cegueira que fala

Tenho os olhos mordidos pelo teu silêncio de fogo.Letra por letra, língua pátria!, tudo o que vejo tem nome.

 Covardia

Percebo o dia que traz a chuva.Com ela, a pele úmida, molda as escamas, escritas da pele.A chuva molha e seca, o tempo aberto de espera pelo barco que no tempo partiu.Não seria a saudade o que faz tecer a verdade, na rede de pesca covarde, no invento do fio?
 
 Um tanto!
 
O que necessito é este tanto, esta espécie rara de encanto que me falta.O que necessito é todo "o isso" que se faz construir.E nada está pronto,nem tão perfeito.O que faz precisão: teu desejo! que me traz o amor como denúncia no peito, por te encontrar por aqui.

sexta-feira, dezembro 28, 2012

E se me prendes esqueço a maré.Lavo as roupas,faço café. Só lembro de ti assim, quando escrevo para ti...língua de antes de mim.
Não carece de nome, doutô, o que faço ou deixo assim no descanso.É só esta mania de fazer do barro mais que a sorte...Meu canto!.Mas se lhe fizer um agrado dar o nome de louco, sou sim...que isso lhe traga um tanto.Mas não leve a mal ou bem, o nome nem faz minha reza.Gosto de amassar a terra e dela tirar o que vem.Só não sabia que era pecado cavar coisa assim sem destino e fazer lata,panela ou carrinho, da lama que vem dali.Achei que no cemitério, a chuva do corpo da gente, dava para a lama um ar de semente...e fui escavar logo ali.
Mas não reclamo não...minha única prisão é "apaixonar" por ela...esta solidão.(Adriana Bandeira)
Mar calmo, sem embarcações.Penteio o cabelo perto da alma das pedras,que elas guardam as palavras.Escuto,gravo na cauda e depois...nado assim, como se fosse tudo
E se me pedes ternura, te dou meu segredo: teu desejo,teu desejo,teu desejo desenhando meus dedos .Teus lábios, sem medo.
Palavra por palavra

E se na madrugada fria tomares minha garganta como vinho, partitura, nestas estações que oscilam, em que sou tua...E se nos calores das febres ainda restar meu colo como o que te encaixas, e se me fazes uma outra mulher a cada nova taça...que seja por fim tua voz a minha pátria! Palavra por palavra.
Nas luas, como esta...aguardo os peixes que trazem os anzóis.Pescadas as letras, recolhidas em balaios grandes ...são dadas em sacrifíco. Estes deuses aparecem nestas grandes ilhas sem terra e nos matam se lhes oferecemos canções.Assim, canto somente se me pedem, sem medo do próprio amor.
leve
quando perco
o sono
o cansaço
o abandono
leve
assim
quando me
perco de
mim
de ti
leve
no encontro
com o que
vem
leve
me
...

sábado, agosto 04, 2012

Voltando para casa

Quando me fala esta falta tanta, este cansaço estranho...é quando encontro a margem da rua onde nasci.De pedrinhas, estrelas salpicadas de pés e tudo o que viria sem dizer que sim.

 Querer-me

Diga-me sobre esta versão esquisita ,farta,morta, escondida.Cale-me nesta loucura certa que diz ser verdade o que não era.Faça-me em carne e osso e pele ... transparente como nunca imaginei sorrir.O que me desenha assim?
 Pertencimento

Pela sombra do telhado, ainda há noite no frio. Sombra no chão desenhada, velha ,estreita,nunca amada...Quem há de dizer: és minha outra a cada vez?
Esquina de mim
 
Percebo o tempo nesta dobra diferente do dia em que esqueço,esqueço,esqueço; na ternura dos olhos na madrugada,o prazer estranho de sentir frio e solidão, vontade encarnada de cada segundo de estrada.Percebo o tempo nesta esquina da cidade em que perdi,perdi,perdi...um jeito infantil de dizer não.

 Terra
Acharam-me estranha ao voltar correndo no tempo, com uma roupa de algodão, ao descer das horas de colheita de uvas.Apontaram-me diferente quando entreguei os dias de abrir estradas e as madrugas a tecer roupas de lã.Olharam-me em suspeita de que havia enlouquecido porque não exitiam mais as uvas e nem o frio.Colocaram-me numa roupa diferente, rindo feito gente dos que chamam sonho de loucura e saudade de dor.E contiuamos ...Araram-me, araram-me...terra semente e flor.
Onde vais? Vou na frente para saaer de ti...meu desejo.(Adriana Bandeira)
“NOSSO REI MANDOU PEDIR UMA DE VOSSAS FILHAS... EU SOU POBRE,
POBRE, POBRE...Falando da vida com Kleiton Ramil

1- Preciso dizer que aqui não estou isenta, como estes entrevistadores. Não!

Realmente sou parcial rsrsrrs e sinto-me muito bem em falar também. Pois ao
assistir e ouvir a música Bry, à mim, além da beleza da letra, surgiu um som
diferente, de intimidade revelada... como se através dela o compositor quisesse
dizer mais. Isso não é comum a mim. Então lembrei da melodia, daquilo que
cantei em criança, esta denúncia que nem mesma eu sabia: eu sou pobre, pobre,
pobre de marré ,marré, marré... eu sou rica, rica, rica... A parte que mais me
chama a atenção é: nosso rei mandou pedir uma de vossas filhas. Nesta parte
sempre fiquei pensativa... Afinal, sempre alguém, o mundo... nos pede nosso
filho, nossa produção... nosso traço, querendo ou não. Então pensei em Bry
como uma entrega. O que podes me dizer disso, desta tua canção e a história
dela?

Quando morei em Paris, início dos anos 90, fiquei surpreso ao perceber que todas as

crianças conhecem no Brasil essa canção que era praticamente desconhecida por lá. “De
Marré Marré Marré...” refere-se ao bairro Marais, hoje cultuado pelos franceses e a
canção faz referencia aos ricos do Marré de baixo e aos pobres do Marré de cima.
Essa canção infantil caiu como uma luva para abrir a música BRY criada a partir
dessa experiência marcante em minha vida, que foi morar na França. Fiz muitos amigos
por lá, resgatei Kleitons que havia perdido pelo caminho, descobri personas que até
então desconhecia, e remocei uns dez anos pelo menos. Por isso compus esse tema para
levar comigo e dividir com as pessoas aspectos desse momento tão forte. A letra fala
de Bry-Sur-Marne, uma pequena cidade próxima à banlieue parisiense, mas o que as
palavras não conseguem expressar vem através da melodia, da harmonia, das células
rítmicas.
Sim, Bry é uma entrega intensa, parte de minha vida transformada em música,
tanto que ao concluí-la chorei muito movido por enorme gratidão de ter conseguido.
Aproximar-se da forma ideal, ao criar , produz uma avalanche de emoção incontrolável.
Quase todas minhas obras musicais são biográficas, ou pelo menos tratam de coisas
que vivenciei, mas umas são mais verdadeiras do que outras, no sentido de conseguirem
expressar melhor o que se pretende. BRY é uma dessas canções...

2- Lembro dos Almôndegas, do sucesso da dupla Kleiton e Kledir... mas agora é

como se fossem outros, diferentes, melhores. Isso é assim, para ti ou... o público
cresceu, tomou outra forma?

O período do Almôndegas foi muito bonito e poético. Uma grande escola de

vida. Imagina um grupo de amigos (o grupo surgiu de uma turma de 25 pessoas
aproximadamente) todos apaixonados por música, vivendo de roldão atrás de seus
sonhos? Tudo era paixão e deixar acontecer. Nada muito planejado, mas que trazia
importantes resultados movidos pelo prazer diretamente gerado pela música. Havia,
por outro lado, muita ingenuidade e falta de experiência,de profissionalismo. Hoje,
olhando para trás percebo que foi o início de tudo e meu percurso profissional foi
dar prosseguimento aquilo tudo, e até antes daqueles anos 70. Mas ali deu para
perceber que podíamos ambicionar ir muito adiante.
Tanto eu, Kledir e público crescemos juntos acumulando novas experiências
músicas, muitas viagens, estudos, troca de informações com outros artistas...

Muito do que sabemos em música aprende-se fazendo: “O caminho se faz

caminhando”. Mas a isso agregue-se diploma de engenharia + de composição e
regência + mestrado em composição + gostar de pesquisar + curiosidade infinita
+ jeito pra coisa... Daí pode nascer um artista. Não tenho dúvidas que estou sempre
em evolução. A vida artística é muito generosa nesse sentido.

3- A música, o tempo da nota musical... já é uma poesia. A melhor! Então não é

raro que eu pense ser redundante poesia musicada.Porém, existe a letra que casa
com o som e numa parceria belíssima se tem mil poesias. Neste aspecto...poesia,
poesia, poesia. O que é poesia para ti? O que é música?

Não se sabe quem pela primeira vez teve a ideia de juntar um texto a uma música.

Mas com certeza deve ter levado um enorme susto. Há muito poder na música, há
muito poder na poesia. Esses dois mundo reunidos tem um poder incomensurável
e, certamente, instigante se for observado de perto. É maravilhoso, como você diz,
quando as duas vertentes parecem nascidas uma para a outra. Mas não é simples de
dominar essa questão. Prosódia é algo que faz criadores de música mais exigentes
enlouquecerem. Quem sou eu para definir música ou poesia? Só posso dizer que são
boas razões para viver.

4- Quando resgatamos o autor, sua vida, seu cotidiano é somente para apresentar

o quanto é do humano estas “ tais produções artísticas”. É somente destes, nós
mesmos, que pode surgir a arte enquanto trabalho/produção. Quem é o autor de
uma obra?

Muitos anos atrás, compus uma melodia (vocalize da música Circo de Marionetes)

que tinha orgulho de dizer que era uma de minhas mais belas criações melódicas.
Décadas se passaram e, um dia, eu escutava uma obra orquestrada de Mozart quando
ouvi surpreso uma trompa tocando exatamente aquela melodia. Desde então, como já
desconfiava, entendo que um compositor, o autor de uma obra de arte é um repassador
de cultura. Absorvemos tantas coisas interessantes durante nossa vida... É preciso
esforçar-se para merecer esse dom. Receber, repassar. Não é algo de pouco valor poder
servir à musica. É preciso estar disponível.

5- Bem...rsrsr, então vou arriscar: quem é Kleiton?


Quem sou eu? Essa é uma boa pergunta que tenho feito há bastante tempo.


6- Sair do Sul, voltar, turnês, e... a vontade própria. O que é “ a vontade própria?


Olhando para minha carreira, tudo o que se passou comigo, de bom e de ruim, acredito

que fazem parte de um plano, um destino traçado, sobre o qual temos pouco poder.
Claro que todo tempo esforcei-me para imprimir minhas ideias, mas os resultados são
misteriosos.

7- Quando estiveram aqui em Montenegro “Kleiton e Kledir” lembro de uma coisa

engraçada.Passei na rua por ti. Caminhavas pela cidade. Gostas de conhecer os
lugares, as ruas, as entrelinhas? O que são “as entrelinhas”?

Sim. Tenho um prazer especial, em minhas viagens, de me misturar com as pessoas,

as cidades, as culturas locais. Lembro quando nos conhecemos e trocamos algumas
palavras. Tive a impressão de nos conhecermos há muito tempo. Por isso estamos aqui
agora “trocando figurinhas”. Faz sentido. Acima da lógica acredito que temos uma
tribo, espalhada por todo o planeta, com a qual nos identificamos.
Além disso, os artistas, na estrada, podem tornar-se muito solitários se não buscam fugir
dos hotéis e dos compromissos impessoais. A música não resolve tudo.

8- Kleiton: família, cais, palavra e olhar. Poderias nos falar disso... assim como

vier?

Família: dedicação total, tolerância infinita, amor aos borbotões...

Cais: estou sempre a partir, correr riscos, experimentar, perder-me, e retornar para
começar tudo outra vez.
Palavra: pecado não é o que se pensa, mas o que não presta e se transforma em palavras
ou atos.
Olhar: adoro olhar de forma transparente às pessoas. Sem julgamentos prévios.

9- Dizem que aos poetas resta silenciar. Não concordo. O artista nunca silencia

embora, muitas vezes, aparentemente faça isso! Outro dia assisti a uma
entrevista de Geraldo Vandré, que voltava a responder algumas coisas... depois
de anos de suposto silêncio. Percebi, no seu olhar, tanta fala que... se por algum
motivo em alguns momentos continuou calado era muito mais em respeito à
ignorância do entrevistador.rsrsrs...Então, por favor, não fique calado! Rsrsrs
Mas pensando nisso... como tu vês o momento político de nosso “estado” ou
organização enquanto país?

Nasci em uma família que sempre via a política (politicagem) como coisa muito ruim.

Por isso quando penso em política penso de forma ideal, quase ingênua.
Não gosto do que vejo na política brasileira, e nem em outros lugares do planeta. Fala-
se em fim do mundo, mas acho que seria mais proveitoso pensarmos em fim dessa
sociedade que herdamos e não conseguimos modificar. Simpatizo muito hoje em dia
com o movimento Verde que é bem respeitado na Europa. Mas apesar de não ser filiado
a nenhum partido, acho que grandes soluções podem vir daí. Talvez mais da atitude
individual de cada um de nós (vencedor é o que se vence) e da consciência coletiva do
que esperar soluções das “autoridades” que não tem real autoridade ou moral para nada.

10-A incursão de vocês no mundo infantil tem sido... maravilhosa! Minha filha só

canta a dos pirulitos: de chulé, de goiabada rsrsrsrs. Como isso foi acontecendo?
quero dizer...subjetivamente contigo...

Antes de ter filhos, eu já era o tio bagunceiro que criava brincadeiras e estripulias para

a criançada da família. Sempre foi natural para mim essa relação. Acredito que veio do
fato que minha infância foi muito boa, com muita criatividade e espaço para expandir
corpo e mente. Até hoje me sinto um “crianção”, às vezes. Com o disco Par ou Ímpar
e mais recentemente a relação com o grupo Tholl, com quem montamos um belíssimo

espetáculo que gerou o DVD, toda essa boa energia veio à tona. Até pular corda estou

pulando no palco. Meu coração também pula de alegria...

11-Não posso deixar de perguntar... e a maravilhosa parceria de anos com o mano

Kledir?

Falou bem, maravilhosa... Realizar o impossível, juntos. Não sabemos muito bem

até onde somos um e outro na nossa obra. É um exercício constante de humildade e
perseverança. Com muitas alegrias, claro. E isso vem da infância, mas acredito que já
éramos amigos mesmo antes de nascermos...

12-Dizem alguns e me incluo que a música e a letra são a pele, de verdade. Sem

isso, o som e a letra, estamos em carne viva. Então, na minha área, não é raro
assistirmos a mudança de discurso, de lugar subjetivo resultar num poetar.
Sendo algo humano, nada mais natural que isso... Porém, neste mesmo contexto,
existe a fala em que o sujeito não se coloca, apenas exprime o que imagina
que querem dele e existe a fala própria, onde o sujeito está implicado, falando,
gritando o que lhe morde. Nas duas formas, é o sujeito a lidar com um si mesmo.
Mas, afinal... como saber o que é legítimo? Ou as duas formas seriam legítimas?

Acho que não existem artistas 100% legítimos, como gostaríamos. Talvez um Rimbaud,

um Kafka, muitos poucos o tenham sido. Algum desconhecido? Mas a realidade é
dura e crua. Em alguns momentos abençoados abrem-se as comportas e a arte surge.
Nesses momentos alguns privilegiados conseguem entregar-se na sua totalidade. Mas
a maioria dos artistas profissionais oscilam entre a prática do cotidiano, e a arte em si.
São raros os que conseguem resistir aos apelos do sucesso, da vida confortável e sem
preocupações apenas para se entregar de corpo e alma a uma vida artística perfeita.
Vivemos tempos de muita banalidade.

13- rsrsr...Porto Alegre...rsrs


Porto Alegre é meu porto...


14-Nesta grande trajetória o que tu destacarias como os principais acontecimentos

de uma vida, até agora?

Profissionalmente vivi momentos maravilhosos com a música, mas no fim das contas

o que realmente pesa na balança são as coisas mais simples. O nascimento dos filhos, a
presença dos amigos, eternos amigos, cada novo dia que nasce, cada nova canção...

15- Gostarias de dizer mais alguma coisa?


Obrigado pelo convite.


Kleiton, sinto-me honrada em te receber na minha casa, nestas indecentes palavras,

como toda letra que nunca diz tudo, é. (E elas ...não dizem tudo porque querem voltar
a dizer!) Principalmente no momento em que vocês escrevem e compõem às crianças...
nesta vontade de falar com os que logo e já estão. Então é a poesia e música do tempo
de hoje, nesta verdade que nos habita e quer saber sobre todos estes, nós todos, que
compomos o dia-a-dia, longe do que nos faz morrer. Bem,... a vida sempre arde!

Mas “dá uma vontade de...” Viver?

Agradeço tua visita e sinta-se convidado sempre em Indecentes Palavras!

Beijo com todas as letras!

quarta-feira, julho 04, 2012

Na casa o silêncio mora mesmo que o vento conte a história e fale de si.Aqui , pelos barulhos, foram todos embora, menos o vazio das horas que me fazem rir.Reconheço cada resto, cada gesto sincero.Os que não foram...não deixam cicatriz.Na casa mora esta ternura que ainda guardo em mim.
Se na madrugada confundo lugares...é só por falta de avisar o barco sobre o rumo dos temporais.À ele não é possível dizer!Seguem sempre para o mesmo lugar.São velas na escuridão, castiçais!
 Hábito

Se na madrugada confundo lugares...é só por falta de avisar o barco sobre o rumo dos temporais.À ele não é possível dizer!Seguem sempre para o mesmo lugar.São velas na escuridão, castiçais!

quarta-feira, maio 23, 2012

Caminho de trem
Para tecer estrada é preciso cavar buracos fundos do nada...embora aparentes somente calados dormentes, da pele na água.

sexta-feira, maio 18, 2012

Linha

É o fio que escorre,separa e segura,que mede e deseja a ternura : que nos pegue pela mão.É o fio que faz a faca, a escultura, fumaça, fio de massa que esparrama letra no chão.Passo na rua, estranha, fio da luz que banha um quarto de amor.(Adriana Bandeira)

Pés pelas mãos
As sombras estranhas acomodam-se tardias, na sala,na casa, na partida, quando não se quer mais.Meu braço desenha o chão e eles, os pés, as mãos.Um há de ser outro para valer  inventar viver para sempre.(Adriana Bandeira)

quinta-feira, maio 17, 2012

VEM DA RAIZ A PRIMEIRA PALAVRA, ÁRVORE QUE RESTA OU RENASCE INTACTA  PARA  SEMPRE  NAS MÃOS...MORADA-  Falando de amor e verdade com o escultor Itelvino Adolfo Jahn



1-O que é...esculpir?


 Não se decide esculpir...esculpir é como sentir sede...



2-Na tua obra, a marca do movimento anda ao lado do movimento do objeto.É como se houvesse um respeito com a vertente da madeira, a veia...se posso falar assim? O que há de verdadeiro nesta minha impressão?


 Sempre gostei dos movimentos que cada uma das árvores, troncos, galhos ou raízes apresentam. Gosto do singular, do irracional, do imperfeito que, para mim, é o imperfeito que se torna belo.





3-Qual a tua causa? O que faz com que queiras esculpir?

É dar um destino nobre a quem veio para nos ser tão útil desde o começo da nossa vida até o final dela. Esculpir é uma forma de não deixar que fique no esquecimento.



4-Foste criado no campo, nos afazeres que te aproximaram das construções práticas, da terra, dos animas.O que isso influenciou no teu fazer?


Tudo; o simples, o comum e irracional, o belo que isso passou para mim.




5-Itelvino... a arte escolhe o artista ou...o artista escolhe  arte?

 Os dois: são dois anjos de uma só asa que se complementam.





6-Quando a obra é de arte, fica difícil colocarmos um valor em dinheiro, para levá-la para a sua função: estar para além do artista.Como acontece isso contigo?


Quando executo uma obra, é parte de mim que se concretiza em arte; não “cobro” a arte e sim a mão de obra.


 



7-Trabalhas com madeiras daqui, desta região.Qual a tua proposta neste sentido?


Minha proposta é trabalhar com as madeiras do Rio Grande do Sul ( frutíferas, ornamentais, exóticas ou de reflorestamento) desde que já tenham cumprido sua parte, ou morrido por causas naturais e intempéries. Assim posso mostrar ecologia e cultura onde nasci.




8-Teu trabalho toca, mexe e desacomoda, como toda a obra de arte faz.Há um reconhecimento nesta exposição do movimento na madeira , da voz no silêncio, do sonho no sono.O que tu achas que as pessoas vêem na tua obra?


Não gosto de colocar nome nas obras para que as pessoas possam sentir plenamente o que veem: o irracional com o racional.



 




9-Dizes que não colocas nome na obra.O que isso quer dizer?


Não coloco nome nas minhas obras para que as pessoas possam observar e ver com os próprios olhos e não com os meus, o que se lhes apresenta.






10-Há algum tempo tive o privilégio de encontrar com tuas peças no saguão do aeroporto.De longe comentei: é o Itelvino! Nisso pergunto: és tu na obra? Ali, tem exatamente o que do homem? Misturas?


 Sim, é o Itelvino, o homem de corpo e alma transposta na obra.





11-Contas com algum incentivo para logística e outros?


 Não. O trabalho tem tudo no que se refere às questões ambientais, mas ainda não consegui despertar o interesse das pessoas para obter apoios e parcerias.






12-Estes dias falavas que teu ateliê é ao...ar livre! Também sobre como concilias a família e teu fazer.Poderias dizer um pouco sobre teu dia a dia, tua escolha diária por isto?


Dia-a-dia num convívio harmonioso, pois meu ofício faz parte de mim, como minha família faz.




13-Poderias descrever um pouco o processo com a madeira, o tempo que levas...tua experiência e as peças que mais te surpreenderam?Quais teus instrumentos de trabalho?


O processo é muito lento, pois todas as madeiras apresentam “problemas”, diferentes para serem trabalhados. A primeira etapa é de limpeza ( de terra, cascas, partes queimadas ou até apodrecidas, arames, pregos, pedaços de ferro incrustados, e tantas outras coisas). Só depois começo a esculpir, o que também é um processo muito lento, pois todas as ferramentas que utilizo são manuais. Cada uma das peças tem seu próprio tempo, algumas delas ultrapassando um ano até sua conclusão. A experiência é de muitos anos, pelo gosto por este tipo de escultura orgânica. As ferramentas são simples, como formões, machadinha, grosa, enxó e, para as partes maiores e pesadas, uso a motosserra. O acabamento final fica por conta das lixas.



14-Quando tu adota a árvore...já pensas que ali tem uma forma ou isso vai acontecendo?


Quando adoto uma árvore o processo vai acontecendo naturalmente. Muitas dessas árvores, raízes e troncos,sóimagino mesmo o que fazer quando está totalmente “limpa”. É aí que começa mesmo o olhar de contemplação e descoberta de cada movimento.






15-Gostaria de dizer mais alguma coisa?


Gostaria muito de ter o mesmo respeito e reconhecimento que é dado a outros escultores no Brasil a fora. Preciso de apoiadores, patrocinadores, parceiros enfim, formas de ajuda para divulgar meu trabalho. Sei da importância que ele tem no que se refere a questão ambiental, no respeito à natureza. Gostaria de poder levar minhas obras a várias exposições para as quais sou convidado, mas ainda não posso “me sustentar”.







Itelvino, a diferença naquilo que te recebe aqui, faz lembrar o mesmo passo, a mesma estrada que desenha a arte como construção do ser.

Ainda nas palavras, nossa morada, aquilo que faz esculpir na morte este punhado de vida, de movimento que tece uma continuação no outro, que fica diferente quando se deixa tocar pela tua obra; no desejo que se viva para além de uma única estação, que se fale nas marcas, nas facas e formões que anunciam o amor pela verdade que se impõe: somos o que fala por nós.

Sinta-se para sempre convidado em Indecentes Palavras, marcando com tuas mãos a casa-morada de cada um que nasce outro, a cada vez.



Beijo com todas as letras



Adriana Bandeira





Itelvino Adolfo Jahn Filho

Itelvino é um escultor gaúcho, nascido em Montenegro, na localidade de Campo do Meio. Exerceu diversos tipos de atividades mas, foi como escultor que se descobriu capaz e realizado.  Executa suas obras a partir de “sobras” de madeiras descartadas naturalmente ou que, de alguma forma foram retiradas por outras pessoas por representarem risco físico. Optou por trabalhar com as madeiras aqui do sul e mantém suas raízes morando e trabalhando na localidade onde nasceu. Trabalha com madeiras de diversas espécies de plantas desde ornamentais ,  exóticas até frutíferas.

Dentre suas obras destacam-se: esculturas , esculturas funcionais ( bases de mesa, mesas de centro, bancos, bancadas, mesas de apoio ) esferas, fruteiras, revisteiros....

Já realizou diversas exposições, individuais e coletivas:

·         Mostra na Copesul – Semana do Meio Ambiente (2006);

·         Exposição no Espaço Cultural da Câmara de Vereadores de Montenegro (2006);

·         Mostra na INOVA- Petrobrás (2006);

·         Mostra no Espaço Vida Unimed – Semana do Meio Ambiente (2008);

·         Mostra no “Mês do Móvel e Design em Gramado”- RS (2009);

·         Mostra “Casa Cor”- Porto Alegre – RS (2010,2011);

·         Exposição no Aeroporto Internacional Salgado Filho em Porto Alegre (2009, 2010, 2011);

·         Exposição em Cuiabá- Mato Grosso;

·         Exposição no Hotel Hilton em São Paulo;

·         Exposição no Hotel Sheraton- Porto Alegre- RS;

·         Participação na” Mostra Casa e Cia Litoral” – Xangrilá –RS;

·         Exposição na Semana da Floresta – Gramado- RS( 2011);

·         Exposição “Arte Sem Fronteiras”- Montenegro-Curitiba-2011;

·         Mostra virtual na Galeria Ana Pirollo-2011;

·         Exposição no Shopping Iguatemi Porto Alegre-2011;

·         Exposição no Shopping Paineiras- Jundiaí – São Paulo.

Realizou outras atividades relacionadas à sua arte como

·         Execução de um troféu Mérito Empresarial Associação Comercial e Industrial de Montenegro, para homenagear empresários locais 2009,2010;

·         Execução de troféu para homenagear o jogador goleiro Rogério Ceni pelos” 1000 jogos como jogador do São Paulo”;

·         Execução de um troféu para homenagear o empresário e presidente da FIERGS ,Sr. Heitor Müller.

Recebeu convites para participações em exposições fora do país(China, Argentina) às quais não participou por falta de parceiros apoiadores-2011, tendo recebido convite para mais duas para este ano-2012(julho), na França e Inglaterra.