segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Solidão

Eu queria que o vizinho viesse aqui na hora.E nem vem, nem vem, fica escondido.Só vem quando penduro a roupa, por causa do vestido que fica curto.Na hora da pancada aguento sozinha que estes dias achei de vingar.Na delegacia desisti.Foram chamando meu nego de criminoso, que isso ele não é  não.Foram dizendo que pegava cadeia, que isso e aquilo.E ai?Quem vai chegar no portão?Quem vai perguntar por mim?Não prende o nego, não! Que ele me bate mas se importa.Quero saber como faço para não denunciar, apenas desabafar!Esta coisa esquisita de achar que sou fantasma.Porque nem saio, nem sei, nem falo....Como faço para não deixar o nego,este que sabe que eu existo?Que isso ele sabe sim!

Dulce

O marcador vozes é assinado por vários.Cada um na sua forma de falar, que lhes garante um reconhecimento, um lugar dentro de cada um de nós.Somos estas vozes.
adriana bandeira

Alguns sentidos

Nascem os ventos, das velas;o brilho da surdez e a escuta...da cega voz.

Os cabelos dele

Daqui avisto uma luz que nem vem do céu.Sinto cheiro de feijão e assados, de pães,café e cigarros.Em sonho acaricio teus cabelos que se prendem nos dedos, desenhando meu corpo de mulher.Quero teu vinho no meu cobertor.Mas ainda é tão longe o cais...

domingo, fevereiro 27, 2011

Meu lugar preferido

Há um lugar esquecido que não sabe como voltar.Uma estrada sem migalhas, sem chance deste resto faltar.Só a verdade faz festa, apagando da terra a marca do pé.Inventa o que o destino escreve nas borras de todo café.

sábado, fevereiro 26, 2011

PARA O NAVEGADOR DA BARCA DOS AMANTES- Comentário para a poesia "Obstáculo" de Leonardo B.

Na palma da minha mão há um segredo.Linhas esquisitas que se movem sem receio.Constelação de vozes que, em festa, restam encantadas em algum espelho.Nunca te pareceu que a cidade, quando iluminada, é todo o céu na madrugada? O grito que habita o silêncio é a cartografia do mar.E ele desenha em pele a tua/minha melhor palavra...a que virá.

Para conferir

Blog: manchete de ontem.Texto de Georgius Esswein: O adoecer político...
Made in Montenegro, made in aqui de casa ( eheheheheh).

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Oco dos quadris

Dentro de mim tem uma rua esquisita, uma estrada sem rumo, uma dor sem memória.Dentro de mim não tem fim a voz que me faz em tempo,desenhar a cor da demora.

Você e eu

Existe uma propriedade incomum entre nós.Não repartimos, não comunhamos.É apenas esta inscrição de sonho que , ao acordar, me faz perguntar: onde estou?Onde estás?

Eco

A voz calou-se.Ficou este eco que susurra e faz algumas canções.

Morro

É som de reza a estrada nascente que abre um rio, no barulho das pedras.Um: morro!, que desatado em nó grita esquisito, rasgando o silêncio de todo o dito.Desmorona a cada vez que a voz inventa a reparação.

ELVIO VARGAS CONVIDA-SE AO SEU PRÓPRIO CHÁ, SEM PONTO NEM VÍRGULAS- Sobre o livro Chá das Cinco

                                                                       A Vitória do Ritmo

Nem tudo que está à margem de um rio Jaz inerte Sem vida Tem um pulsar  Uma latência Têm pássaros que cantam para o silêncio
Têm pássaros que cantam em silêncio Cantar não é uma exclusividade para tenores barítonos sopranos Não cantamos para os que vivem Cantamos para almas A linguagem é um rio Nas cabeceiras deste nem sempre enxergamos  aldeias Mas elas existem Suas crianças brincam  Homens e mulheres trabalham O ritmo é o sol de Osíris e não depende do Faraó Está em todos os lugares
Na sua falta Ísis nos protege A linguagem nos contempla com a sua decifração Nos polissemiza A gramática apenas impõe cercados e sinalizações para este mágico trânsito Mas de uma forma ou de outra conseguimos senti-lo O movimento da primeira pessoa Soprando brisa sobre a terceira pessoa Aturde o leitor de uma forma transgressora Mas dali uns momentos pela força cognitiva que a linguagem possui Ele reordena-se e vai nascendo o entendimento É a luz brotando do caos É o ensaio de vários personagens elucidando através da memória as suas falas É o misterioso frêmito das aliterações e assonãncias fora do seu canònico
teatro É a vitória do ritmo que aos poucos vai ordenando o rumo certo para as palavras...

                                                             Grande abço-Élvio Vargas

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

PULSAR, SÓ SENDO PEDRA QUE HABITA DESEJO DE NÃO TER FIM- O jantar na Peña Del Sur


1-Começo perguntando sobre o nascimento desta idéia, desta construção psíquica da Peña. Falamos em extensão da casa, tanto no aspecto subjetivo quanto no aspecto físico.Fiquei pensando que pedra é o coração.No sentido de que há de ser duro o suficiente para viver por alguém ou por alguma coisa.Há de ser forte o tanto que precise para plantar construção de mais uma...pedra fundação.Só isso faz pulsar.O que pensam destas coisas? O que é a Peña?
A Peña surgiu do  desejo de oferecer um espaço onde coexistisse arte e gastronomia....
2-A Peña  foi desejada, imaginada, estudada.Percebe-se nos mínimos detalhes um cuidado com traços de humanização.Tenho para mim que,diferente do que se imagina, os objetos não servem somente para a decoração.Dizem respeito a uma história,uma marca que se hoje não reconhecemos de imediato,sabemos do que se trata.O detalhe,penso, é toda  a verdade que só se apresenta assim.Então:o que é o JANTAR?
O JANTAR a meu ver é o  “clímax” da Peña. É a hora em que os comensais recebem o alimento. Sensações vão se complementando à medida que o alimento vai sendo saboreado, acredito que para alguns esse momento funciona como uma terapia, reequilibrando seu estado psíquico....
3-Vocês servem carne e outros...Cortes diferentes que dão o sabor.No meu trabalho os cortes é que dizem da delícia.Explico: tanto na escuta psicanalítica quanto na escrita a pontuação, a voz que diz...é que serve algo da verdade.Neste aspecto ela é só...a delícia da hora, crua como sempre é só.Os cortes são o gosto.Qual a diferença, neste aspecto entre carne e alma?
Na nossa situação especificamente penso que carne e alma se complementam, no sentido de que o boi ser vivo que fornece a matéria prima carne para o preparo do alimento na forma como preparamos acaba propiciando uma interação desses dois aspectos.. tendo em vista a transformação espiritual que provoca em alguns.....
4-É...então falávamos nas mulheres e alguém disse: ...vamos voltar a falar de carne! (ehehehehe). Nesta conversa deliciosa e divertida me concedo retornar ao que dizíamos. Acho que o Leandro falava algo sobre sempre ter sido sustentado, enquanto desejante, pelas mulheres. Pensei na mãe, nas mulheres da sua vida, na Mirelli que hoje está ali lado a lado. Pensei também na diferença entre carne e mulher.Já explico!Já explico!Usa-se palavras semelhantes sobre o ato sexual e o ato de alimentar-se.Fala-se em: comer.Isso não é por acaso.Mas, afinal: o que seria ter na mulher o seu sustento?
É ter a oportunidade de amá-las todas nas suas diferentes formas possíveis.... amor pra mãe, pra irmã, pra madrasta etc,  mas principalmente pra amante, onde o desejo de “comê-la” nos proporciona as melhores sensações de prazer.....
5-Agora há pouco achei um vídeo sobre o filme Um homem, uma mulher.Ela fala a ele sobre as coisas originais e maravilhosas que tem o Brasil.Ele, dirigindo, passa a imaginar vários momentos em que estariam juntos, enquanto ele aprende a cantar o samba Sarava.Hoje os homens imaginam estas coisas?As mulheres se deixam invadir assim?
Sem dúvida, tenho pra mim que sempre o maior desejo da mulher é se deixar invadir pelas boas e verdadeiras intenções dos homens....
6-Então a questão talvez seja o permitir-se.Vocês diziam do desejo de que aqui as pessoas...aconteçam.A dificuldade para homens e mulheres é de se dizerem, de estarem habitantes de sua verdade.Isso diz respeito a comer, deixar-se invadir, deixar falar e cantar.Já tiveram muitos convidados, pessoas de fora e daqui.Quais os momentos mais interessantes de pessoas comuns ( que nem sabem que são artista) que fizeram lugar na lembrança de vocês?
Lembro de uma noite em que um canadense que até lembrava um pouco o Neil yang se aproximou do Rodrigo Magrão e perguntou pra ele em inglês se ele sabia tocar tal música, o Magrão deu o primeiro acorde e o canadense, que na ocasião estava com mais uma turma de estrangeiros, pegou o microfone e enfilerou uma três ou quatro canções... enfim, tiveram várias ocasiões parecidas com essa....

7-O Leandro falava sobre o desenho que representa a Peña: os índios ao redor da caça. O sacrifício lembra o que funda a civilização humana: a lei.A mais primitiva delas diz respeito ao incesto e dela resultam as outras.A lei do pai...a que diz que a mãe não será de todos, ou a mulher não será de todos.E o Leandro falava disto ardendo no fogo, enquanto assava a carne (eheheheh).Quero dizer que comer carne é algo muito antigo.Nestas reuniões eram ofertadas as melhores, mais valiosas verdades.Os índios comiam para que o pai lhes encarnasse em sua força e amor.Acho que amor é dom que se alcança ao outro,numa perspectiva de dar o que não se tem.O que o Peña tem em comum com isto?Podes contar um pouco sobre a história disso tudo?
Na Peña é tudo muito explícito e interativo, desde o preparo dos alimentos, totalmente aparente  até a coexistência dos comensais, tendo em vista que temos praticamente um único ambiente... nesse aspecto imagino que fica difícil não fazer desse momento uma oferta a verdade....
8-Já faz algum tempo que tenho certeza que poesia faz revolução. Como não é capaz de exercer poder pelo discurso ( a verdadeira poesia faz poetar, não insere ninguém em idéia alguma), faz abrir possibilidades diferenciadas de estar no mundo.Falávamos em Silvio Rodrigues e a revolução que sua poesia acaba propondo.Qual a influência disto?Onde está Silvio Rodrigues?(eheheheh).
Essa eu passo....
9-Então vermelho é mais caro ( eheheheh)... Zé conversava concordando com a cor das unhas das mulheres. Acabamos concordando que existe uma cor que diz algo. Então?
Pois sim,  me gusta a mulher determinada e destemida, a pureza das unhas vermelhas é incomparável

10-Logo vocês pensam em inaugurar uma biblioteca neste espaço. Acho que escrever e costurar é quase a mesma coisa. Nunca tinha pensado em escrever e comer. Mas, pensando bem...abre-se a carne a cada vez, quando a palavra nasce sem piedade.O que uma biblioteca faz por aqui?
Fará oportunizar que possíveis interessados leitores conheçam as literaturas ali expostas, a idéia é que o cliente estando interessado possa levar o livro e conhecer as obras e seus autores...
11-Depois de nossa conversa fiquei pensando muito. Não costumo comer carne...para fingir que não sou carnívora(ehehehehe).Se a idéia era que da Peña as pessoas saíssem diferentes...comigo funcionou ( ehehehehehe).Mas pensei também sobre o ritual, a necessidade que o humano tem de estar inscrito em algum lugar, por lhe faltar o instinto perfeito do animal.Há alguns anos tínhamos papéis definidos, inclusive de nossos pequenos sacrifícios.Hoje há uma ausência destas referência o que acaba aumentando a angústia: o que o mundo quer de mim?Neste sentido, o mundo fica irremediavelmente terrível. Elaboro uma idéia de que no consumo excessivo de drogas esta angústia acaba dando o corpo em sacrifício...E muitas vezes nem mais isto é.Bem, mas existe na tua fala, no gesto, esta mordida que acompanha o Diego K e, de certa forma, o que causa este blog.Uma voz quebrada e reconstruída  que faz valer uma denúncia.Tu te darias...ao quê?
Me dou ao trabalho de esforça-me para que as pessoas que chegam a Peña Del Sur, tenham a genuidade da nossa proposta enquanto um espaço de gastronomia e arte..

12-Então uma companhia que...”Não tenho jeito para varrer”,”acho que é machismo” (ehehehhehee).Como vocês vêem estas diferenças?
Falta de objetivo comum
13-Machismo é fazer valer uma mentira. A de que a mulheres não existem. Por isso a piada de que todo o machista seria um homossexual. Mas repara que Inclusive os homossexuais são um, enquanto na sua relação.Hoje por email um amigo dizia que nos dias de hoje as mulheres recebem quem bem quiserem nas suas camas.Respondi que talvez às mulheres falte o principal.Talvez a cama de uma mulher tenha que ser feita por ele, um homem.Neste aspecto perdemos.Todos!Pois bem, para vocês o que é machismo?O que é feminismo? Gostaria que respondessem os eles e elas desta Peña ( ehehehehehe).Pode ser?
Machismo a meu ver é justamente o que colocastes acima, o egoísmo das atitudes

14-“ Não te culpes” dizia o Zanatta ( ehehehehehe). A Peña recebe as palavras e, por isso, as pessoas.Tu falavas desta disponibilidade em receber algo .O que é isso para ti?Para quê serve?
Receber para possibilitar a troca. Ou até mesmo a renúncia....  serve para descobrir se se faz realmente importante
15-Das pessoas que recebem, dos artistas, dos trabalhos feitos em parceria, quais os que tu podes destacar?
Todos de certa forma são determinantes, todavia nos primeiros momentos creio que o Luiz Américo Alvez Aldana e seu La cañera, o Vandré da Rosa e o Luciano Rhodem, o Juliano e o Vinícius do Timbre Gaúcho, o Rodrigo Magrão, o Fernando Ribeiro, o Castelo Vargas foram de suma importância para a formação da identidade artística da Peña.
16-Falando com um amigo ele lembrou das peñas uruguaias.Procurou no Google e viu o nome da rua.Logo que cheguei ouvi alguém dizer isso: a rua foi colocada pela idéia.O que nasce primeiro: o nome, palavra ou o corpo ?
O corpo.....
17-Terias algo mais a registrar aqui?
 gratidão pela oportunidade, apareça mais vezes...
Saludos
Zezé Pinto
Ficaria horas elaborando perguntas e comendo carne e me deixando invadir pelas delícias.Ficaria em respeito ao que nos cabe, como parte em sacrifício pelo que lhes causa, minha palavra também.Estaria costurando em máquinas antigas, furando os dedos, os discursos perfeitos, só para existir um que não.Restaria, passando este tecido, se  neste tempo ainda os ferros fossem em brasas, como a carne assando as frases, restando o corpo em oração.Agradeço a existência de vocês neste nosso lugar, nesta rua que é minha e de todos os que quiserem andar.Recebam-me sempre, por favor, neste mar.
Venham sempre, ao Indecentes palavras, me deixar respirar.
Beijo com todas as letras
Adriana Bandeira
Em tempo...lembrada por Carmen Presotto, escrevo no depois, agora, o endereço da Peña: Rua Che Guevara esquina Aloys Kerber-Bairro São João-Montenegro,RS-Brasil.
Fones: 51-36328654 ou 81919896
email: contato@penadelsur.com.br
site: http://www.penadelsur.com.br/
Salutos,
           como diz o Zz.

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Para as mãos roubadas, de Antonio Amaral Tavares

O rapto deixou intacta a imagem quebranto, sombra- palavra.Desenho na parede, ouvindo daqui tuas mãos.Espelhos que tecem rasuras, cobertas de outono sem medo da nudez.É o pássaro que sem saber, compõe partituras.O esquecimento deixou vestígios desta forma ternura.

Cafezinho com Antonio Amaral Tavares- Visita em verso, costurando cobertas macias

SEIS ESTROFES EM CONSTRUÇÃO


1.
A boca é às vezes o deserto
vem da serra o ar como um clarão matar a sede
às pontas queimadas do silêncio.

2.
Obscuras palavras
que por promessa  atravessaram
de corpo mudo a noite.
Luzem.

3.
Uma letra
uma sílaba que lhes falte
e as palavras assim prenhes de mistério
terão na tarde o seu florir.

4.
A solidão procura as árvores longe do mar
a pele seca queimada pelo frio
do vento ninguém saberá domar as vagas.

5.
Ainda do vento:
levou para o exílio as minhas mãos
cartas chegam de lá contando tudo sobre o rapto
foi tudo plano do esquecimento.

6.
Como se chovesse e o entardecer
não soubesse que a noite que vem
não é a que ele esperava.


  Antonio Amaral Tavares
http://acasaquecaminha.blogspot.com/

Depois do carnaval

Juntei a outra que se erguia maior.Nela, estrada do rosto abria riscada, lágrima escorrida na mancha da cor.Como nunca revelada?Como muda e pequena espada? Sou pele inscrita na água.Que nada, que nada.

domingo, fevereiro 20, 2011

Café da manhã com Jorge Rein

 Para aquela de ti que faz café


ela passa café e domestica
em domésticas lides os demônios
que hibernam
no borbulhante ventre das chaleiras e do vapor
as musas semifusam
ao tímpano excitado do meu ouvido interno
seus mínimos escândalos
seus boatos obscenos
ela passa café e um tempo obscuro
destila na clepsidra
parcimoniosos séculos
de soturnos humores que gotejam
água mole na pedra do desejo
nem tão dura nem tão paciente quanto
ela passa café e vagaromam
pela cozinha as nuvens
que rabiscam suor nos azulejos
ela passa café e se escultura
alheia às transparências
aos reflexos
aos fogos de artifício que alimenta
na imaginária imagem do seu ritual sereno
ela passa café
se pre e se ocupa
com a inocente química do enredo
ela passa café mas eu mal passo
de um sátiro alquimidas:
tudo transformo em sexo

                    Jorge Rein

"Clã-destinos"

Fio da voz, lâmina esquadra.Dos barcos, palavra, passagem à sós.Réstia de luz enfeitada, rasgando placentas, cobrindo estradas, acordando nós aqui dos porões.Clandestinos nascem já embarcados...no ventre das alheias canções.

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Varal

As fronhas estendidas ardem o sol de alvura.Toalhas vestidas como bandeiras, nuas nos corpos de reparação.Palavras dependuradas, anunciando moradas,nas rasuras e vãos.Pele colorida dando sombra aos pés.Andam cavando estradas de lenços, vestidos e espelhos.Parindo gotículas salgadas de terra,tecendo uma manta de lã.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

UMA VISITA ENCANTADORA NO INDECENTES PALAVRAS- Falando sobre reconstruções com Antonio Amaral

A INTERRUPÇÃO DO ROSTO

1. interrupção da boca

Onde um astro havia que queimava à distância os lábios
por causa da ignorância que de si crescia na boca
como uma pedra fria escurecida

2. interrupção dos rios

lavravam os rios as pessoas sem terra
encardiam as mãos e os pés com o mistério
dos choupos acesos pela água e deles dos rios
guardavam apenas o rumor que se lhes ouvia
ao atravessarem juntos o tronco nu da tarde

3. interrupção das palavras

a madeira chegava à cidade para
construir casas e acender lareiras
toros que vinham de longe
da luz rápida das inclinações sobre os rios
que no seu sangue deixavam a imitação
do movimento
que vinham das vésperas do gesto largo
de vidro do machado inicial
onde o olhar não penetra a bruma
são vazias as palavras
sem o sangue dos primeiros nomes
bestas que nascem mesmo assim
lembram ausências
em casas a que se perdeu a chave

4. interrupção das casas

as pessoas guardavam os cobertores e os lençóis
em arcas que arrumavam sob a luz tardia
como se preparassem os minutos para a noite
e quando chovia olhavam pela manhã da janela
a curva da rua que tomavam para o trabalho
onde a água no inverno se acumulava muito funda
e quando ao fim do dia chegavam a casa fechados nos muros dos passos
bocejavam de fome e sono o frio que traziam para as mesas
as casas são palavras com paredes
frases que chamam pelo calor de um nome habitado
aqueles que a elas regressam

5. interrupção dos cabelos

as pessoas traziam os cabelos apanhados
e na algibeira pedaços de silêncio que recolhiam
os seus avós nas aldeias debruçavam-se sobre as horas da terra
para apanhar as batatas
espreitavam por hábito ao fim do dia o avanço da vida
na porca parideira no pocilgo e antes do deitar
ouviam em pequenos rádios canções que os ponteiros
do relógio decoravam como decoravam o seu caminho
não é fácil os cabelos esquecerem a linguagem idêntica do vento
transformarem-se em arame

6. interrupção do olhar

o olhar das pessoas parava no ruído da areia pisada
e no mato dos bosques que da acidez da luz
não protegia
das casas altas do tempo não havia notícia
ou da forma como o mar recebe a curva larga das gaivotas
os peixes que a profundidade guarda
e desse mar algas havia que queimavam os olhos
e eles por isso o ignoravam como se ignora o mundo

7. interrupção do rosto

como pode o rosto ser contínuo
sem o vidro da memória
que do sono se não levanta
como se pode
com a poeira das pedras continuar o rosto

8. interrupção do silêncio

vestem camisas engomadas as pessoas
para calar os murmúrios que se escapam
da nudez dos troncos sob a luz trémula da tarde
procuram no silêncio o casaco para o frio
e o ruído dos carros que passam nas suas ruas descendentes
é abafado e perde-se no esquecimento da curva em que terminam
as cidades despem aqueles que morrem longe dos rios
de que perderam o risco sussurrante nos mapas
e bebem o mosto do seu silêncio

9. interrupção da fala

dificilmente se calçavam de manhã as botas
ocupadas que estavam pela sombra das palavras
recolhia-se o reboco do chão junto às paredes
da interrupção da fala sabemos porque
no muro precário das palavras ficou
a impressão forte de uma mão a cor de sangue
o primeiro gesto
de quem entra nessas casas de barro
à beira do deserto.


Antônio Amaral

visitem http://acasaquecaminha.blogspot.com/ de Antonio Amaral

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Eu e Freud III

-Pois é...a primeira vez que lembro de estar nestas coisas foi na, também, primeira festa que participei.Na época chamavamos de boate.Hoje " boate" é outra coisa...
-Kjdgdhdhhd
-É...tudo é uma questão de nomes...Pois é, então era a primeira vez que eu ia num negócio destes.Mas, eu não tinha sapato de festa! Sapato de festa! Olha o nome! Mas eu não tinha um diferente, algo que não fosse meu tênis ou uma bota de chuva.Eu só existia para ir à escola!Vê só!
-Sapato diz do pé?
-É....O sapato diz quem somos.Mas hoje até engano...Então arrumaram um sapato esquisito, de uma prima.Hoje usamos! Aliás, hoje não tiro do pé a tal sapatilha.Tenho problemas com os pés...são tortos por causa do balett.Tenho dificuldade de achar alguma coisa em que eu me sinta...que eu saiba caminhar ( eheheheh).
-bdjdhdurtyd
-Chão?Pois é...era uma sapatilha que na época tinha o nome de " bambucha".Era azul!E lá fui eu, para o clube da cidade , com a tal sapatilha no pé.
-Tala?
-Tala?...É.Eu estava machucada, apavorada, esquisita, sei lá...Então achei tudo diferente mas a música me salvou.Fiz par com ela de uma forma que não nos largamos mais.Adoro dançar!Lá pelas tantas, perto  de mim chegou o Luís ,que tinha o apelido de Tuti, e perguntou: é tu a cinderela? Disse: não!Acho que não!É sim, disse ele.Por causa do teu sapato...os caras tão te chamando de cinderela. Fugi! Fui para a casa!
-Obedeceste?
-Como assim?
-Sim!  A cinderela vai embora, não fica para sua própria festa.
-...pensando assim...
-E queres continuar cinderela?
-...podendo usar sapatilha sem incomodar ninguém... É que no outro dia, na escola, uma colega quis comprar meu sapato...
- eheheheheh
-É! Isso me apavorou porque ele era velho e eu nem poderia vendê-lo!...Mas gosto de sapatilhas. Posso me sentir confortável para dançar.
-E ...
-...será que vou amar de novo?
-...É...Ficamos por hoje?Até o próximo...dia.

Noite de ano novo

Conte com meu alfabeto, com o que antes não tinhas.Cantarei uma canção: és minha, és minha!

Luciano

Dia de ano novo

A partir de amanhã, nunca mais vou comer gordura.Vou dormir sempre nua e jamais esquecer o batom.Só farei amor se no dia, as palavras à mim prometidas, contarem letras que meu corpo pode abrigar.Ah! Amanhã serei diferente e mesmo que não conte a toda a gente, saberão o que se risca em mim.Só por descuido vou rir sozinha, acompanhando a luz cristalina da verdade passageira, sem fim.

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Para conferir

BLOG http://manchete-de-ontem.blogspot.com/
Excelente iniciativa que faz com que a gurizada escreva, opine, seja sujeito de sua fala.Parabéns ao blog.Confiram o texto de Georgius Esswein, conterrâneo da cidade e...aqui de casa ( eheheheheh).

domingo, fevereiro 13, 2011

Freudianas reflexões sobre " os nós" I

A VISÃO EM PARALAXE-NOVO LIVRO DE SLAVOJ ZIZECK-PEQUENA REFLEXÃO
                                                                                     ADRIANA BANDEIRA
A visão em Paralaxe, novo livro de Slavoj Zizek faz título a este comentário. Ainda não li o livro mas, surpreendeu-me a posição discursiva deste pensador de nosso tempo, o que provavelmente vai estar gravado nas entrelinhas de seu texto.
Longe de tê-lo alucinado como o melhor, simplesmente fui surpreendida por um : mãe vem ver um cara “f”  intitulando-se psicanalista teórico!Parei tudo.Diga-se de passagem, parei no meio da construção de um texto sobre “Vício”...ou “O vício de si”.Pois bem, este Slavoj Zizerk coloca-se desta forma mesmo: psicanalista teórico, abrindo uma concepção diferenciada daquela que fundou a psicanálise,uma clínica. Porém, coloca-se não tão longe desta prática, naquilo que fala sobre um social, que só pode ter sido escutado enquanto fala, enquanto sintoma. Nisso argumento que estaria em conformidade com um possível ranço sobre uma clínica individual, burocratizada e fadada ao fracasso enquanto a serviço da fala emergente, do sofrimento que nos vem hoje.Não penso assim mas...quem sabe ele não se diga clínico para não lembrar que é no um a um que ocorrem as revoluções, os movimentos de si, de cada um, porque talvez isso fale dele mesmo, naquilo que somente sua escuta produz em conformidade com sua causa.
Para além dos ranços, é de uma trajetória de escuta da história, do traço social enquanto repetição diferente que ele organiza uma possibilidade.Ele é...genial!
Justo no momento em que eu pensava nas toxicomanias, na drogadição e no olhar dos que consomem crack; justo neste contexto do tal” Vício”  Salavoj, em Roda Viva no youtube, vem me falar da opacidade do olhar daqueles que voltaram do inferno, do holocausto.
Fico pasma! Fico estática voltando há tempo para continuar a ouvi-lo na excursão pela sua fala.
Diz-me ele, ao pé do ouvido, que o holocausto inaugura uma  outra forma do pós traumático.Seria: o sujeito sem seu Ser.Descreve os sobreviventes com aquele olhar sem brilho, aquele jeito zumbi que eu mesma encontro na maioria dos que fazem uso abusivo de drogas.Fala de sua teorização dando conta que este pós traumático funciona nos países do primeiro mundo pois que nos do terceiro, não há pós traumático mas...trauma, e trauma novamente.
Traz Descartes para a discussão situando o sujeito cartesiano como este que desfez-se de seu ser.Isso não lhe pertence mais, sua consciência, sua razão já que o Ser está onde não pensa.A existência está onde não é mas pensa que é.A situação entre pensamento e consciência merece outra leva de reflexões!Deixemos, por hora!
Mais que isto, Slavoj chama Marx para a discussão dando ênfase ao conceito de proletariado marxista como sendo aquele que está alheio ao que produz; não pertence a si ,não só sua força mas também seu pensamento.
Oras...Fico imersa numa posição esquisita em que questiono a obediência ao trabalho requisitado pelo tráfico ( afinal dá dinheiro), ao valor dado ao objeto que transita valoroso como A coisa prometida.
Porém, o trauma que se perpetua, não é mais trauma... É o quê?Aponto uma geração de sujeitos que não vivenciam a violência contra um si mesmo; não estão no trauma, nem no pós trauma. Fazem do estupro um pagamento, da morte um pagamento, da vida... um pagamento no real ...a qualquer coisa que se perpetuou.E o que se efetivou?
No início do séc XVII, quando as crianças passam a ser amamentadas, cuidadas, está o corpo como possibilidade de trabalho, portanto condição de revolução. Hoje o “sopro” é descartável, sem texto que o antecipe ou anteceda, que o vingue no sentido do plantar. Este corpo fadado a ser violado nasce como para a isto se dar. Porém, nem como sacrifício, nem como linhagem  (condição dos filhos antes da revolução francesa), mas como inexistente.
Pois é...O traumático institui uma condição humana que dá conta das aprendizagens  (aprender a falar é traumático), no sentido necessário do trauma.Noutro contexto é da ordem da perversão, da morte simbólica de um sujeito ou de um povo (como foi o caso dos judeus) num espaço de tempo (minutos,horas, dias, anos).Porém, quando falamos de trauma que não há de ser visto como um depois...estamos diante da morte de fato.Então...não há nem “ vício de si”.
Pois bem...este Slavoj me deixou com algumas questões e embora não ache justo, fica esta visão um tanto pessimista.Julgo retornar a este assunto depois de ler o livro e desenvolver um pouco mais o que tenho a dizer sobre: a relação desta falta de um si mesmo  com a possibilidade de ler e escrever .
Convido-os a entrar na discussão.Vamos?
Até mais.
Adriana Bandeira

Para escutar Pedro

Ouvir é desenhar
a cor da palavra.
Falar do vazio
prenhe do nada.
...É tecer uma
verdade.

A escuta cristalina de Pedro Du Bois

OUVIR

Ouço o corpo em lembranças,
estremeço; penetro a música
e me expando em cantos: letreiros
iluminam as ruas, a dor opaca
o caminho: em mesas reunidos
homens desdenham a farsa
da novidade. O corpo alenta
o desejo; entrevejo o fogo
apagado. Danço o terminar
da hora; esqueço ao atormentar
espíritos. A ultimação
do fato transfigura
o papel em desenhos.

Pedro Du Bois

No cafezinho mil palavras que restam presentes, poemas de anunciação.Ontem com Cris Macedo,Elvio Vargas e Jorge Rein

SERPENTE

Tua língua
pérola
perfaz caminhos
de cetim
Tua lânguida
língua
percorre lenta
a carne púrpura
Tua língua
brilho em mim
libera sumos
espreita espasmos
Tua rija
língua
lambuza a trilha
cria estrelas de marfim.

Cristina Macedo




MASCARADOS

adivinha quem sou
mas não te vires
se me vires verás
eu desencanto
viro estátua de sal
de puro espanto
meu cisne volta a ser
patinho feio
sem qualqeuer guarnição
sou um prato cheio
no jantar semanal
dos sátiros anônimos

               Jorge Rein


BOLSA ROMPIDA

Depois das contrações
apareci.
Duas palmadas fortes
e uma sede ardente
me desperteram.
O seio anunciado
estava seco
nunca chorei
pelo leite não derramado.
Troquei as dores do Édipo
pelas feridas de Rômulo.
Um destino duro
sempre me guiou.
Domino pouco
a arte das palavras.
Só isto basta
para ventar
céu,infernos e mortalhas.
Guardo a sete chaves
desde os meus primeiros dias
ferramentas,utensílios e
os mais estranhos
brinquedos de Jó...

                          Elvio Vargas

sábado, fevereiro 12, 2011

Banho de mar

Todas as vezes que vou ao mar...mergulho.Oferto-me!Se ele quiser me levar...

lembrança de carnaval

A música te traz.E hoje não esqueço meu vinho, meus ancestrais. São as músicas e a máscara...são as fotos do carnaval.Venha!Sempre estaremos a sós.

Fantasia

A verdade da nudez é a fantasia.Noite ou dia é sempre uma a cada vez.

Assassinato de criança

Senti a água correndo, refazendo o corpo vermelho no chão.Hoje,meu melhor perfume e o vestido de seda, vinho e batom.Ouço minha respiração em suspiro, enquanto guardo um punhado do vento, para levar de lembrança.Volto correndo como criança, para aguardar na sala os que vem me buscar.Recebo a todos na verdade do sorriso...gratidão.Espero enfeitada! Sem ninguém saber,assassinada.

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Tubarão fêmea

Te devoraria em pouco tempo,espaço instante em que tento curativos, milagres, mandingas.Para dizer que tuas são todas as minhas,mais antigas mordidas.De presente te dou toda esta falta que me faz uma , não mais, palavra a ser dita.

Brinquedo de A

Ganhei um brinquedo esquisito,
há muito tempo atrás.
Ganhei a denúncia  de tantas
morando em mim sem censura
que respiram mais do que ar.
Foi uma letra apenas
estas que marcam "A"
O resto monta e desmonta
e não passa sem parar.

Idades de fevereiro

Minha melhor bobagem... fundamental presença do detalhe: faltei-me.Era apenas uma coisa de passageira, da última das minhas idades.

Construção de mim

No gesto palavra de tantos, reconstruo minha sombra...e a de quem amo.

Amanhã

Amanhã me vestirei de festa.Para te ver, cor de risada.Chega do luto das horas em que morro e nasço a cada fala.

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Ensaio sobre o amor VII

Todo o vinho, todas as palavras, todas as madrugadas...para ti.Pela rua alguns param.Outros resmungam indignados.Apenas as crianças me rodeiam desenhando uma pequena contenção.Fazem uma espécie de cortejo num reconhecimento de que algo muito sério está acontecendo.A calçada se torna pequena diante dos que se aglomeram e observam incrédulos.O melhor dos amigos tenta me dizer alguma coisa e diante de meu olhar apenas sucumbe.Falta pouco, alguns metros...e o banco da praça ainda está vazio.Onde estás?Às crianças vou contando uma história que elas adotam como verdade de amor.
Sigo sem medo, embora no início temesse o recolhimento.A polícia apareceu e diante de tamanha fila de gente, sumiu, fez-se pequena, esfarelou.Mas sei que vai voltar.
Uns assistem, outros falam.Comentam sobre minha embriaguez.Nunca estive tão lúcida!
Surgiste neste momento...sem pudor algum.Ainda vestido como quem já morreu.Uns avisaram: já morreste! Chamaram o juiz e não teve mais jeito.Algumas mulheres pediram pensão, pela falta de pudor, por desacato ou traição.Alguns homens me olharam magoados mas aos poucos, com cuidado, entregaram-se todos à música que invadiu o lugar.O silêncio do mundo estava ali.
Sentamo-nos e carregavas uma pequena chave dourada.A chave da cidade ou da mulher amada?
O dia  se indo e as estrelas aparecendo.A multidão se desfazendo, carregando as roupas de cada nudez.Uns por ali dormiram esperando o próximo acontecimento.Outros se recolheram com a melhor imagem da vida.
Ali ficamos até hoje dormindo, amando, plantando palavra no corpo ardendo...Ainda na espera da polícia que não veio, da ambulância que não me  levou louca...
Aqui estamos falando e rindo no meio de tudo.Agora sabemos o que segue no frio que desata: as únicas canções de amor...feitas na praça.

FIM
EM BREVE OUTRO FOLHETIM...que este estava meio meloso...Mas folhetim não é assim?

terça-feira, fevereiro 08, 2011

Máscara de poesia

Escolho a máscara sincera,verdade estreita esquecida.Prefiro o dia amanhecido na beira da colheita escrita.São as plantações que se rendem ao que lhes resta: existir.Desejo ser estrela que arde... até em ti se extinguir.

Visita de carnaval

A lua procurou-me, dando notícias tuas.Disse-me que no folhetim, andavas toda nua.Bobagem disse à ela mentindo, como se não temesse o pior: a terei como faz casa todo o doce caracol.
Afinal, um louco de cartola tem lá seu secreto amor.O meu é escancarado de todo prazer e dor.
Diga-me, minha querida, qual preferes afinal?Uma paciência sem fim ou esta audácia sensual...de te fazer minha estrela , meu par no carnaval.

Estarei mascarado de poesia.
Luciano P

Vício em palavra

Vício é esta denúncia
que se abre em botão.
É quente e terno sussurro
palavra rompida, contradição.
Vício é ainda voltar
por si à igual letra,
canção.
Fazer-me outra sempre
só para ouvir a mesma
voz sem repetição.

Incestuosa

Pão feito em casa é cheiro de palavra que se tenta roubar.Como!?Não dá para ocupar a cama dos pais.

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Ensaio sobre o amor VI

Já li Cervantes...e todo o riso do mundo me invadiu.A risada é universal, o cômico é  carnaval.Não sei.
Lembrei-me das tuas invenções.Tantas só para estarmos juntos.Mentias e eu sabia disso tão bem.Não há na verdade nenhum mistério, por conta disso se inventa critérios: textos, canções, ideais, soluções.
Na primeira vez consenti e nunca dormi.Na segunda vez fui tomada, de assalto pela minha embriaguez.Na terceira vez eu sabia, era a despedida.Não mais te queria às pressas, tudo tem seu fim.
Pena que não foi assim.Se tivesse sido hoje eu contaria a história mais linda, com um final.Detesto histórias sem finais.Seria a cena com começo,meio e fim.A apresentação!
É estranho quando somos atravessados pelo que não se desata.Abre a melhor e pior estrada.Então transgredimos...e para o amor não há lei, como continuar a se ver, mesmo depois de morrer.
O vento é forte demais e talvez eu sinta frio.Tiro meu vestido e percebo que estou diferente de quando o coloquei.Oras!Claro!Para estas coisas, estes vestidos, estas palavras...o tempo nem sabe de si.Nem eu.
Tenho a pele clara e preta.Sou filha de lavadeira, daquela que cuidou de mim enquanto ensinava sobre as roupas sem fim.Nasço todos os dias negra.
Minha roupa mais íntima, por fim, vai deixar meu nome a mostra.Sou uma...Não demora.
Quero te encontrar com todo o vinho, meu sexo e minha transgressão.Que isso seja um vento impossível de conter, que isso seja a próxima vez.E detesto o que não tem fim mas...como já disse, sou filha de lavadeira e minha pele é negra, a única que vai sobreviver ao sol de amanhã.
Tiro o soutien e a calcinha.Ainda minha, a tua falta de ontem.Agora não há como voltar.Estou nua de fato, desde que aprendi a falar.
O quinto cálice de vinho.E ainda danço Piazzola, como um louco de cartola que sabe destas coisas em mim.Salto, giro e...não há encontro mais feliz!

Cegos de nascença

O meu vestido preferido era de bolinhas, depois de alcinha.Mais tarde era negro, branco, vermelho.Agora de listrinhas...arco-íris...As palavras tem a cor do outro que nos vê.Habita-nos uma cegueira sem porquê.

A traça

Renda diferente, mostrando que o tempo faz reza, fenda, enfeite.Pele tecida entre uma e outra.Átomo que une sem deixar o vazio da hora.São buracos ou são demoras?Apenas a rasura perfeita da verdade, arrumando o vestido para a próxima idade.

Sumiço

E eu sumi ontem.Só voltei depois.Disseram que fui, disseram que não.Agora lembro de uma eu apaixonada.O que se deve aprender?Sumi mesmo! E eles não querem saber.

Sérias intenções

Envio fotos e alguns jornais.Quero que sintas o ar daqui, minhas palavras, meus ancestrais.Vovó, meu tio,minha irmã...o vinhedo.A garrafa de vinho, minha falta de respeito.

domingo, fevereiro 06, 2011

Queimadura dágua

Minha queimadura...Ah!Apenas arde no tempo que nem tem pressa de esquecer.E fala sobre a pele da água que se renova palavra-toda, a cada novo dizer.

Encontros vocálicos

O vazio fundou meu braço,
entre tantos o que seguro.
Esta nudez verdade
riscando escada e muro.
Contorno sem pertencimento,
senão palavra.Tão tarde!
Não durmo sem ser amada.
Tão cedo! Flutuo
nestes encontros de vogais e gestos.
Entre: é só mar aberto.

Poesia " Tipo Importação" do blog http://cris-cristinamacedo.blogspot.com/

ADOÇÃO

Não sei se te contei
mas há algum tempo sou minha
me adquiri num mercado
onde o escambo era da posse pela liberdade
me obtive numa dessas voltas da morte
me acolhi num desses retornos do inferno.
Dei banho, abrigo, roupas, amor enfim.
Adotei o meu mim
como quem se demarca e crava em si o mastro da terra à vista
a cheiro, a tato, a trato, a paladar e ouvido.
Não sei se te contei
me recebi à porta da minha casa
abracei, mandei sentar
Abracei eu mesma, destranquei a porta
que é preu sempre poder voltar.
Dei apenas o céu à sua legítima gaivota
Somos a sociedade
e ao mesmo tempo a cota
Visita e anfitriã
moram agora num mesmo elemento
juntas se ancoram
na viagem das eras
No novelo do umbigo
No embrião do centro
No colo do tempo. 


Elisa Lucinda no livro " O semelhante"

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

"Incensurável",Suspiro longo em resposta

Ainda recolho do teu rosto,
minha lágrima inquieta
sombra vísivel de qualquer espera.
Traço, marca cenário da tua ruga inteira
delícia que se abre rasteira,
estende um manto, coberto na relva...
São braços da calmaria que se abrem em palavras...
Rias! Enquanto me fazias várias,
tantas quanto são as que desejas.
Rebento, acaso...
Amo a decência, a ternura, distância infinita
que faz com que te desenhe todos os dias,
na palma da minha mão
na falta do meu destino
não há solidão

Censurável ,achado de Jorge Rein

minha mão é um ancinho
sulcando a terra escura em que penteio
o crespo crepitar dos teus cabelos
se os teus lábios me afloram
minhas unhas te afaunam
e o botão do desejo
germina primavera entre meus dedos
pulsando as melodias que sugerem
um canto de sereias
no porão do teu sexo


Jorge Rein

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Em www.vidráguas.com.br Versos que ConVersam em Poemas EnRedados

Na home page Vidráguas: Versos que ConVersam em Poemas enRedados.Poesia feita a várias mãos, vozes,intenção.Projeto Vidráguas trazendo esta experiência encantadora de ouvir a poesia que continua falando depois de escrita.
Parabéns à Carmen Presotto e Ricardo Hegenbart
beijo grande

Palavra nos olhos, delicadezas de Elvio Vargas

                                            AVOANTES

As cidades são circos iluminados
onde as almas brincam de ciranda
os palhaços trepidam em bicicletas
de uma roda só...
Os pipoqueiros pipocam nuvens brancas
nas suas máquinas de pipocar.
As pandorgas que criamos
não voltam mais
viram pássaros.
Teu desejo de ficar
a renitente lágrima
a cálida mirada
para retocar o carmim borrado no lábio.
A palavra que gagueja
e morre lentamente
no cemitério vivo
daquilo que não falamos
mas remoemos...até que esfarelem
as lembranças...
nada mais é do que a VIDA!!!
Desde que nascemos
estamos partindo.
Desde que a vida brotou
em nossas horas
estamos morrendo.
Partir é a última atração
dos olhos infantes diante dos mágicos
pois um dos coelhos sai da cartola
mas é o avoante que alça voo...


Elvio Vargas

Eu e Freud II

-Pois é...Então é possível que já tenhas morrido? Fico pensando sobre esta coisa de se ver e ouvir aqueles que não existem mais...Sendo de alguma vida a curiosidade sobre a minha...um "et" olhando riria de mim.Posso eu mesma já ter-me ido...tantas vezes!
-kjuhmcndhd
-Como?É ...quando me enganei.Mas me enganei mesmo, sabe?Eu não sabia que eu estava me enganando(ehehehehehe).
-Ah!Sim!
-Ontem mesmo, fiz isso.E rio de mim quando percebo.Tu já sentiste um vento forte?Quero dizer...mesmo depois do...mesmo depois de...morto?
-Como sentir sem ter morrido?
-Ah?!Como assim?Ah!...Entendi, entendi...quer dizer que somente depois de ter aprendido a falar é que sabemos do que falamos?
-E quando aprendeste a falar?
-Quando morri, pela primeira vez.Quando nunca mais fui a mesma, quando nunca mais fui o que quiseram que eu fosse...quando vivi qualquer coisa como "sair de casa".
-dftsghssyusjsusnst
-Gostaria de voltar!
-Para onde?
-...Ah!
- E dá?
-...Acho que não.
-Por hoje...ficamos?!
-Mas afinal...Morreste ou não?
-Eheheheheheh.Acho que sim, não?

Para Luciano

Lúcida brisa que se abre em larvas.Vulcão esquecido que habita minha jangada.Lúcio, teus olhos de azuis de águas...somente elas mornas, frias, sagradas, abrem rios e mares, palavras.Amadas! Tuas mãos nos cabelos de abril.Estarei vestida de estrela , quando me encontrares.És todo o ceú que faz este secreto brilho verter de mim.Como parto, como morte, como vida enquanto, anos luz, existir teu sim.

Inverno

O silêncio que brota me diz que estás de férias.Quero hoje, rua, festa!Mesmo longe, te enfeitar o cabelo,aquecer tua cama por que aqui é inverno... e te espero... na primeira manhã de abril.

Lúcio

Taquicardia

Quando ouvi sua voz, me encantei.Esperei que parasse a qualquer momento.Eram segundos, tempo em marcha ré.Alguém já ouviu o coração no pé?

Nós tantas

Nunca mais me deixem...dizia à elas tantas que apareciam no meu espelho.

Pensando na vida

E hoje precisei fazer força para não viver.Precisava pensar um pouco.

Sabes demais

Encontrando-me na rua, não me reconheça.Não sou a mesma de instantes atrás.Nasci há tão pouco tempo que tenho medo dos que sabem demais.

Bolinha de sabão

E foi cescendo, virando a melhor coisa que há.Não respirava sem ele, eu para ele o ar.Ploc!Bolinha de sabão.

Mulher de cortador de mato

Se hoje se alivia amanhã nem mais respira!Esta vertente esquisita que seca quando nem é verão.Nem dá prá bater e nem enxaguar...a roupa que arde e se derrama por terra.Nem sabia que era...que nem água havia de limpar toda esta quietude, este céu , este ar...que eu nem queria prá mim.Se vai na vida vestindo a roupa que o sabão devolve.E faz bolha, rosca, silêncio...que nem o vento desculpa o que fiz à mim.Nem era destas paradas, nem era um ai daqui.Queria doer lá na feira, gritando prá vender aipim.Queria ter meu dinheiro, meu cheiro que não fosse o dele.Mas...a barriga se repara quando não sangra mais todo o mês.E que venha alguém do bem.Não feito eu...que não me perdôo, que não me perdôo, que não me perdôo...por me fazer tão sem fim.

Mulher do mato

Marcado pelo que me desenha, cada traço que escrevo fala mais que a dor.Tenho mão de mulher...de mato "cortadô".

Palavra tatuada

Pés descansos na terra...chão ligeiro no ar.
Um salto, uma quebra, a denúncia de quem sabe voar.
Braço estendido, pedido; que se ande, se alce, se trame sempre como da primeira vez.
Palavra tatuada...De onde vieste? Respondo: amei.
Jamais se retorna de lá.
Sonhei.

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Casa de caracol-gente

Misturo cimento e areia.Água.Um a um tijolo feito mão.Cavando fundante, o desejo que suspende a frase e a paixão.
São as casas bem construídas sem risco de quebra, de desabamento.São as falhas bem arejadas, rasgando janelas e estradas.
A melhor casa é a que surge diferente.A melhor é de caracol-gente, carregados pela palavra, verdade de sempre.