sexta-feira, dezembro 28, 2012

E se me prendes esqueço a maré.Lavo as roupas,faço café. Só lembro de ti assim, quando escrevo para ti...língua de antes de mim.
Não carece de nome, doutô, o que faço ou deixo assim no descanso.É só esta mania de fazer do barro mais que a sorte...Meu canto!.Mas se lhe fizer um agrado dar o nome de louco, sou sim...que isso lhe traga um tanto.Mas não leve a mal ou bem, o nome nem faz minha reza.Gosto de amassar a terra e dela tirar o que vem.Só não sabia que era pecado cavar coisa assim sem destino e fazer lata,panela ou carrinho, da lama que vem dali.Achei que no cemitério, a chuva do corpo da gente, dava para a lama um ar de semente...e fui escavar logo ali.
Mas não reclamo não...minha única prisão é "apaixonar" por ela...esta solidão.(Adriana Bandeira)
Mar calmo, sem embarcações.Penteio o cabelo perto da alma das pedras,que elas guardam as palavras.Escuto,gravo na cauda e depois...nado assim, como se fosse tudo
E se me pedes ternura, te dou meu segredo: teu desejo,teu desejo,teu desejo desenhando meus dedos .Teus lábios, sem medo.
Palavra por palavra

E se na madrugada fria tomares minha garganta como vinho, partitura, nestas estações que oscilam, em que sou tua...E se nos calores das febres ainda restar meu colo como o que te encaixas, e se me fazes uma outra mulher a cada nova taça...que seja por fim tua voz a minha pátria! Palavra por palavra.
Nas luas, como esta...aguardo os peixes que trazem os anzóis.Pescadas as letras, recolhidas em balaios grandes ...são dadas em sacrifíco. Estes deuses aparecem nestas grandes ilhas sem terra e nos matam se lhes oferecemos canções.Assim, canto somente se me pedem, sem medo do próprio amor.
leve
quando perco
o sono
o cansaço
o abandono
leve
assim
quando me
perco de
mim
de ti
leve
no encontro
com o que
vem
leve
me
...

sábado, agosto 04, 2012

Voltando para casa

Quando me fala esta falta tanta, este cansaço estranho...é quando encontro a margem da rua onde nasci.De pedrinhas, estrelas salpicadas de pés e tudo o que viria sem dizer que sim.

 Querer-me

Diga-me sobre esta versão esquisita ,farta,morta, escondida.Cale-me nesta loucura certa que diz ser verdade o que não era.Faça-me em carne e osso e pele ... transparente como nunca imaginei sorrir.O que me desenha assim?
 Pertencimento

Pela sombra do telhado, ainda há noite no frio. Sombra no chão desenhada, velha ,estreita,nunca amada...Quem há de dizer: és minha outra a cada vez?
Esquina de mim
 
Percebo o tempo nesta dobra diferente do dia em que esqueço,esqueço,esqueço; na ternura dos olhos na madrugada,o prazer estranho de sentir frio e solidão, vontade encarnada de cada segundo de estrada.Percebo o tempo nesta esquina da cidade em que perdi,perdi,perdi...um jeito infantil de dizer não.

 Terra
Acharam-me estranha ao voltar correndo no tempo, com uma roupa de algodão, ao descer das horas de colheita de uvas.Apontaram-me diferente quando entreguei os dias de abrir estradas e as madrugas a tecer roupas de lã.Olharam-me em suspeita de que havia enlouquecido porque não exitiam mais as uvas e nem o frio.Colocaram-me numa roupa diferente, rindo feito gente dos que chamam sonho de loucura e saudade de dor.E contiuamos ...Araram-me, araram-me...terra semente e flor.
Onde vais? Vou na frente para saaer de ti...meu desejo.(Adriana Bandeira)
“NOSSO REI MANDOU PEDIR UMA DE VOSSAS FILHAS... EU SOU POBRE,
POBRE, POBRE...Falando da vida com Kleiton Ramil

1- Preciso dizer que aqui não estou isenta, como estes entrevistadores. Não!

Realmente sou parcial rsrsrrs e sinto-me muito bem em falar também. Pois ao
assistir e ouvir a música Bry, à mim, além da beleza da letra, surgiu um som
diferente, de intimidade revelada... como se através dela o compositor quisesse
dizer mais. Isso não é comum a mim. Então lembrei da melodia, daquilo que
cantei em criança, esta denúncia que nem mesma eu sabia: eu sou pobre, pobre,
pobre de marré ,marré, marré... eu sou rica, rica, rica... A parte que mais me
chama a atenção é: nosso rei mandou pedir uma de vossas filhas. Nesta parte
sempre fiquei pensativa... Afinal, sempre alguém, o mundo... nos pede nosso
filho, nossa produção... nosso traço, querendo ou não. Então pensei em Bry
como uma entrega. O que podes me dizer disso, desta tua canção e a história
dela?

Quando morei em Paris, início dos anos 90, fiquei surpreso ao perceber que todas as

crianças conhecem no Brasil essa canção que era praticamente desconhecida por lá. “De
Marré Marré Marré...” refere-se ao bairro Marais, hoje cultuado pelos franceses e a
canção faz referencia aos ricos do Marré de baixo e aos pobres do Marré de cima.
Essa canção infantil caiu como uma luva para abrir a música BRY criada a partir
dessa experiência marcante em minha vida, que foi morar na França. Fiz muitos amigos
por lá, resgatei Kleitons que havia perdido pelo caminho, descobri personas que até
então desconhecia, e remocei uns dez anos pelo menos. Por isso compus esse tema para
levar comigo e dividir com as pessoas aspectos desse momento tão forte. A letra fala
de Bry-Sur-Marne, uma pequena cidade próxima à banlieue parisiense, mas o que as
palavras não conseguem expressar vem através da melodia, da harmonia, das células
rítmicas.
Sim, Bry é uma entrega intensa, parte de minha vida transformada em música,
tanto que ao concluí-la chorei muito movido por enorme gratidão de ter conseguido.
Aproximar-se da forma ideal, ao criar , produz uma avalanche de emoção incontrolável.
Quase todas minhas obras musicais são biográficas, ou pelo menos tratam de coisas
que vivenciei, mas umas são mais verdadeiras do que outras, no sentido de conseguirem
expressar melhor o que se pretende. BRY é uma dessas canções...

2- Lembro dos Almôndegas, do sucesso da dupla Kleiton e Kledir... mas agora é

como se fossem outros, diferentes, melhores. Isso é assim, para ti ou... o público
cresceu, tomou outra forma?

O período do Almôndegas foi muito bonito e poético. Uma grande escola de

vida. Imagina um grupo de amigos (o grupo surgiu de uma turma de 25 pessoas
aproximadamente) todos apaixonados por música, vivendo de roldão atrás de seus
sonhos? Tudo era paixão e deixar acontecer. Nada muito planejado, mas que trazia
importantes resultados movidos pelo prazer diretamente gerado pela música. Havia,
por outro lado, muita ingenuidade e falta de experiência,de profissionalismo. Hoje,
olhando para trás percebo que foi o início de tudo e meu percurso profissional foi
dar prosseguimento aquilo tudo, e até antes daqueles anos 70. Mas ali deu para
perceber que podíamos ambicionar ir muito adiante.
Tanto eu, Kledir e público crescemos juntos acumulando novas experiências
músicas, muitas viagens, estudos, troca de informações com outros artistas...

Muito do que sabemos em música aprende-se fazendo: “O caminho se faz

caminhando”. Mas a isso agregue-se diploma de engenharia + de composição e
regência + mestrado em composição + gostar de pesquisar + curiosidade infinita
+ jeito pra coisa... Daí pode nascer um artista. Não tenho dúvidas que estou sempre
em evolução. A vida artística é muito generosa nesse sentido.

3- A música, o tempo da nota musical... já é uma poesia. A melhor! Então não é

raro que eu pense ser redundante poesia musicada.Porém, existe a letra que casa
com o som e numa parceria belíssima se tem mil poesias. Neste aspecto...poesia,
poesia, poesia. O que é poesia para ti? O que é música?

Não se sabe quem pela primeira vez teve a ideia de juntar um texto a uma música.

Mas com certeza deve ter levado um enorme susto. Há muito poder na música, há
muito poder na poesia. Esses dois mundo reunidos tem um poder incomensurável
e, certamente, instigante se for observado de perto. É maravilhoso, como você diz,
quando as duas vertentes parecem nascidas uma para a outra. Mas não é simples de
dominar essa questão. Prosódia é algo que faz criadores de música mais exigentes
enlouquecerem. Quem sou eu para definir música ou poesia? Só posso dizer que são
boas razões para viver.

4- Quando resgatamos o autor, sua vida, seu cotidiano é somente para apresentar

o quanto é do humano estas “ tais produções artísticas”. É somente destes, nós
mesmos, que pode surgir a arte enquanto trabalho/produção. Quem é o autor de
uma obra?

Muitos anos atrás, compus uma melodia (vocalize da música Circo de Marionetes)

que tinha orgulho de dizer que era uma de minhas mais belas criações melódicas.
Décadas se passaram e, um dia, eu escutava uma obra orquestrada de Mozart quando
ouvi surpreso uma trompa tocando exatamente aquela melodia. Desde então, como já
desconfiava, entendo que um compositor, o autor de uma obra de arte é um repassador
de cultura. Absorvemos tantas coisas interessantes durante nossa vida... É preciso
esforçar-se para merecer esse dom. Receber, repassar. Não é algo de pouco valor poder
servir à musica. É preciso estar disponível.

5- Bem...rsrsr, então vou arriscar: quem é Kleiton?


Quem sou eu? Essa é uma boa pergunta que tenho feito há bastante tempo.


6- Sair do Sul, voltar, turnês, e... a vontade própria. O que é “ a vontade própria?


Olhando para minha carreira, tudo o que se passou comigo, de bom e de ruim, acredito

que fazem parte de um plano, um destino traçado, sobre o qual temos pouco poder.
Claro que todo tempo esforcei-me para imprimir minhas ideias, mas os resultados são
misteriosos.

7- Quando estiveram aqui em Montenegro “Kleiton e Kledir” lembro de uma coisa

engraçada.Passei na rua por ti. Caminhavas pela cidade. Gostas de conhecer os
lugares, as ruas, as entrelinhas? O que são “as entrelinhas”?

Sim. Tenho um prazer especial, em minhas viagens, de me misturar com as pessoas,

as cidades, as culturas locais. Lembro quando nos conhecemos e trocamos algumas
palavras. Tive a impressão de nos conhecermos há muito tempo. Por isso estamos aqui
agora “trocando figurinhas”. Faz sentido. Acima da lógica acredito que temos uma
tribo, espalhada por todo o planeta, com a qual nos identificamos.
Além disso, os artistas, na estrada, podem tornar-se muito solitários se não buscam fugir
dos hotéis e dos compromissos impessoais. A música não resolve tudo.

8- Kleiton: família, cais, palavra e olhar. Poderias nos falar disso... assim como

vier?

Família: dedicação total, tolerância infinita, amor aos borbotões...

Cais: estou sempre a partir, correr riscos, experimentar, perder-me, e retornar para
começar tudo outra vez.
Palavra: pecado não é o que se pensa, mas o que não presta e se transforma em palavras
ou atos.
Olhar: adoro olhar de forma transparente às pessoas. Sem julgamentos prévios.

9- Dizem que aos poetas resta silenciar. Não concordo. O artista nunca silencia

embora, muitas vezes, aparentemente faça isso! Outro dia assisti a uma
entrevista de Geraldo Vandré, que voltava a responder algumas coisas... depois
de anos de suposto silêncio. Percebi, no seu olhar, tanta fala que... se por algum
motivo em alguns momentos continuou calado era muito mais em respeito à
ignorância do entrevistador.rsrsrs...Então, por favor, não fique calado! Rsrsrs
Mas pensando nisso... como tu vês o momento político de nosso “estado” ou
organização enquanto país?

Nasci em uma família que sempre via a política (politicagem) como coisa muito ruim.

Por isso quando penso em política penso de forma ideal, quase ingênua.
Não gosto do que vejo na política brasileira, e nem em outros lugares do planeta. Fala-
se em fim do mundo, mas acho que seria mais proveitoso pensarmos em fim dessa
sociedade que herdamos e não conseguimos modificar. Simpatizo muito hoje em dia
com o movimento Verde que é bem respeitado na Europa. Mas apesar de não ser filiado
a nenhum partido, acho que grandes soluções podem vir daí. Talvez mais da atitude
individual de cada um de nós (vencedor é o que se vence) e da consciência coletiva do
que esperar soluções das “autoridades” que não tem real autoridade ou moral para nada.

10-A incursão de vocês no mundo infantil tem sido... maravilhosa! Minha filha só

canta a dos pirulitos: de chulé, de goiabada rsrsrsrs. Como isso foi acontecendo?
quero dizer...subjetivamente contigo...

Antes de ter filhos, eu já era o tio bagunceiro que criava brincadeiras e estripulias para

a criançada da família. Sempre foi natural para mim essa relação. Acredito que veio do
fato que minha infância foi muito boa, com muita criatividade e espaço para expandir
corpo e mente. Até hoje me sinto um “crianção”, às vezes. Com o disco Par ou Ímpar
e mais recentemente a relação com o grupo Tholl, com quem montamos um belíssimo

espetáculo que gerou o DVD, toda essa boa energia veio à tona. Até pular corda estou

pulando no palco. Meu coração também pula de alegria...

11-Não posso deixar de perguntar... e a maravilhosa parceria de anos com o mano

Kledir?

Falou bem, maravilhosa... Realizar o impossível, juntos. Não sabemos muito bem

até onde somos um e outro na nossa obra. É um exercício constante de humildade e
perseverança. Com muitas alegrias, claro. E isso vem da infância, mas acredito que já
éramos amigos mesmo antes de nascermos...

12-Dizem alguns e me incluo que a música e a letra são a pele, de verdade. Sem

isso, o som e a letra, estamos em carne viva. Então, na minha área, não é raro
assistirmos a mudança de discurso, de lugar subjetivo resultar num poetar.
Sendo algo humano, nada mais natural que isso... Porém, neste mesmo contexto,
existe a fala em que o sujeito não se coloca, apenas exprime o que imagina
que querem dele e existe a fala própria, onde o sujeito está implicado, falando,
gritando o que lhe morde. Nas duas formas, é o sujeito a lidar com um si mesmo.
Mas, afinal... como saber o que é legítimo? Ou as duas formas seriam legítimas?

Acho que não existem artistas 100% legítimos, como gostaríamos. Talvez um Rimbaud,

um Kafka, muitos poucos o tenham sido. Algum desconhecido? Mas a realidade é
dura e crua. Em alguns momentos abençoados abrem-se as comportas e a arte surge.
Nesses momentos alguns privilegiados conseguem entregar-se na sua totalidade. Mas
a maioria dos artistas profissionais oscilam entre a prática do cotidiano, e a arte em si.
São raros os que conseguem resistir aos apelos do sucesso, da vida confortável e sem
preocupações apenas para se entregar de corpo e alma a uma vida artística perfeita.
Vivemos tempos de muita banalidade.

13- rsrsr...Porto Alegre...rsrs


Porto Alegre é meu porto...


14-Nesta grande trajetória o que tu destacarias como os principais acontecimentos

de uma vida, até agora?

Profissionalmente vivi momentos maravilhosos com a música, mas no fim das contas

o que realmente pesa na balança são as coisas mais simples. O nascimento dos filhos, a
presença dos amigos, eternos amigos, cada novo dia que nasce, cada nova canção...

15- Gostarias de dizer mais alguma coisa?


Obrigado pelo convite.


Kleiton, sinto-me honrada em te receber na minha casa, nestas indecentes palavras,

como toda letra que nunca diz tudo, é. (E elas ...não dizem tudo porque querem voltar
a dizer!) Principalmente no momento em que vocês escrevem e compõem às crianças...
nesta vontade de falar com os que logo e já estão. Então é a poesia e música do tempo
de hoje, nesta verdade que nos habita e quer saber sobre todos estes, nós todos, que
compomos o dia-a-dia, longe do que nos faz morrer. Bem,... a vida sempre arde!

Mas “dá uma vontade de...” Viver?

Agradeço tua visita e sinta-se convidado sempre em Indecentes Palavras!

Beijo com todas as letras!

quarta-feira, julho 04, 2012

Na casa o silêncio mora mesmo que o vento conte a história e fale de si.Aqui , pelos barulhos, foram todos embora, menos o vazio das horas que me fazem rir.Reconheço cada resto, cada gesto sincero.Os que não foram...não deixam cicatriz.Na casa mora esta ternura que ainda guardo em mim.
Se na madrugada confundo lugares...é só por falta de avisar o barco sobre o rumo dos temporais.À ele não é possível dizer!Seguem sempre para o mesmo lugar.São velas na escuridão, castiçais!
 Hábito

Se na madrugada confundo lugares...é só por falta de avisar o barco sobre o rumo dos temporais.À ele não é possível dizer!Seguem sempre para o mesmo lugar.São velas na escuridão, castiçais!

quarta-feira, maio 23, 2012

Caminho de trem
Para tecer estrada é preciso cavar buracos fundos do nada...embora aparentes somente calados dormentes, da pele na água.

sexta-feira, maio 18, 2012

Linha

É o fio que escorre,separa e segura,que mede e deseja a ternura : que nos pegue pela mão.É o fio que faz a faca, a escultura, fumaça, fio de massa que esparrama letra no chão.Passo na rua, estranha, fio da luz que banha um quarto de amor.(Adriana Bandeira)

Pés pelas mãos
As sombras estranhas acomodam-se tardias, na sala,na casa, na partida, quando não se quer mais.Meu braço desenha o chão e eles, os pés, as mãos.Um há de ser outro para valer  inventar viver para sempre.(Adriana Bandeira)

quinta-feira, maio 17, 2012

VEM DA RAIZ A PRIMEIRA PALAVRA, ÁRVORE QUE RESTA OU RENASCE INTACTA  PARA  SEMPRE  NAS MÃOS...MORADA-  Falando de amor e verdade com o escultor Itelvino Adolfo Jahn



1-O que é...esculpir?


 Não se decide esculpir...esculpir é como sentir sede...



2-Na tua obra, a marca do movimento anda ao lado do movimento do objeto.É como se houvesse um respeito com a vertente da madeira, a veia...se posso falar assim? O que há de verdadeiro nesta minha impressão?


 Sempre gostei dos movimentos que cada uma das árvores, troncos, galhos ou raízes apresentam. Gosto do singular, do irracional, do imperfeito que, para mim, é o imperfeito que se torna belo.





3-Qual a tua causa? O que faz com que queiras esculpir?

É dar um destino nobre a quem veio para nos ser tão útil desde o começo da nossa vida até o final dela. Esculpir é uma forma de não deixar que fique no esquecimento.



4-Foste criado no campo, nos afazeres que te aproximaram das construções práticas, da terra, dos animas.O que isso influenciou no teu fazer?


Tudo; o simples, o comum e irracional, o belo que isso passou para mim.




5-Itelvino... a arte escolhe o artista ou...o artista escolhe  arte?

 Os dois: são dois anjos de uma só asa que se complementam.





6-Quando a obra é de arte, fica difícil colocarmos um valor em dinheiro, para levá-la para a sua função: estar para além do artista.Como acontece isso contigo?


Quando executo uma obra, é parte de mim que se concretiza em arte; não “cobro” a arte e sim a mão de obra.


 



7-Trabalhas com madeiras daqui, desta região.Qual a tua proposta neste sentido?


Minha proposta é trabalhar com as madeiras do Rio Grande do Sul ( frutíferas, ornamentais, exóticas ou de reflorestamento) desde que já tenham cumprido sua parte, ou morrido por causas naturais e intempéries. Assim posso mostrar ecologia e cultura onde nasci.




8-Teu trabalho toca, mexe e desacomoda, como toda a obra de arte faz.Há um reconhecimento nesta exposição do movimento na madeira , da voz no silêncio, do sonho no sono.O que tu achas que as pessoas vêem na tua obra?


Não gosto de colocar nome nas obras para que as pessoas possam sentir plenamente o que veem: o irracional com o racional.



 




9-Dizes que não colocas nome na obra.O que isso quer dizer?


Não coloco nome nas minhas obras para que as pessoas possam observar e ver com os próprios olhos e não com os meus, o que se lhes apresenta.






10-Há algum tempo tive o privilégio de encontrar com tuas peças no saguão do aeroporto.De longe comentei: é o Itelvino! Nisso pergunto: és tu na obra? Ali, tem exatamente o que do homem? Misturas?


 Sim, é o Itelvino, o homem de corpo e alma transposta na obra.





11-Contas com algum incentivo para logística e outros?


 Não. O trabalho tem tudo no que se refere às questões ambientais, mas ainda não consegui despertar o interesse das pessoas para obter apoios e parcerias.






12-Estes dias falavas que teu ateliê é ao...ar livre! Também sobre como concilias a família e teu fazer.Poderias dizer um pouco sobre teu dia a dia, tua escolha diária por isto?


Dia-a-dia num convívio harmonioso, pois meu ofício faz parte de mim, como minha família faz.




13-Poderias descrever um pouco o processo com a madeira, o tempo que levas...tua experiência e as peças que mais te surpreenderam?Quais teus instrumentos de trabalho?


O processo é muito lento, pois todas as madeiras apresentam “problemas”, diferentes para serem trabalhados. A primeira etapa é de limpeza ( de terra, cascas, partes queimadas ou até apodrecidas, arames, pregos, pedaços de ferro incrustados, e tantas outras coisas). Só depois começo a esculpir, o que também é um processo muito lento, pois todas as ferramentas que utilizo são manuais. Cada uma das peças tem seu próprio tempo, algumas delas ultrapassando um ano até sua conclusão. A experiência é de muitos anos, pelo gosto por este tipo de escultura orgânica. As ferramentas são simples, como formões, machadinha, grosa, enxó e, para as partes maiores e pesadas, uso a motosserra. O acabamento final fica por conta das lixas.



14-Quando tu adota a árvore...já pensas que ali tem uma forma ou isso vai acontecendo?


Quando adoto uma árvore o processo vai acontecendo naturalmente. Muitas dessas árvores, raízes e troncos,sóimagino mesmo o que fazer quando está totalmente “limpa”. É aí que começa mesmo o olhar de contemplação e descoberta de cada movimento.






15-Gostaria de dizer mais alguma coisa?


Gostaria muito de ter o mesmo respeito e reconhecimento que é dado a outros escultores no Brasil a fora. Preciso de apoiadores, patrocinadores, parceiros enfim, formas de ajuda para divulgar meu trabalho. Sei da importância que ele tem no que se refere a questão ambiental, no respeito à natureza. Gostaria de poder levar minhas obras a várias exposições para as quais sou convidado, mas ainda não posso “me sustentar”.







Itelvino, a diferença naquilo que te recebe aqui, faz lembrar o mesmo passo, a mesma estrada que desenha a arte como construção do ser.

Ainda nas palavras, nossa morada, aquilo que faz esculpir na morte este punhado de vida, de movimento que tece uma continuação no outro, que fica diferente quando se deixa tocar pela tua obra; no desejo que se viva para além de uma única estação, que se fale nas marcas, nas facas e formões que anunciam o amor pela verdade que se impõe: somos o que fala por nós.

Sinta-se para sempre convidado em Indecentes Palavras, marcando com tuas mãos a casa-morada de cada um que nasce outro, a cada vez.



Beijo com todas as letras



Adriana Bandeira





Itelvino Adolfo Jahn Filho

Itelvino é um escultor gaúcho, nascido em Montenegro, na localidade de Campo do Meio. Exerceu diversos tipos de atividades mas, foi como escultor que se descobriu capaz e realizado.  Executa suas obras a partir de “sobras” de madeiras descartadas naturalmente ou que, de alguma forma foram retiradas por outras pessoas por representarem risco físico. Optou por trabalhar com as madeiras aqui do sul e mantém suas raízes morando e trabalhando na localidade onde nasceu. Trabalha com madeiras de diversas espécies de plantas desde ornamentais ,  exóticas até frutíferas.

Dentre suas obras destacam-se: esculturas , esculturas funcionais ( bases de mesa, mesas de centro, bancos, bancadas, mesas de apoio ) esferas, fruteiras, revisteiros....

Já realizou diversas exposições, individuais e coletivas:

·         Mostra na Copesul – Semana do Meio Ambiente (2006);

·         Exposição no Espaço Cultural da Câmara de Vereadores de Montenegro (2006);

·         Mostra na INOVA- Petrobrás (2006);

·         Mostra no Espaço Vida Unimed – Semana do Meio Ambiente (2008);

·         Mostra no “Mês do Móvel e Design em Gramado”- RS (2009);

·         Mostra “Casa Cor”- Porto Alegre – RS (2010,2011);

·         Exposição no Aeroporto Internacional Salgado Filho em Porto Alegre (2009, 2010, 2011);

·         Exposição em Cuiabá- Mato Grosso;

·         Exposição no Hotel Hilton em São Paulo;

·         Exposição no Hotel Sheraton- Porto Alegre- RS;

·         Participação na” Mostra Casa e Cia Litoral” – Xangrilá –RS;

·         Exposição na Semana da Floresta – Gramado- RS( 2011);

·         Exposição “Arte Sem Fronteiras”- Montenegro-Curitiba-2011;

·         Mostra virtual na Galeria Ana Pirollo-2011;

·         Exposição no Shopping Iguatemi Porto Alegre-2011;

·         Exposição no Shopping Paineiras- Jundiaí – São Paulo.

Realizou outras atividades relacionadas à sua arte como

·         Execução de um troféu Mérito Empresarial Associação Comercial e Industrial de Montenegro, para homenagear empresários locais 2009,2010;

·         Execução de troféu para homenagear o jogador goleiro Rogério Ceni pelos” 1000 jogos como jogador do São Paulo”;

·         Execução de um troféu para homenagear o empresário e presidente da FIERGS ,Sr. Heitor Müller.

Recebeu convites para participações em exposições fora do país(China, Argentina) às quais não participou por falta de parceiros apoiadores-2011, tendo recebido convite para mais duas para este ano-2012(julho), na França e Inglaterra.

















quinta-feira, maio 10, 2012

Sobre o consumo de gente

E não é somente o vício.Quem consome está aliciando crianças num trabalho de morte.É cada vez maior o número de crianças pequenas( de 6,7 8,anos)que além de começaram a usar crak ou cocaína, sevem de aviãozinho para os que vendem e compram.Esta é a pior ditadura dos últimos tempos!Se em algum momento usar drogas estava relacionada ao filme charmoso, ao rock rebelde, saibam...hoje usar droga é obedecer a um sistema que determina a morte do sujeito antes da morte de seu corpo.Talentos como o desta moça, consumida pela obediência é uma referência ao que tem acontecido.Para além de uma campanha "Não às drogas" deve-se ter por lema:"Não ao consumo de gente".
 Caminho de casa


Se acaso do resto for parte meu corpo,minha vontade...saiba: é o melhor lugar.Sempre nascer diferente,sempre migalha de pão quente, mostrando estrada de pó.

segunda-feira, maio 07, 2012

 Abismo

É meu isso que aqueço e seguro e velo e teço, como se fosse um lençol! Meu isso que esfria e morre e treme, corpo semente...corpo que é só.Entre ele e eu que escrevo, esta ternura sem paz nem tempo que registra somente depois.Entre nós o abismo sem vento que pede da morte, o nascimento ...da palavra o que não brotou.


Se você for embora uma,duas,três vezes...se você for embora para nunca mais voltar...leva teu sorriso,teu cheiro, teus sonhos.Eu não sobreviveria guardando... teus restos mortais.Leva-me como par.
Há três...somos em trio.Um eu, um tu e este encanto que nos faz outros.
 Dia a dia

A terra se abria na intenção de plantio.Marcava o traço da semente como forma e pão quente, no final de abril.Aos homens que surgiam da terra, ela a esfera,lhes marcava com sangue as mãos.E eles colhiam estrelas nos cestos, nas tardes, no vício de durar uma estação.
FESTA

Mala nas costas,fui embora de mim.Bebi vinho no chuveiro, desenhei no vidro do banheiro e nasci outra: água,mel,sal.

FIM

Existir no sonho do outro como poeira que logo se vai...e já foi e então...vôo sem pressa até o mar.
Boca sedenta, voz sem perdão.Fome de verso,luz do corpo que nem existe sem chão.De terra,de tábua, de vazio...sagrado como tudo que segura, uma a uma , as tantas que ousam andar. Pão dos dias, resumo...quando não é rascunho, o jeito de respirar!?
Sou a espera inteira,como brilha a primeira estrela que morta ainda fala sim.Sou a palavra que não é minha mas da estação que brilha, parada... sem fim.
A luz rasga a neblina.Instante faísca, leve e oblíqua.O som da voz que traz o resto: olhos,corpo,mar aberto...É isso quando a escuridão vem, esta minha noite de barco descoberto.

ENGANO

...Será que voltas?Será que estás? O sapato esquecido boceja na hora de acordar.Na espera das ruas que continuam a existir, das frases que ainda estão por vir, faz o trabalho diário de esperança.É infinita a presença que repara a falta.Será que voltas? Será que estás?... o sapato esquecido não para de falar.

 BARCO A VELA

Um cordão frágil desenha oscilante mar e praia.Dança o barco,sombra de dentro, na parede da sala.
Alimentava-me de sangue e resto de gente.Placenta flutuante de antes de mim.Depois só aprendi a falar.

  MALÍCIA
Que a voz me perdoe o canto.Não faço por ela mas pela falta que me faz lembrar.

 TRÁGICO-CÔMICO
A vez de existir faz chá de erva doce, sumiço de outono.Abandono é só a sombra na beira do rio.E ri.
Dentes afiados rasgaram meu corpo desenhando este vão. Fui mordida pela vida.Fora isso, não há perdão.
Na pedra fria, brotada semente.Só da pedra nasce o detalhe dos lábios e  a forma da palavra gente.
Era festa o som do silêncio na tarde quente.O porta retrato vazio...a vida pedia mais do que um instante.
RESPOSTA À REDAÇÃO DO JORNAL IBIÁ SOBRE BIGAMIA,EXCLUSIVIDADE NO RELACIONAMENTO E FORMAS NOVAS DE RELAÇÃO.


O " relacionamento liberal' como chamamos é coisa de uma época, a nossa.Nela incluimos mudanças de comportamento, de valores , de relação com o mal estar que nos traz a civilizaçaõ.É isso mesmo! Civilização traz um mal estar benfazejo naquilo que dá forma às relações socias tornando-as...possíveis.Não há a tal felicidade vislumbrada pelas ações que levantaram a bandeira da liberdade.Primeiro a pílula e em seguida...a liberação sexual.É certo que a sexualidade não é passível de ser reprimida, no sentido que se pode honrar a teoria psicanalítica das pulsões.O que ocorre é que...somso seres da cultura! Não somos...como diria... "naturais".A natureza humana é, por referência...cultural.Nisso as coisas mudam: numa época as coisas eram certas desta forma e em outras...de outra forma.Porém o que não é mutável diz respeito a dependência de afeto e acolhimento.De certa forma é a demanda de um reconhecimento de que somos da mesma...espécie.O olhar, o toque, a palavtra, o gesto, são facetas humanas muito mais pela forma como são recebidas pelo outro: como se fosse para si mesmo.Neste aspecto somos seres apaixonados!Uns pelos outros e, nesta marcação podemos dizer que é nosso melhor defeito.Porém é fato também que exisstem escolhas e elas nunca são pelo " tudo".Podemos estranhar se incidir desta forma.Existe o que repetimos porque temos preferências, porque também é de gosto e valor uma espécie de conforto que o outro oferece na verdade que aponta: não queremos tudo.É neste aspecto que não é certa a premissa de que seria da natureza humana os trios, os quartetos e tantas outras formas de exercício da sexualidade.Podemos dizer, sim, que são marcas de uma certa fase da vida ou, mesmo de um tempo da história da civilização.Para além da moral existe uma ética determinada pelo desejo e ele, o desejo é de reconhecimento do que nos faz impossibilitados de fazer e querer tudo.Nesta imposição da verdade que determina nosso corpo, nossa fala, nossas ações,o melhor de tudo é dar o valor àquilo que construímos nas relações afetivas, no trabalho, no mundo.Não é raro que, na fuga de uma certa moral vigente se caia numa outra, com as mesmas questões mas num ação contrária.Por exemplo: a monogamia não é satisfatória ... então : poligamia! rsrsr Isso é clássico e apenas uma outra determinação da mesma coisa.
Estes dias surpreendeu-me um slogan no facebook: " Não sou cadela para ser fiel".Chamou-me a atenção pela simplicidade ingênua que, pela impostura, chegava a parecer verdade.Respondi que: " quando uma escolha faz valer uma repetição estamos diante de significantes de gente".
Então ficam as fantasias sexuais como as que poderiam valer a respeito de não escolhermos, de continuarmso pensando que o tudo é possível.Vale lembrar que é a escolha, a falta do tudo que permite ...fantasiar.Hoje atuamos como se as coisas e pessoas pudessem exigir ...a satisfação de suas fantasias.Oras!Elas deixam de ser fantasias e..
Não estamos por aqui para sermos felizes.Apenas para aprendermos um pouquinho a respeito de momentos importantes que nos damos ao deixar no mundo mais do que lixo.
Bem...continuamos...

  TEMPO DE IR
O tempo me trouxe a verdade: não se vai embora sem saudade, não se vai nunca mais no depois
Quando é a voz todo o disparo da hora, sai em corte profundo qualquer demora.É leve disfarce a fumaça esguia que dá de presente o vestido do dia. Teu esquecimento encerrou o cigarro na segunda escada da linha.Costuro as imagens, ida e vinda.

sábado, fevereiro 25, 2012

O AMOR É DO CUIDADO, PELAS PALAVRAS, PELA PRÓXIMA VEZ - Falando destas coisas com o poeta Sidnei Schneider

 

1-Preciso começar esta entrevista perguntando sobre o impronunciável. Talvez pelo que me faz lembrar da forma como nos conhecemos, em que existia uma pronúncia letra por letra do nome próprio. Pois bem, o que seria o impronunciável na poesia?

Sidnei com “d” mudo e tudo com “i”? É, gosto de me reconhecer quando recebo um livro autografado (risos). Penso que a poesia vai ao limite da aproximação da linguagem com o real. O poeta quer porque quer o impossível, dar a ver o mundo e as relações humanas usando apenas uns vinte e poucos símbolos, o alfabeto. Por isso rejeita a expressão gasta, opera desvios na linguagem corrente, usa diversos recursos que a língua oferece. Como se pode concluir, alguma coisa sempre ficará de fora, permanecerá não dita, porque o real e a linguagem não são a mesma coisa. Posso descrever uma fruta, mas não me alimentar da palavra bergamota. Como estou falando com uma psicanalista, talvez devesse acrescentar que, evidentemente, conforme Freud já apontava, também na psique humana o manancial do inconsciente não se esgotará, por mais que o transformemos em literatura ou objeto de análise.


2-Este impronunciável faz parceria letra a letra, palavra a palavra. O que pensas disto?

Toda a letra ou palavra, todo o significante, isolado ou em relação ao que há ou não há a sua volta no texto, é significativo, nas suas múltiplas possibilidades de leitura, especialmente na poesia. O vazio não é desprezado, as chamadas entrelinhas falam e colocam-se como espaço aberto à participação do leitor. Algo vai restar não dito, porque a linguagem não dá conta de se equiparar completamente ao real da realidade, do mesmo modo como não simboliza completamente o real do inconsciente. Creio que temos aí pontos de encontro interessantes entre poesia e psicanálise.


3-Nisso incluímos os contrários, contidos nas raízes dos vocábulos... Assim tudo muito igual ao que faz uma escuta em psicanálise. A negação como forma de falar de algo. A poesia se coloca a favor disso por, justamente, testemunhar o que não é acessível, o que é construído na hora, pelo leitor. Assim, qual a semelhança ou diferenças entre poetar e analisar-se?

Sim, a lógica aristotélica, que dizia que se A é A, então A não pode ser não-A, excluída uma terceira possibilidade, só serve para casos mais simples e limitados. Amor e ódio, vida e morte são faces da mesma medalha, compõe uma unidade dialética e podem se transformar um no outro ao menor sinal, à menor mudança. Assim como a atração e repulsão das partículas que dão existência ao átomo ou a gravidade centralizante e a fusão nuclear explosiva que “equilibram” uma estrela, o pensamento só existe a partir de contínuas contradições e sínteses em movimento. A palavra, da mesma forma, é unidade contraditória, para além das modificações de suas raízes etimológicas. João Cabral de Melo Neto, em Dúvidas apócrifas de Marianne Moore, trata da questão: “Como saber, se há tanta coisa/ de que falar ou não falar?/ E se o evitá-la, o não falar,/ é forma de falar da coisa?” Num poema, cada expressão ou palavra já é escolhida pelo poeta objetivando uma matriz ampla de significados, embora, obviamente, outros lhe escapem. O leitor, que vai ao poema com suas vivências e leituras, sua consciência e inconsciência, termina de criar o poema que o autor, muito modestamente, só esboçou. Assim, uma obra admite múltiplas e variadas leituras, embora dela não se possa extrair leituras quaisquer, como sugeriu Umberto Eco. Podem haver leituras que não correspondem ao que um texto, enquanto objeto artístico acabado, tem a oferecer através dos seus signos ou de suas elipses. Eventualmente podem ser úteis se trazidas para a análise clínica, mas fogem completamente do campo da literatura. Porque são leituras particularíssimas, somente daquela pessoa, impossíveis de serem aceitas pelos outros. Assim, se um psicopata lê os versos de Camões “Amor é fogo que arde sem se ver/ É ferida que dói e não se sente” e interpreta que eles são neonazistas e o autorizam a abrir fogo contra a multidão, essa leitura, do ponto de vista do seu histórico pessoal, deve fazer algum sentido, mas é impossível de ser compartilhada socialmente, por mais explicações que se desse para justificá-la. Ou seja, saímos do campo da literatura, e entramos no dá psicanálise, sendo que o leitor não precisaria ser um perturbado mental, mas apenas uma pessoa comum fazendo uma leitura demasiado particular de um texto qualquer.


4-Tua escrita é encantadora, revelando espaços inusitados enquanto traz marcado o cuidado com a palavra, com a significância. Prefiro chamar isso de cuidado com o tempo, quando apresentas um ritmo de construção definido pela cautela, pelo rigor poético. Qual tua formação, teus conhecimentos nisto que segue como campo da palavra?

Esse elogio, “encantadora”, eu não tinha recebido ainda (risos). Sei lá quais são os meus conhecimentos, prefiro bater na porta do desconhecido. Li e leio de um tudo, muita poesia, um tanto de ficção, estudos críticos, passei por um curso de Letras, fiz teatro, atuei na política. Não só literatura me interessa, nem apenas filosofia, história, economia, antropologia, as chamadas ciências humanas. Gosto de geologia, paleontologia, astrofísica, química e física quânticas, etc.


5-Já perdi a conta de quantas vezes tu me puxaste as orelhas (heheheh). E quando gostas do texto... pior ainda! Lembro de um personagem, meu cortador de mato.... Então tua paixão pelo texto, teu envolvimento arrebatador é virulento, no sentido de que ficamos pensando, pensando... se fomos negligentes com aquele personagem, se não o qualificamos, se não o apresentamos como devia (heheheheh). Isso é fantástico porque, a mim, faz referência a esta existência, em cada um, de muitos e a escrita faz valer isso, da melhor forma ou da pior. O que me dizes?

Bem, nunca pretendi puxar orelhas de ninguém, não é esse o meu foco. Quando me pedem uma opinião sobre determinado texto, se tenho tempo e condições eu dou. Digo sempre que não desejo a concordância do escritor, mas provocar o seu debate interno, destravar a sua discussão quando já não consegue pensar nada criticamente novo sobre o que produziu.  Uma vez que opinei algo, o escritor necessariamente vai se confrontar com isso, para discordar, concordar, pensar outra coisa ou eleger as razões do acerto que fez e eu não percebi. Imagino que é como ter a experiência da crítica pública antecipada, o que talvez possibilite ampliar a consciência sobre a própria linguagem. Não acredito que a poesia ou a ficção possam ser uma espécie de vômito do inconsciente. É necessário muito trabalho, aproveitar essa matéria inicial até transformá-la em arte, dar duro. Não confiar na espontaneidade, de que assim se alcançaria um bom resultado. O espontâneo é uma escrita imediata, ainda pouco endereçada ao outro enquanto objeto estético, ainda não totalmente construída com esse fim, sendo uma possível exceção a isso rara, pouco frequente.


6-Acrescento que a forma como abordas o texto alheio faz esta báscula: texto próprio, texto do Outro. Este cuidado com que determinas uma aliança legítima entre privado e público: o texto tem um autor mas...é do Outro. O que achas disso?

Muitas coisas que podem satisfazer o escritor, que possui todas as conexões e referências, igualmente podem não fazer sentido nenhum para a recepção. O poeta Paulo Henriques Brito escreveu em Um pouco de Strauss: “Não escrevas versos íntimos, sinceros,/ como quem mete o dedo no nariz./ Lá dentro não há nada que compense/ todo esse trabalho de perfuratriz,/ só muco e lero-lero.//(...)// Esquece o eu, esse negócio escroto/ e pegajoso, esse mal sem remédio/ que suga tudo e não dá nada em troca/ além de solidão e tédio:/ escreve pros outros.// Mas se de tudo que há no vasto mundo/ só gostas mesmo é dessa coisa falsa/ que se disfarça fingindo se expressar,/ então enfia o dedo no nariz, bem fundo,/ e escreve, escreve até estourar. E tome valsa.” Escreve-se para alguém, para um público, desde um público, “Le style, c’est l’homme”, o estilo é o homem (faz o homem), mas vem do outro: “o homem a quem nos dirigimos”, acresceu Lacan, “apenas para alongar a sentença”. “Le style, c’est l’Autre”, diria ele, apesar de nunca ter feito essa brincadeira com a frase originalmente proferida em 1753 pelo naturalista Leclerc de Buffon e utilizada depois por Karl Marx para se defender da censura prussiana, sendo a nova de Haroldo de Campos.

enriques Brito

7-Estes dias falávamos sobre o Amor pelas palavras. Há um certo encantamento, envolvimento que faz as vezes de paixão...pela palavra. Nelas não há limites, podem ser o que imaginamos, podem trazer vestígios de lembranças ou lugares não visitados. Então lembro Freud, naquilo que apontava como estranho familiar, sua perspicácia para dizer sobre as revisitações na fala. O que seria, na escrita, um estranho familiar?

Poetas e ficcionistas, talvez mais que os leitores, sentem amor pelas palavras, morrem de amor por elas. Mas um criador não pode simplesmente morrer de amor pelo que enfileirou no jorro inicial, pelas suas próprias palavras, pois corre o risco de satisfazer, e de modo pouco digno e artístico, apenas a si mesmo. Um poema, um conto, um romance exigem bem mais. Da mesma forma como não é corriqueiro se conseguir expor com exatidão e clareza a complexidade do que se está pensando ou sentindo a cada instante, não é tão imediato traduzir em um objeto de poesia as ideias, imagens e sons das palavras que se movimentam na cabeça do poeta. É preciso trabalhar muito, tanto para melhor expressar o que se pretendeu como para chegar ao que há de desconhecido e que não se revelou antes. Existe a necessidade de apresentar aos leitores, e inicialmente a si mesmo, algo esteticamente interessante e bem acabado. Nesse sentido, escrever causa prazer, mas também exaustão e até dor. Um escritor brasileiro da atualidade, nesse momento não recordo quem, disse que escrever é uma atividade inglória, pois mais do que escrever a atividade do escritor é cortar, cortar palavras, períodos, textos inteiros que vão parar no lixo ou são deletados, nos quais havíamos colocado tanto, independente de serem autobiográficos ou não, enfim, que cortar é sempre cortar na carne e isso dói. Não amar demais as próprias palavras, saltar para fora do círculo narcísico, faz bem à literatura. Claro, há prazer também, no meu caso principalmente quando o texto está nascendo e quando o dou por finalizado, depois de muitos cortes e modificações. O excessivo amor por qualquer coisa que se expeliu bordeja o amor pelas fezes. Podemos mais do que isso, oferecer nosso melhor.

Se, desde Freud, o sujeito não é mais visto como de todo apreensível, a retomada obsessiva dos mesmos temas ou imagens por um escritor, tão comum na literatura, remete ao estranho (oculto) e familiar (conhecido). Olhar para o próprio texto depois de muito tempo, sem lembrar necessariamente de todo o percurso de trabalho que o tornou o que é, pode causar essa impressão de estranheza e familiaridade, de ter sido um outro o seu autor. O estranho-familiar faz pensar numa arte que não causa somente prazer no receptor, como Freud havia proposto inicialmente, mas instigação e perturbação, ocorridas durante sua visita ao Moisés de Michelangelo. Para mim é uma questão interessante e não totalmente resolvida, porque essa perturbação acaba redundando, mais cedo ou mais tarde, se a obra atinge a arte maior, em motivo de prazer estético. Admiramos estupefaciados, por exemplo, uma obra francamente horrível como Saturno devorando os filhos, o deus do tempo pintado por Goya. Um poema de Brecht revela a busca do estranhamento enquanto estética: “Sob o familiar, descubram o insólito./ Sob o cotidiano, desvelem o inexplicável./ Que tudo que é considerado habitual/ Provoque inquietação./ Na regra, descubram o abuso./ E sempre que o abuso for encontrado/ Encontrem o remédio.” (A exceção e a regra). De todo modo, penso que essa pergunta melhor caberia aos psicanalistas.


8-Amor pela palavra... amor pela cidade...amor por uma mulher...quais as diferenças?

No caso da tua enumeração, são todas femininas. Amo também, desde adolescente, a realidade: por pior que seja quero estar bem próximo, saber dela. Isso não tem a ver, necessariamente, com escrita realista estilo século 19, já que toda ficção é um universo inventado, uma mentira. Mas toda boa ficção, seja fabular, realista, científica, fantástica ou qualquer outra, é tanto melhor quanto mais consegue dar, através dos liames entre o mundo criado e o real, pela mentira uma verdade.


9-Sei de teus conhecimentos sobre a cultura grega e o quanto em alguns textos isso aparece. Como o poema “Prometeu”. Poderia falar um pouco disso?

A escritora e professora Jane Tutukian, ao apresentar meu livro de poesia Quichiligangues (2008), sugeriu que meu interesse pelo mundo grego devia ser consequência do curso de Letras. Sem desdizê-la, eu poderia afirmar que é anterior. Quando criança, meu pai me contou a história do rio em que não se entra duas vezes, achei fantástica. Mais tarde descobri que era de Heráclito e não sei se meu pai sabia do autor. Entre os sete e os dez anos li os doze volumes de uma enciclopédia: a espada de Dâmocles e outros relatos se inscreveram talvez para sempre na minha memória. Na sexta série precisava escolher um livro para leitura. Fiquei entre dois na livraria, o que não escolhi era Prometeu acorrentado, de Ésquilo. A curiosidade permaneceu e mais tarde a satisfiz.


10-A fala, a exposição, a voz... Além de algumas entrevistas podemos assistir tua fala dizendo poesia. É o caso de “Porta”, que se encontra no YouTube. O que isso contribui na construção de um dizer poético?

Acredito que a verbalização do poema pode despertar o interesse de um novo leitor e ajuda na divulgação da poesia. Nos últimos dez anos, mais ou menos, esse tipo de expediente serviu para tirar a poesia do limbo. Multiplicaram-se os saraus, os eventos, os festivais no Brasil inteiro. Posso dizer poemas em público, realizar palestras, dar oficinas, participar de debates, mas para mim não há nada mais produtivo do que a escrita e a leitura silenciosas.


11-O que é campo da fala, para ti?

Não pretendo, visto não ser especialista, mero leitor curioso, abordar essa expressão de Lacan em termos psicanalíticos. Talvez se possa sugerir apenas que a poesia busca desvendar o que não é percebido imediatamente. Se um poeta escreve sobre um pano de chão, poderá tratar das relações de trabalho pelas quais esse trapo passou até chegar a uma determinada casa, lembrar a flor de algodão que um dia ele já foi, etc. Ou seja, a poesia amplia a perspectiva e suspende as certezas do leitor, muitas vezes as do próprio poeta. É claro que há no escritor um processo de escuta (leitura, no sentido amplo do termo) de si mesmo e do outro, que busca o desconhecido: “ouço, como um, aviso/ o que não diz nada/ não como um sino/ mas um sopro”, escrevi há uns vinte anos.

Assim, o campo da fala para a literatura, para a minha pelo menos, é o do silêncio. A observação, a rememoração, a elaboração interna, a escrita e a leitura realizadas na quietude. Não importa que entrem aí a vivência de infinitas falas, intertextualidades oriundas de leituras e diversas artes, etc. Meu campo, minha fala, minha produção advém desse silêncio. Em suma, meu silêncio é minha fala. E como todos sabem, o silêncio fala.


12-Filhos, filhos... És um pai de três. Para mim a maternidade acrescentou possibilidades neste campo da fala. Costumo brincar que a maternidade rompe qualquer significado, sendo uma experiência do REAL, da qual nunca retornamos (eheheheheh). O que é ser pai, para ti?

Depois que me divorciei, após um ano e pouco, meu filho pequeno veio morar comigo. Um pouco mais, veio a filha do meio. Similar a muitas mães, fui um pai solteiro. Curti a função, então socialmente nova, amava e amo meus filhos, e não deixei de fazer o que gostava. Recentemente, minha filha menor, já adulta e universitária, por razões inusitadas, também veio. Tenho dificuldades para fazer muitas coisas, mas recordo que sempre que pintava um problema grande com um dos filhos, instantaneamente eu me mobilizava e era como se soubesse exatamente o que fazer. Por pior que fosse a fatura, ficava alerta e lúcido como uma serpente.


13-Tuas experiências com os índios... O que mais te fez diferença nelas?

Não são lá grandes experiências, mas fiz duas viagens enormes pela Amazônia, uma mais pelo Brasil, a outra adentrando a Amazônia Peruana. Não saí esperando encontrar aldeias intocadas, mas atento às modificações culturais devido ao contato com a nossa civilização. No Baixo Mucajaí, em Roraima, os poucos habitantes, de origem nordestina, pescam de rede ou anzol, mas os yanomammi migrados da Guiana Inglesa não se adaptaram, continuam pescando com arco e flecha. No entanto, a ponta da flecha, originalmente de osso de peixe, agora é feita com alumínio industrial batido em forma de seta, e o fio do arco, a exceção de uma pequena parte de fibras vegetais, é de arame. No Mato Grosso diziam, por brincadeira, que os Uru-Eu-Wau-Wau de Rondônia iam me pegar, mas nem sei se eram mesmo antropófagos, como os Juma. No Acre, próximo ao Rio Juruá, os Kampa fazem beberagens de plantas alucinógenas até surgir o dia atrás das árvores altas, então pegam um espinho e espetam um sapo deixado num cercadinho, e depois espetam em si o leite do sapo, ficando imediatamente sóbrios. Próximo da Laguna de Yarinacocha, em Pucallpa, no Peru, vivem os Shipibo, que fabricam tecidos inacreditáveis, cerâmicas lindíssimas e praticam rituais do yagé em palafitas, com um lugar reservado para o vomitório, que acreditam purificador.


14-O trabalho é o próprio, o que se produz sem contestação. Porém, no que se refere a poesia, sabemos que não dá para sobreviver se contarmos somente com a escrita. O que é para ti o trabalho como produção no mundo e o trabalho que te dá subsistência? Há diferença? Há padecimento?

Vivo dentro de uma equação pré-estabelecida: trabalho com estatística para sobreviver e fico livre para fazer o trabalho que eu quiser em termos de poesia e literatura. Acredito, com Maiakóvski, que poetar é um trabalho.


15-Quais os trabalhos que mais gostaste de fazer? Quero dizer, incluindo oficinas, publicações, palestras...

Em literatura, o que mais gosto é de ler e escrever.


16-E das publicações, qual a que te deu mais gosto?

Quichiligangues, um livro pequeno, teve uma acolhida ao mesmo tempo modesta e extraordinária. Ver impresso minha primeira publicação, uma tradução de José Martí, foi uma grande alegria. Assim como ter bastante gente no lançamento de Plano de Navegação, meu primeiro livro autoral, pois eu temia que não fosse ninguém.


17-Aliás... o que é publicar?

Começar a fazer coisas no mundo com a linguagem da poesia. Ou da ficção: meu primeiro livro de contos, Andorinhas e outros enganos, já está na editora.

18-Já fizeste trabalhos em parcerias, projetos para leitura e escrita, organização de espaços de discussão, etc. Poderias falar um pouco disso?

Produzi eventos de poesia, mas é um fato que, mais ocupado, se escreve menos. Por dois anos estive a frente da produtora do PortoPoesia, mas resolvi me desligar no final de 2008 por discordância quanto a relação conflituosa com organizadores de eventos similares e doei minha parte da produtora aos outros três, depois dois, sócios. Com a artista plástica Anico Herskovitz, organizei duas edições do Poemas Gravados. Dou respaldo à FestiPoa Literária, ao Cidade Poema e a outros eventos. Em 2011, participei do Sport Club Literatura no StudioClio (Prêmio Fato Literário), da III Jornada de Poesia Moderna da PUC-RS, do Cabaré do Verbo na Casa de Cultura Mario Quintana, de coletivas do Castelinho Cultural do Alto da Bronze, da Feira do Livro de Porto Alegre, do Sarau Literário da Zona Sul, viajei pelo interior através do ArteSesc, percorri escolas, etc. Colaboro com a revista Verbo 21, editada pelo escritor Lima Trindade desde Salvador, atendo a convites de periódicos, escrevo apresentações, faço entrevistas, mas decidi me dedicar mais à escrita criativa, deixando um tanto de lado a produção de eventos.


19-Qual a função social do escritor, hoje? E do texto?

O escritor se manifesta como cidadão e principalmente através da sua obra. O texto responde a uma época histórica, direta ou indiretamente, e tanto melhor se está em consonância com ela, apontando para o futuro. Sinteticamente, a função social do escritor é humanizar o mundo através da celebração e da crítica presente nos seus textos, na melhor forma estética que ele consiga atingir depois de dar o máximo de esforço. A velha e entrada em séculos tese da arte pela arte acaba maltratando a arte que imagina defender.


20-Gostaria de falar mais alguma coisa?
Agradecer o convite para a entrevista e a gentileza da entrevistadora. Desculpar-me pela demora na resposta.

Querido Sidnei, é uma honra tê-lo como convidado. Pelo isso ou aquilo, para mim muito mais por este cuidado especial. Sendo isso, amamos as pessoas, pois que amamos as palavras que constituem cada um, enquanto semelhantes, enquanto diferentes, numa mesma raiz. Seja sempre bem vindo neste espaço e nas minhas palavras, que já se fizeram tuas.

Beijo com todas as letras

Adriana Bandeira

SIDNEI SCHNEIDER é poeta, contista e tradutor. Publicou os livros

Quichiligangues (Dahmer, 2008), Plano de Navegação (Dahmer, 1999),

Versos Singelos-José Martí (SBS, 1997) e lança esse ano Andorinhas e outros

enganos (contos). Participa de Poesia Sempre (Biblioteca Nacional, 2001),

Antologia do Sul (Ass. Legislativa, 2001), O melhor da festa I e II (Nova Roma,

2008 e Casa Verde, 2009), Poemas Gravados (Autores, 2009), Moradas

de Orfeu (Letras Contemporâneas, Florianópolis, 2011) e de outras dez

publicações. 1º lugar em poesia no Concurso Talentos, UFSM (1995), 1º lugar

no Concurso de Contos Caio Fernando Abreu, UFRGS (2003). Participa dos

projetos ArteSESC e Autor Presente e é membro da Associação Gaúcha de

Escritores.

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Anos de sempre

Nem falei sobre meu dia.Nem disse poesia.Apenas reclinei a cadeira e já iam meus anos a dizer por mim.Que passa a estrada em solo,o grão que vive a queda...para poder germinar.

Esperança

Quando o corte faz risco em folha, fazendo a réstia do sol nascer na estrada, ainda na madrugada recobre a luz, o trigo.Que o pão há de ser feito aos dias, aos goles, aos anos, para que se doure o caminho a cada vez que nos dizem que isso é nada.

Cedida

Imagino o vestígio do agora, quando depois de tanto,não se falar mais nada.Vulto qualquer na porta de casa,estranho lugar então.Nem saberei dizer que não moro mais onde me procuras, que não sei mais das tuas quenturas e que nem sou eu mesma, enfim.Imagino teu olhar encontrando caminho, buscando esta, à que me cedi.

Arquitetura

Restam as horas primeiras como repetição da voz do sol.Voltar ao que me fez não inteira, terra estranha e passageira, o verso a ser inscrito na mão.E tão sem fim é o primeiro encanto como casa a ser denhada, como parede a ser pintada, única construção.Linhas que nem falam, nem calam.Apenas vez do destino escondido no que não diz não.

Suspiro

Felicidade...é um tempo esquisito, perdido do dito ou não dito...é um lugar do estar.

Fui

E quase na areia fica gravada a certeza da pequena estada, um pé de mim na areia.A praia ainda deserta fez levar o mar ao descaso e hoje apenas o vento carrega meu embaraço.Estive ali, ali mesmo..onde hoje nem imagino quem era a que se foi.Estive tão perto e tão longe de ser o que nem se achou.Apenas tão rápida... a onda do mar...levou.