quinta-feira, janeiro 13, 2011

Ensaio sobre o amor V

Vem, meu amor, dizer-me que encantos tem as estações.São os invernos ou os verões que fazem nascer as sementes?Palavras como " sincero","beijo", "saudade" trazem a idade do tempo que nos fez crescer.Repara que são tantos os arrepios e calores e desejos de antes ou do que vem.Hoje, estação do trem.
Antes que a noite termine quero que leves esta lembrança, o que todos constroem em algum tempo: infância.Leva minha caixa de antes, uns brinquedos que guardei: boneca, livro, panelas...são tudo o que sei. Leva também os seios de agora, carrega na tua sacola, travesseiro de dormir.Inventa que são meus pertences quando já nem a mim servem sem ti.
Peço que esta noite inteira , nunca esqueças em alguma fala.Guarda como perdidos de malas, aquelas coisas que se acha dentro, muito depois.Vou te contar um segredo, não serei a mesma depois.Lembra-me sempre quem hoje estou.
Escrevo somente agora porque o tempo, estação de fora, abre-se somente com este frio.Recebe esta carta com cuidado e lê para mim na praça, daqui há pouco.
Começo a tirar a meia calça de seda...branca!Minha pele é quase estrada e percebo a delícia do tecido que cobre a razão.Nem é pele, nem é chão.Sempre...estações.
Bebo o cálice inteiro e continuo a leitura de Ulisses.Várias línguas numa só.
Acho que dormíamos em meias de seda e nem sabíamos.

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