tag:blogger.com,1999:blog-35993168296146129052024-03-12T18:35:12.929-07:00Indecentes PalavrasAdriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.comBlogger19125tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-15848877930000341142013-09-18T16:37:00.001-07:002013-09-18T17:28:13.075-07:00<span style="font-size: x-large;">Jorg</span><span style="font-size: large;"><span style="font-size: x-large;">e Ricardo Dias em indecentes palavras<br /><br /> Dias de Jorge em ricardias: músicas e letras do menino do rio. </span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-size: x-large;"><br /></span></span>
<span style="font-size: large;"><span style="font-size: x-large;"><br /></span></span>
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<span style="font-size: large;"><br />1- Sabendo que não gostas de saídas sem despedidas rsrsr... prefiro dizer que estamos em festa! Parafraseando: “O começo é estar pronto”...Pois bem, estás inaugurando a retomada das entrevistas em indecentes palavras.Uma longa história, uma longa história...Mas é fato que as entrevistas me emocionam!E simplesmente quando leio as respostas...choro.Pelo que ali se revela aos poucos, de cada um.Pois bem...Jorge, o que te emociona muito?</span><br />
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<span style="font-size: large;">Várias coisas me emocionam muito. O que me vem mais imediatamente é a inocência e a beleza. Constatar inocências me renova a crença e a esperança num mundo melhor e também me mostra que o cinismo, que tem crescido, não esterilizou a inocência. Beleza também me toca muito, mais as belezas impalpáveis, as do espírito. Nunca me esqueço do impacto que me causou a exposição da escultora Camile Claudel; suas esculturas, muitas das quais de pequeno tamanho, parecem gritar angústia. A beleza na arte pra mim é muito mobilizadora. Tem poemas que se eu disser em voz alta, corro o risco da voz nem sair. Desprendimentos e fraternidade me comovem também.</span><br />
<br />
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<span style="font-size: large;"><br /><br />2- Pensando nas palavras e no que tens com elas, estas tantas...Que caso de amor é este?</span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />Penso que uma coisa infantil que, nesse caso específico só adultos têm, que é o senso lúdico com as palavras. Você foi feliz ao se referir a essa relação como um “caso de amor”; é uma expressão que sempre uso pra descrever a minha intimidade e prazer ao lidar com elas. Tenho inclusive alguns poemas metalinguísticos sobre isso. É de fato um caso de amor antigo e com todos os ingredientes que todo caso de amor tem. Enamoramentos, inseguranças, rusgas, prazer, crises, alegrias... A palavra é feito larva, sem você perceber te crava.</span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />3- Menino do rio...Perdoa se soa estranho... mas é um elogio! Talvez pelo que aparece nas tuas criações, este ar de moleque, de graça, de infância séria mas...verdadeira.Nas composições em música...como “Bumerangue”... Isso é uma sintonia marcante que nos convida a brincar!Poderia nos contar um pouquinho da tua história de menino...isso que aparece vez ou outra nas palavras que usas?<br /><br />Vou tentar. Fui um menino introspectivo. Só depois de bem adulto é que fui me dar conta de um dos principais fatores dessa introversão. Desde os 6 anos eu uso óculos e o grau é forte. Isso contribuiu muito pra que eu limitasse meu universo a um perímetro pequeno, dada a minha visão de alcance limitado. Então isso, de certa forma foi compensado com muita imaginação, ou seja, visão física curta, visão imaginativa, não fisica, potente. Com isso eu frequentemente brincava dentro desse microcosmo que fui construindo. Somese a isso meu gosto inato e precoce pela leitura e dei a sorte de ter em casa o que ler e do bom. Devorei uma coleção inteira de livros do Monteiro Lobato e também uns com as fábulas de Esopo. Rapidamente tomei gosto por toda essa riqueza que foi me fascinando. Lá pelos 11 ou 12 anos tomei contato com a poesia e aos 14 li A metamorfose, de Franz Kafka e gostei muito. Daí em diante acho que fui me tornando cada vez mais ávido como leitor. Penso que essa é a origem dessa coisa imaginativa, lúdica e sonora que perpassa a minha escrita.</span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br /> 4- Pois é, Jorge...dizem que o amor não se aprende, ele nasce e teu amor pelas palavras nasceu.Dizem outros que não se aperfeiçoa isso na escola, na universidade, no conhecimento...Não sei, não sei.Costumo pensar que conhecimento e amor andam juntos e que amar é querer saber.Mas, afinal, qual tua formação acadêmica ou de trabalho?<br /><br />Concordo, Adriana. Porque o coração pode entender e a mente pode sentir, não só racionalizar. Não entendo como entidades uma excludente da outra. Na Física humana duas coisas podem ocupar o mesmo lugar. Meu amor pelas palavras é sim inato, mas ao longo do tempo fui aprendendo a amá-las melhor e também de certa forma retribuir, fazer disso uma interação e não apenas um egoísta sugar de energia. Quanto à minha formação acadêmica...me graduei em Cinema, pela UFF. Não sei até que ponto minha paixão pela fotografia e pelo cinema contribuíram pro tanto de imagética que é a minha poesia. As voltas que a vida dá me levaram a ser, há 24 anos já, terapeuta corporal.</span><br />
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<table cellpadding="0" class="cf hr" role="presentation"><tbody>
<tr><td class="hw"><span id=":qj"><a class="e" href="https://mail.google.com/mail/?ui=2&ik=824c6d5fa2&view=att&th=1413356f6f612117&attid=0.2&disp=inline&realattid=f_hlr5uob91&safe=1&zw" target="_blank"><img alt="DSC00412.JPG" class="hv" src="https://mail.google.com/mail/?ui=2&ik=824c6d5fa2&view=att&th=1413356f6f612117&attid=0.2&disp=thd&realattid=f_hlr5uob91&zw" /></a></span></td><td><b>DSC00412.JPG</b><br />3977K </td></tr>
</tbody></table>
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<span style="font-size: large;"><br /><br />5- Jorge...e as mulheres? E a cidade?<br /><br />Curioso isso de você fazer essa pergunta casada. Sou um carioca assumida, eterna e irremediavelmente apaixonado pela minha cidade. E até em poema eu já a comparei com uma mulher. O Rio é uma cidade mulher, com suas curvas sedutoras no seu singular recorte geográfico e também por ser femininamente cheia de surpresas. Com frequência nos deparamos com microcidades dentro da cidade. Santa Teresa, Bairro Peixoto e o Alto da Boa Vista são bons exemplos disso. O Rio é uma mulher dessas que ninguém adivinha a idade, seus encantos nos fazem esquecer desses detalhes mesquinhos. E ela mesmo maltratada mantém seu charme e viço. Se houvesse uma mutação genética que levasse os homens a se auto fecundarem e com isso as mulheres desaparecessem da face da Terra, não creio que a humanidade fosse durar nem mais um milênio. Acho que isso resume minha admiração e reverência às mulheres. Se os homens tivessem um pouco mais da profundidade e delicadeza das mulheres, certamente teríamos um mundo melhor.</span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />6- Dizem que o poeta fala de verdades e que isso é extremamente político.Nisso penso que não existe um poeta sem a sua denúncia, seu sagrado destino de dizer o que, certamente, modifica o outro.Não sei se esta intenção é inconsciente,se ela existe na hora da criação.Aliás: como crias teus poemas?Necessitas de algo especial para fazê-los?</span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />Penso que a arte tem sim, um papel que ultrapassa o âmbito do estético. Ela pode formar e mudar consciências, quando não se contenta em ser meramente escapista. Tem textos meus em que abordo questões existenciais, comportamentais, políticas, de forma bem consciente, mas certamente uma parte disso, por estar impregnada na alma, sai de forma menos racional e vem na esteira do lirismo. Receio me estender muito no afã de descrever meu processo de criação, mas vou tentar ser conciso. Meus textos nascem e se desenvolvem de maneiras variáveis. Podem partir de uma palavra isolada, de uma sonoridade, de um estado de espírito singular que me traga imagens que aí converto em palavras para traduzir esse estado, enfim, varia muito e às vezes surpreende até a mim. Vou ilustrar com um exemplo que me ocorreu agora; certa vez estava num reduto carioca de samba de raiz, fui lá conhecer e, enquanto o samba rolava, animado e alto, subitamente me veio ao pensamento a ideia de leveza e a palavra leve e seu duplo significado. Então ali mesmo, nessa situação, mentalmente escrevi um soneto chamado Leve o leve e que, pelo menos conscientemente nada tinha a ver com aquilo que eu estava vivenciando naquele momento. Ah, a música me inspira muito também e adoro escrever ouvindo coisas de que gosto. Me inspira bastante.</span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />7-As preferências existem...não estamos livres delas.Quais tuas criações que mais aprecias?Quais os escritores que preferes enquanto leitor? E os escritores contemporâneos?<br /><br />Olha, é meio difícil dizer de quais textos meus gosto mais, porque tenho muitos e sou pai afetuoso com todas as crias, mas pra não me omitir e te deixar sem resposta, destaco um soneto chamado Dança, repleto de metáforas eróticas sutis e um poema chamado Continuum que foi escrito de forma circular e de tal maneira que pode ser lido tanto no sentido horário quanto anti horário e faz sentido nas duas direções. Quanto aos meus escritores preferidos, é outra longa história e pra encurtar vou só citar alguns, tanto poetas quanto prosadores: Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Franz Kafka, Edgar Alan Poe, Fernando Pessoa, Jorge Luis Borges, José Saramago e Manoel de Barros.</span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />8- Jorge...sexo, drogas e rock in roll...?O que dizer?</span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<br />
<span style="font-size: large;">Sexo, se não fosse ele, não estaria aqui dando essa entrevista e não teria ninguém pra lê-la e nem vc pra fazê-la. Com o tempo aprendi que cada um vê as coisas da vida com sua ótica particular e que não devemos ser prescritivos das nossas “verdades”. Relutamos muito ainda em admitir, mas somos cheios de preconceitos. Sexo só tem sentido com amor? São prescrições. Prefiro tentar aceitar a diversidade dos hábitos e conceitos humanos. Drogas, já experimentei cannabis, o santo daime, álcool e açúcar (risos). Só não tenho nenhuma vontade de experimentar as mais destrutivas, mas de novo friso que prefiro não julgar quem as consome. Rock and roll eu curto até hoje, mas sou meio chato e só escuto o que acho realmente bom, assim como no jazz, na música erudita, na MPB, etc. E “sexo, drogas e rock and roll”, eu acho que cada um pode ter a sua versão subjetiva. Eu tenho a minha. Mas isso não publico (risos).</span><br />
<br />
<table cellpadding="0" class="cf hr" role="presentation"><tbody>
<tr><td class="hw"><span id=":ql"><a class="e" href="https://mail.google.com/mail/?ui=2&ik=824c6d5fa2&view=att&th=1413356f6f612117&attid=0.1&disp=inline&realattid=f_hlr5ued30&safe=1&zw" target="_blank"><img alt="de amarelo.jpg" class="hv" src="https://mail.google.com/mail/?ui=2&ik=824c6d5fa2&view=att&th=1413356f6f612117&attid=0.1&disp=thd&realattid=f_hlr5ued30&zw" /></a></span></td><td><b>de amarelo.jpg</b></td></tr>
</tbody></table>
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<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />9- Estes dias informalmente falávamos de fantasmas...O que são eles para ti? Ou melhor: eles existem? rsrsr</span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />Tua pergunta me fez lembrar de Sartre, que disse: “o inferno são os outros”. Remete a incompreensão, incomunicabilidade e solidão, mesmo sem estar sozinho. Esse certamente é um fantasma que assombra a muitos, à maioria, eu diria. Amor não correspondido também produz fantasmas meio resistentes a rezas fortes. Mas o consolo é que os artistas sempre arranjam um jeito de tirar proveito mesmo disso e fazer boas limonadas de azedos limões-fantasmas.</span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />10-Terapias?Terá...pias? rsrsr</span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />Vomitar na pia pode ser uma boa terapia, ao menos emergencial, pra aliviar a pressão. Mas se você está perguntado se faço ou já fiz terapia e o que acho disso, eu já fiz, mais de uma vez, diferentes linhas, atualmente não faço, mas se achar um dia que estou precisando, volto a fazer. Dependendo da empatia entre terapeuta e paciente, o que considero fundamental, pode ser muito proveitoso.</span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />11-Tua poesia, para mim, traz um frescor estranho. É familiar demais, naquilo que conserva a rima, a ficção e por vezes ela me faz lembrar minha rua da infância onde a turma jogava bola e não tínhamos hora para dormir. A rua era nossa casa! Tua poesia me faz lembrar disso e...na verdade são ruas distantes, a minha e a tua. Jorge...como pode a lembrança abrir lugar na letra de um outro?</span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />Adriana, só posso entender isso pela ótica e pelo sentimento da humanidade que nos faz iguais. Alguém (quiçá varios alguéns em diferentes momentos) que agora não lembro quem pra citar, disse que quanto mais particulares somos, mais universais. Curiosamente é isso mesmo. Não é por acaso que escritores como Dostoieviski, Shakespeare, Pablo Neruda, cineastas como Felini, Akira Kurosawa, Glauber Rocha, pintores como Da Vinci, Picasso, Portinari, músicos como Bach, os Beatles, Tom Jobim, artistas de diversas culturas e línguas, com suas vivências e expressões artísticas tão locais e particulares, são tão amados, cultuados e conhecidos no mundo todo. A minha rua e brincadeiras infantis é muito afim com a tua e certamente semelhante, mesmo com suas diferenças geográficas e culturais, à maioria das ruas e os personagens infantis que as povoam.</span><br />
<br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br /> 12-Filhos...Pai...?<br /><br />Tenho dois, já adultos e o caçula mora comigo. Sou meio o arquétipo do pai amigo e de doce convivência. Neste momento estou fazendo a revisão da monografia de conclusão da faculdade da minha filha. Meu caçula faz aniversário junto comigo e todo ano comemoramos juntos e no grande estilo que essa coincidência merece.</span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />13-Blábláblá blog, artistas de rua...e um encantamento pelo que não é tão visível,é detalhe, é o dia a dia da tua poesia...Concordas?O que te faz escrever?<br /><br />É, acho que concordo sim. Você observou agudamente bem, o encantamente pelo que não é tão visível e o desejo meu de através da escrita trazer isso mais à tona. Tem sim o detalhismo que torço pra não “soar” enfadonho (risos). O que me move a escrever, além do encantamento pela palavra, seus significados, o que elas podem traduzir em termos de ideias e sentimentos, além da sua musicalidade (ser também músico me ajuda nisso), é a necessidade premente de me expressar e meu canal mais fácil pra isso é a escrita e em particular a poesia.. Confesso que não consigo nem imaginar como eu seria hoje se não escrevesse. A escrita, mas devo acrescentar que em quase tão grande escala, também a música, já que amo musicar meus poemas e transformá-los em canções, eu adoro canções, a escrita me constitui. Escrever me traz certo alívio não sei bem de que, talvez das inquietações internas. Meus poemas são minha prole impalpável, são órgãos externos ao meu corpo físico com funções semelhantes aos internos, ainda que abstratas, de metabolimso, nutrição, excreção, oxigenação e circulação.</span><br />
<br />
<br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />14-Gostarias de dizer alguma outra coisa?</span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />Quero só dizer que adorei a entrevista, que ela me levou a conversar com o leitor e com você sobre coisas relevantes sobre mim e pra mim e que o mundo ainda vai ser salvo pela beleza. Muito obrigado por essa auspiciosa oportunidade. Um beijo!</span><br />
<br />
<br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />Querido Jorge, muito me emociona esta tua visita em indecentes palavras.Por ter sido tu a vir, depois de tanto tempo!É que a casa estava fechada para reformas... necessárias! (esta coragem que se tem quando é desejo escolher!) Pois bem, nesta rua tão tua, tão minha sinto-me honrada com tua chegada, naquilo que nos toma em parte como estrada, este amor que nos faz dizer, cantar e escrever.Esteja sempre convidado , em indecentes palavras...pelo que nos faz crianças ou pessoas...na rua da nossa casa.</span><br />
<span style="font-size: large;"><br /><br />Beijo com todas as letras!<br /><br />Adriana Bandeira</span>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-88974739031974184282012-08-04T16:27:00.001-07:002012-08-04T16:29:36.445-07:00<span style="font-size: large;">“NOSSO REI MANDOU PEDIR UMA DE VOSSAS FILHAS... EU SOU POBRE,</span><br />
<span style="font-size: large;">POBRE, POBRE...Falando da vida com Kleiton Ramil</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />1- Preciso dizer que aqui não estou isenta, como estes entrevistadores. Não!</span><br />
<span style="font-size: small;">Realmente sou parcial rsrsrrs e sinto-me muito bem em falar também. Pois ao</span><br />
<span style="font-size: small;">assistir e ouvir a música Bry, à mim, além da beleza da letra, surgiu um som</span><br />
<span style="font-size: small;">diferente, de intimidade revelada... como se através dela o compositor quisesse</span><br />
<span style="font-size: small;">dizer mais. Isso não é comum a mim. Então lembrei da melodia, daquilo que</span><br />
<span style="font-size: small;">cantei em criança, esta denúncia que nem mesma eu sabia: eu sou pobre, pobre,</span><br />
<span style="font-size: small;">pobre de marré ,marré, marré... eu sou rica, rica, rica... A parte que mais me</span><br />
<span style="font-size: small;">chama a atenção é: nosso rei mandou pedir uma de vossas filhas. Nesta parte</span><br />
<span style="font-size: small;">sempre fiquei pensativa... Afinal, sempre alguém, o mundo... nos pede nosso</span><br />
<span style="font-size: small;">filho, nossa produção... nosso traço, querendo ou não. Então pensei em Bry</span><br />
<span style="font-size: small;">como uma entrega. O que podes me dizer disso, desta tua canção e a história</span><br />
<span style="font-size: small;">dela?</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Quando morei em Paris, início dos anos 90, fiquei surpreso ao perceber que todas as</span><br />
<span style="font-size: small;">crianças conhecem no Brasil essa canção que era praticamente desconhecida por lá. “De</span><br />
<span style="font-size: small;">Marré Marré Marré...” refere-se ao bairro Marais, hoje cultuado pelos franceses e a</span><br />
<span style="font-size: small;">canção faz referencia aos ricos do Marré de baixo e aos pobres do Marré de cima.</span><br />
<span style="font-size: small;">Essa canção infantil caiu como uma luva para abrir a música BRY criada a partir</span><br />
<span style="font-size: small;">dessa experiência marcante em minha vida, que foi morar na França. Fiz muitos amigos</span><br />
<span style="font-size: small;">por lá, resgatei Kleitons que havia perdido pelo caminho, descobri personas que até</span><br />
<span style="font-size: small;">então desconhecia, e remocei uns dez anos pelo menos. Por isso compus esse tema para</span><br />
<span style="font-size: small;">levar comigo e dividir com as pessoas aspectos desse momento tão forte. A letra fala</span><br />
<span style="font-size: small;">de Bry-Sur-Marne, uma pequena cidade próxima à banlieue parisiense, mas o que as</span><br />
<span style="font-size: small;">palavras não conseguem expressar vem através da melodia, da harmonia, das células</span><br />
<span style="font-size: small;">rítmicas.</span><br />
<span style="font-size: small;">Sim, Bry é uma entrega intensa, parte de minha vida transformada em música,</span><br />
<span style="font-size: small;">tanto que ao concluí-la chorei muito movido por enorme gratidão de ter conseguido.</span><br />
<span style="font-size: small;">Aproximar-se da forma ideal, ao criar , produz uma avalanche de emoção incontrolável.</span><br />
<span style="font-size: small;">Quase todas minhas obras musicais são biográficas, ou pelo menos tratam de coisas</span><br />
<span style="font-size: small;">que vivenciei, mas umas são mais verdadeiras do que outras, no sentido de conseguirem</span><br />
<span style="font-size: small;">expressar melhor o que se pretende. BRY é uma dessas canções...</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />2- Lembro dos Almôndegas, do sucesso da dupla Kleiton e Kledir... mas agora é</span><br />
<span style="font-size: small;">como se fossem outros, diferentes, melhores. Isso é assim, para ti ou... o público</span><br />
<span style="font-size: small;">cresceu, tomou outra forma?</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />O período do Almôndegas foi muito bonito e poético. Uma grande escola de</span><br />
<span style="font-size: small;">vida. Imagina um grupo de amigos (o grupo surgiu de uma turma de 25 pessoas</span><br />
<span style="font-size: small;">aproximadamente) todos apaixonados por música, vivendo de roldão atrás de seus</span><br />
<span style="font-size: small;">sonhos? Tudo era paixão e deixar acontecer. Nada muito planejado, mas que trazia</span><br />
<span style="font-size: small;">importantes resultados movidos pelo prazer diretamente gerado pela música. Havia,</span><br />
<span style="font-size: small;">por outro lado, muita ingenuidade e falta de experiência,de profissionalismo. Hoje,</span><br />
<span style="font-size: small;">olhando para trás percebo que foi o início de tudo e meu percurso profissional foi</span><br />
<span style="font-size: small;">dar prosseguimento aquilo tudo, e até antes daqueles anos 70. Mas ali deu para</span><br />
<span style="font-size: small;">perceber que podíamos ambicionar ir muito adiante.</span><br />
<span style="font-size: small;">Tanto eu, Kledir e público crescemos juntos acumulando novas experiências</span><br />
<span style="font-size: small;">músicas, muitas viagens, estudos, troca de informações com outros artistas...</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Muito do que sabemos em música aprende-se fazendo: “O caminho se faz</span><br />
<span style="font-size: small;">caminhando”. Mas a isso agregue-se diploma de engenharia + de composição e</span><br />
<span style="font-size: small;">regência + mestrado em composição + gostar de pesquisar + curiosidade infinita</span><br />
<span style="font-size: small;">+ jeito pra coisa... Daí pode nascer um artista. Não tenho dúvidas que estou sempre</span><br />
<span style="font-size: small;">em evolução. A vida artística é muito generosa nesse sentido.</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />3- A música, o tempo da nota musical... já é uma poesia. A melhor! Então não é</span><br />
<span style="font-size: small;">raro que eu pense ser redundante poesia musicada.Porém, existe a letra que casa</span><br />
<span style="font-size: small;">com o som e numa parceria belíssima se tem mil poesias. Neste aspecto...poesia,</span><br />
<span style="font-size: small;">poesia, poesia. O que é poesia para ti? O que é música?</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Não se sabe quem pela primeira vez teve a ideia de juntar um texto a uma música.</span><br />
<span style="font-size: small;">Mas com certeza deve ter levado um enorme susto. Há muito poder na música, há</span><br />
<span style="font-size: small;">muito poder na poesia. Esses dois mundo reunidos tem um poder incomensurável</span><br />
<span style="font-size: small;">e, certamente, instigante se for observado de perto. É maravilhoso, como você diz,</span><br />
<span style="font-size: small;">quando as duas vertentes parecem nascidas uma para a outra. Mas não é simples de</span><br />
<span style="font-size: small;">dominar essa questão. Prosódia é algo que faz criadores de música mais exigentes</span><br />
<span style="font-size: small;">enlouquecerem. Quem sou eu para definir música ou poesia? Só posso dizer que são</span><br />
<span style="font-size: small;">boas razões para viver.</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />4- Quando resgatamos o autor, sua vida, seu cotidiano é somente para apresentar</span><br />
<span style="font-size: small;">o quanto é do humano estas “ tais produções artísticas”. É somente destes, nós</span><br />
<span style="font-size: small;">mesmos, que pode surgir a arte enquanto trabalho/produção. Quem é o autor de</span><br />
<span style="font-size: small;">uma obra?</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Muitos anos atrás, compus uma melodia (vocalize da música Circo de Marionetes)</span><br />
<span style="font-size: small;">que tinha orgulho de dizer que era uma de minhas mais belas criações melódicas.</span><br />
<span style="font-size: small;">Décadas se passaram e, um dia, eu escutava uma obra orquestrada de Mozart quando</span><br />
<span style="font-size: small;">ouvi surpreso uma trompa tocando exatamente aquela melodia. Desde então, como já</span><br />
<span style="font-size: small;">desconfiava, entendo que um compositor, o autor de uma obra de arte é um repassador</span><br />
<span style="font-size: small;">de cultura. Absorvemos tantas coisas interessantes durante nossa vida... É preciso</span><br />
<span style="font-size: small;">esforçar-se para merecer esse dom. Receber, repassar. Não é algo de pouco valor poder</span><br />
<span style="font-size: small;">servir à musica. É preciso estar disponível.</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />5- Bem...rsrsr, então vou arriscar: quem é Kleiton?</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Quem sou eu? Essa é uma boa pergunta que tenho feito há bastante tempo.</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />6- Sair do Sul, voltar, turnês, e... a vontade própria. O que é “ a vontade própria?</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Olhando para minha carreira, tudo o que se passou comigo, de bom e de ruim, acredito</span><br />
<span style="font-size: small;">que fazem parte de um plano, um destino traçado, sobre o qual temos pouco poder.</span><br />
<span style="font-size: small;">Claro que todo tempo esforcei-me para imprimir minhas ideias, mas os resultados são</span><br />
<span style="font-size: small;">misteriosos.</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />7- Quando estiveram aqui em Montenegro “Kleiton e Kledir” lembro de uma coisa</span><br />
<span style="font-size: small;">engraçada.Passei na rua por ti. Caminhavas pela cidade. Gostas de conhecer os</span><br />
<span style="font-size: small;">lugares, as ruas, as entrelinhas? O que são “as entrelinhas”?</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Sim. Tenho um prazer especial, em minhas viagens, de me misturar com as pessoas,</span><br />
<span style="font-size: small;">as cidades, as culturas locais. Lembro quando nos conhecemos e trocamos algumas</span><br />
<span style="font-size: small;">palavras. Tive a impressão de nos conhecermos há muito tempo. Por isso estamos aqui</span><br />
<span style="font-size: small;">agora “trocando figurinhas”. Faz sentido. Acima da lógica acredito que temos uma</span><br />
<span style="font-size: small;">tribo, espalhada por todo o planeta, com a qual nos identificamos.</span><br />
<span style="font-size: small;">Além disso, os artistas, na estrada, podem tornar-se muito solitários se não buscam fugir</span><br />
<span style="font-size: small;">dos hotéis e dos compromissos impessoais. A música não resolve tudo.</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />8- Kleiton: família, cais, palavra e olhar. Poderias nos falar disso... assim como</span><br />
<span style="font-size: small;">vier?</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Família: dedicação total, tolerância infinita, amor aos borbotões...</span><br />
<span style="font-size: small;">Cais: estou sempre a partir, correr riscos, experimentar, perder-me, e retornar para</span><br />
<span style="font-size: small;">começar tudo outra vez.</span><br />
<span style="font-size: small;">Palavra: pecado não é o que se pensa, mas o que não presta e se transforma em palavras</span><br />
<span style="font-size: small;">ou atos.</span><br />
<span style="font-size: small;">Olhar: adoro olhar de forma transparente às pessoas. Sem julgamentos prévios.</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />9- Dizem que aos poetas resta silenciar. Não concordo. O artista nunca silencia</span><br />
<span style="font-size: small;">embora, muitas vezes, aparentemente faça isso! Outro dia assisti a uma</span><br />
<span style="font-size: small;">entrevista de Geraldo Vandré, que voltava a responder algumas coisas... depois</span><br />
<span style="font-size: small;">de anos de suposto silêncio. Percebi, no seu olhar, tanta fala que... se por algum</span><br />
<span style="font-size: small;">motivo em alguns momentos continuou calado era muito mais em respeito à</span><br />
<span style="font-size: small;">ignorância do entrevistador.rsrsrs...Então, por favor, não fique calado! Rsrsrs</span><br />
<span style="font-size: small;">Mas pensando nisso... como tu vês o momento político de nosso “estado” ou</span><br />
<span style="font-size: small;">organização enquanto país?</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Nasci em uma família que sempre via a política (politicagem) como coisa muito ruim.</span><br />
<span style="font-size: small;">Por isso quando penso em política penso de forma ideal, quase ingênua.</span><br />
<span style="font-size: small;">Não gosto do que vejo na política brasileira, e nem em outros lugares do planeta. Fala-</span><br />
<span style="font-size: small;">se em fim do mundo, mas acho que seria mais proveitoso pensarmos em fim dessa</span><br />
<span style="font-size: small;">sociedade que herdamos e não conseguimos modificar. Simpatizo muito hoje em dia</span><br />
<span style="font-size: small;">com o movimento Verde que é bem respeitado na Europa. Mas apesar de não ser filiado</span><br />
<span style="font-size: small;">a nenhum partido, acho que grandes soluções podem vir daí. Talvez mais da atitude</span><br />
<span style="font-size: small;">individual de cada um de nós (vencedor é o que se vence) e da consciência coletiva do</span><br />
<span style="font-size: small;">que esperar soluções das “autoridades” que não tem real autoridade ou moral para nada.</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />10-A incursão de vocês no mundo infantil tem sido... maravilhosa! Minha filha só</span><br />
<span style="font-size: small;">canta a dos pirulitos: de chulé, de goiabada rsrsrsrs. Como isso foi acontecendo?</span><br />
<span style="font-size: small;">quero dizer...subjetivamente contigo...</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Antes de ter filhos, eu já era o tio bagunceiro que criava brincadeiras e estripulias para</span><br />
<span style="font-size: small;">a criançada da família. Sempre foi natural para mim essa relação. Acredito que veio do</span><br />
<span style="font-size: small;">fato que minha infância foi muito boa, com muita criatividade e espaço para expandir</span><br />
<span style="font-size: small;">corpo e mente. Até hoje me sinto um “crianção”, às vezes. Com o disco Par ou Ímpar</span><br />
<span style="font-size: small;">e mais recentemente a relação com o grupo Tholl, com quem montamos um belíssimo</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />espetáculo que gerou o DVD, toda essa boa energia veio à tona. Até pular corda estou</span><br />
<span style="font-size: small;">pulando no palco. Meu coração também pula de alegria...</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />11-Não posso deixar de perguntar... e a maravilhosa parceria de anos com o mano</span><br />
<span style="font-size: small;">Kledir?</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Falou bem, maravilhosa... Realizar o impossível, juntos. Não sabemos muito bem</span><br />
<span style="font-size: small;">até onde somos um e outro na nossa obra. É um exercício constante de humildade e</span><br />
<span style="font-size: small;">perseverança. Com muitas alegrias, claro. E isso vem da infância, mas acredito que já</span><br />
<span style="font-size: small;">éramos amigos mesmo antes de nascermos...</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />12-Dizem alguns e me incluo que a música e a letra são a pele, de verdade. Sem</span><br />
<span style="font-size: small;">isso, o som e a letra, estamos em carne viva. Então, na minha área, não é raro</span><br />
<span style="font-size: small;">assistirmos a mudança de discurso, de lugar subjetivo resultar num poetar.</span><br />
<span style="font-size: small;">Sendo algo humano, nada mais natural que isso... Porém, neste mesmo contexto,</span><br />
<span style="font-size: small;">existe a fala em que o sujeito não se coloca, apenas exprime o que imagina</span><br />
<span style="font-size: small;">que querem dele e existe a fala própria, onde o sujeito está implicado, falando,</span><br />
<span style="font-size: small;">gritando o que lhe morde. Nas duas formas, é o sujeito a lidar com um si mesmo.</span><br />
<span style="font-size: small;">Mas, afinal... como saber o que é legítimo? Ou as duas formas seriam legítimas?</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Acho que não existem artistas 100% legítimos, como gostaríamos. Talvez um Rimbaud,</span><br />
<span style="font-size: small;">um Kafka, muitos poucos o tenham sido. Algum desconhecido? Mas a realidade é</span><br />
<span style="font-size: small;">dura e crua. Em alguns momentos abençoados abrem-se as comportas e a arte surge.</span><br />
<span style="font-size: small;">Nesses momentos alguns privilegiados conseguem entregar-se na sua totalidade. Mas</span><br />
<span style="font-size: small;">a maioria dos artistas profissionais oscilam entre a prática do cotidiano, e a arte em si.</span><br />
<span style="font-size: small;">São raros os que conseguem resistir aos apelos do sucesso, da vida confortável e sem</span><br />
<span style="font-size: small;">preocupações apenas para se entregar de corpo e alma a uma vida artística perfeita.</span><br />
<span style="font-size: small;">Vivemos tempos de muita banalidade.</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />13- rsrsr...Porto Alegre...rsrs</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Porto Alegre é meu porto...</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />14-Nesta grande trajetória o que tu destacarias como os principais acontecimentos</span><br />
<span style="font-size: small;">de uma vida, até agora?</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Profissionalmente vivi momentos maravilhosos com a música, mas no fim das contas</span><br />
<span style="font-size: small;">o que realmente pesa na balança são as coisas mais simples. O nascimento dos filhos, a</span><br />
<span style="font-size: small;">presença dos amigos, eternos amigos, cada novo dia que nasce, cada nova canção...</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />15- Gostarias de dizer mais alguma coisa?</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Obrigado pelo convite.</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Kleiton, sinto-me honrada em te receber na minha casa, nestas indecentes palavras,</span><br />
<span style="font-size: small;">como toda letra que nunca diz tudo, é. (E elas ...não dizem tudo porque querem voltar</span><br />
<span style="font-size: small;">a dizer!) Principalmente no momento em que vocês escrevem e compõem às crianças...</span><br />
<span style="font-size: small;">nesta vontade de falar com os que logo e já estão. Então é a poesia e música do tempo</span><br />
<span style="font-size: small;">de hoje, nesta verdade que nos habita e quer saber sobre todos estes, nós todos, que</span><br />
<span style="font-size: small;">compomos o dia-a-dia, longe do que nos faz morrer. Bem,... a vida sempre arde!</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Mas “dá uma vontade de...” Viver?</span><br />
<span style="font-size: small;">Agradeço tua visita e sinta-se convidado sempre em Indecentes Palavras!</span><br />
<span style="font-size: small;"><br />Beijo com todas as letras!</span>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-42950477323555261552012-02-25T04:34:00.006-08:002012-02-26T09:18:46.502-08:00O AMOR É DO CUIDADO, PELAS PALAVRAS, PELA PRÓXIMA VEZ - Falando destas coisas com o poeta Sidnei Schneider<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">1-Preciso começar esta entrevista perguntando sobre o impronunciável. Talvez pelo que me faz lembrar da forma como nos conhecemos, em que existia uma pronúncia letra por letra do nome próprio. Pois bem, o que seria o impronunciável na poesia?</span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Sidnei com “d” mudo e tudo com “i”? É, gosto de me reconhecer quando recebo um livro autografado (risos). Penso que a poesia vai ao limite da aproximação da linguagem com o real. O poeta quer porque quer o impossível, dar a ver o mundo e as relações humanas usando apenas uns vinte e poucos símbolos, o alfabeto. Por isso rejeita a expressão gasta, opera desvios na linguagem corrente, usa diversos recursos que a língua oferece. Como se pode concluir, alguma coisa sempre ficará de fora, permanecerá não dita, porque o real e a linguagem não são a mesma coisa. Posso descrever uma fruta, mas não me alimentar da palavra bergamota. Como estou falando com uma psicanalista, talvez devesse acrescentar que, evidentemente, conforme Freud já apontava, também na psique<a href="http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=3599316829614612905&postID=4295047732355526155&from=pencil" name="_GoBack"></a> humana o manancial do inconsciente não se esgotará, por mais que o transformemos em literatura ou objeto de análise.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">2-Este impronunciável faz parceria letra a letra, palavra a palavra. O que pensas disto?</span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Toda a letra ou palavra, todo o significante, isolado ou em relação ao que há ou não há a sua volta no texto, é significativo, nas suas múltiplas possibilidades de leitura, especialmente na poesia. O vazio não é desprezado, as chamadas entrelinhas falam e colocam-se como espaço aberto à participação do leitor. Algo vai restar não dito, porque a linguagem não dá conta de se equiparar completamente ao real da realidade, do mesmo modo como não simboliza completamente o real do inconsciente. Creio que temos aí pontos de encontro interessantes entre poesia e psicanálise.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">3-Nisso incluímos os contrários, contidos nas raízes dos vocábulos... Assim tudo muito igual ao que faz uma escuta em psicanálise. A negação como forma de falar de algo. A poesia se coloca a favor disso por, justamente, testemunhar o que não é acessível, o que é construído na hora, pelo leitor. Assim, qual a semelhança ou diferenças entre poetar e analisar-se?</span></i><span style="font-size: 18pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Sim, a lógica aristotélica, que dizia que se A é A, então A não pode ser não-A, excluída uma terceira possibilidade, só serve para casos mais simples e limitados. Amor e ódio, vida e morte são faces da mesma medalha, compõe uma unidade dialética e podem se transformar um no outro ao menor sinal, à menor mudança. Assim como a atração e repulsão das partículas que dão existência ao átomo ou a gravidade centralizante e a fusão nuclear explosiva que “equilibram” uma estrela, o pensamento só existe a partir de contínuas contradições e sínteses em movimento. A palavra, da mesma forma, é unidade contraditória, para além das modificações de suas raízes etimológicas. João Cabral de Melo Neto, em <i>Dúvidas apócrifas de Marianne Moore,</i> trata da questão: <i>“Como saber, se há tanta coisa/ de que falar ou não falar?/ E se o evitá-la, o não falar,/ é forma de falar da coisa?” </i>Num poema, cada expressão ou palavra já é escolhida pelo poeta objetivando uma matriz ampla de significados, embora, obviamente, outros lhe escapem. O leitor, que vai ao poema com suas vivências e leituras, sua consciência e inconsciência, termina de criar o poema que o autor, muito modestamente, só esboçou. Assim, uma obra admite múltiplas e variadas leituras, embora dela não se possa extrair leituras quaisquer, como sugeriu Umberto Eco. Podem haver leituras que não correspondem ao que um texto, enquanto objeto artístico acabado, tem a oferecer através dos seus signos ou de suas elipses. Eventualmente podem ser úteis se trazidas para a análise clínica, mas fogem completamente do campo da literatura. Porque são leituras particularíssimas, somente <i>daquela pessoa</i>, impossíveis de serem aceitas pelos outros. Assim, se um psicopata lê os versos de Camões <i>“Amor é fogo que arde sem se ver/ É ferida que dói e não se sente”</i> e interpreta que eles são neonazistas e o autorizam a abrir fogo contra a multidão, essa leitura, do ponto de vista do seu histórico pessoal, deve fazer algum sentido, mas é impossível de ser compartilhada socialmente, por mais explicações que se desse para justificá-la. Ou seja, saímos do campo da literatura, e entramos no dá psicanálise, sendo que o leitor não precisaria ser um perturbado mental, mas apenas uma pessoa comum fazendo uma leitura <i>demasiado</i> particular de um texto qualquer.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">4-Tua escrita é encantadora, revelando espaços inusitados enquanto traz marcado o cuidado com a palavra, com a significância. Prefiro chamar isso de cuidado com o tempo, quando apresentas um ritmo de construção definido pela cautela, pelo rigor poético. Qual tua formação, teus conhecimentos nisto que segue como campo da palavra?</span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Esse elogio, “encantadora”, eu não tinha recebido ainda (risos). Sei lá quais são os meus conhecimentos, prefiro bater na porta do desconhecido. Li e leio de um tudo, muita poesia, um tanto de ficção, estudos críticos, passei por um curso de Letras, fiz teatro, atuei na política. Não só literatura me interessa, nem apenas filosofia, história, economia, antropologia, as chamadas ciências humanas. Gosto de geologia, paleontologia, astrofísica, química e física quânticas, etc.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">5-Já perdi a conta de quantas vezes tu me puxaste as orelhas (heheheh). E quando gostas do texto... pior ainda! Lembro de um personagem, meu cortador de mato.... Então tua paixão pelo texto, teu envolvimento arrebatador é virulento, no sentido de que ficamos pensando, pensando... se fomos negligentes com aquele personagem, se não o qualificamos, se não o apresentamos como devia (heheheheh). Isso é fantástico porque, a mim, faz referência a esta existência, em cada um, de muitos e a escrita faz valer isso, da melhor forma ou da pior. O que me dizes?</span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Bem, nunca pretendi puxar orelhas de ninguém, não é esse o meu foco. Quando me <i>pedem</i> uma opinião sobre determinado texto, se tenho tempo e condições eu dou. Digo sempre que não desejo a concordância do escritor, mas provocar o seu debate interno, destravar a sua discussão quando já não consegue pensar nada criticamente novo sobre o que produziu. Uma vez que opinei algo, o escritor necessariamente vai se confrontar com isso, para discordar, concordar, pensar outra coisa ou eleger as razões do acerto que fez e eu não percebi. Imagino que é como ter a experiência da crítica pública antecipada, o que talvez possibilite ampliar a consciência sobre a própria linguagem. Não acredito que a poesia ou a ficção possam ser uma espécie de vômito do inconsciente. É necessário muito trabalho, aproveitar essa matéria inicial até transformá-la em arte, dar duro. Não confiar na espontaneidade, de que assim se alcançaria um bom resultado. O espontâneo é uma escrita imediata, ainda pouco endereçada ao outro enquanto <i>objeto estético</i>, ainda não totalmente construída com esse fim, sendo uma possível exceção a isso rara, pouco frequente.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">6-Acrescento que a forma como abordas o texto alheio faz esta báscula: texto próprio, texto do Outro. Este cuidado com que determinas uma aliança legítima entre privado e público: o texto tem um autor mas...é do Outro. O que achas disso?</span></i><span style="font-size: 18pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="tab-stops: 92.05pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Muitas coisas que podem satisfazer o escritor, que possui todas as conexões e referências, igualmente podem não fazer sentido nenhum para a recepção.<span style="color: blue;"> </span>O poeta Paulo Henriques Brito escreveu em <i>Um</i> <i>pouco de Strauss</i>: <i>“Não escrevas versos íntimos, sinceros,/ como quem mete o dedo no nariz./ Lá dentro não há nada que compense/ todo esse trabalho de perfuratriz,/ só muco e lero-lero.//(...)//</i></span><i> </i><i><span style="font-size: 18pt;">Esquece o eu, esse negócio escroto/ e pegajoso, esse mal sem remédio/ que suga tudo e não dá nada em troca/ além de solidão e tédio:/ escreve pros outros.// Mas se de tudo que há no vasto mundo/ só gostas mesmo é dessa coisa falsa/ que se disfarça fingindo se expressar,/ então enfia o dedo no nariz, bem fundo,/ e escreve, escreve até estourar. E tome valsa.” </span></i><span style="font-size: 18pt;">Escreve-se para alguém, para um público, desde um público, <i>“Le style, c’est l’homme”,</i> o estilo é o homem (faz o homem), mas vem do outro: “o homem a quem nos dirigimos”, acresceu Lacan, “apenas para alongar a sentença”. <i>“Le style, c’est l’Autre”,</i> diria ele, apesar de nunca ter feito essa brincadeira com a frase originalmente proferida em 1753 pelo naturalista Leclerc de Buffon e utilizada depois por Karl Marx para se defender da censura prussiana, sendo a nova de Haroldo de Campos. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="display: none; font-size: 18pt;">enriques Brito</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">7-Estes dias falávamos sobre o Amor pelas palavras. Há um certo encantamento, envolvimento que faz as vezes de paixão...pela palavra. Nelas não há limites, podem ser o que imaginamos, podem trazer vestígios de lembranças ou lugares não visitados. Então lembro Freud, naquilo que apontava como estranho familiar, sua perspicácia para dizer sobre as revisitações na fala. O que seria, na escrita, um estranho familiar?</span></i><span style="font-size: 18pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="tab-stops: 92.05pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Poetas e ficcionistas, talvez mais que os leitores, sentem amor pelas palavras, morrem de amor por elas. Mas um criador não pode simplesmente morrer de amor pelo que enfileirou no jorro inicial, pelas suas próprias palavras, pois corre o risco de satisfazer, e de modo pouco digno e artístico, apenas a si mesmo. Um poema, um conto, um romance exigem bem mais. Da mesma forma como não é corriqueiro se conseguir expor com exatidão e clareza a complexidade do que se está pensando ou sentindo a cada instante, não é tão imediato traduzir em um objeto de poesia as ideias, imagens e sons das palavras que se movimentam na cabeça do poeta. É preciso trabalhar muito, tanto para melhor expressar o que se pretendeu como para chegar ao que há de desconhecido e que não se revelou antes. Existe a necessidade de apresentar aos leitores, e inicialmente a si mesmo, algo esteticamente interessante e bem acabado. Nesse sentido, escrever causa prazer, mas também exaustão e até dor. Um escritor brasileiro da atualidade, nesse momento não recordo quem, disse que escrever é uma atividade inglória, pois mais do que escrever a atividade do escritor é cortar, cortar palavras, períodos, textos inteiros que vão parar no lixo ou são deletados, nos quais havíamos colocado tanto, independente de serem autobiográficos ou não, enfim, que cortar é sempre cortar na carne e isso dói. Não amar demais as próprias palavras, saltar para fora do círculo narcísico, faz bem à literatura. Claro, há prazer também, no meu caso principalmente quando o texto está nascendo e quando o dou por finalizado, depois de muitos cortes e modificações. O excessivo amor por qualquer coisa que se expeliu bordeja o amor pelas fezes. Podemos mais do que isso, oferecer nosso melhor.</span></div><div class="MsoNormal" style="tab-stops: 92.05pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="tab-stops: 92.05pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Se, desde Freud, o sujeito não é mais visto como de todo apreensível, a retomada obsessiva dos mesmos temas ou imagens por um escritor, tão comum na literatura, remete ao estranho (oculto) e familiar (conhecido). Olhar para o próprio texto depois de muito tempo, sem lembrar necessariamente de todo o percurso de trabalho que o tornou o que é, pode causar essa impressão de estranheza e familiaridade, de ter sido um outro o seu autor. O estranho-familiar faz pensar numa arte que não causa somente prazer no receptor, como Freud havia proposto inicialmente, mas instigação e perturbação, ocorridas durante sua visita ao Moisés de Michelangelo<span style="color: blue;">. </span>Para mim é uma questão interessante e não totalmente resolvida, porque essa perturbação acaba redundando, mais cedo ou mais tarde, se a obra atinge a arte maior, em motivo de prazer estético. Admiramos estupefaciados, por exemplo, uma obra francamente horrível como <i>Saturno</i> <i>devorando os filhos</i>, o deus do tempo pintado por Goya. Um poema de Brecht revela a busca do estranhamento enquanto estética: <i>“Sob o familiar, descubram o insólito./ Sob o cotidiano, desvelem o inexplicável./ Que tudo que é considerado habitual/ Provoque inquietação./ Na regra, descubram o abuso./ E sempre que o abuso for encontrado/ Encontrem o remédio.” (A exceção e a regra).</i> De todo modo, penso que essa pergunta melhor caberia aos psicanalistas.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">8-Amor pela palavra... amor pela cidade...amor por uma mulher...quais as diferenças?</span></i><span style="font-size: 18pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">No caso da tua enumeração, são todas femininas. Amo também, desde adolescente, a realidade: por pior que seja quero estar bem próximo, saber dela. Isso não tem a ver, necessariamente, com escrita realista estilo século 19, já que toda ficção é um universo inventado, uma mentira. Mas toda boa ficção, seja fabular, realista, científica, fantástica ou qualquer outra, é tanto melhor quanto mais consegue dar, através dos liames entre o mundo criado e o real, pela mentira uma verdade.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">9-Sei de teus conhecimentos sobre a cultura grega e o quanto em alguns textos isso aparece. Como o poema “Prometeu”. Poderia falar um pouco disso?</span></i><span style="font-size: 18pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">A escritora e professora Jane Tutukian, ao apresentar meu livro de poesia <i>Quichiligangues</i> (2008), sugeriu que meu interesse pelo mundo grego devia ser consequência do curso de Letras. Sem desdizê-la, eu poderia afirmar que é anterior. Quando criança, meu pai me contou a história do rio em que não se entra duas vezes, achei fantástica. Mais tarde descobri que era de Heráclito e não sei se meu pai sabia do autor. Entre os sete e os dez anos li os doze volumes de uma enciclopédia: a espada de Dâmocles e outros relatos se inscreveram talvez para sempre na minha memória. Na sexta série precisava escolher um livro para leitura. Fiquei entre dois na livraria, o que não escolhi era <i>Prometeu acorrentado</i>, de Ésquilo. A curiosidade permaneceu e mais tarde a satisfiz.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">10-A fala, a exposição, a voz... Além de algumas entrevistas podemos assistir tua fala dizendo poesia. É o caso de “Porta”, que se encontra no YouTube. O que isso contribui na construção de um dizer poético?</span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Acredito que a verbalização do poema pode despertar o interesse de um novo leitor e ajuda na divulgação da poesia. Nos últimos dez anos, mais ou menos, esse tipo de expediente serviu para tirar a poesia do limbo. Multiplicaram-se os saraus, os eventos, os festivais no Brasil inteiro. Posso dizer poemas em público, realizar palestras, dar oficinas, participar de debates, mas para mim não há nada mais produtivo do que a escrita e a leitura silenciosas.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">11-O que é campo da fala, para ti?</span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Não pretendo, visto não ser especialista, mero leitor curioso, abordar essa expressão de Lacan em termos psicanalíticos. Talvez se possa sugerir apenas que a poesia busca desvendar o que não é percebido imediatamente. Se um poeta escreve sobre um pano de chão, poderá tratar das relações de trabalho pelas quais esse trapo passou até chegar a uma determinada casa, lembrar a flor de algodão que um dia ele já foi, etc. Ou seja, a poesia amplia a perspectiva e suspende as certezas do leitor, muitas vezes as do próprio poeta. É claro que há no escritor um processo de escuta (leitura, no sentido amplo do termo) de si mesmo e do outro, que busca o desconhecido: “ouço, como um, aviso/ o que não diz nada/ não como um sino/ mas um sopro”, escrevi há uns vinte anos.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Assim, o campo da fala para a literatura, para a minha pelo menos, é o do silêncio. A observação, a rememoração, a elaboração interna, a escrita e a leitura realizadas na quietude. Não importa que entrem aí a vivência de infinitas falas, intertextualidades oriundas de leituras e diversas artes, etc. Meu campo, minha fala, minha produção advém desse silêncio. Em suma, meu silêncio é minha fala. E como todos sabem, o silêncio fala.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">12-Filhos, filhos... És um pai de três. Para mim a maternidade acrescentou possibilidades neste campo da fala. Costumo brincar que a maternidade rompe qualquer significado, sendo uma experiência do REAL, da qual nunca retornamos (eheheheheh). O que é ser pai, para ti?</span></i><span style="font-size: 18pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Depois que me divorciei, após um ano e pouco, meu filho pequeno veio morar comigo. Um pouco mais, veio a filha do meio. Similar a muitas mães, fui um pai solteiro. Curti a função, então socialmente nova, amava e amo meus filhos, e não deixei de fazer o que gostava. Recentemente, minha filha menor, já adulta e universitária, por razões inusitadas, também veio. Tenho dificuldades para fazer muitas coisas, mas recordo que sempre que pintava um problema grande com um dos filhos, instantaneamente eu me mobilizava e era como se soubesse exatamente o que fazer. Por pior que fosse a fatura, ficava alerta e lúcido como uma serpente. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">13-Tuas experiências com os índios... O que mais te fez diferença nelas?</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Não são lá grandes experiências, mas fiz duas viagens enormes pela Amazônia, uma mais pelo Brasil, a outra adentrando a Amazônia Peruana. Não saí esperando encontrar aldeias intocadas, mas atento às modificações culturais devido ao contato com a nossa civilização. No Baixo Mucajaí, em Roraima, os poucos habitantes, de origem nordestina, pescam de rede ou anzol, mas os <i>yanomammi</i> migrados da Guiana Inglesa não se adaptaram, continuam pescando com arco e flecha. No entanto, a ponta da flecha, originalmente de osso de peixe, agora é feita com alumínio industrial batido em forma de seta, e o fio do arco, a exceção de uma pequena parte de fibras vegetais, é de arame. No Mato Grosso diziam, por brincadeira, que os <i>Uru-Eu-Wau-Wau </i>de Rondônia iam me pegar, mas nem sei se eram mesmo antropófagos, como os <i>Juma</i>. No Acre, próximo ao Rio Juruá, os <i>Kampa</i> fazem beberagens de plantas alucinógenas até surgir o dia atrás das árvores altas, então pegam um espinho e espetam um sapo deixado num cercadinho, e depois espetam em si o leite do sapo, ficando imediatamente sóbrios. Próximo da Laguna de Yarinacocha, em Pucallpa, no Peru, vivem os <i>Shipibo</i>, que fabricam tecidos inacreditáveis, cerâmicas lindíssimas e praticam rituais do yagé em palafitas, com um lugar reservado para o vomitório, que acreditam purificador.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">14-O trabalho é o próprio, o que se produz sem contestação. Porém, no que se refere a poesia, sabemos que não dá para sobreviver se contarmos somente com a escrita. O que é para ti o trabalho como produção no mundo e o trabalho que te dá subsistência? Há diferença? Há padecimento?</span></i><span style="font-size: 18pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Vivo dentro de uma equação pré-estabelecida: trabalho com estatística para sobreviver e fico livre para fazer o trabalho que eu quiser em termos de poesia e literatura. Acredito, com Maiakóvski, que poetar é um trabalho.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">15-Quais os trabalhos que mais gostaste de fazer? Quero dizer, incluindo oficinas, publicações, palestras...</span></i><span style="font-size: 18pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Em literatura, o que mais gosto é de ler e escrever.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">16-E das publicações, qual a que te deu mais gosto?</span></i><span style="font-size: 18pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">Quichiligangues</span></i><span style="font-size: 18pt;">, um livro pequeno, teve uma acolhida ao mesmo tempo modesta e extraordinária. Ver impresso minha primeira publicação, uma tradução de José Martí, foi uma grande alegria. Assim como ter bastante gente no lançamento de <i>Plano de Navegação</i>, meu primeiro livro autoral, pois eu temia que não fosse ninguém.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">17-Aliás... o que é publicar?</span></i><span style="font-size: 18pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Começar a fazer coisas no mundo com a linguagem da poesia. Ou da ficção: meu primeiro livro de contos, <i>Andorinhas e outros enganos,</i> já está na editora.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">18-Já fizeste trabalhos em parcerias, projetos para leitura e escrita, organização de espaços de discussão, etc. Poderias falar um pouco disso?</span></i><span style="font-size: 18pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Produzi eventos de poesia, mas é um fato que, mais ocupado, se escreve menos. Por dois anos estive a frente da produtora do PortoPoesia, mas resolvi me desligar no final de 2008 por discordância quanto a relação conflituosa com organizadores de eventos similares e doei minha parte da produtora aos outros três, depois dois, sócios. Com a artista plástica Anico Herskovitz, organizei duas edições do Poemas Gravados. Dou respaldo à FestiPoa Literária, ao Cidade Poema e a outros eventos. Em 2011, participei do Sport Club Literatura no StudioClio (Prêmio Fato Literário), da III Jornada de Poesia Moderna da PUC-RS, do Cabaré do Verbo na Casa de Cultura Mario Quintana, de coletivas do Castelinho Cultural do Alto da Bronze, da Feira do Livro de Porto Alegre, do Sarau Literário da Zona Sul, viajei pelo interior através do ArteSesc, percorri escolas, etc. Colaboro com a revista Verbo 21, editada pelo escritor Lima Trindade desde Salvador, atendo a convites de periódicos, escrevo apresentações, faço entrevistas, mas decidi me dedicar mais à escrita criativa, deixando um tanto de lado a produção de eventos.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">19-Qual a função social do escritor, hoje? E do texto?</span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">O escritor se manifesta como cidadão e principalmente através da sua obra. O texto responde a uma época histórica, direta ou indiretamente, e tanto melhor se está em consonância com ela, apontando para o futuro. Sinteticamente, a função social do escritor é humanizar o mundo através da celebração e da crítica presente nos seus textos, na melhor forma estética que ele consiga atingir depois de dar o máximo de esforço. A velha e entrada em séculos tese da <i>arte pela arte</i> acaba maltratando a arte que imagina defender.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">20-Gostaria de falar mais alguma coisa?</span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Agradecer o convite para a entrevista e a gentileza da entrevistadora. Desculpar-me pela demora na resposta.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">Querido Sidnei, é uma honra tê-lo como convidado. Pelo isso ou aquilo, para mim muito mais por este cuidado especial. Sendo isso, amamos as pessoas, pois que amamos as palavras que constituem cada um, enquanto semelhantes, enquanto diferentes, numa mesma raiz. Seja sempre bem vindo neste espaço e nas minhas palavras, que já se fizeram tuas.</span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 18pt;">Beijo com todas as letras</span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 18pt;">Adriana Bandeira</span></div><div class="MsoNormal" style="color: white; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="color: white; text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="color: white; text-align: justify;">SIDNEI SCHNEIDER é poeta, contista e tradutor. Publicou os livros<br />
<br />
Quichiligangues (Dahmer, 2008), Plano de Navegação (Dahmer, 1999),<br />
<br />
Versos Singelos-José Martí (SBS, 1997) e lança esse ano Andorinhas e outros<br />
<br />
enganos (contos). Participa de Poesia Sempre (Biblioteca Nacional, 2001),<br />
<br />
Antologia do Sul (Ass. Legislativa, 2001), O melhor da festa I e II (Nova Roma,<br />
<br />
2008 e Casa Verde, 2009), Poemas Gravados (Autores, 2009), Moradas<br />
<br />
de Orfeu (Letras Contemporâneas, Florianópolis, 2011) e de outras dez<br />
<br />
publicações. 1º lugar em poesia no Concurso Talentos, UFSM (1995), 1º lugar<br />
<br />
no Concurso de Contos Caio Fernando Abreu, UFRGS (2003). Participa dos<br />
<br />
projetos ArteSESC e Autor Presente e é membro da Associação Gaúcha de<br />
<br />
Escritores.</div>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-60863928343880030362011-06-19T05:05:00.000-07:002011-06-19T05:15:36.285-07:00UM OLHAR SOBRE A CIDADE...LÁ DE CIMA VEMOS O CAIS: conversando com Pedro Jalvi<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">1-Pedro Jalvi...Lá de cima se vê o quê?Se sente o quê?Dá para falar?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Lá de cima a gente vê como tem pessoas pequenas que, no entanto, imaginam ser grandes.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Vemos, também, que nem tudo é tão grande que não possamos ficar acima. Afora isso, o</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">estar lá no alto, voando, é das melhores sensações que o ser humano pode experimentar.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Além da autoconfiança temos de confiar no equipamento; é preciso a noção exata do que</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">se está fazendo; e quais são os nossos limites. Quem voa, sem sombra de dúvidas, é um ser</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">humano diferenciado. E muito melhor.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-GO8-8bAALK8/Tf3jHP-m79I/AAAAAAAAACw/_CSZuDgbmHk/s1600/C%25C3%25B3pia+de+C%25C3%25B3pia+de+img003.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-GO8-8bAALK8/Tf3jHP-m79I/AAAAAAAAACw/_CSZuDgbmHk/s1600/C%25C3%25B3pia+de+C%25C3%25B3pia+de+img003.jpg" /></a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">2-Depois de muitos anos te reconheci numa foto estranha, no Orkut, em que estás junto a uma</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">aparelhagem esquisita.O que é?Precisamos saber!</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">É um pára-motor. Simplificando: trata-se de um motor aeronáutico que vai conectado às</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">costas do piloto através de um equipamento. A “asa” é um parapente. É a menor aeronave</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">motorizada capaz de transportar pessoas, que temos por aí. Eu voava com um equipamento</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">destes. Vendi-o devido a uma crise financeira.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">3-lembro do Netojos II !rsrsrsrsrsrs...Aquele grupo de teatro que reanimava as artes</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">dramáticas de nossa cidade depois de muito anos.Estamos ficando velhões , hein Jalvi?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">rsrsrsrsrs.Pois é, não lembro direito quais os personagens, qual o texto na época.Porém, vou</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">te confessar, que lembro da tua voz! rsrsrsrsr.Era o comentário das atrizes nos bastidores!</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">rsrsrsrsrsrs.Outra hora conto mais das coisas que falávamos...sobre a tua voz.Ou não</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">conto,jamais!rsrsrsrsrrsPois bem...para ti Jalvi, o que é ter uma voz que causa gosto aos</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">outros?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">É, e lá se vão trinta anos...Bah, devias ter me contado na época sobre os cochinhos nos</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">bastidores... Eu era tímido pra caramba, embora já trabalhasse em rádio e fazendo teatro.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Quando me elogiavam ficava tão vermelho quanto um pimentão. Pois, é! A minha voz</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">continua a mesma, mas, em compensação, os meus cabelos... Adriana, eu sempre digo que</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">para apagar a história só matando os velhos. Pois bem, esta alusão ao Grupo Netojos II (não</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">esquecendo que nos anos 40/50 houve o Netojos I), nos remete ao fato de que Montenegro</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">foi muito mais rica artística e culturalmente do que é hoje, e, no entanto, agora é que a</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">chamam de “Cidades das Artes”. De alguma forma este passado precisaria ser resgatado - e</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">devidamente registrado - para que a geração atual e as futuras saibam que nem tudo por aqui</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">foi a mediocridade que se vê hoje.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">4-Costumo dizer que a voz é o sujeito.Nos seus diferentes discursos, nas suas diferentes</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">posições e endereçamentos.Porém, ocorre que quem narra um fato, principalmente num</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">veículo de imprensa, de propagação da notícia, precisa, imagino, nãos e apresentar tanto, não</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">comover-se tanto.Como é, para ti, dizer-se, aos ouvintes?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Olha, Adriana, cada situação é uma situação. Eu sempre digo para quem está começando: no</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">rádio a entonação da voz, numa locução, pode se tornar um editorial; na televisão, uma</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">expressão facial - além do tom de voz -, da mesma forma, será interpretada como uma</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">opinião. Mas as minhas experiências, através da voz, são muitas e riquíssimas. No rádio</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">profissional ,antigamente, só uma boa voz não bastava. O talento, como um todo, era</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">fundamental. Tempos atrás (hoje isto já quase não existe) se criava uma relação de muita</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">confiança entre o ouvinte e o locutor, o comunicador. Ao longo da minha carreira vivi</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">situações riquíssimas deste envolvimento, desta relação estreita com os ouvintes. O meu</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">trabalho em rádio sempre foi além da notícia (também era a notícia, é claro). Eu nunca fiquei</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">no ar menos de cinco horas consecutivas, de segunda à sexta. Os meus programas sempre</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">iniciaram às sete horas da manhã e se estendiam até o meio-dia. Imagine, então... a gente</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">passava a ser quase um familiar dos ouvintes. Hoje se fala muito no Zambiazi, mas este</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">trabalho desenvolvido por ele, fazíamos muitos anos antes. A diferença é o fato dele atuar</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">dentro de Porto Alegre e com o respaldo da estrutura da RBS. Para quem trabalhava no</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">interior se tornava muito mais complicado. Adriana, vivi fatos emocionantes, decepcionantes,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">alegres, tristes, indiferentes, enfim. No rádio que eu faço, o dia de hoje não é igual ao de</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">ontem e nem será ao de amanhã. Para teres idéia deste envolvimento, já vivi o caso de uma</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">adolescente condenada à morte por uma doença incurável que dizia não aceitar morrer sem</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">me conhecer pessoalmente; de uma senhora idosa (já falecida) que, por vontade dela, tornou-</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">se “vó adotiva” dos meus filhos e os tratava como se fossem netos de sangue. Também passou</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">a cuidar de mim como a um filho. Ela, uma senhora culta, dizia que os filhos legítimos não lhe</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">davam a mesma atenção que eu dedicada à ela. Olha, foram tantas histórias bonitas nestes</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">mais de trinta anos. E em várias cidades. Hoje em dia nos Facebook e Orkut da vida, pessoas</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">me localizam e, num primeiro momento nem sei de quem se tratam, mas daqui há pouco</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">começam a descrever situações e eu acabo ligando-as a estes acontecimentos proporcionados</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">pelo rádio. Tenho muitas histórias bonitas e se fosse narrá-las aqui não haveria espaço</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">suficiente no teu blog. Já na parte jornalística, propriamente dita, também vivi situações</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">grandiosas. Antes de completar vinte anos de idade, já havia entrevistado presidente da</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">República, o general João Batista Figueiredo; consegui entrevista exclusiva com o governador</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">do Estado, Amaral de Souza (naquele tempo isto era quase impensável, devido ao regime</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">militar, pior ainda para um “pós-adolescente”). Fazer jornalismo era mais do que cumprir</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">expediente e apresentar um trabalho qualquer. Era viver aventuras. De todos os tipos. E hoje</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">quando eu vejo a gurizadinha da Imprensa(e não só nos veículos de Comunicação do interior,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">nos grande também), em sua maioria medíocres, “arrotando” como se fossem os “caras”, fico</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">indignado. Como já disse anteriormente, sobra tecnologia e falta talento. O rádio, jornal e tv</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">não me deram dinheiro, mas, com certeza, proporcionaram grandes, enormes emoções.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Parodiando Roberto Carlos, eu posso dizer em alto e bom som que emoções eu vivi!</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">5-A tua paixão por voar...no teu tão esperado texto de encontro ( rsrsrsrsrrs), quando</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">aceitaste o convite para Indecentes palavras, relatas teu sonho de menino de ...voar.E aí, como</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">encaminhaste isso?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">A minha paixão por tudo o que voa começou quando criança. Eu morava no Passo da Cria,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">próximo a uma das cabeceiras da pista de pouso e decolagem do Aeroclube de Montenegro</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">(naquele tempo lá era interior do município). As minhas brincadeiras, em cima das árvores,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">eram “de avião”. Eu saltava do telhado da casa com guarda-chuvas, simulando pára-quedas.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Quando nos mudamos para a cidade, casualmente passei a residir ao lado da casa do falecido</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Paulo Streb, que era piloto e pára-quedista. Ele me oportunizou voar as primeiras vezes no</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">avião Paulistinha que havia no Aeroclube. Lembro até hoje a matrícula da aeronave: PP-RPJ (as</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">duas últimas letras, iniciais de Pedro Jalvi). Eu só não fui, aos 13 anos de idade, para a Força</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Aérea Brasileira porque a minha mãe não permitiu. Queria ser piloto da Esquadrilha da</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Fumaça. Bem, o sonho de ser piloto de avião se perdeu nas dificuldades financeiras para</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">custear um curso. Mas aos dezessete anos me tornei pára-quedista, esporte com o qual</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">também sonhava. Foi em Caxias do Sul. Vivi o pára-quedismo por mais de vinte anos. Mas a</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">prática deste esporte era bem diferente dos dias atuais, por vários aspectos. Desde a questão</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">segurança até os tipos de equipamentos. Atualmente, podemos dizer que é uma atividade</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">quase cem por cento segura. A tecnologia domina a fabricação de equipamentos. Para teres</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">uma idéia, no tempo em que fiz o curso levávamos quase seis meses do início das aulas até o</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">primeiro salto. Hoje, tu chegas pela manhã na área de salto e à tarde já fazes o primeiro salto</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">livre, acompanhado de dois instrutores. Nas “antigas” a gente saltava em queda-livre e ao</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">comandar o pára-quedas ficávamos torcendo para que o “redondão” abrisse, pois panes eram</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">comuns. A navegação do velame, um suplício; e a aterragem, uma incógnita. Mas havia mais</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">beleza em tudo. Era romântico. Tem um filme bem antigo (baixei na Internet), que assisto</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">quando bate a saudade daqueles tempos. O nome é “Os Pára-Quedistas Estão Chegando”,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">com o Burt Lancaster. A estória se desenrola de forma muito semelhante ao que fazíamos,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">viajando por várias cidades em atividade de saltos. A cada fim-de-semana novas aventuras.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Os “pqds” eram recebidos nas cIdadezinhas como verdadeiros heróis. As crianças tocavam na</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">gente para ver se éramos “de verdade”! Tudo muito bonito. Tenho saudade. Parei com o</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">pára-quedismo quando as áreas de saltos viraram “área de negócios”; os clubes se</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">transformaram em empresas e a prática do esporte passou a ser coisa para a elite financeira,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">tais os custos que passaram a ter. Não era mais para mim. Afora isso, comecei a ver os</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">caras “fumando” coragem para saltar. Sempre detestei drogas. Não as aceito sob qualquer</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">pretexto, muito menos no esporte e num esporte como este, de alto risco. Paralelamente ao</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">pára-quedismo, conheci o vôo livre. No final dos anos 80 comecei um curso de pilotagem de</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">asa delta, em Igrejinha, (eu morava, então, em Taquara),mas não continuei devido à mudança</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">de cidade. Mais adiante surgiu no Brasil o parapente (que é primo em segundo grau do pára-</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">quedas e parente distante da asa delta). Fiz uns treinamentos e uns vôozinhos, mas, devido a</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">nova mudança de cidade, não continuei. Alguns anos depois retomei o vôo em parapente.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Neste ano estou parado face à alguns percalços, mas pretendo recomeçar em breve. Em</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">síntese (nem tão sintética assim) é isso. Mas continuo um apaixonado por aviões e por tudo</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">que voa, e, hoje, o computador também me permite voar diversas máquinas por vários céus...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">6-A cidade e a voz...é algo assim como acostumarmo-nos coma s esquinas e as pequenas</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">praças.Então, existem aqueles que falam em função de um ideal político, de algo que requer</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">a denúncia....E outros falam porque amam o lugar onde nasceram e fazem da sua voz, a dos</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">outros.Estas seriam posições apontadas por mim, é claro.Mas tu,Jalvi...de onde tu falas?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-LQfe0BHoMKg/Tf3j05N9ksI/AAAAAAAAAC8/_TU5-6tipZo/s1600/C%25C3%25B3pia+de+21.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-LQfe0BHoMKg/Tf3j05N9ksI/AAAAAAAAAC8/_TU5-6tipZo/s320/C%25C3%25B3pia+de+21.jpg" width="312" /></a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Adriana, ao longo de 34 anos (comecei com pouco menos de 14 anos de idade, acreditem!</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">) o meu ideal sempre foi fazer algo pelos menos favorecidos; dar voz àqueles a quem nunca</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">possibilitaram o direito de expressão. Muitas pessoas pensam que o Jalvi brigão (no bom</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">sentido e, às vezes, no mal, também); que diz aquilo que outros não têm coragem; que coloca</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">o dedo na ferida; que “mete a mão” nos grandões, surgiu ontem (porque fiquei década e meia</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">fora de Montenegro). Nada disso. Eu iniciei profissionalmente já fazendo “bronca”! Nem 15</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">anos eu tinha quando duas viaturas da Brigada Militar foram me prender no estúdio da Rádio</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">América (tempos da ditadura militar), numa operação com direito à sirenes abertas, carros</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">entrando na contra-mão, homens armados até os dentes descendo das “pata-chocas” (como</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">eram chamadas as viaturas à época), tudo porque critiquei com veemência e a indignação de</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">adolescente, já inconformado, a BM e o Exército, porque militares mataram um motoqueiro</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">pelas costas, em Passo Fundo, e, depois, quando dos protestos, teve a matança de meia</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">dúzia de manifestantes. Anos mais tarde o destino me levou àquela cidade, onde fiz um</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">pouco de história também. Nas muitas outras cidades por onde passei não foi diferente.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">A minha trajetória no rádio, tv e jornal, daria um livro de muitas páginas. Só que a minha</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">cidade, infelizmente, não me conhece profissionalmente e nem a minha história. Ainda por</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">cima, alguns babacas, do mesmo meio profissional, e também de fora, sempre procuraram</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">diminuir ou abafar esta trajetória. Motivados por ciúme e inveja, sentimentos que sempre</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">acompanham os incapazes. Então, Adriana, de onde eu falo? Eu falo de onde ninguém quer ou</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">não gosta de falar, por falta de coragem, de argumentos, de honestidade ( e esta é a palavra</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">mágica: honestidade). Eu falo -e falarei ainda mais quando a Montenegro FM estiver no ar -</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">por este povo que continua sem voz diante de tantos poderosos que não só tem direito à voz,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">como, aproveitando este “direito”, gritam bastante sem que alguém faça um contraponto no</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">mesmo tom e volume.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">7-Sobre as falas e suas vicissitudes...Dizem alguns que as mulheres falam demais</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">rsrsrsrrsrs.Dizem alguns que elas dizem a verdade rsrsrsrsrsrs.Ocorre que, existem estudos,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">as más línguas, como gosto de dizer, que às mulheres está dado um lugar de falta de</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">reconhecimento, vindo a ser suprimido somente, para algumas, se um homem as escuta</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">fazendo valer o que foi dito.De forma sutil e nem sempre...,veja bem! Nem sempre!, concordo</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">com isso.Assisto algo assim os mais diferentes âmbitos.O que achas disso?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Adriana, se nós, os homens (falo “homem”, no sentido sexo masculino) ouvíssemos mais as</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">falas das mulheres, faríamos menos besteiras, tenha certeza. A mulher tem mais sensibilidade,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">e, parece, “vê além” para e em tudo. Se no decorrer da minha vida tivesse ouvido mais as</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">mulheres, menos besteiras fariam parte do meu curriculo. Com certeza!</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">8-Ao longo dos anos o que mudou por aqui?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Montenegro cresceu (só geograficamente que não. Ao contrário, diminuiu bastante), o</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">dinheiro trocou de mãos, surgiram novas oportunidades, etc. Mas gostem ou não, a verdade</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">é uma só: a mentalidade da maioria continua a mesma coisa. Medíocre. Putz, acho que isto</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">é coisa de “DNA” do município. Como disse, fiquei quinze anos fora e vi e vivi muitas outras</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">cidades, com povos diferentes e diferenciados. Depois retornei e a mentalidade reinante não</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">havia se alterado. Em algumas situações até piorou. Quando da volta, residindo novamente</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">aqui mas trabalhando em outros municípios, acontecia aquele choque: durante a semana</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">convivia com um tipo gente e sua maneira de pensar; aos fins de semana, na minha terra, algo</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">totalmente diferente. Aqui é preciso ser meio como Dom Quixote, lutando contra moinhos de</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">vento, e se trata de uma luta totalmente inglória. Como gosto da minha cidade, e nesta altura</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">do campeonato não vou mais trocá-la, resolvi relaxar e... Mas às vezes perco a paciência,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">principalmente quando vejo uma nova elite econômico/financeira/política, sem cultura, sem</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">vivência, sem nada de bom para oferecer, usando o “zé povo” como escada para subir ainda</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">mais alto. Também a elite de outrora, hoje decadente, usando dos mesmos expedientes</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">para tentar se manter, de forma desesperada, nestes lugares elevados. Me indigno mesmo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">E mais “louco” fico quando vejo uns bobões, pensando serem espertos – mas na verdade são</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">meros instrumentos - dando guarida a este tipo de coisa. Imaginam ser inteligentes, mas, na verdade, são uns burrões, trouxas. O que é bem pior.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-rehkVr7_Gs0/Tf3kmLrRhUI/AAAAAAAAADA/Vk121jyHkYY/s1600/noaviao.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="217" src="http://2.bp.blogspot.com/-rehkVr7_Gs0/Tf3kmLrRhUI/AAAAAAAAADA/Vk121jyHkYY/s320/noaviao.jpg" width="320" /></a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">9-Assisti ao filme feito pelo Adriano Alves,Leandro Gonçalves e outros...Aquele dos</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Crisóis.Muito legal! Crescestes enquanto ator,não?Como é este teu envolvimento com a</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">representação?A voz é uma forma de representar?Como forma as filmagens?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Adriana, depois que fiz teatro em Montenegro, acabei em Taquara. Lá, tinha a Ângela</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Gonzaga, atriz de teatro premiadíssima(irmã dos professores Sérgius e Régis Gonzaga), que</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">integrava um famoso grupo de Porto Alegre (não recordo o nome agora). A Ângela, reiteradas</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">vezes me convidou para fazer teatro, com o devido aperfeiçoamento, é claro, em Porto Alegre.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Não quis. Talvez tivesse dado certo e seguido carreira. Mas sabe daquela história de ter um</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">passarinho na mão ao invés de dois voando? À época já estava com filhos e não podia correr</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">riscos. Mas o rádio também é um exercício diário de interpretação. Tu precisas fazer com que</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">o ouvinte “veja” aquilo que estás falando. A narração esportiva, por exemplo (narrei futebol</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">profissional por mais de vinte anos), é um exemplo. Tu tens que contar em velocidade as cenas</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">que passam rapidamente à frente dos teus olhos, sem errar, dosando na emoção,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">interpretando o acontecimento no momento exato, fazendo projeções dos instantes</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">seguintes, e tudo de forma muito equilibrada. Ah, e sendo submetido a julgamento por</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">milhares de pessoas cara a cara, dentro do estádio. Tem de ser “artista”, não tenhas dúvida.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Bem, mas depois, nos anos 90, fiz muito comercial de TV como ator e locutor. Como os anos</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">não perdoam, o tempo passou, o cabelo escasseou e a balança indicou que a fase estava por</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">acabar. A etapa de “galã mexicano” se expirara. Nestes períodos surgiram muitos convites</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">para vôos mais altos, como São Paulo e Rio de Janeiro. O meu temor sempre foi o de arriscar</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">tendo crianças pequenas (fui pai muito jovem) e, ao mesmo tempo, guardava no meu íntimo</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">aquela imensa vontade de voltar para Montenegro, ficar próximo dos familiares, e ter “uma</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">casinha branca com varanda, um lugar de mato verde pra plantar e pra colher” (música do</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Gilson). E que continua sendo o meu sonho... Eu andava por diversas geografias, mas sempre</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">com o pensamento e os olhos voltados para Montenegro. Agora, depois das voltas do mundo</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">e das voltas que o mundo deu (outra música, esta do Demétrius), me arrependo de não ter</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">arriscado. Refletindo friamente acho que teria me saído bem. Talvez hoje eu pudesse ser um</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">vilão da novela das nove, não é? Queres que eu seja sincero? Me arrependo muito, mas muito</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">mesmo, em ter retornado para Montenegro, rejeitando oportunidades para as quais outras</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">pessoas dariam qualquer coisa em troca para tê-las. Não valeu à pena mesmo, embora esteja</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">tentando, e faz tempo, aplacar os prejuízos causados por estas escolhas. Aliás, em última</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">instância, nós somos frutos das nossas escolhas, não é mesmo? Mas, voltando ao assunto</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">propriamente dito: tivemos aquelas experiências com os filmes do Adriano Alves de Oliveira.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Pena que as boas iniciativas em Montenegro morrem na casca. Hoje, com o advento da TV</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Cultura, e com os recursos técnicos disponíveis seria bem mais fácil produzir outros filmes,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">curta-metragens, mini-séries, tele-teatros, etc. Esta idéia dos filmes locais deveria ser</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">retomada. Eu sempre quis fazer um curta-metragem em cima do conto “Um Dia a Lua Cai”, do</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Pedro Stiehl, mas, infelizmente, ficou só na vontade. Hoje em dia com este fundo de incentivo</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">à Cultura, em Montenegro, até daria para retomar a proposta, mas, imagine, quando vissem</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">na documentação Pedro Jalvi Machado e Pedro Stihel, os “pedros” acabariam</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">levando “pedradas” e não dinheiro... Para uns e outros que mexem com “cultura” por aqui,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">nós ainda somos malditos. Mas veja que beleza aquela produção do Paraguaio, em parceria</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">com o Diego K, numa música e letra do Pedro Stiehl (o vídeoclip “Não te Culpo”, no Youtube).</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Quer dizer: em Montenegro o que não falta é gente de talento, mas talento este que, via de</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">regra, é abafado pela mediocridade...</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">10-As mulheres...O que é amar uma mulher?É possível?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Vai da calmaria ao turbilhão. Mesmo assim, se isso não fosse possível, o mundo seria em</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">preto-e-branco.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">11-A cidade, a mulher...encontra semelhanças?Quero dizer, quando falas para A cidade...é</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">uma forma de amar?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Ah, eu e Montenegro tem sido um grande caso de amor não correspondido. É desigual. Só eu</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">amo. Mas acredito que em breve vou conquistá-la e haverá reciprocidade neste sentimento. E</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">isto vai se dar através da Rádio Montenegro FM, que em breve estará no ar.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">12-Sabendo da nova rádio...Poderia contar um pouquinho do processo de criação disso?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Adriana, quanto eu tinha vinte e dois anos de idade já era sub-gerente de rádio. Logo depois,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">fui alçado à gerência e, de lá para cá, dirigi seis emissoras de rádio, quatro dentro do mesmo</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">grupo de Comunicação. Antes disso tinha sido apresentador de telejornais. Também fui editor</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">e diretor de jornais. Trabalhei em agências de publicidade. Enfim, fiz de tudo em Comunicação.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Neste setor ganha dinheiro quem vende, e bem, publicidade. A minha praia nunca foi vendas,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">mas criação, produção, etc. A minha especialidade era pegar um veículo de</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Comunicação “quebrado “ e levantá-lo em pouco tempo, tornando-o rentável e com</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">credibilidade junto ao público. Modéstia à parte, nunca falhei nisso. Eu era gerente da Rádio</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Santa Cruz, uma emissora muito forte do interior, quando vendemos a emissora para a Igreja</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Católica. Fui para lá com a missão de reerguer a rádio e vendê-la. A missão foi cumprida. Não</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">cheguei a sair de Santa Cruz do Sul, pois o prefeito de então, Sérgio Moraes, me convidou para</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">assessorá-lo e, também, veio a proposta do Grupo Gazeta de Comunicação para trabalhar lá.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Aceitei as duas propostas. Lá pelas tantas, a rede em que eu trabalhava, antiga proprietária da</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Rádio Santa Cruz, quis que eu retornasse para fazer a transição da Rádio Progresso, em Novo</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Hamburgo, cuja freqüência foi vendida para o Grupo Sinos, e levar para aquela cidade a</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">emissora, também de nome Progresso, que funcionava em São Leopoldo. Era uma coisa</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">totalmente louca e fadada ao fracasso. Deu certo. Depois, prefeito de Santa Cruz me chamou</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">de volta. Lá fui eu e fiquei em Santa Cruz até ser contratado para coordenar a campanha de</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Iolanda e Heitor à Prefeitura de Montenegro. À partir daí decidi fincar pé em Montenegro e</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">não mais sair daqui. Procurei o Adriano Alves de Oliveira e propus a criação de uma entidade, a</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Associação Pró Desenvolvimento de Montenegro, para solicitarmos a abertura de licitação</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">para a implantação de uma emissora de rádio comunitária aqui no município. E assim foi feito.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Outras entidades participaram da disputa e nós acabamos os vencedores. O início de tudo foi</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">em 1996 (a concessão de um canal de rádio ou televisão é muito demorada) e se estendeu até</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">junho do ano passado (2010) quando recebemos a outorga do Ministério das Comunicações.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Daí, era preciso a aprovação do Congresso Nacional. Imagine, num ano eleitoral como fazer</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">andar qualquer projeto dentro da Câmara dos Deputados e do Senado? Conseguimos. Agora</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">só resta aguardarmos a finalização de alguns trâmites burocráticos e a finalização do projeto</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">técnico para a Rádio Montenegro FM ir ao ar. Mas um dos motivos que nestes anos não sai</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">mais de Montenegro para trabalhar fora, é que a Legislação que regula a concessão de canais</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">comunitários, diz que os sócios tem de ser residentes no município área de atuação da</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">emissora. Para trabalhar fora teria de morar neste outro município. Em sendo assim, estaria</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">enganando um órgão federal, o Ministério das Comunicações, e não gosto destas coisas de</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">fachada. Preferia carregar um pouco de “pedra” neste período, mas fazendo as coisas com</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">total lisura. A diferença é que agora vou poder empreender aqui na minha terra o rádio</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">vitorioso e de sucesso que fiz em tantas outras cidades. É incrível, mas embora tenha sido um</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">profissional premiado e de longa carreira, a minha própria cidade ainda não me conhece como</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">comunicador. A nossa rádio vai ser democrática, dando voz a todos os segmentos da</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">comunidade montenegrina, e lutando sempre pelas causas da nossa gente. Não tenha dúvida</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">que a Rádio Montenegro FM vai escrever novas páginas na história da Comunicação em nosso</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">município.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">13-Quais os trabalhos que mais te deram gosto em realizar? Todos da área de Comunicação.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Mas os programas de rádio tinha um gosto especial, pois eu ajudava muitas, mas muitas</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">pessoas mesmo. Tenho histórias lindas sobre isto. E, veja bem, nunca pedi nada em troca,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">como muitos fazem: usam a força de um programa de rádio, “ajudam” pessoas, mas depois</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">querem o voto numa eleição. Em municípios de porte, como Passo Fundo e Santa Cruz, eu</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">poderia ter concorrido a vereador com todas as chances de êxito. Preferi não trair a confiança</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">dos meus ouvintes, pois, naquela época, sempre dizia que não os faria de trampolim para</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">seguir carreira política. Através dos programas de rádio fizemos obras sociais grandiosas,</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">ajudando famílias e, também, comunidades inteiras. Graças a Deus, tenho muitas e belas</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">histórias para contar aos meus netos. Pobre de quem não as têm.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">14-Voar...O que é voar?O que é falar?O que é ...existir neste lugar e tempo?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Voar... em todas as áreas e em todos os momentos da minha vida acho que sempre voei.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Voar é se superar, vivendo a todo instante uma grande e nova emoção; é o estar no alto,sabendo que no momento de pousar a operação tem de ser perfeita. E o voar te faz sentir mais profundamente a existência, te dando a noção exata do tempo, pois tu te sentes mais gente e gente diferente, escapando da linha da mediocridade, em que tantos fazem questão de permanecer.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-rehkVr7_Gs0/Tf3kmLrRhUI/AAAAAAAAADA/Vk121jyHkYY/s1600/noaviao.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="217" src="http://2.bp.blogspot.com/-rehkVr7_Gs0/Tf3kmLrRhUI/AAAAAAAAADA/Vk121jyHkYY/s320/noaviao.jpg" width="320" /></a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">. 15-Jalvi...a pior mordida é a do amigo.a pior das traições, das desilusões nem sempre é da ordem passional no sentido sexual.A traição de amigo, quase mata! Para ti...o que é ser e ter amigos?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Ah, Adriana, amigo verdadeiro é coisa em extinção. Hoje em dia sempre há algum tipo de interesse norteando as relações. Olha, tenho muitos conhecidos. Amigos mesmo, o número não equivale aos dedos de uma mão. Ao que parece nos dias atuais as pessoas fazem questão de serem maus caracteres e isso só faz aumentar as traições. Quem me tem por amigo, pode ter certeza que não será traído. Fidelidade é imprescindível. Mas dificilmente se encontra reciprocidade. E às vezes faz uma falta danada um amigo de verdade!</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">16- Qual a função da informação?Quero dizer...quando a notícia aparece é dela sua conseqüência.Costumo pensar que a notícia é,sempre, a fala que nos alcança em algum momento. A boa, a ruim...A notícia é quase uma dor de verdade que sucumbe a qualquer explicação.Neste sentido aproxima-se da poesia porque nos carrega...sabe-se lá para onde.O que achas disso?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">A informação é esta grande alavanca que está, mais do que nunca, movimentando o mundo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Quando digo isso me refiro a todos os tipos de informação. Já a notícia, a informação</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">jornalística, nos últimos anos também assumiu grande importância. Antigamente as emissoras</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">de rádio, por exemplo, priorizavam a música, o entretenimento e os noticiosos não passavam</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">de um apêndice na programação para mero cumprimento da Legislação. Hoje, não. Temos</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">rádios que têm 24 horas de notícias. Assim como emissoras de tv exclusivamente noticiosas.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Eu até não diria que a notícia tem uma proximidade com a poesia, mas com uma crônica do</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">dia a dia.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-hQQz1rb5qaY/Tf3lQhAZy_I/AAAAAAAAADI/tpOcIdh9Eyw/s1600/pqdemvoo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="214" src="http://4.bp.blogspot.com/-hQQz1rb5qaY/Tf3lQhAZy_I/AAAAAAAAADI/tpOcIdh9Eyw/s320/pqdemvoo.jpg" width="320" /></a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">17-Tem mais alguma coisa que gostarias de dizer em indecentes palavras?</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Que nem todas as palavras são indecentes! E a palavra continua sendo a arma mais poderosa</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">colocada à disposição do povo. Saibamos usá-la com decência para combater os indecentes.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Querido Jalvi...é um prazer imenso te reencontrar! </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">O prazer é todo meu!</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">O estranho e inusitado é te encontrar em foto, por email e...não em voz.É certo que ela é apenas um traço que me traz até aqui, lembrando de tempos encantadores,de pessoas que queriam voar.Traz-nos até hoje, em indecentes palavras, em que se ouve uma canção, a melhor delas, o desejo de reencontar. Assim, aqui, me vi em ti, ensaiando, lendo teu texto como “ script”, te recebendo como parte feliz desta cidade, deste lado de mais.Sempre ,por aqui, te aguardo, como a um balão colorido que possa chamar para passear ,pela notícia da vida que se há de falar.Venha sempre!</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Beijo com todas as letras</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">adriana bandeira</span></div>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-49511810801850893742011-06-13T04:39:00.000-07:002011-06-13T04:39:32.139-07:00O FRIO FAZ NASCER A TERNURA DO FIO DA PARTITURA QUE AQUECE A CANÇÃO-Falando do tempo das palavras com Lau Siqueira1-Bem...então hoje tirei a tarde para propor estas perguntas.Precisava<br />
fazê-las numa espécie de hiância que me permitisse todo o tempo do<br />
mundo.Não existe, sabemos...Então temos que inventar este momento<br />
de “ todo o tempo do mundo”.Precisava para que as perguntas tivessem<br />
esta conotação de “ poemas vermelhos”...Sim! Como perguntar ao poeta<br />
que dá este nome às suas produções de agora.quero dizer...o nome de<br />
uma cor, ou melhor, a que surge para cada um.Lau, Poemas Vermelhos<br />
surgem...em que contexto?<br />
<br />
R - Poemas vermelhos nascem de um contexto que me parece estar entre<br />
o caos e o acaso. Ou seja: no contexto da invenção poética e artística. O<br />
vermelho me pareceu a cor mais viva para identificar um processo que<br />
é contínuo. Os chamados “poemas vermelhos” que publico no meu blog<br />
são os inéditos. Muito mais que isso, são os recém criados, os criados e<br />
postados naquele exato instante. Jogados na rede para sobreviver ou não<br />
ao olhar mais agudo do próprio poeta e dos leitores do blog. Alguns até<br />
sobrevivem até o próximo livro, outros se perdem ou são sumariamente<br />
deletados. O livro Poesia Sem Pele e o anterior, Texto Sentido foram<br />
alimentados por poemas vermelhos. Portanto os poemas vermelhos<br />
são os inéditos e imediatos que se jogam no impulso, na “metalurgia<br />
da palavra”, para usar uma definião que uso em um poema de um dos<br />
meus livros anteriores. São poemas que fazem parte do meu exercício<br />
cotidiano com a linguagem, fazem parte do meu aprendizado e colocam<br />
a minha poética como um processo, como um movimento da linguagem<br />
no alimento dos meus dias e das minhas intervenções no universo da<br />
literatura.<br />
<br />
<br />
2-Por qualquer coisa inexplicável sempre pensei que ternura é uma<br />
construção.Quero dizer que não vejo bem como dizer o que é ternura.<br />
Simples como qualquer outro sentimento mas...ternura, para mim, é o<br />
depois de algo; o que refaz ou reinscreve algo da violência,da dor...uma<br />
espécie de amor que se veste com este nome.O que é ternura, para ti?<br />
<br />
R – Isso me lembra Mário Quintana: “como vou explicar uma nuvem?”<br />
Ternura para mim é um elo de silêncios para a compreensão do<br />
incompreensível e do ato mais sublime da existência que é, em verdade,<br />
o amor enquanto atitude. Portanto, é ou não uma nuvem? Não existirá<br />
ternura em alguém que não reconhece o amor enquanto valor supremo<br />
de mobilização do que conhecemos e do que ainda não conhecemos em<br />
termos de raça humana. É o reconhecimento e a compreensão da nossa<br />
fragilidade e ao mesmo tempo a nossa maior couraça, a certeza que os<br />
atos de ternura somente acontecem após um desnudamento mais denso<br />
diante da barbárie das relações cotidianas. Talvez a ternura seja a nossa<br />
única e verdadeira coragem.<br />
<br />
<br />
3-A história de cada um não conta por si só o que nos registra censuras<br />
ou nos autoriza transgressões. Por vezes, em algum tempo, podemos<br />
pensar ter transgredido e, logo, depois de alguns minutos, dias ou<br />
anos...nos perdoamos.Estas imagens permeiam ações e uma espécie<br />
de destino..como o que construímos no dia a dia.Lau,quais tuas<br />
transgressões?<br />
<br />
R – As minhas transgressões se processam através da linguagem<br />
poética, porque é lá que revelo o sacro e o profano da minha vida, do<br />
meu pensamento, dos tencionamentos que crio com a afirmação da<br />
linguagem enquanto forma de transbordar as minhas dúvidas diante<br />
de tantas certezas absurdas criadas para o sufocamento dos códigos da<br />
invenção até e, talvez principalmente, da relação do ser humano com<br />
ele mesmo. Minhas transgressões se voltam sempre para a profanação<br />
do meu umbigo, para os sarcófagos do meu ego. Neste sentido creio<br />
que o meu propósito é sempre “transgredir-me”. Numa estação onde<br />
permanentemente posso jogar meus olhares sobre os abismos que nos<br />
cercam em termos de conhecimento e desconhecimento da causas e<br />
defeitos dos processos vividos pela humanidade desde que a memória<br />
do mundo existe. A poesia é a minha transgressão mais radicalizada.<br />
Aliás, todo mundo transgride ao nascer. Respirar é, provavelmente, uma<br />
transgressão coletiva, contida pelos abalos do homem espalhados pelo<br />
universo.<br />
<br />
<br />
4- Neste aspecto, seguindo nesta linha de pergunta, confesso que<br />
não é raro pensar que a palavra tem um tempo rsrsrsr. É...algo assim<br />
como “um eu”, o do discurso, que se autoriza, em dado momento, a<br />
falar ou escrever algo.Este algo...são palavras, sons, significantes que,<br />
naquele “ tempo” apresentam-se.O que pensa disso?<br />
<br />
R- Sim, penso que cada palavra tem o seu próprio tempo porque o<br />
significado não é, na maneira poética de expressão, alguma coisa estática.<br />
Toda palavra tem seus próprios movimentos e nisso a invenção de<br />
um tempo particular. O tempo das palavras na construção do poema<br />
não é, de forma alguma, um tempo linear. Isso deve ser considerado,<br />
especialmente, na leitura crítica de um texto. Mesmo na prosa, mesmo no<br />
discurso técnico, as palavras tem um tempo que conduz ao movimento.<br />
Caso contrário não haveria evolução na ciência e no conhecimento. Talvez<br />
o papel da palavra na evolução da ciência explique melhor o seu tempo<br />
que as teorias da literatura.<br />
<br />
<br />
5 - Aí, lembrei também da proposta do teu blog poesiasim de escrever e<br />
reescrever e mudar... Como é esta idéia?<br />
<br />
R – Um poema nunca é apenas um poema. Assim como o autor não<br />
é apenas um autor. O poema está sempre dividido entre a escrita e a<br />
leitura. Portanto, acho que é a partir da leitura que o poema começa<br />
a ser realmente escrito e esse é um princípio permanente e mutante<br />
No blog, penso que meus poemas estão abertos às modificações ou<br />
mesmo às sugestões. Mesmo poemas já publicados em livros anteriores<br />
eu alterei para publicações no blog e acho que o poeta deve se permitir<br />
invasões, até mesmo de leituras equivocadas dos seus poemas. Esta<br />
leitura supostamente equivocada poderá ajudá-lo a compreender o<br />
incompreensível que é, em suma, a razão do poema. Isso não é uma<br />
regra porque se fosse estaria negando a sua própria natureza, mas no<br />
blog e nos meus livros, creio, eu continuo a caminhada em busca dessa<br />
nossa grande utopia que é a construção do poema. Isso é dinâmico.<br />
O verso de hoje nem sempre contempla o poema de amanhã. Tudo é<br />
passível de um destensionamento de conceitos para que o procedimento<br />
criativo se perpetue enquanto processo e não enquanto gradeamento da<br />
imaginação. A imaginação se veste de signos, desnuda-os. Acho qu estar<br />
preso a conceitos estabelece as bases do preconceito estético que é, em<br />
última análise, o inimigo maior de qualquer processo criativo. Que o diga<br />
Glauco Mattoso, um sonetista pra lá de inventivo.<br />
<br />
<br />
6 - Em algum momento sei que a poesia, de cada um, faz revolução.<br />
Penso que o poetar é algo próprio ao humano e capaz de produzir<br />
movimentos inimagináveis. O que é poesia para ti?<br />
<br />
R – A poesia é um salto no abismo. Uma indefinição e uma inutilidade<br />
de hálito imprescindível. Mais uma vez fico com uma frase do Mário<br />
Quintana para fugir dessa armadilha: “a poesia se resume na procura da<br />
poesia”. Ou seja: não sei o que é poesia e me conformo porque Mário<br />
também não sabia. Aliás, não tenho certeza se o que eu escrevo é poesia<br />
e, te juro, não estou nem aí. Só sei que a poesia não tem culpa alguma da<br />
minha estupidez numa resposta como essa.<br />
<br />
<br />
7 - O lançamento do livro “ Poesia sem Pele” em João Pessoa trouxe<br />
uma inovação. Por incrível que pareça, em algum sentido, estava o<br />
reconhecimento de que existe algo em comum, que recebe à todos,<br />
digamos assim. Eu tinha um amigo que não possuía a última camada da<br />
pele. Uma doença que o acompanhava desde o nascimento. Poderia ter<br />
pena mas...percebi que à todos falta a última camada da pele, a que<br />
deixamos com a placenta. Somos, sem exceção, frágeis. Para ti,Lau...o<br />
que seria este universal que à todos recebe?<br />
<br />
R – Lancei o livro em João Pessoa, num manicômio. O lançamento esteve<br />
integrado na programação da Semana de Luta Antimanicomial, numa<br />
programação que celebrou a vida, com Tom Zé, Babilak Bah e outros<br />
artistas. E o lançamento foi dedicado aos que despiram todas as camadas<br />
da pele para sentir o ferro em brasas da hipocrisia, do preconceito que<br />
existe com a loucura e com a loucura que abriga cada preconceito. A arte<br />
é a cura numa sociedade doente de tudo. É universal, portanto, pra mim,<br />
misturar as minhas atitudes às minhas crenças na vida, no que a vida tem<br />
de visível, de palpável, mas principalmnente no que tem de mistério,<br />
de invisível, de estrangulamento de uma racionalidade que geralmente<br />
somente se afirma na contradição.<br />
<br />
<br />
8 - Como foi o lançamento aqui na Festipoa?<br />
<br />
P – Foi maravilhoso! Um momento de grande alegria pra mim, lançar um<br />
livro no “Hotel Majestic” que hoje é a Casa de Cultura Mário Quintana. Era<br />
como se estivesse escutando Sapatos Floridos caminhando pelo silêncio<br />
na noite do dia 5 de maio. Sou profundamente grato à minha editora, a<br />
escritora talentosa, Laís Chaffe. Sou profundamente grato ao Fernando<br />
Ramos, por ter me incluído na programação. Foi muito especial depois<br />
de 26 anos longe dos pagos, lançar um livro na minha terra e me sentir<br />
acariciado pelos meus irmãos gaúchos, escritores ou não. Não tem preço<br />
uma emoção assim. É reconhecimento de que não estamos sós.<br />
<br />
<br />
9-Por alguns momentos nos falamos rsrsrsr. Pude testemunhar uma<br />
certa nostalgia... das ruas de Porto Alegre, talvez de poemas que ainda<br />
estavam sendo feitos, naquele instante e, já indo embora por estarem<br />
criados, retratavam a saudade nos olhos de água. Estou correta na<br />
minha impressão?<br />
<br />
R – Corretíssima. Eu ando pelas ruas de Porto Alegre como se estivesse<br />
buscando meus antigos passos. Nunca consegui me desapegar da cidade,<br />
dos seus monumentos, da sua arte, das suas ruas, dos seus morros e deste<br />
estuário de águas infelizmente não muito confiáveis que é o Guayba.<br />
Minha história é meu único bem. Porto alegre faz parte de forma intensa<br />
dessa história que já chega aos 54 anos. É uma das fontes supremas da<br />
minha poesia, com certeza.<br />
<br />
<br />
10- Conseguiste um exemplar de um cara...rsrsrs como era o nome dele<br />
mesmo? Achei encantador que fizeste a referência sobre teu amor ou<br />
ternura por Mário Quintana. Poderia nos dizer qual a relação que tens<br />
com a letra de Mário?<br />
<br />
R – É verdade, cheguei na Casa de Cultura Mário quintana e encontrei<br />
logo o livro Sapatos Floridos que, no pensamento e na minha caminhada<br />
da casa da minha irmã, na Hilário Ribeiro, até a Andradas vinha lembrando<br />
que havia extraviado pela vida. O livro estava lá, olhando pra mim e<br />
pude adquiri-lo novamente. Tenho uma relação crítica com a poesia do<br />
Mário. Não gosto de tudo que ele escreveu e não poderia ser diferente<br />
porque Mário, talvez, tenha sido um dos poetas de maior produção e<br />
mais publicado no seu tempo. Mas, não é diferente de outros poetas<br />
que admiro, também. “Não gosto de tudo que gosto”, eu diria. Ou não<br />
gosto de tudo nos escritores que admiro. Seria hipócrita negar isso. Muito<br />
menos da minha própria produção, sobre a qual tenho espasmos às vezes.<br />
Chego a sentir “depressão pós parto” após publicar um livro. O fato é<br />
que Mário era uma figura extremamente poética. Seu caminhar, seu<br />
jeito e de certa forma até mesmo seus preconceitos que eram também<br />
bastante agudos e estavam presentes na sua poesia. Acho que ele foi, de<br />
certa forma, pouco compreendido porque não há como analisar a obra<br />
de qujntana sem considerar que ele fazia parte da obra. Ele era o seu<br />
principal poema. Se me influenciou? Creio que sim, como todos os poetas<br />
que li. Talvez ele tenha me ensinado a não ter receio de ser poeta e a<br />
saber que poeta é ser inevitavelmente poeta.<br />
<br />
<br />
11-Pois é... letra... Letra é traço, marcado a ferro na pele. Mesmo que<br />
digamos que não, ali está como parte do rosto, da voz, do olhar. Como<br />
construíste tua letra, enquanto tal?<br />
<br />
R – A única certeza que tenho, talvez, é que não construí nada e que talvez<br />
nunca construa. Na verdade, penso que vivo a poesia enquanto processo<br />
e que devo manter as portas e as janelas abertas para que todos os ruídos,<br />
todos os ventos possam me fazer entender que a poesia será sempre<br />
uma folha caindo no alento da sala, soprada pelas possibilidades de<br />
algum poema. Mesmo que jamais seja escrito. A minha letra talvez nem<br />
exista... é um processo de contrastes e de permanente desconstrução.<br />
Uma constância de atitudes que me levam aos goles da insônia e aos<br />
firmamentos de muitos livros lidos e vividos.<br />
<br />
<br />
12 - Pois bem... li emocionada um texto teu no blog. Falavas do<br />
lançamento em João Pessoa e de teu envolvimento com isso que<br />
denominam loucura. Digo “ isso que denominam” porque é certo que<br />
alguns escolhem chamar a diferença gritante, como loucura. Fiquei<br />
emocionada e um tanto identificada. Pois bem, poderias nos falar<br />
um pouco sobre a compreensão que tens sobre “ os loucos”, “ as<br />
loucuras”...”todos os nós”?<br />
<br />
R – Talvez eu não tenha compreensão alguma, mas certamente tenho um<br />
profundo sentimento quanto ao sofrimento de alguém que é mutilado<br />
para uma adaptação violentamente forçada aos costumes de uma<br />
civilização sem moral para condenar a loucura. Não creio que se possa<br />
definir conceito de loucura num mundo absurdamente louco, onde os<br />
valores humanos se desintegram nas páginas dos jornais e não permitem<br />
a formação sólida de uma camada social que possa servir de suporte<br />
para a dignidade enquanto valor humano. A doença mental é por demais<br />
cruel porque, muitas vezes, demora muito para se tornar visível e mais<br />
ainda para se tornar compreensível. Algumas a doença é a causa, noutras,<br />
o efeito. Então, o que o sistema fez com os que considerava loucos?<br />
Encurralou-os no confinamento, para que pudesse continuar exercendo<br />
sua balbúrdia diante da perplexidade de alguns e da indiferença de<br />
muitos. Loucos são os muros que construímos para cometermos atos de<br />
lasceramento da nossa igualdade, de raça, de gosto, de álibis. Ou será que<br />
os religiosos que promoveram a inquisição eram pessoas sadias? E os que<br />
promoveram o holocausto, eram mesmo normais? Quem são os loucos?<br />
Quem de nós?<br />
<br />
<br />
13 - Iniciaste a fazer poesia ou a poesia te iniciou? Rsrsrsrs<br />
<br />
R – A poesia é um exercício permanente de espanto e, portanto, de<br />
humanidade. A poesia tenta me iniciar a cada dia, espero que nunca<br />
desista de mim. Afinal, somos aprendizes dos nossos próprios erros.<br />
Minha poesia é a soma dos meus erros, dos meus átomos e das minhas<br />
distenções. A poesia me inicia tentando unir o que quando toma corpo,<br />
explode em mil artículas perdidas na aridez dos dias. E a poesia vai me<br />
indiciando, sempre... me iniciando.<br />
<br />
<br />
14 - Teus livros, as filhas, neta, namorada... O que compõe teu universo<br />
de escrita?<br />
<br />
R – O que compõe o universo da minha escrita é a vida e suas linguagens,<br />
o trabalho com a palavra na escrita ou na tentativa. Minhas filhas, meus<br />
amigos, minha neta e minha namorada fazem parte do que se processa<br />
nesse liquidificador de possibilidades. Não confundo as coisas. Acredito<br />
nisso, mas também desconfio muito.<br />
<br />
<br />
15-Falávamos sobre “revide” rsrsrs. Dizias de uma impossibilidade, na<br />
infância, de estudar música...Acho que foi isso,né?...Então comentei:<br />
sempre é um revide. Concordas com isso? Sempre é um revide, uma<br />
transcrição, uma restauração?<br />
<br />
R – Sim, acho que na verdade eu poderia ter estudado música. No<br />
fundo acho que ainda posso, mas talvez nem queira tanto quanto penso<br />
que quis. Naquele tempo a compreensão da minha mãe era outra. Ela<br />
queria que eu fosse engenheiro. Na verdade ela queria que eu quizesse<br />
ser engenheiro. Não me pergunte o porquê. Talvez pelo pai dela, meu<br />
Vovô Marcos (o Tata) ter trabalhado como operário na construção da<br />
Ponte Internacional Mauá, hoje tombada. Certamente por querer para<br />
mim um futuro sólido. Por isso ela pensou o oposto do que eu sou. Ser<br />
engenheiro era não correr tantos riscos quanto um poeta. Ser poeta foi,<br />
talvez, um drible naquela criatura doce que era minha mãe. Quando ela<br />
ainda era viva, fiz poemas para ela. Ela curtiu muito, também, o filho<br />
que escolheu a arquitetura dos versos. Era uma mulher maravilhosa e<br />
profundamente boa, como uma mãe deve ser. Me ensinou os caminhos<br />
do amor e da paciência. Nesse caso, foi revide e restauração. E ela é que<br />
foi a engenheira.<br />
<br />
<br />
16 - Percebi que transitas em vários guetos, em vários grupos, em várias<br />
palavras.rsrsrsr. É como se estivesses no mundo, de fato, existindo a<br />
cada instante. Nisso não há mais tempo para ...bobagens? rsrsrsr.Lau, o<br />
que existe de maior valor na tua história de vida?<br />
<br />
R-Sem dúvidas: as minhas filhas, a minha neta, a minha família, os meus<br />
amigos e amigas, as pessoas que conheci e que me ajudaram de certa<br />
forma ou de todas as formas a estar aqui agora respondendo tua<br />
entrevista, em pleno mês de junho, sem camisa, pensando no sul gelado,<br />
mastigando as respostas das suas perguntas instigantes para que sejam<br />
minimamente digeríveis. As pessoas que eu amo são o que mais valorizo.<br />
A minha responsabilidade sobre o mundo é algo que não abro mão. Nem<br />
para um trem, como se diz. Disso decorrem todas as coisas. Até mesmo a<br />
minha poesia e outras bobagens que tento esconder, mas nunca consigo.<br />
Ainda bem, porque do contrário eu não existiria. E eu inexisto mesmo!<br />
<br />
<br />
17 - Certa vez perguntei: Ô Lau... porque o risinho? Respondeste: porque<br />
sou risonho rsrsrs...Preciso confessar que...eu também. Há sempre<br />
um chiste, há sempre o riso, há sempre o cômico. Ele é o infernal!<br />
Rsrsrsr.Como situas o cômico na vida e na escrita?<br />
<br />
R – Considero, como Fernando Pessoa, que ser poeta é uma vocação.<br />
Todavia, algumas vezes acho que tenho mais vocação para palhaço que<br />
para poeta. As pessoas que convivem comigo sempre riem muito porque<br />
eu fico o tempo todo tirando onda, pegando no pé, gosto de fazer rir<br />
e gosto de chorar junto, quando preciso. Vivo de transbordamentos.<br />
Dos sentimentos baixos o que menos suporto é a covardia. Não suporto<br />
também a hipocrisia e acho que as questões coletivas devem sempre ser<br />
priorizadas. O cômico na minha vida não permite a diluição dos meus<br />
princípios. Acho que a vida é bela demais para gastarmos o nosso tempo<br />
com atrocidades, com desrespeitos, com violência. E acredito que essas<br />
são as causas da tristeza maior no mundo. Devemos nos conceber na<br />
alegria e na intensidade de viver cada momento. O riso deve ser sempre<br />
uma partilha da alegria de viver e nunca um produto do sarcasmo.<br />
<br />
<br />
18 - Não quero perguntar sobre teus trabalhos mais significativos. Mas<br />
vou fazer isso porque chamo de trabalho também o tempo em que as<br />
coisas vão “cozinhando”, o vinho vai envelhecendo e... Então: qual o<br />
trabalho, que na tua vida, foi ou é mais significativo?<br />
<br />
R – Com certeza, aquele que ainda não escrevi e que nem sei se vou<br />
conseguir escrever algum dia. Se considerarmos que o leitor ou a leitora<br />
são realmente os parceiros na construção de uma obra poética, deixo essa<br />
resposta para quem tem a ousadia, a coragem de abrir meus livros que,<br />
infeliz ou felizmente, a maioria já esgotaram suas edições e estão por aí,<br />
espalhando inquietações pelos rincões.<br />
<br />
<br />
19-Quem é o poeta?<br />
<br />
R – Boa pergunta! (Péssima resposta.)<br />
20-Gostarias de dizer mais alguma coisa?<br />
<br />
<br />
R – Só uma perguntinha: Tu tens mesmo coragem de publicar isso no teu<br />
blog?<br />
<br />
(rsrsrsrsr)...Ô,Lau!...rsrsrsr<br />
<br />
Agradeço tua indecente palavra, tua letra sem pele, sem medo do frio<br />
que cala; tua denúncia incontida que grita todos os dias no vermelho<br />
de dentro,nas cores que hão de vir.O verbo em resquício: nunca<br />
partir!,numa desistência temerosa de perder a razão.Ela só existe quando<br />
construída aos dias, no trabalho da ternura esculpida, como desenha tua<br />
mão.Recebo-te emocionada, em parte despida,em parte encantada, pela<br />
letra do dia que faz nascer poesia onde eu mesma queria ter inventado<br />
existir.Volte sempre,Lau!<br />
Beijo com todas as letras<br />
adriana bandeiraAdriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-45634304709097414302011-06-07T06:27:00.000-07:002011-06-07T07:23:36.738-07:00O SOM DA PRIMEIRA CASA,ESQUINA,ESTRADA:O LUGAR DE EXISTIR- Conversando com Davi,Veloso,Nino,Daguia e Nilton.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-DAFVZ7OIliU/Te4mDxN2cSI/AAAAAAAAACc/V9JfBwWfD98/s1600/DSC02073.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240px" src="http://2.bp.blogspot.com/-DAFVZ7OIliU/Te4mDxN2cSI/AAAAAAAAACc/V9JfBwWfD98/s320/DSC02073.JPG" t8="true" width="320px" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS- Primeiro pensei em fazer algumas perguntas, deixá-las prontas e...depois achei melhor que elas surgissem na rua também...porém, aqui estão, algumas feitas e casa e outras...nesta possibilidade de surgirem.Para vocês, qual a diferença entre a casa e a rua?</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DAVI- A diferença é que em casa se estuda sozinho. Não tem como te sensibilizar...te motivar.Na rua...soltinho rsrsrsrs. Está para as emoções...</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">NILTON- Em casa o universo é reduzido...sem possibilidade de dividir a música.Não se guarda para si mesmo.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">NINO- Em casa estudamos...na rua apresentamos</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">NILTON- Em casa os familiares reclamam do barulhos.Tocar em casa...tocar na rua...O estudo está sendo proveitoso.O pessoal acompanha o processo de estudo.As pessoas dizem se melhoramos ou não... rsrsrsrsrrss.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">VELOSO- A rua envolve uma liberdade e em casa...escolhemos.Na rua encontramos os amigos e...tocamos.Existe uma liberdade para brincar com a música.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS- Isso diz respeito ao público e ao privado, ao íntimo espaço do si mesmo e ao que constitui o si mesmo: a língua falada por todos, e todos...é a rua! rsrsrsrsrs.Neste aspecto, falando de música, a linguagem da música antecede o músico, já está ali antes...e determina algumas coisas.O que, para vocês, determinou a escolha por um instrumento?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DAVI- O meu é machista!rsrsrsrs É o instrumento que te escolhe! A música me escolheu... Todo ser humano nasceu cantando, ele veio falar depois...Imitava os passarinhos, os sons da natureza...Todo ser humano é...músico.É...eu só não escolho a música quando me pagam.Com a bateria foi assim.Meu primeiro instrumento foi o sax...a bateria estava lá...E aí...É um casamento! Se escolhesse outro instrumento...pareceria traição.Sempre penso como transmitir à ela.Tudo é percussão: o barulho das pessoas, o som das coisas...A música é uma matemática.A música em si é a matemática.Não tem fim!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">NILTON- A sonoridade do sax, um instrumento romântico, músicas tocadas com bom gosto...É difícil escutar um saxofonista tocando ruim.A sonoridade reproduz a voz humana.O sax ...canta! rsrsrsrsrsrr</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DAVI- Então dá prá dizer que todo instrumento quer reproduzir a voz humana.O instrumento explica os sentimentos da alma.Romântico..pq é calmo,relaxante...não é fofoca íntima? rsrsrsr”Lupicínio Rodrigues” rsrsrsrsrsrs...Para nós, na brincadeira, música romântica seria isso..rsrsrsrsrs.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">VELOSO- O sax faz ...solo.Uma só voz, fala...Só dá para fazer uma nota por vez.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DAVI- É um instrumento de melodia.O instrumento do ...jazz.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">VELOSO- Concordo com o Davi...Até os 13 anos eu não dava bola para a música...Nesta época existiam os bailes de formatura.No baile de formatura da minha irmã, pela primeira vez ouvi um grupo, ao vivo.Aquele solo de guitarra...Me pegou! Tanto pedi que minha mãe me colocou numa aula de violão...Não aprendi!Não conseguia...Depois de algum tempo, encontrei-me sozinho com a guitarra e ...ela me escolheu!Sou de Uruguaiana e comecei a participar de programas de rádio ao vivo....comecei a colocar na prática o autodidatismo...Meu percurso de aprendizagem foi ...estudar em casa e tocar nas casas de mulheres, casas noturnas,cabarés,como chamavam.Os músicos tops....estavam lá! rsrsrsrrsrs Os músicos ficavam lá...uma semana, duas...</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS- Era uma...pensão ?rsrsrsrsr</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">VELOSO- Transformava-se! rsrsrsrs</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DAVI- O beco das garrafas era assim...no Rio de Janeiro.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">NINO- Como eu gostava de cantar...precisava de um instrumento de acompanhamento.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS- O sax é sozinho...o violão...acompanhado.rsrsrrsrs</span></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-0Jc5dM0eLDE/Te4ooryg3TI/AAAAAAAAACk/IpQbGPiBwyI/s1600/DSC02070.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-0Jc5dM0eLDE/Te4ooryg3TI/AAAAAAAAACk/IpQbGPiBwyI/s320/DSC02070.JPG" width="320" /></a></div></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">NINO- Na década de 60 tocávamos nas calçadas...e alguém sempre sabia tocar.Aquele era o cara!Naquela época os bolinhos nas calçadas eram permitidos.Hoje acho que não!Nunca estudei música.Aprendi a tocar assim.Comecei a tocar...uma amiga me dava as notas principais....fez os desenhos e eu reproduzia.Eu assistia os conjuntos e observava.É pura abstração!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS- Tocar um instrumento ...a sonoridade tem um alcance privilegiado.Falo do alcance subjetivo, do “ tocar” no outro de forma única que não está determinada pelo som ou nota mas ...pelo recebimento de melodia.Para alguns um som pode ser harmonioso e belo, para outros...Vocês sentem-se tocados pela música?Quais?De que forma?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DAVI- Sentimos! Muito.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">NILTON- a sonoridade dos instrumentos...alguém já imaginou um filme sem trilha sonora?Todas as ações, emoções são representadas por um tipo de som!Um momento de pavor...uma outra emoção...alegrias...Sou levado pelo instrumento.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DA GUIA- Comecei aprender tocar violino há pouco tempo.Venho para a rua e me sinto como se estivesse na escola aprendendo português, pela primeira vez.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS- Uma alfabetização?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DA GUIA- Sim...é como se eu estivesse me alfabetizando num outro sentido.Penso que estou aprendendo a escrever ou a falar, matemática...</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DAVI-Tu te deixa ir...tipo um orgasmo...rsrsrsr. A emoção é tanta que rola sentimentos...Onde estive...é isso que me pergunto!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">VELOSO- Quando tu estás com o instrumento...tu estás buscando o conhecimento daquilo!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DA GUIA- Comecei a tentar entender a teoria...depois comecei a tocar...</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS- Estaria tomado pelo aprendizado, neste momento?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">NINO- É...para te entregar para a música...tem que estar com ela dentro de ti.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">VELOSO- Eu sou um aprendiz em violoncelo! Dá uma ansiedade louca!Eu quero ter o mesmo rendimento que com a guitarra!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS- Por que...a rua?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">NILTON- Do ponto de vista aprendiz...vou usar uma frase do Da Guia: desinibição.É um complemento às aulas...um “extra classe importante”rsrsrrs .</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DAVI- A rua foi para o artista o lugar de subsistência, do dia de hoje.A rua não precisa de repertório, as pessoas passam e algumas músicas são bem aceita.O rolar o chapéu, as moedinhas...Dá a subsistência do dia de hoje.Como no Brasil não temos esta cultura, o artista brasileiro acha que indo para rua é...pedir esmola.o pessoal que passa...acha que botar cinqüenta centavos...é pouco.Acha que não vale a pena.O serviço de rua é para que ele seja reconhecido, o artista, pelas pessoas comuns,como qualquer um.O artista de rua não pede para ninguém.Ele só é reconhecido pelo povo.O trabalho de rua é feito das seis às sete da noite.As pessoas saem do trabalho e ficam ...mais calma.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS- Poderiam contar um pouco da história deste espaço aqui?Falo deste agrupamento no café da cidade, rsrsrsrs Num café só para homens?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">NILTON- Quem que disse?Não tem placa!rsrsrrs</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DA GUIA- o café é que é o culpado! rsrsrsrrs O café sempre foi um ambiente dos homens.Na época as mulheres não saíam...esta liberdade é um tanto assustadora, hoje.Antigamente eu mandava nelas...agora eu tenho medo delas.Ela nos intimidam na sua liberdade.Tudo isso vai passar depois que “ela se regularizar”...</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS- Quem regulariza a mulher? rsrsr</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">(risada geral)</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS- Cá entre nós...Isso é uma coisa um tanto Machista,não? Rsrsrsr</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">VELOSO- Eu entendo mais do meu instrumento do que da mulher rsrsrs</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DAVI- O ponto é...masculino.A esquina democrática, a boca maldita...a florida...Aqui é livre...mas, é um ponto masculino!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS- Ah! rsrsrsr.O ponto é masculino! A vírgula..?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">(muito riso e som de instrumentos.Os rapazes já começam a se impacientar e a tocar alguma coisa ,intercalando as respostas com o sons)</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS- O que é a ....mulher?</span></span><br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-v00f_CNcgwg/Te4pFFGbQ9I/AAAAAAAAACs/2FNNJNx9dG0/s1600/DSC02071.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-v00f_CNcgwg/Te4pFFGbQ9I/AAAAAAAAACs/2FNNJNx9dG0/s320/DSC02071.JPG" width="320" /></a></div></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DAVI- diz que na Bíblia as coisas estão mudando srsrsrsrs</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DA GUIA- O motivo da minha existência! Sem ela eu não estaria vivo.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">VELOSO- Prá mim é a razão principal da minha existência...Sem mulher é como mineral sem gás..</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">(risadas)</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">NINO- É o outro lado da mesma moeda.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">NILTON- A rosa que floresce meu jardim...rsrsrsr.É o elo de união...sentimentos.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS -Pois é...nossa cidade carece de espaços assim, embora daqui saiam músicos e artista brilhantes.Qual seria a causa disso?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DAVI- Esta falta é geral.Não é só Montenegro.A imagem está no lugar do espetáculo humano.E o artista sumiu.Então...facilitou o instrumento,professores...mas não a vida do artista; lugar do artista.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS-Quais os projetos?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">NilTON- Nada é programado.É espontâneo.Aleatório...Penso: vou levar o instrumento ...vou brincar.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DA GUIA- Aula de desinibição...para enfrentar os professores lá na Fundarte!rsrrsrs</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">VELOSO- Acho que isso de se reunirem,vai acontecer naturalmente.Este prazer tendem a se repetir...</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS- Qual a diferença entre a música e a mulher?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">VELOSO- Nenhuma!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DAVI- Todo músico sonha em ter uma mulher...</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">DA GUiA- Se eu soubesse isso...</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">NILTON- As duas coisas desafinam...sai do tom...tem que afinar!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">INDECENTES PALAVRAS- mas que coisa! ( rsrsrsrs)..Isso é coisa que se diga,Nilton! Homem não desafina!</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Estes dias eu e Lucimaura encontramo-nos por acaso e sentamos para assistir alguns tocando em frente ao café.Era verão e pedimos uma cervejinha rsrsrsrs .Ouvimos das mulheres que passavam ...e não dos homens, algo assim: “que horror!” rsrs</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">(risos e música!)...se quer coisa melhor?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Quero agradecer por esta ternura, esta forma de amor especial que faz com que tenhamos a música na calçada; esta voz diferente de cada um dos seus instrumentos, enquanto sonham com a mulher, a cidade e as letras que ainda não conhecem. Só me escapa um pouco uma reflexão pequena de que se a música no café dos homens se espalha, os pontos também são falas e recebem à todos nós.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Agradecida pelo acolhimento, pelo café, pela delícia de estar entre vocês.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Beijo com todas as letras</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">adriana bandeira</span></span></div>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-89914845855061293162011-06-05T06:58:00.000-07:002011-06-10T16:41:19.686-07:00DIA DA CAÇA: Jorge Rein entrevista Adriana Bandeira em Indecentes Palavras – um flagrante de invasão domiciliarJorge Rein entrevista Adriana Bandeira em Indecentes Palavras – um<br />
flagrante de invasão domiciliar<br />
<br />
1.- Na troca de papéis que combinamos para esta entrevista percebo, com um<br />
certo pavor, que a poesia é a resposta. Mas qual é a pergunta?<br />
<br />
rsrsrsrsr...Tinha a ideia de que em toda pergunta, implícita estava a resposta.<br />
Fiz dez, nota máxima, numa prova de neurofisiologia, na faculdade... a pior<br />
das provas e eu não tinha estudado nada! A ideia de estar entrevistada em<br />
Indecentes Palavras surgiu numa conversa com Antonio Amaral Tavares. Ele<br />
me disse que, de certa forma, eu saberia desviar das perguntas. Isso me pegou<br />
de jeito já que Indecentes Palavras é toda a palavra que dizemos. Estamos<br />
sempre nus, diante da própria fala. Precisava passar pelas perguntas, como a<br />
afirmar que ninguém está fora, isento de, sempre, desmanchar-se, reconstruir-<br />
se,... na primeira frase. Mas, de qualquer forma, a pergunta é a poesia. Ela é<br />
que nos interroga. A tua poesia me interroga... Nisso é que a pergunta talvez<br />
seja... o que lhe vier rsrsrsrsrrs<br />
<br />
2.- Há poemas que se entregam quase que descaradamente escancarados<br />
à visitação pública. Existem outros que, ainda que herméticos na aparência,<br />
procuram a abertura de um contato em outra dimensão, dispensando as<br />
ferramentas habituais da compreensão ou do entendimento. Vejo na tua<br />
poesia, ou em grande parte dela, uma terceira via, a da ostra com uma flor<br />
desenhada na face externa da sua concha. É possível apenas se deixar<br />
encantar com a beleza plena de sonoridades da sua superfície, mas é preciso<br />
rasgar ou perfurar a crosta, profanar aquilo que é só belo, para atingir o<br />
âmago, o lençol subterrâneo dos sentidos onde hiberna o milagre capaz de<br />
transformar um grão de areia em pérola. Das trabalho ao leitor, também das<br />
recompensa. Finalmente, a pergunta: essa forma de escrita é natural em ti, é<br />
de caso pensado ou, ainda, é uma espécie de deformação profissional em que<br />
pretendes reconstruir o processo da análise às avessas?<br />
<br />
Putz! Acho que esta deformação, esta análise às avessas... talvez seja o<br />
natural naquilo que lês. Nunca tinha pensando isso sobre o que escrevo.<br />
Até porque escrevo pouco... talvez não tanto quanto gostaria ou precisaria;<br />
também esta ostra e flor são, em parte, construção do leitor que habita por aí<br />
rsrsrsrsr Falo isso porque a maioria das pessoas não se interessa muito pela<br />
pérola, sua própria pérola; nem pela ostra com seu desenho. Sem falar que faz<br />
apenas um ano e meio que... me autorizo a dizer que escrevo... poesia. Faço<br />
poesia... isso é verdade. Mas escrever poesia, faz pouco tempo. O processo<br />
de análise é algo interminável. Mesmo que por algum tempo não se vá mais ao<br />
analista, ainda o trabalho continua, até reencontrá-lo... se nos proporcionamos<br />
um tempo grande ao trabalho de analisarmo-nos. E para que possamos fazer<br />
a direção do tratamento de outros, é importante um longo tempo de análise<br />
<br />
própria. Pois bem... a deformação é a formação, neste sentido. Não há algo<br />
pré-estabelecido além dos três pilares que sustentam esta escolha pela<br />
psicanálise: análise, supervisão e estudo. Mais especificamente, minha escrita<br />
nasce neste processo, num reconhecimento de que são as palavras que me<br />
escolhem e dizem algo. Há, neste aspecto, um apagamento, um estancamento<br />
da minha subjetividade que se abre para escutar o que vem... de mim mesma.<br />
Não há censura, neste momento da escrita. Ela pode vir depois... corrigindo,<br />
cobrindo, arrematando... Mas no momento da criação... não há. Tentando<br />
responder mais tua pergunta... Minha pérola, depois de descoberta, volta a<br />
ser areia fina que escorre e desenha uma flor, que precisa de uma ostra para<br />
existir. Não há superfície que não seja profunda em si.<br />
<br />
3.- O reconhecimento de que são as palavras que te escolhem, assim como<br />
essa ausência de censura no ato da criação, parecem sugerir um parentesco<br />
com a escrita automática, o dadaísmo de Breton ou de Tzara. Mas eu não vejo<br />
essa porralouquice (com perdão da palavra) nos teus textos. Pessoalmente,<br />
acredito que existem mecanismos de censura de tal forma introjetados que<br />
funcionam quase como músculos involuntários, resistindo até mesmo à ação<br />
das drogas. Mas é claro que eu não sou um especialista nesse assunto. A<br />
poesia seria, então, uma espécie de exercício de íntima ventriloquia em que<br />
o poeta é, ao mesmo tempo, roteirista, boneco e manipulador? Poesia, do<br />
teu ponto de vista, é uma modalidade de onanismo ou te preocupa também o<br />
prazer do leitor?<br />
<br />
rsrsrsr é que às vezes as porralouquices são impregnadas de censura. Na<br />
verdade não há como saber o que realmente é impedimento. Posso apenas<br />
dizer que toda a escrita é, sim, racional. Nada que passe por alguma<br />
representação é algo puro, vindo de sei lá onde. Acontece que a escrita,<br />
sendo uma censura, neste aspecto, em si mesma, afrouxa na medida em que<br />
diz o que deseja dizer. Neste aspecto... deixo vir, neste aspecto não existe<br />
censura. Por exemplo: não deveria falar tanto em "denúncia"... uma palavra<br />
que uso muito como tu mesmo apontaste dia destes rsrsrsrrs. Então eu deveria<br />
me cuidar e não usá-la tanto... Mas, quando ela surge, dou a ela, porque<br />
registra um momento da minha vida que ela aparece vez ou outra... e que um<br />
dia vai deixar de ser , dando lugar a... sei lá qual; também os "ãos", resquícios<br />
infantis, rsrsrrs (lembro de minhas primeiras rimas!) Mas faço questÂO, porque<br />
eles me vêm como docinhos, como pequenos algodÕES que colho de forma<br />
divertida. Aliás... gosto de brincar com as palavras! Isso... sim! Não é raro<br />
escrever algo "errado" gramaticalmente e ter muita pena de "arrumar".<br />
Estes dias escrevia para um amigo nosso... que poeta é aquele que não faz<br />
mais apelos. SIm! O poeta não pede mais nada! É então que digo que não<br />
escrevo para ninguém e escrevo para todos. Algumas palavras, algumas<br />
imagens são universais. Percebo que trabalho muito com isso. Palavras como:<br />
chão, olhar, terra, casa... palavras que todos sabem do que se fala. As frases<br />
na construção do texto são amplas, abertas a todo e qualquer tipo de<br />
compreensão. Não é raro causar uma certa angústia porque o leitor é<br />
convidado a... existir. É desta forma que nem sei se " onanismo" existe de fato,<br />
em se tratando de escrita. A ação é solitária mas... em um momento apenas.<br />
<br />
Isso tem sido uma pergunta que me faço e a fiz a Leonardo B... Isso me<br />
interroga, de fato! O espaço solitário é breve, me parece..., pequeno que nem<br />
sei decifrar, porque logo, em si, estamos no mínimo a dois: conosco e com<br />
nossos tantos eus. O que seria natural? Oras, Jorge... a natureza humana é<br />
algo diferente da natureza como a entendemos. A natureza humana é cultural.<br />
Por isso que num discurso existem, sempre, no mínimo dois, mesmo que seja<br />
uma escrita solitária. O prazer do leitor não nos pertence.... Como a apreensão<br />
do tempo, nos foge! Existem textos que são lidos depois de... cem anos?<br />
Existem leitores que se descobrem leitores de algum texto, muito depois de...<br />
Repara... para existir o leitor, precisa haver um texto; para que se tenha um<br />
texto é necessário o leitor, no mínimo, leitor de si mesmo!<br />
Também questiono sobre a possibilidade de prazer que uma poesia possa<br />
causar. Falo que na maioria das vezes a poesia traz desacomodação,<br />
angústia, questionamentos... Como diria Freud..."para além do princípio do<br />
prazer" rsrsrrs... a poesia está para além do prazer, propriamente dito.<br />
A poesia para mim é só o momento que fez algum buraco.<br />
<br />
4.- Se a poesia não proporciona prazer, qual é o mistério da sua permanência,<br />
qual é o segredo da sua persistência em sociedades preponderantemente<br />
hedonistas? O<br />
dualismo<br />
pulsional<br />
freudiano<br />
desvenda<br />
totalmente<br />
essa necessidade que o ser humano sente da desacomodação, dos<br />
questionamentos e da própria angústia (para usar tuas palavras)? E o<br />
preenchimento dessa necessidade, através da poesia ou de qualquer outro<br />
artifício, se traz satisfação, se traz algum conforto, em que se diferencia do<br />
prazer? E não vai me chamar de masoquista.<br />
<br />
É... o que se quer é o prazer. Mas, o que é o prazer? Se pudéssemos<br />
terminar com nossas angústia, o frio, a fome... se pudéssemos terminar com o<br />
desassossego... estaríamos em paz... eterna! rsrsrsrsrsr Então existe a busca,<br />
o caminho, o andar da carroça... Isso está longe de ser o prazer imaginado.<br />
É somente o que se pode ter aos poucos, aos goles, a cada vez. Isso está<br />
distante do que se idealiza como... o melhor. Neste aspecto, a angústia, a<br />
tensão acaba por terminar num reconhecimento de gosto... de prazer. Sim!<br />
Passageiro, que não para de não acontecer, para que, por algum momento,<br />
possa estancar parcialmente, como se fosse, como que achado o caminho<br />
que... logo vem a desencaminhar novamente. Quase um recorte, uma imagem<br />
que se autoriza a vir, como leite morno, como colo quente, como aconchego<br />
necessário para que possamos partir. É neste sentido que está para além do<br />
que se desejaria como capaz de fazer parar a procura. É evanescente.<br />
A poesia lida pode ser isso... Mas escrever poesia não me parece leite morno<br />
rsrsrsrsrrs. Esta necessidade nunca é preenchida. Para isso sabemos que é<br />
a partir do "perdido" que se constrói o objeto imaginário. É pelo que jamais<br />
teremos o que se procura. O dualismo pulsional freudiano é uma grande<br />
sacada. Muito mais pelo que tem de didático na explicação de que, na<br />
verdade, todo desejo é insatisfeito. O que desejamos, de fato, é... voltar para<br />
a mãe, ou seja... morrer! Isso não é masoquismo. É... trágico! rsrsrsr Mas, no<br />
caminho disso, plantamos algumas coisas, deixamos algumas rasuras, umas<br />
<br />
palavrinhas e... pelo que este prazer de momento proporciona... seguimos<br />
vivendo em busca do que nos representaria. Talvez o segredo da permanência<br />
da poesia seja justamente este. A busca por algo que represente o desejo...<br />
de morte. Por isso a poesia é uma ação humana, uma fala humana... uma<br />
necessidade.<br />
<br />
5.- A poesia é um risco: no papel, no bordado, na vida. Gostaria de dizer que te<br />
vi nascer como poeta, mas provavelmente isso não é verdade. Aposto que já<br />
eras poeta há muito tempo e não sabias. Te percebo dona de um estilo muito<br />
particular, que incorpora influências mas não se prende a elas. Quais são as<br />
tuas principais referências na literatura?<br />
<br />
Ah! Acho que é verdade sim... Nunca vou esquecer das tuas palavras<br />
escritas..."para mim acabaste de nascer" rsrsrsr Não lembra, né? Pois é...<br />
acho que eu fazia poesia mas não escrevia. Não lembro de nada neste<br />
sentido, antes de te conhecer. Aliás... antes de ler teu livro &. Vim de lá...<br />
daquela leitura! Vez ou outra volto e... não volto igual! rsrsrsrs. Antes, lembro<br />
de uma leitura censurada, imprópria, não permitida, quando ainda muito<br />
menina. Por exemplo, de quando já sabia ler e mentia que não. Na verdade eu<br />
entrei na escola, na primeira série, como se não soubesse ler. Na época sofria<br />
de dores de cabeça terríveis. Eu tinha uns 5 ou seis anos. Ninguém sabia o<br />
que era ... Minha mãe conta que sempre teve medo de que eu não me<br />
alfabetizasse rsrsrrssr E ela tinha razão! Ainda não fui alfabetizada em muitas<br />
coisas! rsrsrsr Pois é... mas lembro de ler o aviso próximo aos trilhos do trem.<br />
Aquela placa enorme que tinha escrito: parar, olhar, escutar. Lia isso quando<br />
voltava da padaria com a empregada... e eu ainda não estava na escola<br />
rsrsrsrsrrs. Bem, estas três palavras são importantes para mim e, de certa<br />
forma, num tanto, norteiam o que hoje faço. E o trem... Nem se fala! Também!<br />
rsrsrsrrsrs<br />
Fui uma rata de biblioteca na meninice. Lembro de livros antigos que li porque<br />
estavam na estante lá de casa. Li alguns para agradar a mãe... por exemplo<br />
alguns do escritor Cronin... Acho que um chamava-se "noites de vigília" (e<br />
aquilo não tinha fim! rsrsrsrs). E tinha a coleção dos clássicos como "Jane<br />
Eyre"... Depois li muita coisa que não entendia! Por exemplo alguns de Herman<br />
Hesse. Na época não entendia e não me importava em não entender. Apenas<br />
gostava de algo que, hoje, identifico como o ritmo da escrita. Josué<br />
Guimarães, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos,... Nossa, Jorge!<br />
lembrei das minhas andanças solitárias! A adolescência é uma crise, não é?<br />
Aproveitei o máximo. Pois é... acabava de parar com as aulas de balett e hoje<br />
identifico esta busca pelo ritmo dos escritores como uma substituição, um<br />
encaminhamento em relação à falta da dança. Outro: Cervantes, Proust, Ligia<br />
Fagundes, Schopenhauer... tantos, tantos... de diferentes estilos. E quando me<br />
apaixonava por um... lia vários do mesmo estilo até extinguir qualquer<br />
entendimento. Lembro de um, acho que do Josué Guimarães que decidi: não<br />
leio mais nada dele! Briguei! Nunca mais fiz as pazes! Era um texto tão triste,<br />
tão solitário que... ali não tinha dança a dois! rsrsrsrsr... Ah! O James Joyce...<br />
Mas vê bem que é como se fosse música! rsrsrsrsrsrsrsrsr Pois é... aí eu<br />
conheci Lispector. Então comecei a escrever. Aí, as coisas mudaram em<br />
relação ao que escolho para ler. Perdi a busca somente pelo ritmo. Agora,<br />
depois dela, quero também a letra. Aí... nunca mais dormi! rsrsrsrrsrsrrsrsr... E<br />
comecei a minha psicanálise e os textos de Lacan, para mim... trazem muita<br />
<br />
coisa que me faz escrever!<br />
<br />
6.- Mais uma para o rol das coincidências. Na casa da minha infância, ao<br />
lado do imponente telefone preto que eu chamava de “cuervo” –porque<br />
sua campainha para mim sempre soava a mau agouro–, havia um bloco de<br />
anotações. Em cada uma das páginas, a impressão reiterada da mesmíssima<br />
mensagem: “Não fale, escreva”. Acredito que tenha sido uma das minhas<br />
primeiras leituras. Obedeço até hoje. Mas, mudando de assunto: tenho a<br />
impressão de que no Brasil existem mais poetas que leitores de poesia.<br />
Talvez isso reflita o fato de que ser poeta é condição inata de (quase) todo ser<br />
humano, exercida pelo menos em algum momento da vida. Já ler poesia é um<br />
hábito, é preciso adquiri-lo. Pertenço ao MSB (Movimento dos Sem Blog), mas<br />
sem radicalismos. A cada tanto peço pouso na casa de algum poeta amigo<br />
(Indecentes Palavras é um dos meus endereços preferidos). Enfim, qual é a tua<br />
opinião sobre a proliferação desenfreada de blogs de poesia?<br />
<br />
Pois é... vejo os blogs e algumas redes sociais, como nossas praças de hoje.<br />
Nelas falamos, brigamos e expomos o que temos de melhor ou pior. Neste<br />
sentido gosto muitíssimo e vejo neles, nos blogs, uma função social importante,<br />
com outro rosto. Por aí, talvez, por ter que ser esta " praça" lida,... talvez<br />
faça nascer mais leitores de poesia. É um pensamento que surge agora. Não<br />
consigo ver algo ruim, nisso. Os estilos são escutados, com esta voz de dentro,<br />
do leitor. Os estilos são compartilhados e... isso que dizes sobre o "poetar"<br />
ser condição humana, nunca foi tão comprovado. Porém... publicar num blog<br />
não é publicar num livro; colocar no blog, no meu entendimento é fazer valer o<br />
processo, em andamento, na carne e sangue que nasce o poema; com seus<br />
possíveis problemas, sua falta de coberta macia... sua frágil moradia que é o<br />
possível leitor. Porém... o aumento desse tipo de publicação, o aumento deste<br />
tipo de relação só nos faz pensar na solidão, cada vez maior, do poeta. Solidão<br />
não somente na escrita mas... na pessoa do escritor. Não somente para quem<br />
escreve. As redes sociais e os blogs medem a febre, avaliam o sintoma desta<br />
solidão humana que se transforma em aconchego virtual. Errado? Não! Mas...<br />
há uma mudança muito significativa e escutar isso é importante para revermos<br />
padrões estáticos de normalidade ou loucura. Estes dias mesmo... falávamos<br />
nisso, na produção do escritor e sua loucura... Pois é... os blogs são uma forma<br />
de fazer poesia.<br />
<br />
7.- Nada tenho contra as novas mídias, mas confesso que sofro de uma<br />
espécie de fetichismo com relação ao livro como objeto de desejo. O livro tem<br />
cheiro, textura, enfeita belamente as prateleiras e não traz junto, de brinde, as<br />
onipresentes ferramentas de invasão da privacidade, como o GPS ou o celular.<br />
Notes, tablets, pods e pads têm a vantagem de ter luz própria para burlar<br />
as trevas, mas o livro tem outro jeito de iluminar. O Chá das Cinco já está<br />
esfriando nas xícaras, quando teremos mais Adriana Bandeira em livro?<br />
<br />
Pois é... o sujeito que lê o texto no livro é diferente do sujeito que lê na tela.<br />
São lugares subjetivos diferenciados e prometem experiências novas em<br />
relação a isso. Também gosto do cheiro, da cor... aliás isso tem tudo em<br />
comum com a letra que tem dentro. Mesmo que seja o "capista" o outro<br />
artista, no conjunto, a nuance, o traço... é também leitura. Hoje autorizo-me<br />
a não gostar ou gostar... destes segredinhos que nos tomam como: cheiro,<br />
<br />
cor, sabor, textura, etc... O livro "Indecentes Palavras" está pronto. Com<br />
apresentação de Jorge Rein e Sidnei Schneider, com algumas palavrinhas de<br />
Fernando Hartmann, psicanalista... Mas, faltou grana. Rsrrsrsr Tive algumas<br />
mudanças sérias nos últimos seis meses, na vida mesmo, e tive que protelar<br />
um pouco a publicação. Aí nasceu o blog Indecentes Palavras, que do livro tem<br />
apenas dois ou três textos. Mas o blog nasceu desta falta que me fez adiar o<br />
lançamento do livro. Acho que... setembro, outubro...Vamos ver!<br />
<br />
8.- O vaivém dos e-mails na construção desta entrevista, que mais parece um<br />
diálogo, me fez lembrar de um projeto em comum que deixamos um pouco<br />
abandonado. Será que aquele dueto que ensaiamos foi uma tentativa de<br />
amenizar a solidão do escritor da qual falamos, porque éramos leitores de nós<br />
mesmos, próximos e imediatos, e o desafio mútuo nos tornava mais hábeis<br />
neste ofício da palavra (também mais desvairados). Eu sinto falta disso. Como<br />
foi para ti essa experiência?<br />
<br />
Como foi? Não pensei que tivesse terminado rsrsrrsrsr. Sei que a próxima carta<br />
é a minha e, talvez esta troca esteja realmente mexendo com meus neurônios<br />
rsrsrrsrs pois acordei hoje, pensando na respostas, depois de todo este<br />
tempo! Esta experiência tem sido maravilhosa! Primeiro porque... respeitamos<br />
o tempo um do outro. Sei que podemos retornar sempre; segundo... porque<br />
me faz experimentar uma coisa que nunca pensei: pensar, escrever, ser...<br />
um homem! Não foram raras as vezes que eu pensei em te pedir para<br />
trocarmos... eu adoraria fazer o meu papel mesmo rsrsrsr Mas não acredito<br />
que acontece para amenizar alguma coisa, não! Pelo contrário! Acho que... há<br />
um encontro, aqui. Talvez de semelhanças, de danças, de escolha. Acho que<br />
nos escolhemos e isso é algo maravilhoso! Nossa troca de correspondência...<br />
acho muito legal. A ideia foi nova e espero, um dia publicar. Não em<br />
indecentespalavras, mas em textura, cor e papel. Logo vai a carta... Aproveito-<br />
me desta habilidade masculina de me atrasar, de não entender direito o que as<br />
mulheres querem rsrsr Escrever como Thomas é algo encantador! Isso me faz<br />
respeitar e amar cada vez mais a condição masculina.<br />
<br />
∞. – Então é isso, Adriana. Acho que não me resta por quebrar mais nenhuma<br />
<br />
das regras de conduta sugeridas pelo Manual de Procedimentos do Bom<br />
Entrevistador (edição corrigida e revisada). O que eu gosto mesmo é de estar<br />
contigo, sem grandes protocolos. Poderia estender esta conversa por uma<br />
eternidade. Nem chegamos a falar da presença obsessiva da figura do Pai,<br />
Montenegro como pano de fundo, rios e trilhos, trens e navios fantasmas,<br />
estações e estaleiros... Mas estamos tirando espaço e tempo da poesia, o que<br />
é imperdoável. Não vou pedir nem mesmo para dares um recado final, porque<br />
esta é a tua casa, mas aceito um poema. Eu te devolvo a chave e agradeço o<br />
convite para ser, neste breve intervalo, o hospedeiro. Mas antes de partir, te<br />
roubo um...<br />
<br />
beijo com todas as letras!<br />
<br />
Existe aquele de mim que faz nascer poesia. E ele compartilha da solidão da<br />
letra e da palavra companhia. Ele não vai embora e não vem como se quer.Apenas nunca se desfaz. Não sei o que rasga em mim restar poema, mas nada, antes, foi tão para sempre assim, farol de estrela. (adriana bandeira)<br />
<br />
beijo com uma das tuas letras, Jorge.Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-85763064972994672842011-05-03T16:01:00.000-07:002011-05-03T16:39:00.510-07:00A pele da palavra é o barco que segue no tempo...falando das portos com Leonardo B.<table cellpadding="0" class="fontT2 fontMedGray"><tbody>
<tr class="msgHeaderContainer" id="2_messageHeaderToContainer"><td><table cellpadding="0" class="fontT2 fontMedGray"><tbody>
<tr class="msgHeaderContainer" id="2_messageHeaderToContainer"><td><span class="cgSelectable"><span class="fontDarkGray"></span></span></td><td><br />
</td></tr>
</tbody></table></td><td><br />
1-Leonardo...é comum lermos um poema, um texto, uma frase e, de certa forma<br />
imaginarmos o autor como aquele que sempre soube o que ia dizer. Neste aspecto é<br />
imaginário indigesto consumirmos a palavra como já pronta, plantada no seu autor,<br />
desde antes. Poderia nos falar um pouco de teu processo dentro disto? Porque escolheste<br />
escrever?<br />
<br />
Seria dramático se assim fosse, Adriana, a “palavra pré-confeccionada”, o objecto de<br />
arte já impresso, pré-fabricado em cada um de nós, como uma fatalidade, um destino<br />
ao qual não nos podemos furtar, pelo menos àqueles que ainda gostam de encontrar<br />
o mesmo rosto todos os dias ao espelho, pela manhã, com mais ruga, menos ruga.<br />
Prefiro pensar, refazer diariamente a minha relação com a palavra, e pretende-la<br />
como uma união de facto, como um “casamento secreto”, em que cada um sabe das<br />
suas obrigações e deveres, dentro de portas, mas entre si e diante do mundo, entrega-<br />
se incondicionalmente, sem fronteiras ou regras bem delimitadas, e naturalmente,<br />
sem julgamentos desnecessários, nem ambições frustradas por antecipação… eu e a<br />
palavra, damo-nos bem, mantemos a relação saudável e sem máscaras, sem contrato<br />
assinado no cartório, sem a necessidade de manter a “fachada”, o cadastro limpo e<br />
imaculado, ainda que de quando em vez haja lugar para uns pequenos delitos, umas<br />
pequenas traições, nada de mais… Por outro lado, seria indigesto, e pego na tua<br />
expressão, se a palavra já estivesse “cá dentro”, devassando o meu espaço, como dona<br />
e senhora da minha vontade e vice-versa; a palavra tem mais que fazer, para obedecer<br />
a um estereótipo, que ainda que seja muito confortável, não funciona, é redutor; em<br />
determinados momentos, abrem-se excepções na nossa relação, mas sempre com o<br />
cuidado dos amantes… deixo-a ir e voltar, quando deseja e bem entende, e penso que<br />
me exige, mais ou menos o mesmo, por muito que nos custem algumas separações<br />
forçadas…<br />
<br />
Porque escolheste escrever?<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-uWh1QkAn_70/TcCQs99WVrI/AAAAAAAAACM/iFDXv4sIkcw/s1600/47699_122660324452998_100001270945198_151396_2709634_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-uWh1QkAn_70/TcCQs99WVrI/AAAAAAAAACM/iFDXv4sIkcw/s1600/47699_122660324452998_100001270945198_151396_2709634_n.jpg" /></a></div> Leonardo ainda menino,no primário<br />
<br />
Ora aí está “a pergunta”: Adriana, terão as coisas mais simples uma resposta<br />
convincente, imaculadamente decente? Porque é que as nossas paixões são<br />
comparáveis, por baixo, aos tornados que arrasam tudo à passagem, montanhas e<br />
monumentos milenares, incluídos? Porquê, ao idiota que se aventura no mar para ir<br />
descobrir um mundo qualquer, que nem nos mapas existe, disposto aos caprichos das<br />
tempestades, e nem sabendo muito bem o que vai fazer às Índias, às Américas ou ao<br />
Japão? Porquê ao homem que insiste em pisar o solo lunar, sem que faça a menor ideia<br />
que aqui no quintal ainda existem milhões de perguntas por responder e questionar,<br />
uma família que o reclama para o jantar que arrefece, mas não... o tipo teima ir mais<br />
além, na escuridão da sua ignorância, sem se aperceber que nem há uma questão a<br />
responder… nada de nada. Não faço a menor ideia porque escrevo, nem sei bem onde<br />
arranjei este “contrato” com a escrita. Sei que foi há muito tempo, já tivemos bons e<br />
maus momentos, e nem sei se foi a escrita que me escolheu ou contrário… nem faz<br />
diferença. O mesmo já me aconteceu com as tintas, com a pintura, um caso furtivo,<br />
diria, em que “as coisas não funcionaram” e tivemos a coragem de concordar<br />
mutuamente que cada um ia à sua vida, sem causar mais danos ao mundo… o que não<br />
quer dizer que não nos encontremos de novo, eu e a pintura e voltemos a ter um caso,<br />
não… acredito que está sempre tudo em aberto e com os anos fui aprendendo a<br />
<br />
entender que uma das expressões mais abjectas que utilizamos todos os dias é<br />
um “nunca mais”. Da mesma forma, que a minha relação com a escrita é desapegada,<br />
e como tal, senão mais frutífera, pelo menos mais sincera, com a pintura acontece o<br />
mesmo… talvez um dia nos encontremos por aí de novo, e nunca se sabe… Enquanto<br />
houver incondicionalidade e sinceridade à “flor da pele”, tudo fica em aberto e vai<br />
ficar, até porque é aí que tudo começa e acaba, na sinceridade ou na falta dela.<br />
<br />
2-Não é raro que tua poesia inspire uma denúncia sobre a morte. Quando chego a<br />
isso costumo apontar a verdade pontuada a cada parada, no ritmo da escrita mesmo;<br />
costumo dizer que o poema nasceu em carne viva. Concordas comigo? O que achas<br />
desta analogia?<br />
<br />
Não é fácil concordar ou discordar, porque é algo que nos escapa, enquanto pessoas<br />
simples que estão a dar forma a algo, na constante procura do resíduo, do que sobeja<br />
da vida, para o enformar e dar-lhe vida, animar. E aí há uma tentação enorme de nos<br />
comparamos a “criadores”, mas nada disso, essa perspectiva é muito presunçosa,<br />
ainda que haja quem a tome em forma de remédio, às colheradas, todos os dias, mas<br />
isso não é o que mais me importa… isso é água-benta que cada um toma a que quer.<br />
Na minha perspectiva, o escritor, o artista enquanto ser que vai embirrando com o<br />
mundo, inconformado, esgravata, quando muito, um pormenor, um acidente feliz no seu<br />
dia, uma palavra que alguém se esqueceu de semear e vai por aí, sem rumo, mas com<br />
a teimosia indispensável de quem se pensa poder “alterar” o inalterável… e por vezes<br />
os sintomas muito semelhantes ao “acto da vida”, ao acto dum parto: uma luta intensa<br />
num lapso de tempo, um resgate para a vida do que se sabe ser um combate desigual,<br />
medem-se as forças entre o que temos por vida e morte, a ansiedade extenuante do<br />
combate e no final… aí estamos: prostrados, exangues, como se se tratasse do nosso<br />
último momento, a última parte dum ritual, o fim, e afinal não, ainda “estamos vivos”,<br />
o poema está são e salvo, pela nossa parte. O que lhe acontecerá depois, já nos<br />
ultrapassa…<br />
<br />
Tenho muitas vezes presente, e de forma bastante vivida, o dia em que assisti ao parto<br />
do meu primeiro filho e que inevitavelmente revolveu-me, mexeu na minha estrutura<br />
interior, na forma como se condensa a minha relação com o mundo… tudo naquele,<br />
nesse momento é tão frágil, tão breve, tão desigual e ao mesmo tempo tão claro, tão<br />
evidente, que só nos pode apequenar, a nós homens que “assistimos” a essa luta com<br />
a convicção que estamos dentro e com a mesma tenacidade, com a mesma audácia<br />
que a mulher que “entrega à vida o que lhe pertence”… mas não; estamos, ainda<br />
que de corpo e alma, e o pouco que nos compete é estar ali, a observar, a ajudar nas<br />
coisas práticas do parto… mas, da sala, enquanto homem num mundo estranho que é a<br />
maternidade, trouxe, para além das muitas emoções que não cabem na nossa conversa,<br />
nem as saberia materializar, o que soube reter, o que me foi permitido reter da grande<br />
metáfora da vida, do nascimento duma criança, filho meu, e que desfaço e refaço<br />
muitas vezes, enquanto escrevo, enquanto me entrego de novo ao mundo, enquanto ser<br />
frágil que fui e que sou, em constante dor, que não é nem de parto, nem de chegada…<br />
é outra coisa qualquer, uma outra forma de analogia e semelhança de vida, uma<br />
constante busca duma outra dimensão da vida; aí concordo, salvas as distâncias, que<br />
sinto o poema carne viva, ou melhor, um pequeno sopro que não sabe muito bem da sua<br />
dimensão, mas que existe e está lá, a ganhar nos lapsos do tempo, a força, a coragem, o<br />
despojo que nos falta no quotidiano, banal e comum. E é consolador, muito consolador,<br />
o sentimento de que algo que em nós morre, e que vai morrer necessariamente, poderá<br />
<br />
ressuscitar “no outro”, ganhar uma nova forma, uma outra dimensão, uma essência<br />
independente, algo que nos escapa, mas consola, apesar de tudo. Talvez que daí, o meu<br />
quase desapego ao poema, para me entregar incondicionalmente à palavra, e neste<br />
particular, à poesia… mas daí a “ser poeta”, vai uma grande distância.<br />
<br />
3-A barca dos amantes...ali tem um título curioso que preciso saber: o que é “ A criança<br />
inacabada”?<br />
<br />
Nada de enigmático, nada de mais… para o caso de ser relevante, Adriana, comecei<br />
a rascunhar aquilo que vulgarmente chamamos poemas, bastante cedo… talvez com<br />
treze, catorze anos, coisas pequenas, que hoje poderia facilmente negar, mas na altura<br />
deram um jeito terrível para manter uma “certa aura”, que em plena juventude, o<br />
maior e mais imediato proveito que trazem são umas quantas conquistas femininas e<br />
um “causar impressão” nos professores de Português e consequentemente, uma ou<br />
outra nota um pouco melhorada, e até aí, tudo bem… e o depois? O depois é o pior:<br />
quando chega o inevitável sentimento de que somos o novo Pessoa, ou algo que o<br />
valha, é que vem o Inferno.<br />
<br />
Escrevi regularmente até aos meus vinte e cinco anos, mais coisa, menos coisa, até<br />
que, e mais uma vez de mútuo acordo, eu e a poesia separamo-nos durante um período<br />
suficiente, ainda que longo, mas proveitoso para ambos. A esse período anterior, esse<br />
meu primeiro contacto com a poesia, em que assinei como Ricardo S., fui guardando<br />
por anos e anos, aos tombos, nas gavetas improvisadas, o que sobrava do papel que<br />
não foi rasgado ou esquecido nas mudanças de casa. Do que consegui reunir desse<br />
período, nasceu o blog A Última Estação, que está provisoriamente encerrado, por<br />
diversos motivos: ainda salvei cerca de trezentos textos, que ainda espero compilar<br />
decentemente, retirar do formato digital o melhor possível, e reunir uns quantos de<br />
forma a encerrar em definitivo esse capítulo: a haver livro, chamar-se-á “A Criança<br />
Inacabada”, o que já esteve muito perto da edição, mas não considerei oportuna, e nos<br />
moldes que me foi sugerida, não seria proveitosa para ninguém… então, lá estão, ainda<br />
por se verterem em tinta no papel, quando assim o entender por melhor momento.<br />
Pelo menos desapareceram as pastas arquivadoras e os originais, que fiz questão de<br />
destruir à medida que ia colocando cada texto no Última Estação… menos bagagem<br />
por transportar!<br />
<br />
4-Ao ler teus poemas algo rasura, marca que eles apenas são um resto. Explico: é<br />
como se apenas uma parte ali estivesse. Assim também parecem ser tuas frases quando<br />
comentas no Indecentes Palavras. Seria um poema, sempre, inacabado?<br />
<br />
Pode parecer uma analogia ridícula, mas vejo-me e não raramente, como uma espécie<br />
de médico legista, de palavras e sentimentos, de resíduos emocionais, de detritos pouco<br />
interessantes, e não raras vezes levo-os para dentro da escrita, autopsio-os com a<br />
minúcia possível, mas perco-me muitas vezes no detalhe insólito e desinteressante,<br />
com o que está por dentro… não tenho urgência do diagnóstico e isso faz de mim um<br />
péssimo sobrevivente, no mundo. Ainda assim, tenho muitas vezes presente os versos de<br />
Poe, “all that we see or seem, is but a dream within a dream”, que para o bem ou para<br />
o mal, trago-os para a minha percepção que tenho da palavra, da palavra que sobra da<br />
palavra e se refaz numa outra… numa incompletude, numa imperfeição da percepção<br />
da palavra, que pode ser constantemente alterada, de todas as vezes que ainda não a<br />
sentimos esgotada, aprisionada nos dicionários, e assim “ela” o permita.<br />
<br />
O poema, como território de exploração emocional, existe enquanto persistir essa<br />
noção de efémero, de frágil, de incompleto dentro de si… e raramente, senão nunca,<br />
como objecto final, obra finalizada, matéria de facto para ser estudada: a ser assim,<br />
vejo-o como mau sinal… já nos fizeram o funeral há muito tempo e as medalhinhas<br />
comemorativas já foram distribuídas com profusão. É essa a sina da poesia, que<br />
haveremos de fazer?... (risos)<br />
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-EExqaUepxW4/TcCQ-yCyRsI/AAAAAAAAACQ/58R1biwybOA/s1600/73099_139881969397500_100001270945198_241299_1544325_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-EExqaUepxW4/TcCQ-yCyRsI/AAAAAAAAACQ/58R1biwybOA/s320/73099_139881969397500_100001270945198_241299_1544325_n.jpg" width="213" /></a></div> <br />
<br />
<br />
5-O que são, como lugares subjetivos, os espaços de escrita e de leitura? O sujeito que<br />
lê seria o mesmo que escreve?<br />
<br />
Frequentemente coincidem, assim creio, Adriana, ainda que haja um fosso a separar<br />
ambos, um fosso enorme que podemos apelidar de “exposição”, o suporte papel, por<br />
norma, a ponte inevitável entre um e outro, entre ambas as margens.<br />
<br />
A dificuldade de comunicar, de esvaziar esse espaço subjectivo, tem sido atenuada com<br />
a descoberta, com “democratização” da escrita e da leitura nos meios digitais, o que<br />
naturalmente é visto como um perigo, um alarmante caos nos pretensos meios eruditos,<br />
mas isso não é questão onde me detenha por muito tempo, até porque as regras do<br />
jogo mudaram e vão continuar a mudar a um ritmo vertiginoso… preocupa-me mais<br />
a questão do “até quando?”. E o mais é óbvio, “desse lugar”: onde se ganha espaço<br />
de relação entre escritor/leitor, no mais das vezes perde-se o poder, o que de mágico<br />
tem própria escrita, o do seu amadurecimento enquanto relação no espaço e no tempo<br />
do indivíduo, o poder de crescimento no horizonte do individuo… e nos meios digitais,<br />
tudo é tão breve e fugaz: “coleccionam-se” amigos, pretensos admiradores, luta-<br />
se arduamente pelo número de comentários em cada post, com ligeireza “aceitamos<br />
compromissos”, não se criam “tempos” para ponderar o essencial nessa relação,<br />
tão frágil que são os espaços partilhados da escrita, entre quem lê e quem escreve…<br />
mas no fundo da questão, é tudo uma questão de reciclagem: o mesmo passa-se no<br />
meio quotidiano da edição, e da “promoção” da imagem do escritor e mais raramente<br />
do livro, e no mais das vezes de modo bem mais deprimente… a diferença está na<br />
remuneração ou na falta dela, na exposição mediática que tanto se odeia da mesma<br />
forma que se procura com uma devoção quase irracional… e ele há tantas formas de se<br />
querer fazer passar por vitima dos paparazzi… (risos)<br />
<br />
6-Li uma entrevista que deste há algum tempo atrás. Ali descreves o momento<br />
em que passaste dias escrevendo...e que acabaste por herdar uma grande dor nas<br />
costas(eheheehheheh). Pois bem...ser tomado pela letra, ser invadido pelo desejo de<br />
marcar, de registrar...escrever. Como descreves isso?<br />
<br />
O Fernando Pessoa chamaria êxtase místico, eu prefiro chamar “necessidade a quanto<br />
obrigas.”(risos)<br />
<br />
O texto que então escrevi, ainda está intacto, sem revisão, com setecentas páginas por<br />
acontecerem livro, talvez um dia, ou talvez não… é, penso eu, um rascunho de romance<br />
histórico que “tinha que acontecer”, naquele momento, naquele período. A grande<br />
herança que trouxe, de então, dos quatros meses de reclusão voluntária, essa grande<br />
dor de costas, é algo que ainda a esta distância dói, não nas costas, na região lombar<br />
propriamente dita, mas no acto de então “ter tido que me esconder” para escrever, a<br />
coberto de alguns cúmplices, o que é tão abjecto e quase surreal, que entendo que devo<br />
assumir… triste, mas verdadeiro. Num meio onde o individuo que pretende escrever<br />
<br />
é visto como um parasita e com a agravante de que se não há rendimentos palpáveis,<br />
então a “doença é grave”, está feita uma parte do quadro: “escondi-me”, “adoeci<br />
subitamente”, refugiei-me dos olhares penetrantes de quem encara “estas coisas da<br />
escrita” como uma perda de tempo, própria para vadios . E se calhar até têm razão,<br />
os meus queridos detentores de todas as verdades, até porque o mundo é pequeno<br />
demais para que eu o consiga entender e quando se chega à parte onde se encontra o<br />
umbigo, o do outro, nunca o nosso, é uma complicação… e então, houve a necessidade,<br />
a “urgência da escrita”, para finalizar o mais rapidamente possível o que tinha entre<br />
mãos. Claro que preferia ter redigido noutras condições, com outra disponibilidade<br />
e envolvimento com o pequeno mundo que me rodeia, mas não se pode ter tudo… tive<br />
um apoio inesgotável por parte do meu filho e da minha esposa, que abdicaram de mim<br />
durante demasiado tempo e me ajudaram incondicionalmente no processo, os únicos a<br />
quem devo um gratidão eterna e inominável pela compreensão que me dedicaram, e foi<br />
o que sobrou… o resto, seria “dourar a pílula”, que talvez por tão amarga, ainda não<br />
a tenha conseguido retomar original do texto para o rever e dar um rumo … mas tudo,<br />
tem um tempo e cada um deles não mais curto que o outro, mas antes do mesmo espaço,<br />
da mesma dimensão.<br />
<br />
7-Um psicanalista francês, Jacques Lacan, diz que o estilo é o homem. Também aponta<br />
que “ o estilo é aquele a quem me dirijo” ou seja, sempre minha fala, meu registro diz<br />
respeito a um endereçamento. Sem endereço...não teremos fala, escritura, gesto, texto.<br />
O que pensas disto?<br />
<br />
Antes de mais e com o devido respeito, o tipo tem um sentido de humor que invejo,<br />
por certo… e ainda bem que assim é: são poucas as pessoas mais deprimentes que as<br />
pessoas ligadas à “área do ser humano” e artes, que as que se isentam do sentido de<br />
humor… são um estorvo bem intencionado, mas não deixam de ser um estorvo.<br />
<br />
E efectivamente, mesmo não conhecendo Lacan (mea culpa, mas não chegamos a todo<br />
lado), conheço-me um pouco mais que nada e algo do mundo que me rodeia para tirar<br />
partido dessa reflexão, tão acutilante: parto, sim, parto do principio que o individuo é<br />
barro moldado pelo ambiente que lhe rodeia, quer o oprima enquanto ser humano, quer<br />
o liberte pela comunhão de interesses, objectivos, afectos… e no entanto, por muito<br />
que se queira evitar a ideia perigosa de que o homem não têm fronteiras geográficas<br />
a delimitar, enquanto artista, a ideia subjacente, está lá: enquanto “poeta”, eu<br />
não sou de lado nenhum, de ninguém, mas isto enquanto poeta ou pintor… assim<br />
que “baixo à terra”, como ser humano não me consigo escapar a essa teia invisível<br />
que é a circunstância, o território emocional a que estou circunscrito… e se por<br />
questão de comodidade, se por uma questão de conveniência, se por uma questão de<br />
sobrevivência, o endereço, o laço que nos entende e solta é o mesmo que nos prende, e<br />
habituamo-nos facilmente a essa “ordem das coisas”, tão contestada quanto imutável<br />
no tempo.<br />
<br />
Encontramos essa evidência em qualquer parte, bem delimitada… até na poesia,<br />
Adriana... até com o Sá Carneiro, quando pensava, escrevia e deixou ao mundo<br />
que “Eu não sou eu nem sou outro/ sou qualquer coisa de intermédio”, que passe a<br />
heresia aos puristas, tem tantas leituras quantas um grande verso pode ter. Não sei<br />
quantas polaridades tem o artista, mas apostaria que ultrapassam as duas possíveis; ao<br />
artista que se diz livre, pleno de voo, pleno e sem amarras, é já “outra coisa”, mas não<br />
a mão humana; Ao artista que procura no mais além, no outro, no outro lugar o seu<br />
<br />
ponto de referência e orientação, é já “outra coisa”, também, mas não ele próprio…<br />
então, o ser ambíguo pode nem ser uma fatalidade, mas pelo menos dá uma grande<br />
ajuda, e isso nem é motivo de preocupação, até porque não falamos de outra coisa<br />
desde que o homem aprendeu a comunicar… o nosso lugar no mundo é uma fixação,<br />
um interrogação a full-time que se digere muito bem, até porque a resposta anda por<br />
aí, mas ninguém a viu, não há tempo… temos mais que fazer. (risos)<br />
<br />
Contudo, claro que preferia andar por aí no mundo a espalhar os versos de Jorge<br />
de Sena, “Nenhum mundo é meu. Todos estão em mim desde que existo.”, mas isto é<br />
poesia, é a esfera do possível enquanto poesia, mas tão somente poesia… o poeta tem<br />
uma tremenda habilitação para fazer revelações, mas tem pouca queda para revoluções<br />
na explicação do ser humano… bem que tenta a aproximação, mas é sempre terreno<br />
minado.<br />
Quanto ao Lacan, vou colocar nas minhas leituras obrigatórias, disso não duvido…<br />
(risos)<br />
<br />
8-A pontuação é sempre...do leitor. Digo isso porque embora existam os pontos<br />
(exclamação, interrogação, vírgulas e etc) de quem escreve, o sujeito que lê o faz<br />
naquilo que pode associar suas próprias pausas. A poesia facilita o reconhecimento do<br />
texto que vai ser outro sempre, a cada vez que lido vai depender da respiração do leitor.<br />
Tens esta percepção ou achas que quem fala é somente o escritor?<br />
<br />
A pontuação, como qualquer outra convenção, reparte os seus méritos entre o capricho<br />
e a necessidade… a que sobra é a parte que nos faz falta. (risos)<br />
<br />
Ainda no inicio, nos meus primeiros tempos na poesia, levei um “sermão” dum tipo<br />
mal-humorado, acerca da pontuação dum texto que tinha enviado para a redacção do<br />
DNJovem, que então era um suplemento dum jornal de grande distribuição, e que por<br />
mais voltas que eu desse, não encontrava justificação para tamanha reprimenda: ainda<br />
pensei em argumentar, ponto por ponto, que não, que tinha respeitado as regras todas<br />
da casa, ou então alegar em minha defesa que o José Saramago, muito antes do Nobel,<br />
também tinha uma relação difícil e incontornável com a pontuação, mas não… não<br />
enviei mais nenhum trabalho e com isso, nem eles, nem tão pouco eu, ficámos a perder<br />
grande coisa.<br />
<br />
Na poesia, a pontuação é um luxo que não vemos assim tão abundantemente espalhada<br />
noutras áreas da escrita; creio que há um respeito muito grande pela fluência da<br />
palavra, pela sua dimensão enquanto um todo chamado verso, pelo intenso jogo<br />
de “tentativa e erro” e consequente correcção, que não vejo em muito géneros. Por<br />
vezes faz-se muita batota, mas essa só está ao alcance dos que andam há muito pelas<br />
ruas da cidade, da cidade da poesia… quem mora nos “subúrbios” tem que ter muito<br />
mais cuidado, andar com as contas da pontuação bem alinhadas e em dia, até porque<br />
a concorrência é feroz e não perde uma oportunidade para fechar a “casa do poeta”<br />
assim que lhe apanhe uma falta.<br />
<br />
Quanto ao leitor? Ao leitor cabe sempre a última palavra, o último acento, mesmo que<br />
não faça o menor sentido, mesmo que o “rosto” do poema fique desfigurado, por falta<br />
duma figura de estilo que nem os prontuários se haviam lembrado, por uma falta de<br />
fôlego que por vezes se confunde mais com falta de ar, por uma virgula tão absurda<br />
quanto desnecessária… mas fazem parte do jogo, essas regras e não há como esquivar;<br />
<br />
pena é que a “cadeira” do leitor seja diferente da do escritor e não é em vão que a<br />
nossa percepção depende sempre muito do lugar que nos encontramos no mundo<br />
<br />
Mas enquanto poeta ou escritor, ou algo que me valha, espero sempre um pouco de<br />
paciência, até porque o Prontuário Ortográfico não é um objecto assim tão divertido<br />
quanto isso… e se ainda viesse bem ilustrado e elucidativo como alguns livros que<br />
todos bem conhecemos, do género do Kama Sutra, ainda vá que não vá… (risos)<br />
<br />
9-Poderias apontar tuas grandes referências para escrever?<br />
<br />
Adriana… agora, sim… sou apanhado de surpresa, e tenho duas hipóteses: a primeira<br />
e a segunda! A primeira faz-me inclinar para “confessar” a minha admiração por<br />
Milosz, por Rimbaud ou Maiakóvski, por Pessoa ou por Whitman, por Malcolm Lowry<br />
ou Emily Dickinson, e a lista podia ir até ao céu. A segunda é que conhecendo um<br />
pouco de alguns excelentes poetas, bons escritores, extraordinários músicos e pintores,<br />
não me sinto especialmente inclinado para apontar um nome, uma “escola”, uma<br />
influência. Recolho, como penso que muitos de nós, com uma agradável sensação<br />
qualquer poesia que me faça sentir tolo, declama-la só por declamar, na minha<br />
privacidade, mas nenhuma referência forte, nenhuma herança em particular pretendo<br />
tomar dos que tenho por meus mestres: escuto-os, trago-os e sigo o meu caminho,<br />
aquele que procuro, aquele a que Emerson se referia como o Caminho em Si, nada<br />
mais…<br />
<br />
Por outro lado, é quase inevitável a música, a omnipresente música… aquela com que<br />
escrevo, aquela com que leio, aquela que tem que estar sempre por perto, isso sim,<br />
confesso… e mesmo assim, não tenho uma referência, um género que me faça sentir<br />
perto da minha zona de conforto… apontar nomes é difícil, mas “estou em casa”<br />
quando escuto algo da Virgínia Astley, dos Durutti Column, do Jan Garbarek ou do<br />
Gismonti, sinto-me bem com a Björk quando não necessito de tanta concentração,<br />
trago da estante os poucos Chet Baker que tenho quando estou de bem com o mundo…<br />
e ficava dias inteiros aqui, a discorrer sobre cada um deles.<br />
<br />
Mas se há dois ou três nomes que me colocam em sentido… é aí que pretendes chegar?<br />
Certo! Na poesia, o Ramos Rosa e o Al Berto, na literatura contemporânea o Murakami<br />
e o Rushdie e o grande livro da minha vida, não hesito, é “O que Diz Molero”, do Dinis<br />
Machado… e há mais alguns por perto, mas não digo….<br />
<br />
10-O que te faz ...escrever?<br />
<br />
Com as devidas distâncias e diferenças, acredito que é o mesmo que move o Cristão,<br />
o Muçulmano, o Judeu, o Hindu a recorrer às suas Igrejas, aos seus Credos; uns<br />
chamam-lhe Fé, outros podem-lhe chamar insondável magnetismo, mas basicamente, o<br />
que nos move e nos une são as semelhanças: as idênticas buscas, as idênticas dúvidas,<br />
a idênticas recompensas que em principio nunca virão ou não chegarão a tempo, mas<br />
confortam-nos, preenchem-nos, dão sentido a um caminho, apontam perspectivas,<br />
alinham horizontes… todos vagos, frágeis ou meras ilusões, mas movem-nos, fazem do<br />
nosso corpo inútil algo de válido para o mundo, ainda que de forma efémera, sempre<br />
efémera… e tudo isso raramente tem uma explicação racional, não é verdade?<br />
<br />
11-Amante ... a palavra amante diz respeito a estar em busca do amor. Para além de ser<br />
objeto amado, o amante está ciente que sua busca é constante. Para quem lida com as<br />
palavras isso é mais do que uma verdade...é o ponto de partida. Não findam as faltas e<br />
nem as palavras. Pensaste nisso ao escolher o nome do blog?<br />
<br />
Quando iniciei o blog, a Barca, não tinha a menor ideia do que poderia decorrer, nem<br />
me “assaltaram” os dilemas do nome a dar, essas coisas pequenas; Intuía apenas que<br />
queria regressar à escrita, ao texto poético, ainda que as bússolas não fossem muito<br />
claras no sentido a tomar. Então, em sinal de homenagem a uma canção que nem será<br />
necessária a explicação da importância que tem em mim, ficou e foi ficando como A<br />
Barca dos Amantes e até hoje ainda não tive problemas com o titulo que nem sei se<br />
está registado, e que a posteriori descobri que se tratava também dum romance de<br />
António Barreto, do qual não fazia a menor ideia… mas regressando ao titulo, o lado<br />
mais simbólico, ao escolher o nome do blog, esteve sempre relacionado com a própria<br />
definição de poesia, que encontrei sempre, desde o primeiro instante, nos versos da<br />
canção do Milton Nascimento e do Sérgio Godinho. Foi um pouco por intuição e sem<br />
pensar que o blog pudesse ser associado “a mais um blog de poemas de amor”… já<br />
aconteceu, mas paciência. O curioso é a própria Barca dos Amantes, não ter até hoje<br />
tido uma alusão que fosse à expressão, à palavra “amor”, um pequeno poema que<br />
fosse… e não é por preconceito ou defeito, mas deixo os poemas de amor a quem os<br />
sabe fazer, e rendo-me perante um “bom poema” de amor… mas esse não é o meu<br />
caminho: acredito que uns nasceram para cantar o amor, outros para vivê-lo, outros<br />
para o tornarem possível, outros para o arquitectarem, mas por agora, nem um poema<br />
de amor, até hoje… mas quando acontecer, haverá festa!<br />
<br />
Contudo, essa busca constante, esse amor incondicional, esse lado mais vivido do<br />
que temos por amor, “cantar o amor”, é um terreno que pode estar minado pelo<br />
preconceito, por uma linguagem emocional muito defeituosa que por norma é a que<br />
nos cabe, pelo que não conseguimos trazer do melhor que temos, do espelho que vemos<br />
pela manhã; não é fácil fazer um “poema de amor” e se o fazemos, a interpretação que<br />
se lhe dá está muito próximo do “confrangedor” e cheia de futilidades, lugares comuns<br />
e outras barbaridades, e então… prefiro experimentar a minha incondicionalidade à<br />
palavra, ao mundo, escreve-la como “carta de amor”. Mas adianto, que a haver um<br />
primeiro livro, retirado da Barca dos Amantes, um enxerto sereno que possa vir, terá<br />
um nome completamente diferente, que já anda há muito cá dentro e já deixei sinais,<br />
meros sinais…<br />
<br />
12-Ficaríamos honrados se nos contasses um pouco do teu dia a dia, do que te inspira a<br />
escrever, das coisas que gostas de fazer...<br />
<br />
Não é uma pergunta fácil sobretudo quando estamos numa fase de transição, num<br />
desejo de passar a outra fase da vida, em que é imperativo tomar opções, marcar<br />
roturas, solidificar o que muitas das vezes nem nos apercebemos no quotidiano.<br />
<br />
E ao contrário do que sentia Octávio Paz, que para ele “a poesia e o pensamento são<br />
um sistema de vaso comunicantes. A fonte de ambos é a minha vida: escrevo acerca<br />
do que vivi e vivo.”, a minha forma de estar no mundo e na vida, pouco ou nada se<br />
reflectem na poesia que escrevo, nas pequenas coisas da vida que me fascinam. A<br />
minha forma de estar na escrita, gostaria de argumentar, vive mais do “reflexo”,<br />
contemplação e desejo, que propriamente do quotidiano, que o mais das vezes é<br />
<br />
enfadonho e banal, e ainda mais para uma pessoa vulgar, como é o meu caso, fútil, o<br />
mais das vezes.<br />
<br />
A grande parte da “experiência” que trago em mim, que ainda sobrevive no tempo, é<br />
o que resta do tempo em que vivi no Algarve, perto do mar, demasiado perto dum mar<br />
contemplativo e sereno, como é o Mediterrâneo, completamente diferente daquele em<br />
que “quase nasci” dentro, o Atlântico, selvagem e triste, perto de Lisboa. Aí, boa parte<br />
do que trago e exploro ainda hoje, nasceu por completo, aí , durante o período que<br />
morei no Algarve, onde as memórias não se conservam como “vastas feridas”, citando<br />
Chico Buarque, mas apenas memórias, tão somente, e ainda as vou reescrevendo, como<br />
se o sereno Mediterrâneo estivesse por perto, esse aí…<br />
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-U_JavRXeW5I/TcCRQ-3143I/AAAAAAAAACY/k43CeYMAs-c/s1600/167541_151571578228539_100001270945198_313589_3364033_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="http://1.bp.blogspot.com/-U_JavRXeW5I/TcCRQ-3143I/AAAAAAAAACY/k43CeYMAs-c/s320/167541_151571578228539_100001270945198_313589_3364033_n.jpg" width="320" /></a></div> mar de Algrave, mar de dentro<br />
<br />
Actualmente vivo numa pequena aldeia, no interior do país, onde tudo aparenta ter um<br />
prazo definido, um pequeno paraíso em ruínas quase. É no pequeno quintal, por detrás<br />
da minha casa, que quase todos os poemas da Barca nascem, ainda que não utilize<br />
a expressão “inspiração”, ou pelo menos duma forma directa: o horizonte que me<br />
rodeia é calmo, mas duma calma tensa, os caminhos parecem abandonados, a sensação<br />
de “pertença”, a serena pertença de quem ama e dá o peito pelo lugar onde deveria<br />
pertencer, desvanece-se dia após dia e costumo dizer e já não é em tom de brincadeira,<br />
que um dia o carteiro vai deixar de passar por aqui… é a sensação que tenho do país<br />
que habito..<br />
<br />
Então, é ausência de fronteiras, mapas ou bandeiras, que se materializam lentamente<br />
e sem pressas, na terra da escrita, na poesia, nesse fértil terreno das letras, esse o meu<br />
próprio país, ao qual me entrego por não me reclamar tudo, o todo de mim… dou o que<br />
posso, o que sei, o que sinto, e se mais não posso, não posso…<br />
<br />
<br />
13-Publicações...?Como é a política de publicação de literatura ou poesia, aí em<br />
Portugal?<br />
<br />
Nessa questão hesito um pouco, até porque as opiniões não são consensuais quanto ao<br />
assunto e fala-se muito em torno desse “problema” mas diz-se muito pouco ou quase<br />
nada; é fácil ter uma opinião acerca de tudo e mais alguma coisa, mas como não me<br />
seduz a “tudologia”, prefiro manter alguma distância ao opinar sobre o assunto.<br />
<br />
As queixas são frequentes, aqui como em qualquer país… e não deve ser muito<br />
diferente em Portugal ou no Brasil, como na Nova Zelândia ou no Canadá: todos<br />
reclamam e ninguém tem razão, como na casa onde não há pão.<br />
<br />
Eu, pessoalmente, como não tenho contacto com o mundo da edição, também não tenho<br />
por onde reclamar, e muito antes pelo contrário: o suporte virtual tem-me ajudado<br />
imenso a percorrer o caminho mais longo, aquele que semeia e contempla, o deserto<br />
inevitável do escritor… a proximidade, a empatia e arrisco, a amizade que encontro<br />
no mundo dos blogs não tem paralelo, quero acreditar, no mundo da edição, em que os<br />
<br />
critérios são relativos e um pouco “nebulosos”… mas só entra nesse mundo quem quer,<br />
não é verdade?<br />
<br />
Neste momento, não penso na edição seja do que for, e o “momento económico e<br />
social” não acredito como propicio, e as pessoas, aqui e em geral, têm mais em que<br />
pensar que em livros de poesia: os tempos são difíceis para editar, porque também<br />
estão difíceis para o leitor que gostaria de comprar um livro, e então, há que parar<br />
um pouco e pensar… mas, todavia, não implica o encerrar portas, de forma nenhuma:<br />
não perco de vista um sonho antigo, renovado todos os dias, o de ter a minha própria<br />
pequena editora e trazer desse lado do Atlântico e naturalmente deste lado também,<br />
pessoas, poetas incríveis, trabalhos de alguns que me estão muito próximos, duma<br />
forma ou de outra, com uma qualidade tão absolutamente desperdiçada que, passe a<br />
expressão, dá dó de tanto desperdício… e daí ter adiado e adiado a hipótese de editar o<br />
pouco que tenho reunido, do trabalho que tenho desenvolvido, porque quem sabe, se o<br />
desejo se concretizar, não dê trabalho, também, ao Leonardo… (risos)<br />
<br />
14-A solidão...Gosto de dizer que nunca estamos sós. Estamos, sempre em dois, no<br />
mínimo: eu e eu mesma ( ehehe).Porém, reparo que quando se trata da escrita há o<br />
mínimo do mínimo...como se, de fato, em algum momento fosse Um. Isso é complicado<br />
e quase impossível já que o traço único é letra e sendo escrita, pensada ou falada já é<br />
duas ou mais. Mas, repara que existe sim, uma solidão no ato de escrever. Concordas?<br />
Como descreverias isso?<br />
<br />
Pode não ser consensual, mas pela minha própria experiência, e pela forma como<br />
encaro o “acto de escrita”, existe um momento em que a solidão na escrita é um<br />
imperativo: a escrita, em si, é um acto solitário, a palavra “exige-nos” muito para<br />
nos devolver tanto ou um pouco mais… mas não rejeito, de forma nenhuma, uma<br />
outra forma de “acontecer a palavra”… essa é a minha forma, mas não a considero<br />
universal e linear. Desconfio da forma rígida e metódica de escrever, do indivíduo<br />
que convoca a assembleia da palavra para uma reunião das tantas às tantas, e fica<br />
o problema resolvido; procuro um mínimo de ordem, mas de uma ordem equilibrada<br />
entre a exigência e o caos. Tenho uma relação com a palavra, e nessa relação não<br />
posso ser o único a ditar as regras da casa… “a inspiração” não tem horário ou<br />
calendário, e a percepção que tenho do “meu tempo com a palavra” é semelhante<br />
ao de qualquer outra relação… por vezes não estou disponível, inteiro, e noutras é a<br />
palavra que “me nega”, não vem, mas tudo isso faz parte do equilíbrio da relação…<br />
nem sempre há uma disponibilidade de parte a parte…<br />
<br />
Mas voltando ao essencial da questão, à dicotomia escrita/solidão, não creio que haja<br />
consensualidade, até porque estamos a falar de significados em constante mutação,<br />
assim como os seus intérpretes, nós mesmos, que nos encontramo em permanente<br />
tentação de interpretar conforme o “conforto” que as interpretações, nossas ou<br />
alheias, nos trazem: dou um exemplo, Adriana… durante quanto tempo fez e ainda faz<br />
parte do imaginário social que o poeta é um tipo que escreve com a caneta na mão e<br />
com uma arma na outra, pronta a disparar? Não é aí que começa o “mito do poeta”, o<br />
suicida em potência, o grande estereótipo do Grande Poeta? Não é aí que começa, no<br />
fatalismo, na autodestruição, o mito do Grande Músico? Não será essa nossa relação<br />
com os estereótipos, com a solidão do acto de escrita, com o poeta suicida, com o<br />
pintor que corta orelhas, um tanto ou quanto precipitada, embora cómoda? Não será<br />
<br />
pedir demais, ao artista, que se atire para debaixo do comboio em andamento, como<br />
se fosse condição essencial para validar aquilo que exprime enquanto ser vivo, não<br />
como mais uma “natureza morta”? Não será pedir demais aos que para serem apenas<br />
artistas, simples artistas, poetas, pintores, músicos, que não é condição para “entrar<br />
no céu”, a obrigatoriedade de ser grande, a urgência de ser bom, excelente, o maior<br />
e por aí a fora?... Não será doentia essa necessidade de ser o melhor, ter um talento<br />
desmesurado para ser validado o ser que é tão-somente e apenas… humano? Não é<br />
suficiente o dom, o dom da partilha, o dom da entrega, o dom de receber o próprio dom<br />
sem que se vá a correr ao editor mais próximo a pensar que vamos vender milhões, ser<br />
o próximo Pessoa, ser famoso? E para sê-lo, a que preço?<br />
<br />
A solidão como acto saudável e quando utilizado na proporção certa é, creio, o ponto<br />
de equilíbrio entre o eu e o outro, o próprio ponto de contacto… como o silêncio, esse<br />
grande maestro da grande orquestra da palavra, em toda a sua extensão. A solidão,<br />
vejo-a como um “acto de tempo” necessário, um quase dever para com a escrita,<br />
mas nunca uma obsessão doentia, uma obrigatoriedade que devora e limita. Mais<br />
preocupante é, isso sim, a “solidão imposta” pela ausência dos que pensamos que nos<br />
rodeiam e contudo… estamos sós, como tão bem imprimia Drummond no seu A Bruxa,<br />
que “Nesta cidade do Rio/de dois milhões de habitantes/ estou sozinho no quarto/estou<br />
sozinho na América./Estarei mesmo sozinho?”… essa solidão é terrível e para o bem<br />
ou para o mal, vai sendo compensada com as redes sociais, com o mundo virtual que<br />
se vai tornando a única família do solitário… e isso sim, é preocupante: o solitário<br />
raramente quer estar só… o solitário, o mais das vezes foi abandonado pela presença,<br />
ainda que seja “brutalmente” reclamado pelos que o rodeiam, mas o valor da relação<br />
é cada vez mais residual, pois que exige apenas “o corpo presente”… e o ser humano<br />
não foi programado para ser “solitário”, não acredito… basta olhar de perto para<br />
o “solitário” que passa horas e horas, em frente ao computador, a comunicar… “a<br />
comunicar”, e esse é o alimento do ser humano…<br />
<br />
15- Barco e porto...Ser o que carrega e estar onde recebe. Há algo nisso que faz pensar<br />
no encontro como possibilidade. Estando no mar, avistamos, sonhamos com a terra.<br />
Estando na terra, a imensidão do mar. No trajeto portamos algo, uma esperança que<br />
nos faz. Também o desejo para além do que alguma espécie de destino já diz o que é.<br />
Pensei nas grande navegações, naquilo que não sabiam e que lhes causava desejo de<br />
saber. Arrumar o barco, todos os dias, para percorrer um caminho, uma palavra, um<br />
destino. Incerto como todos são. Os destinos...são dos portos ou dos barcos?<br />
<br />
Essa resposta gostaria de descobrir, ou melhor, sendo uma dupla questão até se<br />
responde por si, se não nos tentarem os lugares–comuns: há uma ideia generalizada<br />
que o Português é um refém da saudade, dos “bons velhos tempos”, do “antigamente<br />
é que era”… não é em vão essa conotação, embora seja redutora, porque não há um<br />
Português, mas dez milhões de Portugueses, todos diferentes e por vezes… todos iguais.<br />
Por outro lado, é denominador comum a vontade, o à vontade com que esse mesmo<br />
Português lida com as tecnologias, como a ideia do “lá à frente”, estar sempre “à<br />
frente”, com a obsessão da novidade, do “progresso pelo progresso”… o que “é novo<br />
é que é bom”. O António Variações cantava muito bem esse estado de espírito que “nos<br />
move”, no Estou Além, “Sempre esta sensação/Que estou a perder/Tenho pressa<br />
de sair/ Quero sentir ao chegar/Vontade de partir/P'ra outro lugar/Vou continuar a<br />
procurar/ o meu mundo, o meu lugar/ Porque até aqui eu só/ Estou bem/ Aonde não<br />
estou/ Porque eu só estou bem/ Aonde eu não vou.”… e esta ambiguidade, esta forma<br />
de estar condiciona-nos e faz de nós grandes poetas de naturezas mortas e artistas em<br />
<br />
constante busca. E então do tempo, nem se fala… temos um livro e não temos “tempo”<br />
para o ler, mas já estamos a planear comprar mais um ou dois; temos um computador e<br />
já estamos de volta das novidades nos catálogos, dum novo, de nova geração, com mais<br />
memória e uma montanha de aplicações que nunca se irão utilizar, mas são “boas”;<br />
temos um filme para ver, mas estamos já a pensar nuns quantos que são novidade… e<br />
podíamos ir por aí fora, nessa quase devoção à novidade, à nova tecnologia, ao novo<br />
amigo no facebook, ao novo, novo, novo, tão extenuante que não deixa tempo para<br />
apreciar o que vamos adquirindo, as experiências que “vamos vivendo” mas raramente<br />
pensando, os amigos que “vamos fazendo” mas raramente lhes dedicamos o “nosso<br />
tempo”, aos livros que “vamos comprando” e o mais das vezes “estão lá na estante”…<br />
e assim vamos ficando reféns do passado, com “saudades do futuro”, sem poiso<br />
certo mas confiantes no destino, no fado, esse jogo de sorte e de azar… são lugares-<br />
comuns, e são os que temos, que aceitamos resignadamente, confiando que alguém faça<br />
o “nosso trabalho”… andamos há oitocentos anos nisto e não é agora que vai mudar,<br />
assim, sem mais nem menos, tão abruptamente.<br />
<br />
Fomos educados a olhar com demasiada frequência, para o “outro”, para o “outro<br />
lado”, para o “impossível”, a procurar no “vizinho” os nossos próprios defeitos,<br />
e daí a propensão para nos tornamos peritos em assuntos menores e mesquinhos,<br />
sem utilidade aparente… mas para além desse gene que herdei, que herdámos como<br />
Portugueses comuns, ainda acredito que somos porto e barco, mar e ilha, um território<br />
imenso onde nos podemos encontrar, partilhando o que se encontra, procurando;<br />
acredito numa geração que vislumbro e que saberá como desfrutar o que faz, o que lê,<br />
o que pinta, o que sente, uma geração que procure em si a primeira questão e resposta,<br />
que procure em si o valor sentido, o peso da sua própria linguagem emocional<br />
projectada para o mundo, mas passando por si própria, antes de tudo… é motivante<br />
apreender no horizonte esse “corte”, essa ruptura com a “ausência necessária”, essa<br />
não inscrição por questões de sobrevivência, e nesse particular, o escritor, o artista<br />
poderá ter uma palavra a “inscrever” se não se remeter ao papel de bibelot, mero<br />
adorno estético e desnecessário… não é fácil, mas quem disse que o poderia ser?<br />
<br />
16-Gostarias de deixar registrada mais alguma coisa?<br />
<br />
Naturalmente, que gostaria… ficaríamos aqui dias a olhar para esse mar, falando,<br />
trocando de emoções, trocando de palavras, trocando, dando e recebendo. Mas já o sol<br />
se põe, e a maré está de mudança e interpretemos isso como um sinal…<br />
<br />
Recupero, umas palavras que ficaram noutras marés e tão bem aqui cabem: “Todo o<br />
furacão de emoções que me tem avassalado nos últimos tempos, e um reconhecimento<br />
que “desconfiaria” noutras circunstâncias, ainda que soubesse como caminhar sobre<br />
as águas sem me molhar, tem sido uma das provas mais gratificantes da minha vida,<br />
mas com a ressalva que não “quero ser engolido” por sombras ou ilusões; sei que os<br />
dons devem ser partilhados e os méritos só podem ser reconhecidos por outrém, mas da<br />
mesma forma que tudo o que partilho por prazer, da mesma forma posso partir, quando<br />
essa força, esse prazer, esse “dom”e me faltar… escritor é para escrever, como ao<br />
artista de teatro pertence o palco.” E assim sendo, ao trabalho, A Lavoro!<br />
<br />
E deixo, agora, sempre, um Abraço que faça corar de vergonha os tamanhos desse mar<br />
que nos separa, Adriana, um Abracimenso!<br />
<br />
Leonardo,sinto-me emocionada por ter estado contigo nesta pequena entrevista.Sinto-<br />
me assim por senti-lo tão próximo, embora estejamos longe de doer; pela tua palavra<br />
que me traz todas as águas, como concha que compartilhas connosco. Neste eco me<br />
fazes escrever mais, numa confusão de espaços em que quero ser porto e barco, para te<br />
receber ou te portar. São para sempre bem vindas tuas indecentes palavras, pela verdade<br />
dos amantes além mar.<br />
<br />
Beijo com todas as letras<br />
<br />
Adriana bandeira<br />
<br />
Leonardo B., poeta português-http://abarcadosamantes.blogspot.com/ </td></tr>
</tbody></table>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-32949023231541224622011-05-02T09:04:00.000-07:002011-05-02T09:09:35.560-07:00ENTRE A PALAVRA E O GESTO,UM ASSOVIO QUE SE FAZ PRESENÇA-Contando histórias com o grupo Válvula de Escape<m:smallfrac m:val="off"> <m:dispdef> <m:lmargin m:val="0"> <m:rmargin m:val="0"> <m:defjc m:val="centerGroup"> <m:wrapindent m:val="1440"> <m:intlim m:val="subSup"> <m:narylim m:val="undOvr"> </m:narylim></m:intlim> </m:wrapindent> </m:defjc></m:rmargin></m:lmargin></m:dispdef></m:smallfrac><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>1-Quero lembrar da proposta inicial, quando o grupo estava se formando...Lembro que a idéia era de formar um grupo para o texto de Clarice.Sou apaixonada pelo texto de Lispector.Tanto, que por vezes retorno aos que já li e ele sempre me é muito estranho, diferente.É o tipo de escrita que se está para o leitor, ou seja, nós é que somos outros e reconhecemos isso na leitura.Pois bem...para mim, Clarice nos traz essa possibilidade.Quando a proposta de um grupo parte de um texto, ali nomeado está o dito deste grupo.Quando o texto é de Lispector...o dito prevê o SER, ou seja, esta mudança inerente ao EU.Então: porque Clarice?</b><br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira –</b> A principio, gostaria de agradecer em nome do Grupo Válvula de Escape por esta oportunidade, obrigado! E gostaria de dizer que adorei o título: “Entre a palavra e o gesto”, bastante significativo para nós. E em seguida gostaria de esclarecer que a proposta inicial não era de formar um grupo específico para a montagem do texto de Clarice, mas sim a criação de um grupo teatral voltado a questões sobre a criação, fomento e compartilhamento das artes cênicas contemporâneas. E em apenas num ano acreditamos que conseguimos, mesmo que de maneira tímida cumprir com esta tríade acima elencada: Criação (Criação e manutenção do espetáculo “Assovio...”), fomento (fomentar e discutir a arte na cidade e tem sido uma constante do grupo na criação de vários projetos criados para fomentar e difundir o teatro) e compartilhamento ( através das oficinas desenvolvidas ao longo do ano passado e que terá prosseguimento neste ano). Até mesmo por que antes do Válvula houve a tentativa de criação de outros grupos que não deram certo devido as agendas corridas dos integrantes e muito em função das atividades destes integrantes junto a UERGS. Pois bem, quando me formei no final de 2009, a atriz Lucimaura Rodrigues também graduada na Uergs me confidenciou sua vontade de retornar aos palcos e eis que ali marcamos um encontro para definir o que faríamos dali para frente. Então em janeiro de 2010 nos reunimos e logo em seguida convidamos a Ana Denise e Martina para se unirem a nós. Ali nasceu o Válvula de Escape. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">E quanto a Clarice, bom, como foi uma proposta que foi sugerida por mim, era um desejo, uma vontade de transformar esse livro tão instigante da Clarice em teatro, em ação, em cena. No início fui tomado por uma euforia e entusiasmo para levar a cena a história de Macabéa, mas depois, no meio do processo um desespero tomou conta de mim, pois percebi que a história era complexa demais para ser transformada em cena, mas era tarde demais e decidi não desistir e enfrentar a Clarice de frente, foi quando optamos em realizar o espetáculo no porão da estação, foi ali que o espetáculo ganhou força e base para ser levado a cena, mas não foi fácil dialogar com este texto que não é especifico para teatro, é um romance, aí já temos um obstáculo, mas olhando agora, após as apresentações percebo que conseguimos um resultado satisfatório e digno frente a grandiosidade e complexidade da obra de Lispector.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>2-Percebo que o grupo foi se renovando, agregando novas pessoas, desde o primeiro encontro, em que eu mesma participei. Aliás...é bom as pessoas saberem que o artista faz exercícios físicos que...Não pude caminhar no dia seguinte!( eheheheh). Pois bem, conte-nos um pouquinho da trajetória, das escolhas, da confirmação deste grupo que hoje apresenta ‘“Assovio no Vento Escuro”.</b><br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira</b> – Bom, depois do encontro inicial, nos reunimos poucas vezes e precisávamos de mais pessoas para a formação do grupo. Então tive a idéia de oferecer um Workshop de três dias de duração que aconteceu no Teatro Robertão (e que você participou), para selecionar mais cinco atores para se agregar a nós, destes 5 selecionados dois ainda estão atuando conosco que são o Léo e a Tuane, mais a Adri que não atua no grupo atualmente, mas auxilia na produção e penso que retorna este ano como atriz. Sim, o ator faz muitos exercícios físicos, o que chamamos de treinamento físico, pois a forma que um ator tem para comunicar-se com o público á através de seu corpo, da sua poética. O corpo é o nosso instrumento de trabalho, portanto temos que treinar ele todos os dias e o treinamento ocupam grande parte dos nossos ensaios. São exercícios puxados, cansativos, exaustivos, mas que são necessários para que o ator possa encontrar e trabalhar a sua presença cênica e a sua poética de trabalho. O trabalho de um ator não se resume em decorar um texto e entrar em cena, por trás desse trabalho, existe muita dedicação, estudo e criatividade. Quanto à renovação, penso que como somos um grupo novo, com uma curta trajetória, neste primeiro momento a idéia é a de tentar manter os integrantes que iniciaram e que puderam se manter, para que através das conquistas que obtivemos no ano passado possam ser intensificadas neste ano. Trabalhar em grupo exige que este coletivo se conheça, criem confiança entre si e na direção e nossa aposta é a de um trabalho contínuo focado no trabalho do ator. A renovação se dará através das oficinas oferecidas, que neste ano terá a duração de 8 meses com a montagem de um espetáculo no final, e os alunos que se destacarem poderão fazer parte do Válvula no ano que vem.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Adriana Cruz – </b>À medida que as pessoas vão se conhecendo o grupo foi formando uma identidade, é o resultado das atividades realizadas pelo grupo, cada um contribuindo co suas experiências e se adaptando um com os outros e assim o grupo está criando a sua poética.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>3-Chegamos ao título do espetáculo de vocês... Lispector e Assovio tem muitas coisas em comum.Tratando-se do texto que leva em conta estes EUS, os que surgem num discurso, na palavra, agrego isso a nossa de significante.Coisa minha.pois bem, o significante é um traço mínimo que faz diferença, que perpetua escolhas, mesmo que não saibamos.O assovio é um traço mínimo, é um “ soar”, escorregar a voz, reconhecendo o pedido ou aviso de algo.Mas, este zumbido embora fundamental é somente fundamental.O resto é que faz canção.Pois bem: porque Assovio no vento Escuro?</b><br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira – </b>Tudo é significante. Tudo é signo. E os signos são transformados em significantes por aqueles que recebem este signo, no nosso caso, os espectadores. Essa tua leitura da palavra “Assovio” tem tudo a ver, mas não é a mesma que a minha e talvez não seja a mesma da Clarice, da Adri Cruz, enfim. Quero dizer que cada individuo “interpreta” conforme os seus referenciais, e assim acontece com a gente que faz teatro, nós como atores, “representamos” algo e o espectador “interpreta” a seu modo este algo que compartilhamos com ele. Por isso gosto de usar o termo “representação”, pois nós representamos e fica para o público fazer a “interpretação”. Sobre o título, como a nossa proposta não era a de levar a cena o livro “A hora da estrela” de modo literal, tal qual o livro, mas sim, adaptar e criar um novo olhar a partir deste mesmo texto, pensamos que não poderíamos utilizar o mesmo título do livro, senão estaríamos vendendo uma idéia que não era compatível aquela realidade da obra. Posso dizer que fomos fiéis a obra e ao mesmo tempo livres, pois nos permitimos a criar também e não somente reproduzir. Então procuramos outros títulos que viesse ao encontro da nossa proposta. Realizamos até uma votação interna e o título que venceu não foi este, decidi recorrer a Clarice, pois este livro tem 21 títulos juntamente com “A hora da estrela” e “Assovio no vento escuro” é um deles, acho que combinava mais com nosso propósito e com o nosso espaço. Mais poético e menos literal, nos permitiu a sermos livres frente a obra, entende.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Adriana Cruz – </b>“Assovio no vento escuro”: o nome tem tudo a ver com a atmosfera que envolve a personagem, tem a ver com a poesia de Clarice, a poesia do Válvula.<br />
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>4-Gostaria de saber um pouquinho da trajetória de cada um de vocês e o que causa esta escolha pelo teatro. Sendo possível que colocassem seus nomes, apresentassem suas perspectivas.</b><br />
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Adriana Cruz – </b>Eu conheci o teatro já adulta quando estava fazendo o magistério no Colégio São José, passou-se muitos anos e aquilo sempre ficou, aquele gostinho de quero mais. Quando finalmente tive um tempinho para mim, onde eu pudesse fazer o que eu gostasse como todo mundo, assim como tem gente que gosta de ir à academia, resolvi então fazer oficina de teatro na Fundarte, depois disso só foi... Adoro essa coisa de a gente poder ser outras pessoas, hoje eu sou um menino, amanhã posso ser um velho, etc.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira – </b>Bom, a minha relação com o teatro se estabeleceu de uma maneira inusitada. Comecei no teatro em 1995, ou seja, há 16 anos atrás. Estudava numa escola pública de Porto Alegre e para ter algo a fazer no contra-turno da escola, fui buscar algo diferente para fazer. Ao lado da minha escola, existia uma escola “especial”, dedicada exclusivamente para alunos portadores de necessidades especiais. Até eu adentrar naquele espaço, aqueles seres eram pessoas de outro mundo, o que tinha do outro lado da cerca causava medo, ou até desprezo, mas eis que a escola especial resolveu abrir suas portas para que alunos da escola regular pudessem fazer integração com os alunos especiais, através do oferecimento de diversos cursos como: esporte, música, dança, teatro, fotografia, culinária, etc... Fui lá conhecer os cursos e optei por fazer esporte, mas como vi que meus colegas estavam escolhendo teatro quis saber o que era, chamaram a professora de teatro e esporte e a professora de teatro com sua magia conseguiu me converter ao teatro. Desde então jamais interrompi minhas atividades teatrais. Essa oportunidade marcou e mudou minha vida de diversas formas. Primeiro pelo fato de poder desmitificar aquela idéia que eu tinha daqueles seres que existiam do outro lado do muro, são pessoas competentes, capazes de te cativar e compreender sua vida, vencer barreiras e limites. Aprendi a gostar e respeitar aquelas criaturas amorosas e compreensíveis. Fiquei 4 anos lá fazendo curso de teatro e depois comecei a fazer outros cursos, oficinas e seminários sobre teatro. Conheci muita gente até chegar na Uergs onde conclui a Graduação em Teatro em 2009 na Uergs e atualmente tenho me dedicado ao Grupo Válvula de Escape, nas funções de diretor e professor de teatro, além de realizar a direção do espetáculo “Wilma e Elza” que segue em cartaz pelo interior do RGS.<br />
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>5-Existe o texto e o outro texto. Digo que este outro texto invariavelmente é a poesia. Quero dizer que a construção de um personagem não deixa de ser fazer poesia. Afinal estão: o escrito, o ainda não escrito e o SER. No caso deste Assovio, existe Lispector, a adaptação (muito bem feita) do texto, o que está para ser construído e o SER. O que pensam sobre esta construção?</b><br />
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira – </b>Sim concordo muito que a construção de um personagem é a construção de uma poesia. No campo de pesquisa em artes, falamos em criação de Poéticas, que representa o modo e a maneira que cada artista, cada pesquisa constrói o seu trabalho. Em nosso trabalho o texto da Clarice foi o grande norte, mas não o único. No teatro trabalhamos com DRAMATURGIA. E quando me refiro a Dramaturgia, não estou falando somente do texto, do drama, mas sim de dramaturgia(s), pois temos a dramaturgia do texto, do ator, do espaço, da música, da imagem, enfim, diversas dramaturgias que somadas formam um espetáculo. No caso do “Assovio...” o primeiro passo foi pensar na parte textual, pensada para um espaço convencional, um teatro. Era outro tratamento de texto, preocupado com questões da teatralidade, do escancarar a cena para o espectador, de uma Macabéa fantástica, repleta de signos e significantes, do onírico ao real. Quando decidimos o espaço, a configuração do espetáculo e do texto foi alterada e tudo se transformou em função do espaço. Agora teríamos que trabalhar com a possibilidade de o espectador estar junto na cena, ou melhor, imerso nela, sentindo a respiração do ator, então procuramos trabalhar com a verdade, jogar com a sinceridade, ao invés de trabalhar na caracterização dos personagens, potencializar o mínimo, para chegar ao máximo, desvelar as possibilidades que aquele espaço nos dava. Esse foi o nosso grande desafio, teatralizar um espaço que não é teatral, mas que de acordo com nossa encenação, passaria a ter uma configuração teatral, lógico que somando as dramaturgias já mencionadas aqui neste texto. Mas me referindo à adaptação literal do texto, foi um dos pontos mais difíceis e dolorosos do processo, pois eu não queria deixar nada de fora do roteiro, cortar fora as palavras de Clarice era dolorido, mas eu ia adaptando conforme as improvisações dos atores, o 1º esboço deu em média umas 50 páginas, o 2º em torno de 30 páginas, depois vieram muitos esboços até finalizar num roteiro de 11 páginas que foi ficar pronto uma semana antes da estréia, priorizamos o diálogo entre as personagens e eliminamos 90% da narração, centramos na história de Macabéa, sendo que o livro não conta somente a história dela, mas sim, o dia a dia de um escritor frente à criação (no nosso caso, o escritor foi transformado na figura de Clarice Lispector interpretada pela Lucimaura, que guia os espectadores) e sobre o processo de escrita em si. Adaptar não é somente cortar trechos e rearranjá-los, mas sim tentar encontrar um novo modo de contar aquela mesma história, eliminando e agregando novos elementos a esse novo material.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Adriana Cruz – </b>Acho que a adaptação de um texto é a essência do texto original sob a ótica de um determinado grupo. É a “nossa” verdade.<br />
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>6-Na estréia (e eu gosto das estréias porque elas mostram a potência do texto, dos personagens e dos artistas) o diferencial marcou a cidade. Não estamos mais num palco fechado, com sujeitos que assistem sentados a alguma trama. Não existiu os que assistiam. Fomos convocados a estar. O tal SER estava tanto nos personagens do texto do Assovio, quanto os que acabavam habitando nossas identificações com as palavras vindas dos artistas. Como vocês sentiram esta vibração?</b><br />
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira – </b>Eu também gosto das estréias, pela novidade, pela expectativa criada em relação ao espetáculo, tanto dos artistas, quanto da platéia, mas gosto de rever após algum tempo o mesmo espetáculo, para ver como o grupo solucionou questões, amadureceu o espetáculo e venceu alguns obstáculos que na estréia ainda poderiam estar desajustados. Creio que “Assovio...” marcou a cidade sim, por vários motivos, pela utilização de um espaço não convencional para apresentação de um espetáculo teatral, também marca a cidade pelo fato de oferecer uma temporada de teatro, com sucessivas apresentações, sabendo que geralmente os espetáculos aqui apresentados são apresentados apenas uma vez, no máximo três vezes, então queríamos e queremos começar a mudar a cultura da cidade em relação a isso, a formação de platéia, mas para se ter público tem que haver ações que convidem este público a estar participando do evento teatral. E este é um belo exemplo. Quanto à vibração do público na estréia e demais apresentações penso que... Ops! Surpreendemos-nos com a recepção do público, que compareceu e que participou abraçando esta idéia, este projeto. A vibração era verdadeira e os atores sentiam isso e revidavam em cena, em ação, em emoção! Foi emocionante ver o público habitando os porões da estação, dando vida aquele lugar. <span style="color: red;"> </span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Adriana Cruz – </b>Bem, por motivos pessoais, não pude participar da estréia, pois tive que “abandonar o personagem”, mas só o personagem, o grupo não. Porém quando fizemos o nosso primeiro ensaio aberto eu ainda estava no elenco e fazia a personagem Glória e lembro bem as emoções que tive, era de tudo um pouco, medo, ansiedade, curiosidade e empolgação, tudo misturado. Mas o medo era o mais latente, pois eu me preocupava com as reações que as pessoas poderiam ter diante das provocações que a peça fazia e que a minha personagem propunha, e a minha personagem era abusada e gostava de chamar a atenção. Lembro bem quando provoquei um espectador através de olhares e beijinhos, e a pessoa ficou tão desconcertada, que desviou o olhar, sendo que nesta hora eu quase perdi a concentração, o ritmo, pois eu não esperava esta resposta, pois a maioria da platéia estava bem à vontade com a relação estabelecida. Essa proximidade pode ser tanto positiva quanto negativa e tive que me concentrar na personagem para não perder a concentração.<br />
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>7-Do “ ar livre”, da “ Estação dos trens” para o subterrâneo...nenhuma condição , nenhum trânsito representaria melhor a proposta.Do amplo ao restrito.Nele uma infinidade de perspectivas, ditos, sensações.Como foi esta elaboração, esta escolha ?</b><br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira – </b>Esta escolha deu-se dentro do processo de criação do espetáculo, a princípio pensávamos num espetáculo para o palco italiano, tradicional. Como realizávamos nossos ensaios no porão da estação, chegou um momento em que aquele espaço já havia marcado nossa criação. Foi quando resolvemos assumir esta proposta de encenar uma peça num espaço não-convencional. Até então, a estrutura da peça e do texto era caótica, sem nexos, sem sentidos, apenas estávamos “tentando” criar um espetáculo de teatro convencional, mas era tudo exagerado, personagens estereotipados, propostas absurdas, mas tínhamos o desejo de fazer, de tentar, de aprender com nossos erros. Com a chegada do André, nos assessorando filosoficamente, o projeto deu uma virada de 360º, pois ele nos ajudou a pensar e explorar os personagens sob outro viés, analisando cada um e explorando eles sob outros aspectos. Mas quando assumimos este espaço enquanto palco conseguimos visualizar possibilidades de leituras, como esta que tu fazes, potencializar signos e evidenciar a teatralidade do espaço, criar ilusão, mas ao mesmo tempo destruir a ilusão e mostrar ao espectador que aquele momento que estamos compartilhando com ele, é teatro, é mentira, mas ao mesmo tempo, é uma mentira com verdade. Desmitificamos a ilusão da caixa cênica e seu aparato de iluminação e som, criando uma cena aberta, com atores, espectadores e técnicos no mesmo plano, ora criando uma ilusão, ora destruindo essa ilusão antes proposta. E chegar ao espetáculo que o público pode conferir foi uma tarefa árdua, de escolhas de caminhos e propostas, decididas no dia a dia dos ensaios, como montar um quebra-cabeça, um painel com várias referencias, vários signos propostos e expostos, mas que sem dúvidas foi o espaço que nos deu, lógico que tivemos uma pesquisa e criação neste espaço, mas aquele espaço foi um personagem muito importante neste processo, tanto que não cogitamos a idéia de realizar a peça em outro espaço. Inspiramos-nos no teatro desenvolvido pelo grupo Porto-alegrense “Ói nóis aqui traveis”, em sua proposta de teatro de vivência, onde o espectador é convidado a celebrar a cena, participando ativamente do espetáculo. No nosso caso, absorvemos esta idéia do espaço, de o ator e o espectador compartilhar do mesmo espaço, espaço pequeno e apertado, aproximando e colocando o espectador dentro da cena.<br />
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>8-O texto traz à tona verdades como : a morte, a solidão,a esperança,a condição.O que, para vocês, ficou mais contundente no Assovio?</b><br />
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira – </b>É... não somente o texto, mas toda a obra de Clarice denuncia este mundo repleto de incertezas, de aparências. Para mim ela dialoga muito com o ser mulher, e com o existir, existência. Somos um na imensidão vasta do mundo. Penso que a obra de Clarice, além das verdades, traz diversas referencias cotidianas que fazem o leitor mergulhar e se identificar com a história proposta. No caso de “A hora da estrela”, a obra desvela referenciais contemporâneos como a Coca-cola, as Lojas Americanas, a rádio-relógio, o Rio de Janeiro, signos que são cruciais para uma identificação com o leitor deste universo que denuncia a pobreza tanto de espírito quanto social de Macabéa fazendo um contraponto com o capitalismo das grandes cidades, do consumo, do acesso a informação, mesmo que esta informação não seja compreendida. Fica a impressão de que somos seres fragmentados, incompletos, sempre em busca de algo que tentamos preencher vazios, lacunas e às vezes não encontramos...<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Adriana Cruz – </b>As “verdades” como a morte, a solidão, a esperança, a condição, o que para mim fica mais contundente foi à solidão e ver como uma pessoa pode ser tão solitária, sendo que Clarice foi uma pessoa muito solitária apesar de estar sempre rodeada por muitas pessoas.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>9-Existe um segredo que faz com que, num grupo, todos estejam, de fato, no que fazem. Esta unidade prevê as diferenças, se estamos falando de um grupo de verdade verdadeira ( eheheh).Como vocês lidam com estas diferenças?</b><br />
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira – </b>Tu sabes que discutíamos sobre isso em nosso último o encontro, estávamos lendo um texto sobre o trabalho do ator, de uma entrevista do ator e diretor Cacá Carvalho, e ele fala muito sobre isso, mas ao invés de falar sobre diferenças, ele fala sobre individualidades. Somos um coletivo formado por indivíduos, onde cada um traz junto os seus referenciais, seu histórico, seu corpo e sua identidade. Queremos uma unidade, mas prevendo que está unidade seja construída pautada na liberdade e individualidade, pois não podemos apagar ou ignorar o histórico deste indivíduo, e isto me interessa muito, o que o ator tem de interessante, e que eu posso aproveitar e roubar dele e o que eu tenho de interessante para repassar a eles, essa é a base da troca. Trabalhar as individualidades, as potencialidades de cada um para tentar decodificar e instaurar um processo de grupo, onde todos estão inseridos. Partindo daí penso que conseguimos estabelecer contatos para trabalhar a diferença e fazer com que esta se transforme em potencial criativo de grupo, ou seja, se transforme em uma determinada poética coletiva, que na verdade são micro-poéticas individuais que somadas se transformam em poéticas do Válvula de Escape, entende.<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Adriana Cruz – </b>Às vezes, é difícil para mim, porque somos todos muito diferentes, com histórias e históricos diferentes, experiências de vida e de idade. Então temos que ter muita paciência, pois existem os acelerados e os devagar, os que falam de mais (como eu), e os que deveriam se impor muitas vezes não se manifestavam, mas isso foi no inicio, onde procuramos nos respeitar e ir se encaixando uns aos outros.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>10-Poderiam nos contar uma coisinha engraçada, uma mania ou “esquisitice” de cada um?( eheheheheh).</b><br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira – </b>Quando falo em individualidades, lógico que temos características em cada um, não vou citar nomes, mas eles vão reconhecer aqui cada um, mas temos aqueles que falam de mais, mas não sabem escutar, aqueles que estão sempre atrasados, os negativos e pessimistas. Mas nesse tempo em que estamos trabalhando juntos muitas coisas aconteceram, por exemplo, nos ensaios e apresentações, pelo fato de trabalharmos no lado externo da estação lidamos com o imprevisível, e quase sempre temos a presença de cães que às vezes atacam aquelas figuras vestidas de preto, uma vez tínhamos aqueles pássaros, “quero-quero” e a Maura ficou assustada com a possibilidade de ser atacada em cena aberta, e também temos as crianças que hoje em dia são nossos parceiros, mas no inicio dos ensaios externos gostavam de interferir na cena, o que não era de todo ruim, pois era uma proposta que possibilitaria isso e os atores teriam que jogar com o imprevisto.<br />
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>11-Na reunião de janeiro estive com vocês e esqueci a máquina e ...Pois bem, neste encontro percebi uma certa leveza, uma certa tranqüilidade.Isso é fato?</b><br />
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira – </b>Sim, naquela ocasião não estávamos em trabalho, estávamos apenas reunidos, era uma reunião de produção e encaminhamentos para o ano de 2011, então estávamos livres e descontraídos. Mas durante o trabalho, quando nos reunimos para ensaiar e treinar, muda um pouco, pois temos que criar um espaço de concentração, onde tudo o que possa nos atrapalhar fica do lado de fora, e dentro fica a vontade de produzir e compartilhar com o grupo, não deixando de lado o prazer de estar ali comungando com o outro a possibilidade da criação cênica. Durante os ensaios, dentro desta zona de concentração cria-se também uma tensão, que é bem vinda ao trabalho, mas às vezes essa tensão se transforma em explosão, daí sim temos que parar e conversar e tentar resolver. Mas um dos princípios do grupo é o prazer, o prazer de estar ali, presente e entregue de forma verdadeira.<br />
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>12-Então: diretor é..?Figurinista? ...Existe uma coordenação do grupo?Como ela é feita?</b><br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira – </b>Somos um coletivo, um grupo. A única distinção que existe é que eu atuo como diretor e os demais como atores ou músicos, mas isso não impede que um dia eu assuma o papel de ator e alguém assuma a direção, já que temos pessoas capacitadas para isso. Enquanto grupo Válvula de Escape é assim, mas é lógico que não trabalhamos sozinhos, e para produzir um espetáculo precisamos de profissionais aptos em suas determinadas áreas, como por exemplo, criação e execução de figurinos, da iluminação, do projeto gráfico, de um bilheteiro, de um produtor, divulgador, etc... Mas enquanto grupo somos assim, mas não quer dizer que também não executamos outras tarefas, por exemplo, por enquanto, nós mesmos somos nossos produtores, elaborando projetos, cuidando das finanças e divulgando nosso trabalho, mas a medida que o trabalho vai se desenvolvendo, percebemos que precisamos mais desses profissionais ao nosso redor, pois isso reflete no todo do trabalho e o que queremos é sempre poder oferecer o melhor ao público.<br />
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>13-Preciso dizer que fiquei muito agradecida com o convite para assisti-lo.Fiquei também surpresa já no primeiro momento em que a atriz nos convida para o futuro.Certo! Ele a todos recebe.Várias “ sacadas” me fazem crer que o texto de Clarice pegou vocês, porque ele é virulento.Como epidemia, vocês passam adiante e por aí vai ( eheheheh).Pois bem,perguntei à vocês no dia da estréia e pergunto agora: como vai ser?Ninguém sai impune, depois de estar tão próximo de Lispector.Quais as conseqüências sentidas por vocês em estarem personagens, lidarem com seu texto, enfim...o que isso causou em cada um?</b><br />
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira – </b>Sim o texto da Clarice é quem nos convida ao futuro, o texto em questão, “A hora da estrela é de 1977 e ainda ecoa como algo tão visionário e infelizmente tão atual, ao tratar da pobreza da personagem, nordestina e pobre de dinheiro e de espírito. Quanto mais avançamos parece que mais mazelas assolam o País e Clarice retrata isso muito bem em sua obra, mas de maneira ousada e poética. O texto, ou melhor, a obra dela nos pegou completamente. Eu já conhecia alguns de seus livros, e ousei em propor logo de cara para um grupo que recém estava se formando criar um espetáculo baseado em sua obra. Ousei e ousaria novamente, pois eu acho que a arte e o teatro, especificamente, é feito assim, de ousadias, de riscos, não podemos antever aonde chegaremos quando propomos algo como este projeto, poderia ser outra coisa entende, mas resultou nisso por causa de diversos fatores. Lógico que não saímos impunes, nem tampouco poderia, pois a escrita de Clarice deixa marcas, e isto é maravilhoso, ver o que um texto pode transformar a vida de uma pessoa, creio que muitos espectadores também saíram diferentes do que entraram no espetáculo, e isso é muito bom, pois assim conseguimos alcançar um dos nossos objetivos, trazendo esta obra a cena, que era o de provocar assim como fomos provocados e incitar que mais pessoas pudessem conhecer as obras dela. As conseqüências, no geral, foi ver a transformação, o percurso, o entendimento dos atores e meu durante o processo, pegar o texto, adaptar, cortar, inserir outros textos, decorar e corporificar literatura em ação, dar carne e alma aqueles personagens que são papel e entender esse processo, sofrer, ter crises, se emocionar e emocionar ao outro. Lembro de ensaios em que saia completamente frustrado e arrependido de ter feito uma escolha tão difícil quanto esta, e temer que aqueles atores não dariam conta deste mundo complexo que é Lispector, mas ao mesmo tempo tinha ensaios em que me emocionava, chorava e deslumbrava o que poderia vir a se tornar todo aquele processo turbulento. Por isso penso que participar de um processo criativo tem que estar disposto a correr riscos e disposto a conhecer novos caminhos, diferentes daqueles que eu já conheço, pois somente assim, poderemos nos revelar através dos personagens. E a nossa relação com Clarice segue adiante, pois os atores continuam lendo a sua obra, adquirindo novos livros e isso é maravilhoso, eu ganhei do meu elenco no final do ano a nova biografia de Clarice escrita pelo Benjamin Moser, e que eu adorei, pois mesmo nos dedicando a outros projetos, o contato com a obra dela continua presente em nossas vidas.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>14-Notícias: voltam com o Assovio?Estão criando algum outro texto?</b><br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira – </b>Sim, o “Assovio...” fez uma nova apresentação em março dentro da programação do “Teatro para Escapar”, mostra que organizamos para comemorar o dia internacional do teatro e do nosso 1º aniversário e cumpriu nova temporada na 1ª quinzena de abril, que foi muito bacana para nós, mas agora vamos manter este espetáculo em repertório, sendo que não temos nenhuma apresentação prevista para este ano, mas quem sabe retornaremos a cartaz com ele, enfim. Mas temos outros projetos para este ano, e o 1º deles já está acontecendo, que é uma Oficina de Montagem Teatral, onde terá como resultado uma montagem de um espetáculo que será apresentado em dezembro também na Estação. Em maio faremos uma oficina de dramaturgia e que teremos que apresentar uma leitura dramática sobre um texto da Sarah Kane, provavelmente em Julho ou Agosto, e estamos em processo de montagem do nosso próximo trabalho, “O Pequeno Príncipe” dirigido a todas as idades que estreará em abril de 2012. Este trabalho foi contemplado com o Fumdesc, que é o fundo de apoio a projetos artísticos da cidade, e que ficamos muito felizes de sermos contemplados. Então trabalho não nos falta, agora e se fechar novamente em sala de trabalho e criar.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>15- Gostariam de dizer mais alguma coisa?</b><br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira – </b>Agradecer pelo espaço, pela presença e por nos auxiliar a difundir a nossa “válvula” a outras pessoas através do seu blog. Agradecer o seu olhar atento acerca do nosso trabalho e te convidar para estar sempre presente conosco. Gostaria também de divulgar o nosso blog, <a href="http://www.escapeteatro.blogspot.com/">WWW.escapeteatro.blogspot.com</a>, lá vocês podem encontrar muitas informações sobre o nosso trabalho.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>16 - Para mim foi um acréscimo ter estado com vocês. Muito do “Assovio no vento Escuro” já disse no comentário, que se encontra por aqui e no blog do grupo Válvula de Escape. Mas aqui ,falo do grupo, das pessoas e não somente da produção.Fico grata pela forma como vocês protagonizam uma diferença de postura, de condição para o artista de cada um: participante. Isso não é um texto que faz.São as pessoas!Esta marca que vocês inscrevem tão bem faz rasura sem retorno na nossa rua, na nossa vida, na nossa língua que é somente forma de falar. A cidade agradece numa postura já modificada em que subterrâneos são estações que dizem do tempo de antes de depois.</b><br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira – </b>É, percebemos também que o nosso “Assovio...” foi uma diferença mesmo no cenário cultural da cidade por vários motivos: oferecemos uma temporada contínua do mesmo espetáculo, o que não acontece na cidade; utilizamos um espaço não-convencional para apresentarmos um espetáculo; realmente é uma mudança de postura necessária e muito bem vinda, que venham novas propostas como esta, pois a cidade das artes tem que ter espaços para todas as diferentes linguagens artísticas. E o que você escreve nesta última questão é realmente poético e lindo, parabéns e obrigado. Beijos do Válvula a você também. Um grande abraço e até uma próxima.<br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Beijo com todas as letras</b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Adriana Bandeira</b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Diego Ferreira </b>é ator, professor e diretor do Grupo válvula de Escape. Graduado em Teatro pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. <a href="mailto:escapeteatro@bol.com.br">escapeteatro@bol.com.br</a> </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Adriana da Cruz</b> é atriz e colaboradora do Grupo Válvula de Escape graduada em Direito. </div>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-13431273668578434192011-04-05T07:01:00.000-07:002011-04-05T07:06:48.784-07:00O SEGREDO QUE PERPETUA A PALAVRA,É POSSÍVEL DIZER UM POEMA?- Um mergulho na letra de Cristina Macedo<m:smallfrac m:val="off"> <m:dispdef> <m:lmargin m:val="0"> <m:rmargin m:val="0"> <m:defjc m:val="centerGroup"> <m:wrapindent m:val="1440"> <m:intlim m:val="subSup"> <m:narylim m:val="undOvr"> </m:narylim></m:intlim> </m:wrapindent> </m:defjc></m:rmargin></m:lmargin></m:dispdef></m:smallfrac><br />
<div class="MsoNormal"><br />
<br />
<br />
1-O que é escrever poesia?É possível traduzir um poema?<br />
<br />
O escrever poesia, para mim, é um impulso incontrolável. Este impulso surgiu há pouco, questão de um ano atrás. Não sei te dizer bem porque, mas meus poemas, em sua grande maioria, falam de erotismo. Talvez porque, com o passar do tempo, cada vez se torna mais clara a importância do ser erótico, do expressar o desejo, do poder dizer tudo com todas as letras. O poema é traduzível, sim, embora seja, a meu ver, a tradução mais complexa que existe.<br />
<br />
2-Falando de tradução...Há sempre um mistério na palavra que<br />
circula entre o que eu desejava dizer e o dito;entre o que foi dito e<br />
o que foi ouvido.Numa tradução este segredo é colocado em questão,<br />
quero dizer, é tomado ao pé da letra, nas melhores formas, nas mais<br />
éticas de se fazer uma tradução.Poderia contar um pouco sobre tua<br />
experiência?<br />
<br />
Experiência extremamente enriquecedora a da tradução de poesia. O tradutor tem que possuir muita<br />
sensibilidade para tentar se aproximar ao máximo da intenção do texto de partida. Não se pode fugir<br />
do significado nem do significante. O conteúdo e a forma devem ser preservados ao máximo.<br />
O ritmo, a musicalidade e a respiração do poeta precisam ser passíveis de serem transportados para outra língua, a língua de chegada.<br />
<br />
3-Neste envolvimento com a letra do outro acabamos nos envolvendo<br />
com o outro. Aliás, somos estruturados enquanto...significantes.Pois<br />
bem...Estes dias tu falavas nela ( eheheheh) naquela com quem tu<br />
estivesse envolvida.Falavas na letra dela como se , de fato, a tivesse<br />
ouvido ao pé da palavra.Quem é ela?A autora dos textos que<br />
traduziste?<br />
<br />
Sylvia Plath, poeta norte-americana moderna, nascida em 1932, em Boston.<br />
Suicidou-se aos 30 anos, em Londres, quando já estava separada do poeta<br />
inglês Ted Hughes, e deixando um casal de filhos pequenos. Traduzi, juntamente com o poeta<br />
paranaense Rodrigo Garcia Lopes, aquela que é considerada sua obra fundamental: "Ariel". Sylvia Plath é considerada uma das mais importantes poetas americanas contemporâneas: em 1982, recebeu,postumamente, o prêmio Pulitzer na categoria Poesia, com o livro "The Collected Poems".<br />
<br />
4-Deste envolvimento com a letra do outro nunca saímos impunes.<br />
Não dá.O que a letra desta autora fez diferença na tua vida?<br />
<br />
A poesia da Sylvia me tocou profundamente. Fiquei extremamente envolvida com o sofrimento dessa mulher sensível, sofrida e talentosa. E foi um exemplo para mim sua força de poder escrever, num momento especialmente doloroso de sua vida, seus melhores poemas, os do livro "Ariel": Sylvia escrevia de madrugada, quando os filhos estavam dormindo. Os 40 poemas que compõem o livro, produziu em poucos meses, sendo que 25 deles, somente em outubro de 1962, poucos meses antes de se suicidar.<br />
E, muito importante, a técnica, o ritmo, a escolha das palavras, tudo para ela foi sempre<br />
fundamental: os sentimentos estavam à mercê da técnica.<br />
<br />
5-Também comentavas sobre o “ garimpo” pelos poemas da verdade,<br />
que seriam de fato da autora.Ocorre que ela, a verdade, sempre<br />
irrompe, num momento ou noutro.Esta tua busca fez-me pensar sobre o<br />
que fica, o que um estilo pode fazer surgir no outro como denúncia,<br />
como ética, como voz.O que achas deste poder da palavra?<br />
<br />
Pois é, o que comentava contigo é que a 1ª versão de "Ariel" foi feita sob a orientação de Ted<br />
Hughes, que publicou o livro na Inglaterra, em 1965, e nos Estados Unidos, um ano depois. Foi um sucesso! O que não se sabia, e que veio à tona em 2004, graças à filha dos poetas, Frieda Hughes, é que a versão de Ted para "Ariel" não era a versão que a própria Sylvia queria, e que tinha deixado pronta antes de se matar. Ted retirou 13 poemas do projeto de Sylvia, e colocou outros 13, a seu bel-prazer. Felizmente isto foi esclarecido, e publicou-se, então, "Ariel, edição restaurada" com o prefácio da filha, dando estas explicações. Este foi o "Ariel" que Rodrigo e eu traduzimos, ou seja, o "Ariel" que a Sylvia pensou.<br />
<br />
6-Acredito que a poesia, a música...sejam as falas que pertencem<br />
as pessoas, na sua diversidade.Mesmo o poema popularmente visto como<br />
“ incompreensível” não tem como ser recebido assim, visto que<br />
ali onde não compreende faz valer uma certa...condição.Falo da<br />
condição do questionamento que um poema, um texto traz, quando não<br />
se trata de entretenimento.Bem...o que achas desta qualidade<br />
subversiva da escrita?<br />
<br />
Acho que esta condição de ser subversiva é que faz a diferença, é o que nos faz questionar,<br />
aprofundar inquirições. Sempre prefiro o "incompreensível" nas artes em geral.<br />
<br />
7-Seguindo neste tom é fato que da sexualidade nunca se falou<br />
tanto!Focault na “ história da sexualidade, porém, já aponta a<br />
forma interessante com que se FALA dela: num tom confessional (<br />
ehehehehheeh). Concordo.Ele vai mais longe dizendo que se fala para<br />
não exercer uma sexualidade.Já Freud...bem, Freud nas entrelinhas<br />
acaba dizendo que a sexualidade não é passível de recalcamento.Ela<br />
vem!Fala em sublimação não como sexualidade recalcada e sim como<br />
pulsões encaminhadas, talvez ( digo talvez porque adoro repensar<br />
Freud e, quem sabe, construir sempre uma nova forma de escutar).Pois<br />
bem...o que a sexualidade tem em sintonia com a escrita?<br />
<br />
A sexualidade, ou o impulso sexual, o erotismo, o desejo, a paixão, são a própria literatura. Não consigo escrever sem estes impulsos. Minha criação traz, nos contos, o impulso de matar ou morrer; nos poemas, a sexualidade à flor da pele. Mas creio que tu poderias analisar muito melhor do que eu estes impulsos.<br />
<br />
8-No teu blog encontramos pérolas , como uma que acabei roubando<br />
para o Indecentes Palavras ( eheheheheh). Nele encontro sintonia com<br />
algumas falas do feminino, de autores mulheres e me pergunto se<br />
nós...as “ elas” estamos mais falantes sobre nossos<br />
sonhos.Explico: geralmente é atribuído à mulher um papel de<br />
queixosa.Por certo talvez tenhamos encarnado o papel de quem fala das<br />
necessidades.Porém, neste momento, escuto uma coisa<br />
diferenciada.Não se trata mais de necessidades mas de...sonhos.Falar<br />
dos sonhos num domínio público, como um blog.O que achas?<br />
<br />
Acho que é válido, mas sonhos submetidos a técnicas, a se expressar em boa literatura, para que não sejam apenas "diários". Coloco, em meu blog,<br />
muito da voz feminina em suas mais diversas acepções, assim como a voz masculina também, mas sempre privilegiando o talento no manejar a palavra.<br />
<br />
9-Sim!Pois que as mulheres sempre falaram mais, apontaram mais as<br />
coisas mas numa perspectiva de conjunto, de família, de todos.O que<br />
é individualizar-se?<br />
<br />
Creio que seja a expressão da mulher enquanto mulher indivíduo, com seus conflitos internos, com sua maneira de ver e pensar o mundo, com seus prazeres e dores, enfim, a mulher enquanto um ser por inteiro, posicionada e dona de si. Aquela mulher que pode ficar sozinha consigo mesma e sentir-se preenchida, acolhida por si.<br />
<br />
10-E a Cristina é...mãe!( eheheheheh).Acho que aí as coisas<br />
flutuam e nem são barcos(eheheheheh).O que é isso, Cris?<br />
<br />
Ser mãe? É maravilhoso demais! É a completude do ser, é a preservação da vida, um continuar que te renova e te dá forças. Faltaria muito em minha vida, se eu não tivesse sido mãe. Adoro meus filhos, adoro ser mãe, adoro a renovação que os filhos constantemente trazem.<br />
<br />
11-No livro A Arca Profana tens contos que nos capturam pela<br />
delícia mas, principalmente, pelo inusitado.Na maioria,histórias de<br />
mulheres que poderiam ser qualquer uma de nós.Tu falas de impulsos,<br />
desde matar uma garotinha que tosse até dominar o homem e<br />
matá-lo.Porém, sei pelas falas de um bom café( eheheheh) que<br />
também escreves poesias ( inclusive a Estação da Cultura desta<br />
terrinha foi presenteada com uma poesia sobre carnaval).Mas, nas más<br />
línguas deste mesmo café falavas da crueza da poesia, ou melhor,de<br />
certa forma, da riqueza dela.Pois bem...dos contos à poesia.Então?<br />
<br />
Os contos fazem parte de minha vida, há muito tempo. E, estranhamente, sempre tendem ao inusitado,realmente. As personagens, quase sempre são mulheres com um sentimento de desconforto, deinadequação ao mundo que as cerca. É como se a mulher, em meus contos, não tivesse outra saída, que não matar ou morrer. (Não acredito nisto na vida real, hahaha). E a poesia! Estou apaixonada por ela, por escrever poemas de amor, de amor erótico, de amor romântico, de amor, enfim. Há um ano só escrevo poemas. Espero que, um dia, rendam um livro.<br />
<br />
12-E os homens Cristina?Achei engraçado que eu saindo de uma<br />
separação, tu relembrando a tua e me perguntas, Por que ficamos mais<br />
tempo quando nem dá mais?...É, né?Tu também é assim? Acho que<br />
sim! ( eheheheheheheheheh).Pois é Cristina, no teu ponto de vista<br />
como está o amor, no sentido das relações entre os pares?<br />
<br />
Difícil!!! Amo amar, estar apaixonada. No entanto, conversávamos sobre o tempo que se demora para<br />
sairmos de uma relação, quando ela deixa de te oferecer crescimento, amor, quando a rotina te torna menos viva, muito acomodada. Claro que não é fácil. O fim de um relacionamento causa muita dor,sempre é uma perda. Mas, acho que temos que buscar o mais satisfatório, não desistir do sonho jamais. (Como vês, sou "um pouquinho" romântica...).<br />
<br />
13-Poderia nos falar um pouco da tua experiência como professora?<br />
<br />
Pois é, dou aulas de inglês há séculos. Gosto de trabalhar individualmente com os alunos, ou em grupos bem pequenos, para que o trabalho tenha mais qualidade.<br />
<br />
14-Cristina...qual a diferença entre mestre e professor?Qual a<br />
diferença entre estes lugares subjetivos de passar um conhecimento<br />
enquanto busca ou de apenas passar um conhecimento?<br />
<br />
Que pergunta difícil, Adriana! Mas, acho que minha opção por ser professora, passa por uma<br />
necessidade de troca com o ser humano, especialmente por meu trabalho ser bem personalizado, isto é,chego muito perto de meu aluno. Além de transmitir a ele meu conhecimento da língua inglesa, transmito experiências de vida e recebo isso em troca.<br />
<br />
15-Poderias nos contar uma experiência, em segredo ( eheheheh),<br />
inusitada, engraçada, na tua vida de escritora, esposa, mãe,<br />
namorada?<br />
<br />
O que pensei, neste momento, foi minha hesitação em mostrar a meus filhos, principalmente ao filho<br />
homem, minha produção erótica. Já falei meus poemas em vários saraus, inclusive nos meus (SARAU<br />
LITERÁRIO ZONA SUL), e eles estavam assistindo. Para minha filha, já tinha lido em casa.<br />
Meu filho ouviu os poemas sendo ditos em público. Mas pensei: afinal de contas, todos somos seres eróticos, ou não? Acho até que foi muito positivo eles vivenciarem este lado da mãe deles. E gostaram muito!<br />
<br />
16-Quais os trabalhos que podes destacar como os que são do<br />
coração?<br />
<br />
Meus? Todos! Contos na coletânea "Pontos de Partilha", contos de "Arca de Impurezas" e "Arca<br />
Profana", que mencionaste, e os poemas que tenho criado. Todos são meus filhos muito queridos também.<br />
<br />
17-Amigos...Cristina, o que são amigos?<br />
<br />
Com o passar do tempo, percebemos o papel fundamental que os amigos têm em nossa vida. Precisamos deles para vivermos melhor, para compartilharmos experiências, para chorarmos e rirmos juntos. Quero ser tua amiga, viu?<br />
<br />
18-Soubemos que recebeste um prêmio em reconhecimento ao teu<br />
trabalho. Podes nos contar um pouco sobre isso?<br />
<br />
Foi maravilhoso! Recebi, com várias outras mulheres, o diploma de "Mulheres de Destaque 2011",oferecido pela Sociedade Partenon Literário. A ideia partiu do escritor Benedito Saldanha, grande incentivador da cultura aqui em Porto Alegre. O evento aconteceu na Câmara de Vereadores e me senti muito prestigiada, motivada a continuar com meu trabalho em prol da cultura.Preciso emoldurar o diploma, para lembrar sempre deste estímulo.<br />
<br />
19-Estes dias falávamos sobre o mar.Também dizíamos desta<br />
necessidade de estar escrevendo.Tu anunciavas: vou para a praia e lá<br />
desligo.Então?<br />
<br />
O mar...coisa maravilhosa, não? Me sinto melhor perto do mar! Mergulho naquelas águas e me sinto muito viva. É um momento, para mim, de muita reflexão sobre o que fiz e estou fazendo de minha vida.Desligo dos compromissos e me ligo em projetos e na criação literária. Várias vezes, durante o ano,tenho necessidade de sentir o mar.<br />
<br />
20-Gostaria de deixar aqui no Indecentes Palavras algo “ a<br />
mais”?<br />
<br />
Quem sabe um poema?<br />
<br />
SEXO<br />
<br />
Desejo<br />
assim benfazejo<br />
que bem faz o amor<br />
sem decifrar o código<br />
Desejo<br />
que injeta a seiva<br />
na veia úmida<br />
na boca do gozo<br />
Desejo<br />
que revela minha fome<br />
no ósculo<br />
e, tosco, desvela o promíscuo.<br />
<br />
E, Adriana, te agradecer por esta entrevista e por tua inteligência.<br />
Grande beijo,<br />
Cris<br />
<br />
Nunca saímos impunes de um mergulho. Sempre somos outros na<br />
descoberta do que nos habita.A tradução em pouso, a denúncia<br />
escrita de que ainda há voz quando se tem um estilo faz da tua obra<br />
outra, a ser descoberta pelo leitor.Traduzir-se na crueza da rua, na<br />
velha casa que sempre perpetua, no final, o que há de verdade.É<br />
nisso que penso quando te ouço falar do teu trabalho, dos teus poemas<br />
e dos teus contos.Porém, quando leio penso...sabe- se lá..., senão<br />
que o registro de uma fala é só o que vale a pena.Sinto-me<br />
agradecida e honrada em compartilhar contido Indecentes Palavras.<br />
Esteja, sempre!<br />
<br />
Beijo com todas as letras.<br />
<br />
Adriana Bandeira<br />
<br />
<br />
Cristina Macedo: cris-cristinamacedo.blogspot.com</div>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-59972104270151744652011-02-24T08:15:00.000-08:002011-02-27T05:40:40.974-08:00PULSAR, SÓ SENDO PEDRA QUE HABITA DESEJO DE NÃO TER FIM- O jantar na Peña Del Sur<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-DTr7tY1vi3A/TWaNNVrtW0I/AAAAAAAAABw/xz1rRhTXIAo/s1600/PIC_0006.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" l6="true" src="http://2.bp.blogspot.com/-DTr7tY1vi3A/TWaNNVrtW0I/AAAAAAAAABw/xz1rRhTXIAo/s320/PIC_0006.JPG" width="320" /></a></div><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">1-Começo perguntando sobre o nascimento desta idéia, desta construção psíquica da Peña. Falamos em extensão da casa, tanto no aspecto subjetivo quanto no aspecto físico.Fiquei pensando que pedra é o coração.No sentido de que há de ser duro o suficiente para viver por alguém ou por alguma coisa.Há de ser forte o tanto que precise para plantar construção de mais uma...pedra fundação.Só isso faz pulsar.O que pensam destas coisas? O que é a Peña?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">A Peña surgiu do<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>desejo de oferecer um espaço onde coexistisse arte e gastronomia....</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">2-A Peña<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>foi desejada, imaginada, estudada.Percebe-se nos mínimos detalhes um cuidado com traços de humanização.Tenho para mim que,diferente do que se imagina, os objetos não servem somente para a decoração.Dizem respeito a uma história,uma marca que se hoje não reconhecemos de imediato,sabemos do que se trata.O detalhe,penso, é toda<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a verdade que só se apresenta assim.Então:o que é o JANTAR?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">O JANTAR a meu ver é o<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“clímax” da Peña. É a hora em que os comensais recebem o alimento. Sensações vão se complementando à medida que o alimento vai sendo saboreado, acredito que para alguns esse momento funciona como uma terapia, reequilibrando seu estado psíquico....</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">3-Vocês servem carne e outros...Cortes diferentes que dão o sabor.No meu trabalho os cortes é que dizem da delícia.Explico: tanto na escuta psicanalítica quanto na escrita a pontuação, a voz que diz...é que serve algo da verdade.Neste aspecto ela é só...a delícia da hora, crua como sempre é só.Os cortes são o gosto.Qual a diferença, neste aspecto entre carne e alma?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Na nossa situação especificamente penso que carne e alma se complementam, no sentido de que o boi ser vivo que fornece a matéria prima carne para o preparo do alimento na forma como preparamos acaba propiciando uma interação desses dois aspectos.. tendo em vista a transformação espiritual que provoca em alguns.....</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">4-É...então falávamos nas mulheres e alguém disse: ...vamos voltar a falar de carne! (ehehehehe). Nesta conversa deliciosa e divertida me concedo retornar ao que dizíamos. Acho que o Leandro falava algo sobre sempre ter sido sustentado, enquanto desejante, pelas mulheres. Pensei na mãe, nas mulheres da sua vida, na Mirelli que hoje está ali lado a lado. Pensei também na diferença entre carne e mulher.Já explico!Já explico!Usa-se palavras semelhantes sobre o ato sexual e o ato de alimentar-se.Fala-se em: comer.Isso não é por acaso.Mas, afinal: o que seria ter na mulher o seu sustento?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">É ter a oportunidade de amá-las todas nas suas diferentes formas possíveis.... amor pra mãe, pra irmã, pra madrasta etc,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>mas principalmente pra amante, onde o desejo de “comê-la” nos proporciona as melhores sensações de prazer.....</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">5-Agora há pouco achei um vídeo sobre o filme Um homem, uma mulher.Ela fala a ele sobre as coisas originais e maravilhosas que tem o Brasil.Ele, dirigindo, passa a imaginar vários momentos em que estariam juntos, enquanto ele aprende a cantar o samba Sarava.Hoje os homens imaginam estas coisas?As mulheres se deixam invadir assim?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Sem dúvida, tenho pra mim que sempre o maior desejo da mulher é se deixar invadir pelas boas e verdadeiras intenções dos homens....</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">6-Então a questão talvez seja o permitir-se.Vocês diziam do desejo de que aqui as pessoas...aconteçam.A dificuldade para homens e mulheres é de se dizerem, de estarem habitantes de sua verdade.Isso diz respeito a comer, deixar-se invadir, deixar falar e cantar.Já tiveram muitos convidados, pessoas de fora e daqui.Quais os momentos mais interessantes de pessoas comuns ( que nem sabem que são artista) que fizeram lugar na lembrança de vocês?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Lembro de uma noite em que um canadense que até lembrava um pouco o Neil yang se aproximou do Rodrigo Magrão e perguntou pra ele em inglês se ele sabia tocar tal música, o Magrão deu o primeiro acorde e o canadense, que na ocasião estava com mais uma turma de estrangeiros, pegou o microfone e enfilerou uma três ou quatro canções... enfim, tiveram várias ocasiões parecidas com essa....</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">7-O Leandro falava sobre o desenho que representa a Peña: os índios ao redor da caça. O sacrifício lembra o que funda a civilização humana: a lei.A mais primitiva delas diz respeito ao incesto e dela resultam as outras.A lei do pai...a que diz que a mãe não será de todos, ou a mulher não será de todos.E o Leandro falava disto ardendo no fogo, enquanto assava a carne (eheheheh).Quero dizer que comer carne é algo muito antigo.Nestas reuniões eram ofertadas as melhores, mais valiosas verdades.Os índios comiam para que o pai lhes encarnasse em sua força e amor.Acho que amor é dom que se alcança ao outro,numa perspectiva de dar o que não se tem.O que o Peña tem em comum com isto?Podes contar um pouco sobre a história disso tudo?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Na Peña é tudo muito explícito e interativo, desde o preparo dos alimentos, totalmente aparente<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>até a coexistência dos comensais, tendo em vista que temos praticamente um único ambiente... nesse aspecto imagino que fica difícil não fazer desse momento uma oferta a verdade....</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">8-Já faz algum tempo que tenho certeza que poesia faz revolução. Como não é capaz de exercer poder pelo discurso ( a verdadeira poesia faz poetar, não insere ninguém em idéia alguma), faz abrir possibilidades diferenciadas de estar no mundo.Falávamos em Silvio Rodrigues e a revolução que sua poesia acaba propondo.Qual a influência disto?Onde está Silvio Rodrigues?(eheheheh).</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Essa eu passo....</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">9-Então vermelho é mais caro ( eheheheh)... Zé conversava concordando com a cor das unhas das mulheres. Acabamos concordando que existe uma cor que diz algo. Então?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Pois sim,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>me gusta a mulher determinada e destemida, a pureza das unhas vermelhas é incomparável</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">10-Logo vocês pensam em inaugurar uma biblioteca neste espaço. Acho que escrever e costurar é quase a mesma coisa. Nunca tinha pensado em escrever e comer. Mas, pensando bem...abre-se a carne a cada vez, quando a palavra nasce sem piedade.O que uma biblioteca faz por aqui?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Fará oportunizar que possíveis interessados leitores conheçam as literaturas ali expostas, a idéia é que o cliente estando interessado possa levar o livro e conhecer as obras e seus autores...</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">11-Depois de nossa conversa fiquei pensando muito. Não costumo comer carne...para fingir que não sou carnívora(ehehehehe).Se a idéia era que da Peña as pessoas saíssem diferentes...comigo funcionou ( ehehehehehe).Mas pensei também sobre o ritual, a necessidade que o humano tem de estar inscrito em algum lugar, por lhe faltar o instinto perfeito do animal.Há alguns anos tínhamos papéis definidos, inclusive de nossos pequenos sacrifícios.Hoje há uma ausência destas referência o que acaba aumentando a angústia: o que o mundo quer de mim?Neste sentido, o mundo fica irremediavelmente terrível. Elaboro uma idéia de que no consumo excessivo de drogas esta angústia acaba dando o corpo em sacrifício...E muitas vezes nem mais isto é.Bem, mas existe na tua fala, no gesto, esta mordida que acompanha o Diego K e, de certa forma, o que causa este blog.Uma voz quebrada e reconstruída <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que faz valer uma denúncia.Tu te darias...ao quê?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Me dou ao trabalho de esforça-me para que as pessoas que chegam a Peña Del Sur, tenham a genuidade da nossa proposta enquanto um espaço de gastronomia e arte..</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">12-Então uma companhia que...”Não tenho jeito para varrer”,”acho que é machismo” (ehehehhehee).Como vocês vêem estas diferenças?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Falta de objetivo comum</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">13-Machismo é fazer valer uma mentira. A de que a mulheres não existem. Por isso a piada de que todo o machista seria um homossexual. Mas repara que Inclusive os homossexuais são um, enquanto na sua relação.Hoje por email um amigo dizia que nos dias de hoje as mulheres recebem quem bem quiserem nas suas camas.Respondi que talvez às mulheres falte o principal.Talvez a cama de uma mulher tenha que ser feita por ele, um homem.Neste aspecto perdemos.Todos!Pois bem, para vocês o que é machismo?O que é feminismo? Gostaria que respondessem os eles e elas desta Peña ( ehehehehehe).Pode ser?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Machismo a meu ver é justamente o que colocastes acima, o egoísmo das atitudes</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">14-“ Não te culpes” dizia o Zanatta ( ehehehehehe). A Peña recebe as palavras e, por isso, as pessoas.Tu falavas desta disponibilidade em receber algo .O que é isso para ti?Para quê serve?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Receber para possibilitar a troca. Ou até mesmo a renúncia....<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>serve para descobrir se se faz realmente importante </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">15-Das pessoas que recebem, dos artistas, dos trabalhos feitos em parceria, quais os que tu podes destacar?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Todos de certa forma são determinantes, todavia nos primeiros momentos creio que o Luiz Américo Alvez Aldana e seu La cañera, o Vandré da Rosa e o Luciano Rhodem, o Juliano e o Vinícius do Timbre Gaúcho, o Rodrigo Magrão, o Fernando Ribeiro, o Castelo Vargas foram de suma importância para a formação da identidade artística da Peña.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">16-Falando com um amigo ele lembrou das peñas uruguaias.Procurou no Google e viu o nome da rua.Logo que cheguei ouvi alguém dizer isso: a rua foi colocada pela idéia.O que nasce primeiro: o nome, palavra ou o corpo ?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">O corpo.....</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">17-Terias algo mais a registrar aqui?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>gratidão pela oportunidade, apareça mais vezes...</span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Saludos</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: #c00000;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Zezé Pinto</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Ficaria horas elaborando perguntas e comendo carne e me deixando invadir pelas delícias.Ficaria em respeito ao que nos cabe, como parte em sacrifício pelo que lhes causa, minha palavra também.Estaria costurando em máquinas antigas, furando os dedos, os discursos perfeitos, só para existir um que não.Restaria, passando este tecido, se<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>neste tempo ainda os ferros fossem em brasas, como a carne assando as frases, restando o corpo em oração.Agradeço a existência de vocês neste nosso lugar, nesta rua que é minha e de todos os que quiserem andar.Recebam-me sempre, por favor, neste mar.</span><br />
<span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Venham sempre, ao Indecentes palavras, me deixar respirar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Beijo com todas as letras</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Adriana Bandeira</span><br />
<span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Em tempo...lembrada por Carmen Presotto, escrevo no depois, agora, o endereço da Peña: Rua Che Guevara esquina Aloys Kerber-Bairro São João-Montenegro,RS-Brasil.</span><br />
<span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Fones: 51-36328654 ou 81919896</span><br />
<span style="font-family: Calibri; font-size: large;">email: <a href="mailto:contato@penadelsur.com.br">contato@penadelsur.com.br</a></span><br />
<span style="font-family: Calibri; font-size: large;">site: <a href="http://www.penadelsur.com.br/">http://www.penadelsur.com.br/</a></span><br />
<span style="font-family: Calibri; font-size: large;">Salutos,</span><br />
<span style="font-family: Calibri; font-size: large;"> como diz o Zz.</span></div>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-45271452070322564792011-01-24T08:51:00.000-08:002011-01-24T08:53:43.122-08:00SEREIA DE ÁGUA DOCE FAZ A MELHOR CANÇÃO-No rio Ibirapuitã, com Elvio Vargas<span style="font-family: Calibri;"></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-size: large;">SEREIA DE ÁGUA DOCE FAZ A MELHOR CANÇÃO- No rio Ibirapuitã, com Elvio Vargas.</span></div><div class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 10pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">1-<span style="font-family: 'Times New Roman';"> </span></span></span>Água doce em pedra dura tanto bate até que escreve!(eheheheh). Fiz uma analogia, uma reflexão.Penso que somos nossa cidade, nossas imagens, as que criaram palavras em nós.Isso acontece comigo, quando retorno ao cais, ao estaleiro só para ver se encontro um sentimento<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de anos atrás.Esta falta é que faz escrever...Tu vens de Alegrete, cidade cantada em verso e cor.O que, desta tua aldeia, faz verso na tua voz?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt 18pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 10pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">-Existem poetas que criaram-se nas vizinhanças de água salgada,doce, planície e montanha. Cada um carrega sua orfandade<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e força nos signos de sua linguagem...e para tanto, colecionam os ícones que irão de uma forma ou outra moldar sua poesia.Borges, quando falava de sua distante Palermo, cidade que fica perto de Buenos Aires, emocionava-se. Ao falar do Alegrete,ao falares de tua Montenegro,e assim por diante...o que fica gravado para o resto de nossas vidas são aromas e<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>lembranças<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>dos meninos que fomos.Escrevo para velar a criança solitária que fui...o moço que em mim morou, e agora sigo, escrevendo ,para me defender da solidão dos dias maduros.Perdoem-me os muito alegres e felizes com suas escrituras...minha poesia é catarse. Alegrete é a minha Ítaca, a gente sempre<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pensa que saiu de sua cidade, briga com ela, erode-se em ira e desafeto, mas<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>lá no fundo...jamais a deixamos. As almas não trocam seu domicílios, que os cambia com facilidade são os corpos e as sensações.Quando grandes amigos meus me perguntam, pois na minha geração, este ano, estaremos completando 60 anos: Élvio!!!!!!!!....qual é o motivo que recebemos tua visita poucas vezes ao ano. Respondo-lhes: terei toda a eternidade para vizinhar com vocês..............</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">2-<span style="font-family: 'Times New Roman';"> </span></span></span>Na tua home Page, sabemos muito do Elvio. Suas premiações ( muitas), o reconhecimento, as amizades...Enfim! Soube , por ali, da tua pizzaria, da proposta que se aventurava na reunião de pessoas em torno do comer e do texto.Poderias falar um pouco desta experiência?</span></span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">-Sem medo de errar e amparado por uma rara felicidade, lhes confesso: Foi um dos mais belos momentos que VIVI, enquanto empreendedor,PAI, esposo, empregador, amigo e POETA...A DA VINCI virou uma lenda (ao menos para mim e para a gurizada de então), todas as noites eram uma festa.Nas minhas mesas muitas gerações passaram, riram, fizeram seus aniversários e viveram com qualidade ímpar seus momentos de plenitude...Não era raro ver meus filhos ,e o de outros, dormirem em cadeiras que ajeitadas viravam pequenos berços...</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">Vou lhes contar uma história de miséria<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e ternura que ali fui protagonista, e o que representou para mim a grandeza do coadjuvante.Nosso movimento começava às<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>19 hs e findava as 23hs.Seguidamente um homem maltrapilho rondava o portão da pizzaria ,até que uma noite ,eu pedi ao meu amigo e garçon<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Éder( que não reside mais entre nós) que fosse saber o que ele queria. Voltou com a resposta: Ele quer um pedaço de pizza, pois está com fome. Disse-lhe que pegasse na cozinha e lhe desse.Tal doação virou dízimo...mas não me importunava. Um bela noite , ele entrou no portão, e foi até a janela onde eu ficava, e me disse: Senhor,por não ter nada para lhe presentear e por morar na beira do rio Ibirapuitã, procurei por uma pedra bonita e achei...gostaria que o Senhor aceitasse.Diamantes são lágrimas mineralizadas pelo clarão do luar...</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">3-<span style="font-family: 'Times New Roman';"> </span></span></span>De Alegrete, boas colheitas... Porém, fico pensando cá com alguns botões (ehehehe...lembrei que pediste para que eu ficasse com os meus bens fechados) como foi esta descoberta das palavra-poesia vinda de ti.Explico: terra de boas colheitas, de plantio, de gado forte e de homens que perpetuaram um imaginário ligado a isso.Quanto à lida com a palavra, talvez o touro mais bravo que exista,há um caminho percorrido.Do campo à letra, à construção disso no papel.Como foi para ti, esta trajetória? </span></span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">-A pobreza, ócio e excesso de tempo ,é um trinômio perfeito para equalizar o despertar da verdadeira vocação da arte.É só leres a biografia dos poetas, pintores e outros.Claro que depois vêm a técnica, o conhecimento e a disciplina.O bucolismo hediondo das nossas longas noites de hibernia ou os sois abrasivos dos verões da fronteira, geram solfejos que mexem com os espíritos e estes nos elegem no seu carteado<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de lúdicos silêncios...As palavras escolhem os POETAS...mas lhe cobram e o ágio representa uma vida inteira.</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">Toda a metade sul gerou, gera e para sempre vai gerar, bons, ótimos e imortais poetas. Justamente pelo trinômio acima citado.</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">4-<span style="font-family: 'Times New Roman';"> </span></span></span>Percebo teu encanto por sereias(eheheheh). Inclusive<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>falavas da tua amizade com algumas.Descreveste uma cena impressionante que me vem à memória.Tu falavas sobre a delícia de fazer amor no rio Ibirapuitã. Descrevia a sensação de volta, quase uterina, numa lua que se entregava em pequenas imagens(palavras minhas).Pediria que pudesse transcrever esta pequena parte de teu texto. Poderia falar um pouco disso? </span></span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">-Amar envolto em água doce é como voltar para a placenta...talvez aí esteja a minha metáfora onde envolve as sereias...tento exorcizar o Édipo que hospedou-se em mim...mas agora é tarde demais ....ele também envelheceu...Iemanjá nos perdoa!!!....</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">5-<span style="font-family: 'Times New Roman';"> </span></span></span>Viagens, viagens... Tenho medo de avião, lembra?Não viajo e meus planos de ir à Cuba ( e tem que ser logo antes que os vestígios da revolução morram com os novos tempos) está enroscado nisso.Disseste que não viajas muito, também.Porém...falas numa viagem interior.A viagem de cada um, no seu próprio texto.Seria a viagem de Ulisses...ou a viagem de Fausto? </span></span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">-Se eu conseguisse viajar no tempo, e marcar um encontro com Homero e Goethe, pediria-lhes a licença poética, para fundir estes dois grandes personagens num único ente ,que eu batizaria pelo nome de ULIFAUS...Do Ulisses eu roubaria sua coragem, planejamento, fidelidade aos seus marujos e a sua incansável jornada de volta para casa, mesmo abandonando as luxúrias e a sede sexual de CIRCE.Do Fausto eu ficaria com o conhecimento, a lucidez , sua alquimia, sua astúcia para atrair Mefístófoles,mas não pactuaria com ele.</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">6-<span style="font-family: 'Times New Roman';"> </span></span></span>Tenho pensado que a essência humana é fazer poesia. Penso que vez ou outra todo mundo faz.Por exemplo, lembro de algo que chamo “ texto sem palavra”, quando um sujeito pronunciou ‘ A mulher ficou lá” e mostrou as mãos.Não precisou dizer mais nada.Ele tinha as mãos marcadas, era um descascador de mato...e sabemos o que acontece com as mulheres que ficam sozinhas , dependendo dos outros homens, numa situação destas.Nisso sustento que a poesia é humana, de todos.Como tu vês este reconhecimento ou não, de algo poético num texto discursivo ou escrito de qualquer pessoa? </span></span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">-A poesia é o desdobramento do logus divino.""""O Verbo está entre nós""""""""", não é preciso haver palavras para que triunfe a poesia.Nada é mais poético que o último olhar, um adeus, o beijo, a carícia, saudade...o sexo parece...mas não é.Tudo aquilo que está no mapa do instinto não é poesia, é reflexo, é sensação recodificada pelos novos padrões da exigência. Erotismo já é poesia( ao menos para mim) pois ele no seu construto lírico ,está a serviço das vozes íntimas do corpo,e estas, movem a grande ópera dos amantes.</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">7-<span style="font-family: 'Times New Roman';"> </span></span></span>O que te causa?O que causa teu texto?</span></span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin: 0cm 0cm 10pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">-Meu texto é desolação, pungência e desejo...emito um sopro sinestésico em tudo aquilo que não tem vida, e nem nomeação, e os revivo através da lírica...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt 18pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin: 0cm 0cm 10pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">8-<span style="font-family: 'Times New Roman';"> </span></span></span>Falavas em homens que faziam as catedrais... ( eheheheheheh). Poderia nos dizer como percebes esta relação? </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">-Uma das mais<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>belas catedrais da natureza humana é o POEMA...pois ele com sua vogais e consoantes ,vai alicerçando góticos templos ,que em qualquer idioma, devidamente traduzido, cintila nas retinas e corações dos leitores, viagens para o mágico mundo das sensações.</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">9-<span style="font-family: 'Times New Roman';"> </span></span></span>Quando nos conhecemos por email, falavas nas amizades com as sereias. Em seguida enviaste uma poesia maravilhosa para Indecentes Palavras: “ Alexandria”.Logo pensei na poesia como sendo uma cidade, uma mulher.Lembrei até mesmo, de uma música de Caetano<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“ Doces Bárbaros” em que ele<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>fala de uma invasão.Poesia, Cidade,Mulher...o que estas palavras te dizem? </span></span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">-O Poema Alexandria é mitologia temperado com erotismo.</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">10-<span style="font-family: 'Times New Roman';"> </span></span></span>Qual a forma de criação de que tu mais te serve? Quero dizer...como acabas criando um texto? </span></span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">-Preciso ficar numa vigília com aquilo que escrevo...como diria o Mário Quintana:...um poema antes de ser escrito, tem que ser sonhado.</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">11-<span style="font-family: 'Times New Roman';"> </span></span></span>Começar, recomeçar... Pelas más línguas, sei que minha escrita causa uma certa ruptura.Uns adoram...outros detestam.É o retorno que acolho com carinho porque os leitores não me pertencem!Eles são de um tempo alhures de minha pobre existência. Eles são tão maiores porque lêem o meu pequeno rabisco com o seu próprio e, para mim, isso é que importa.Como te vês neste reconhecimento de teu texto? </span></span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">-Digo e muitas vezes causo estranheza: Escrevo para a ETERNIDADE...pois assim, terceirizo esta preocupação, se estou sendo aceito ou não!!!???..mas intimamente sei quando acerto...</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin: 0cm 0cm 10pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">12-<span style="font-family: 'Times New Roman';"> </span></span></span>Então ... sair de onde estamos dói. Isso dizias de minha intenção de morar em Porto Alegre e da tua experiência em<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>sair de Alegrete. As mudanças de cidade, de país...dependem da mudança de mundo (eheheheheeh). Bem... mudar subjetivamente dói muito porque é deixar um lugar fixo subjetivo criado na família, na cidade; lugar editado e reeditado por nós mesmos no afã de não sair de casa.Quando é que se sai de casa? </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt 18pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">-Nunca saímos do mesmo lugar...a saudades que sentimos ao pensarmos que estamos longe ,é de nós mesmos...das sensações...dos amigos mortos...dos pais que já se foram.</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">A medida que vamos vivendo ,e o tempo vai passando, nossa trajetória em memória e lembranças é regressiva.Bom seria se tivéssemos a vida de Benjamim Button...nasceríamos com oitenta anos e morreríamos<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>no colo da MÃE...É o tempo que comanda as lembranças, e não as lembranças que comandam o tempo.</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">13-<span style="font-family: 'Times New Roman';"> </span></span></span>Sei de teus trabalhos pela tua home Page.Entre os tantos já publicados, entre os vários prêmios recebidos, as homenagens...qual a vivência que tocou tua catedral?(ehhehehe). Quero dizer... qual a que te fez sentir-se reconhecido como o Elvio, nu como dizes que estás? </span></span></div><div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin: 0cm 0cm 10pt 36pt;"><span style="color: white; font-size: large;">-Nos últimos anos eu decifrei meu enigma: Vim para ser POETA...e tudo aquilo que recebo,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>em nome deste patrimônio humanístico,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>tenho a responsabilidade de deixar para todos antes de partir, para que leiam...ou não leiam, é meu<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>LEGADO.A opção final é dos leitores.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 10pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: white; font-size: large;">14-Elvio, ...para ti as palavras nos habitam ou somos nós que habitamos as palavras? </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: white; font-size: large;">-As palavras nos habitam...guiam...e sabem a hora certa para a germinação em nossas páginas.</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin: 0cm 0cm 10pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 18pt;"><span style="color: white; font-size: large;">15-Já te disse que a escrita e as formas de arte, para mim, humanizam.Também já comentei que não acho isso um UAU!, simplesmente porque não acredito que sejamos a melhor das espécies só porque infestamos o planeta de gente ( ehehehehe). Porém, a arte é o que temos de melhor, para que não haja tanto espaço para o que temos de pior: nossa agressividade e violência. A literatura humaniza. Neste sentido, o que são para ti, espaços de humanização?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 18pt;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quando bem trabalhada a arte humaniza.Naturalmente que a literatura está inserida nela!!!...</span></span></div><div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin: 0cm 0cm 10pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 18pt;"><span style="color: white; font-size: large;">16-Quais os trabalhos que te deram gosto ( estalo na língua) em participar?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 18pt;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eu só escrevo quando o tema me interessa...mesmo se<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>for encomendado.Tenho que ser atraído...seduzido...senão é tragédia pura...</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 18pt;"><span style="color: white; font-size: large;">17-Gostaria de dizer mais alguma coisa?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 18pt;"><span style="color: white; font-size: large;">Foi um prazer conhecê-la e te agradeço pelo espaço e pela paciência, até chegarmos as </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 18pt;"><span style="color: white; font-size: large;">partituras certas deste allegro, com o melódico vagar dos adágios. Como dizes: Beijo grande e fraterno- Élvio Vargas</span></div><div class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 10pt 36pt;"><span style="font-size: large;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-size: large;">Não sei quais os ventos que fizeram este encontro.Talvez um <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que se pôs a dizer versos sobre sereias e marujos, sobre águas salgadas e doces, sobre esta pele que nos enlaça; água morna feita de lua...que faz flutuar uma doce canção na carne dura.Ouça, Elvio...estão nos chamando e somos a voz em<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ninar neste rio de antes.Da mesma falta, somos amantes.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-size: large;">Beijo com todas as letras</span></div>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-38668885725383486362011-01-17T14:58:00.000-08:002011-01-17T14:58:03.307-08:00FALANDO SÉRIO COM DIEGO KA.- Reprise porque sumiu do blog de forma indecente.Apertei o botão para letras maiúsculas e...não sei para onde foi.<span style="font-family: Calibri;"></span> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">1-Qual a tua primeira lembrança deste interesse pelas artes visuais?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">5 ou 6 anos, no "jardim de infância". Em uma semana, fiz o mesmo desenho todos os dias: uma casa e um pássaro com uma flor no bico. O primeiro desenho começava com o pássaro à esquerda da página. Nos desenhos seguintes, ele foi "voando pela folha" até chegar à direita. Acredito ter sido minha primeira noção de animação.</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>2-Comentava contigo a respeito de autoria. Percebe-se que tu és um homem “ mordido” pelo teu trabalho.Quero dizer que o que fazes está estranhado em ti, que o que produzes tem autoria, tem a tua marca.Pois bem...Concordas comigo?Como percebes a tua autoria naquilo que compõe um trabalho?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">Sim. O que eu faço geralmente envereda pelo fantasioso, pelo lúdico. Talvez seja um protesto à sermos "só isso que somos". Ou vestígios da pureza da infância que resistem ao tempo. Ainda não cheguei a uma conclusão se os trabalhos que faço são prisão ou liberdade. Prisão porque sem os trabalhos não sei se teria um "eu". Existe um Diego que não está associado ao eu trabalho? Consigo acordar amanhã e dizer: "Hoje vou largar tudo e virar agricultor"? Liberdade porque cada trabalho novo vem com uma pergunta que desfaz as respostas prontas até então.</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">3-Por que Diego Ka?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">Na condição de homem mordido, mordi meu sobrenome =D</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">4-A primeira vez que tive contato com tuas idéias foi na criação da capa do Chá das Cinco.Percebi que me perguntaste sobre algumas coisas, sobre algo do texto, algumas palavras chaves e, de pronto, compuseste a belíssima capa do livro.Pois é...o que move teu trabalho de criação?As cores, as palavras, percepções?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;">Penso que todo trabalho criativo verdadeiro é espontâneo. Até tenho dúvidas se o artista é realmente dono do seu trabalho, visto que sua imaginação entrega o caminho pronto. Michelângelo exemplificou bem: "</span></i><span style="color: #4f81bd; mso-bidi-font-style: italic; mso-themecolor: accent1;">A figura já está na pedra, trata-se de arrancá-la para fora</span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;">". Procuro manter a imaginação bem nutrida: ao invés de olhar reto e objetivo pras coisas, me perco nas percepções periféricas. Depois, as perguntas e palavras-chaves <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>apontam a direção, e a imaginação dá a resposta. Nesse cenário, sou apenas a ferramenta.</span></i></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">5-Quais as coisas mais importantes para ti?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">Não vivi o suficiente pra definir o que é realmente importante, ou descobrir, ou me conformar. A importância das coisas é volátil e efêmera. Um grande amor pode tornar-se uma pálida lembrança. Uma profissão pode resultar na confissão de que não faz mais sentido. De todas as coisas, perguntar e ter dúvidas parece a mais importante no momento. Verdades e caminhos prontos hermeticamente fechados em palavras e entidades absolutas aborrecem e emburrecem. Atualmente considero importante a transformação, valorizo e prezo a transformação. E quando encontro respostas pras coisas, me pergunto se não estou ficando ignorante.</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>6-Quais as principais dificuldades de Diego Ka?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">Algumas vezes, carecer da técnica necessária para realizar determinado trabalho que foi imaginado.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ter o domínio da técnica para concretizar a imaginação com esmero é um ato de respeito a si mesmo.</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">7-Num texto teu que eu li, escreves sobre as diferenças. Fala em cores, em pensamentos, neste abismo que é próprio ao ser humano: o que sinto,vejo ou falo não determina como o outro vê, escuta ou fala.Pois é...percebe-se uma certa ética a respeito do cuidado com o outro. Como lidas com isto já que trabalhas com imagens e criação e sempre estas coisas estarão alheias ao que, de fato, imaginamos?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">Não faço coisas pensando no que os outros irão pensar, porque não sou "os outros". Não tenho a carga de memórias e emoções deles pra ficar delimitando "isso é bom"<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e "isso não é bom". Tenho apenas a minha carga de memórias e emoções. Embora o trabalho de criação seja egoísta, a percepção é coletiva. O que procuro é respeitar e atender ou superar a expectativa coletiva no tocante satisfação, geralmente com temáticas benignas, emotivas, belas. O meu norte vem de símbolos universais (um sorriso é um sorriso e uma coisa boa em qualquer lugar do planeta) e percepções de massa (você pode realmente odiar rap e amar Beethoven, embora outras pessoas adorem rap; mas um rapper pode dizer com sinceridade "Beethoven é a pior coisa que já escutei, isso fere meus ouvidos"?)</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">8-Quais os trabalhos teus ou em parceria que poderias citar ?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">Sempre gostei muito dos trabalhos de computação gráfica, como as aberturas de programas produzidas para a TV Cultura de Montenegro desde sua inauguração, e a TV Mais de Novo Hamburgo. Algumas ilustrações renderam um espacinho na memória, como uma campanha pra Gasoline (marca de roupa) e outra pra Souza Cruz, com pinturas a óleo de animais. Na produção de vídeo, um que teve um resultado bem satisfatório foi o 2º Caderno Pedagógico, para a Fundarte. Algumas capas de livro também foram divertidas de fazer, como a tua (Chá das 5), do Carlos Leser (In Extremis) e do Pedro Stiehl (Rapsódia em Berlin). Nem sei se eu posso falar isso, mas a mão que aparece na capa do livro do Stiehl é do Mister, que freqüentava o Café Comercial.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eu falei pro Ângelo (Daudt, fotógrafo): "Cara, preciso duma mão, LITERALMENTE" heheh e ele me veio com essa. </span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">9-Quer deixar registrada alguma coisa mais?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">Virou Cartório agora pra ficar registrando coisas? hehehe</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">Agradeço muitíssimo tua entrevista. É de fato um prazer teres aceito ser meu convidado. Andiamo,Diego.Andiamo!</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">Beijo com todas as letras</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-17393160092485409892011-01-17T12:38:00.000-08:002011-01-17T21:26:41.985-08:00UM MOÇO QUE SABE O QUE EU SEI - A voz-olhar de Daniel Gehlen<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">1-Bem...intitulei esta entrevista como Um moço que “ sabe o que eu sei”.Na verdade faço referência a música de Lupicínio Rodrigues “Estes Moços”.Já explico...A primeira vez que te vi, estavas sentado num dos bancos da Estação da Cultura.De repente, te vi.Tive a nítida impressão que esperava o trem, mas nós sabemos que não há mais trens por ali (ehehehehe).Quero dizer que tive a certeza de que tu irias embora e que cantavas com uma voz de muitos anos atrás.E veja bem...estavas mudo, só olhando, esperando...Tinha o violão descansado na parede, só.É como se soubesse o mesmo que Lupi. Pois bem...Concordas comigo?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Sim, lembro que era durante um intervalo entre o primeiro e o segundo bloco da apresentação que fiz no café da estação de Montenegro nesse encontro.</span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">2-Para além da voz, que é belíssima, carregas um traço na enunciação que registra uma vivência, uma história com a música.Lembras de quando começou<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>teu envolvimento com esta mulher ( eheheheh), a música?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Comecei a ter aula de violão clássico aos dez anos de idade na Fundarte. Lá aprendi muito sobre violão com meu grande mestre e amigo Daltro Kenan Junior.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas antes de iniciar meus estudos na Fundarte, convivia com o ambiente musical em casa, pois meu pai que é músico me influenciou desde quando eu era criança. </span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">3-A nota musical não é passível de ser apreendida. Neste aspecto tem a mesma estrutura da letra: sem a próxima não se diz, não se revela.Porém, na música, a nota tem uma propriedade que é o tempo da nota, sem pensar no tempo que faz a melodia.Este tempo da nota é uma enunciação sem significado, sem ter como nomear.Este intervalo, este vazio , consegues sentir?Como expressa isto nas tuas interpretações?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Acho que cada nota traz em si o que a música por inteira quer expressar no momento oportuno. Sinto o som no corpo, na mente e na natureza. As melodias são diferentes de uma cultura para outra, assim como, de um tempo para outro, pois expressam os nossos sentimentos e nossas vivências em diferentes circunstâncias. É assim que expresso a nota,a melodia, o tempo e o ritmo. Não sei se é bem assim que me perguntastes...(hehehe) <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">4-É comum pensarmos no intérprete como aquele que deve dançar,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>movimentar-se, para atrair os olhares, a atenção. Percebo, nas tuas interpretações , que fazes isto num movimento de voz e olhar...respiração,mesmo!É que o olhar faz casa, chega e não vai mais embora!Comparo teu jeito com o do Caetano e Chico Buarque, em que sentados, em pé, parados, atraem a atenção simplesmente pelo encanto do encontro. O que pensas destas exigências a respeito de atrair a atenção do público?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Acho que estas falando de desempenho no palco? Realmente, eu fico mais na minha. Mas já pensei um pouco sobre isso e acho que vai de cada interprete mesmo. Ora me sinto mais a vontade para me movimentar com a música que estou interpretando, ora me concentro mais na respiração e no desempenho ao violão. </span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">5-Não são raras as vezes que o artista é contratado para entreter muito mais do que fazer valer a música, voz de cada um. Esta diferenciação entre entretenimento e encontro...o que achas disto?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Isso depende do tipo trabalho como aniversário, evento de final de ano, jantar,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>formatura, casamento . Acho que o músico pode tentar entreter as pessoas sem que isso interfira no seu jeito natural de agir. Eu tento agradar as pessoas, mas sem que isso interfira no meu gosto e na minha criatividade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Contudo, é uma questão a ser trabalhada pelo artista, pois envolve algumas habilidades como saber jogar e negociar com o público. Tem artistas que não se interessam em agradar e interagir com o público, outros fazem disso parte fundamental de seus shows. </span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">6-Então...O Daniel estava na Estação, pegou o trem e...?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Parei <personname productid="em Porto Alegre" w:st="on">em Porto Alegre</personname> para fazer faculdade de música e conhecer mais sobre o universo musical.</span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">7-Todo artista passa pelo inferno ( eheheheheh). Quero dizer sobre aquele momento em que parece fora do mundo, que está fazendo nada, que é uma bobagem seguir esta estrada esquisita(ehehehe)...Foi assim?Poderia contar um pouco da tua trajetória?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Algumas vezes pensei nisso. Quando me sento um pouco sem graça abro uma revista de música e leio histórias de outros músicos que passaram por momentos de estranheza com o mundo. Tento me inspirar de alguma forma nos grandes músicos do passado. Daí vejo que o caminho musical é de persistência e de coragem mesmo. Por isso que muitos desistem no meio do caminho sem pegar aquele trem (hehehe).</span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">8-Quais os trabalhos que te deram e dão maior vontade de fazer?Quais os que te impulsionaram a seguir?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Quando estava estudando na Fundarte, participava da orquestra jovem regida pela professora Adriana Bozzeto. Esse tipo de trabalho me chama muito a atenção, pois penso em ter um grupo com violinos, piano, flautas que possam estar tocando músicas minhas. Gosto muito de pensar nos arranjos das músicas e criar música, por isso acho que esse tipo de trabalho me impulsiona a seguir estudando para desenvolver mais as habilidades no âmbito da composição e de arranjo musical.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Contudo, sigo sempre com meu trabalho solo que é outra fonte de inspiração que me impulsiona a continuar atuando como violonista e cantor. </span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">9-O que é ser artista da música para ti?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Calibri;">É procurar sempre pela música. Esteja onde estiver, a relação do músico com a música está sempre no plano do possível, do real e do irreal. É procurar sempre conhecer mais sobre música, descobrir mais e se entregar totalmente a ela. Mas sem dúvida, tentar ter uma relação saudável pela música.</span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">10-Todo mundo tem seus amigos, ídolos, pessoas ou aspectos que dão referência. Com quem ou com o que gostaria de contar sempre neste caminho que inicias?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Acho que com meu pai, meus professores de música e amigos que me ajudam a entender mais sobre essa arte.</span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">11-Nestas vivências como “ encantador” é comum um certo “ despertar de paixões”, geralmente nas mulheres.Como lidas com isto?Tens algo interessante para compartilhar conosco?Quero dizer...indecentes palavras ?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Eu tento agradar as pessoas com a minha música, mas tenho um tanto de timidez. Mas confesso que fico contente em saber que sentes esse encanto de que falas. Não sei bem como lidar com isso, espero aprender mais sobre isso (hehehe).</span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">12-Quais as coisas mais importantes para ti neste momento?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Calibri;">As pessoas queridas e amigas que fazem parte da minha história, a minha família de um modo geral e claro a música.</span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">13-Porto alegre é...?Montenegro é...?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Porto Alegre é demais. Montenegro é minha querida cidade natal das artes.</span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">14-Querias registrar mais alguma coisa?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Adriana, gostaria agradecer pelo convite para registrar um pouco da minha história nessa entrevista! Vou ensaiando “Estes Moços” para um momento oportuno te apresentar. Beijos!</span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">Agradeço muitíssimo ter sido meu convidado. Agradeço e abuso, pedindo que no nosso próximo encontro possas tocar “Estes Moços” de Lupicínio ( eheheheh).Promete?...E mais uma lista de canções na tua voz, que é toda olhar que despe.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">Beijo com todas as letras.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">Adriana Bandeira</span></div>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-45258591824207687052011-01-12T10:57:00.000-08:002011-01-12T10:57:04.870-08:00A REVOLUÇÃO EM LÍNGUA MATERNA- Quem é A Negra Ama Jesus?<span style="font-family: Calibri;"></span> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">1-Esta entrevista não deixa de ser uma aventura!Pelo tanto que conheço e desconheço vocês. Explico: imagino muitas coisas a respeito do trabalho,chego a brincar com algumas representações que tomo emprestado, girando um faz de contas universal.Esta é a palavra:Universal.Também desconheço a trajetória, o projeto em si desta construção coletiva.O que é este projeto?</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Marcus </i>- O arco onírico inventa-nos. Temos 15 anos de casados e cinco filhos criados em nossa trajetória. A Negra Ama inventa-nos. Quem é esta mãe? O amor em forma de arte. Nossa harmonia, em meio aos espinhos que o destino nos crava, tem sido produzida enquanto nos colocamos no colo desta grande mãe. A dionisíaca ambição do ritual artístico procura louvar uma brasileira jornada, de alegria e encantamento.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">2-Conheci o trabalho de vocês pelo Orkut. O que me chamou foi, mais do que tudo, “ A Negra...Assinalo esta questão lembrando que A negra é universal.Mãe e Jesus nem tanto.Quero dizer que mãe, geralmente, está determinada, colocada numa perspectiva de cuidados e de santidade.Jesus, da mesma forma.Porém...A Negra, somos todas nós,as mulheres, as possíveis mães, as putas, as moças, as esposas, as amantes,as...Enfim!É numa potência de construção.O que acham disto?</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sílvia -</i> A Negra Ama Jesus é uma energia movida pela bênção de uma mãe benta, o que guarda a força, o embate entre o masculino e o feminino. A ideia é o sincrético, o espaço de todos, o encontro entre o profano e o divino. A ordem é o mito do novo amor criado a partir do feminino. O acolhimento, o porto, a casa. A oração em línguas diferentes, o espaço pra a crença sem o dogma imposto pelas religiões. A construção de novos olhares sobre as relações. Escrevo em um poema: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Protege o meu andar/Ó santa virgem./Envolve com seu manto/Todas as putas mães/Resignadas ao calvário./Pinga sobre o meu olho/O óleo perfumado de lótus,/Ó amantíssima mãe das cadelas.</i>” A negra construída no imaginário feminino é a raiz do Brasil e seus encantos.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">3-“Revolução em língua brasileira”... É isso o que diz um de seus poemas. É surpreendente pois de fato a revolução só pode vir nesta língua, nesta forma de falar que vem de berço, forma de agrupar as palavras e as verdades, numa transmissão de amor.Esta relação com a língua lembra o que antecede e funda o que ainda vem.Como A Negra trabalha com este tempo, com<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>as tradições, com as invenções?</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Marcus -</i> O poema fala: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Enamorar-se por uma dionisíaca intenção./ Amar a cor negra./Rezar pela moça indígena./ Lágrima por uma revolução em língua brasileira./Lógica tropical ritualizando a verdade em cruz e violência”.</i> A forma do português falado no Brasil é doce, como diz Gilberto Freyre, por obra da ama negra de leite. O seio da ama de leite adoça a boca de menino. Freyre relata que há uma espécie de amolecimento no falar brasileiro da língua portuguesa perpetrado pela negra ama: “A ama negra fez muitas vezes com as palavras o mesmo que com a comida: machucou-as, tirou-lhes as espinhas, os ossos, as durezas, só deixando para a boca do menino branco as sílabas moles. Daí esse português de menino que no norte do Brasil, principalmente, é uma das falas mais doces deste mundo”. A civilização brasileira já está ocupando o espaço do novo modo de produzir a transformação. A posse recente de uma mulher presidente depois de o país ter sido governado por um retirante nordestino, ex-operário, já revela uma forma pacífica de revolução.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">4-Por muitas razões percebo que vocês dão espaço privilegiado ao que podemos chamar de imaginário feminino. Por exemplo: “boneca de pano é leitura em língua ovariana”. Existe uma espécie de pontuação, de articulação com as peculiaridades de formas do existir. Independente de ser homem ou mulher, o feminino e o masculino falando, compondo,dizendo-se nas suas diferenças.Ovários,Dona Deusa,Jesus,Diabo Velho...todos abrindo espaço para a vida.Poderiam falar um pouco disto?</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sílvia -</i> Quando ouvi o Marcus falando em lírica ovariana fiquei fascinada. A linguagem feminina em composição masculina. Assim partimos para uma aventura artística ao mesmo tempo em que reconstruíamos nosso casamento. Fizemos isto, costuramos, remendamos e bordamos a nossa relação. Com todo esse universo em nossa casa, ancorada por Dona Deusa (que vive em mim), começamos a pensar em um projeto criado a partir de nossas percepções mais profundas. Algo assim, místico e grandioso.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">5-Mas...Coralina?(ehehehe).O que é Coralina encarnada a mãe Universal, para vocês?</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Marcus -</i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A poesia de Cora Coralina acende o rito de adorar a mãe. Nossa poesia, junto com as imagens que produzimos, pretende dar continuidade a este rito. Um poema de Cora acorda a memória arquetípica da mãe, que enfeita de ouro o lixo: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Beco da minha terra.../Amo tua paisagem triste, ausente e suja./Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa./Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio./E a réstia de sol que ao meio-dia desce, fugidia,/E semeia polmes dourados no teu lixo pobre,/Calçando de ouro a sandália velha,/Jogada no teu monturo.” </i>A arte é nossa réstia de sol.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">6-Particularmente sempre pensei que costurar e escrever fossem quase a mesma coisa: num tecido sem fim recorta-se sonhos, costura-se para que possam ser usados.Brinco que as palavras são as melhores roupas e que as cores...Ah! As cores escolhemos, inventamos. Quando percebi que vocês trabalham com tecidos, de fato, encantei-me. Qual a diferença entre roupa e palavra?</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sílvia -</i> A roupa torna-se a palavra vestida, recebida de uma conspiração entre poesia, indivíduo (que veste a roupa) e arquétipos criados no espaço d’A Negra. A sociabilidade da palavra na ótica d’A Negra enquanto projeto de arte e proposta estética. As cores do Brasil. A criação do imaginário através dos arquétipos. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">7-Por vezes acho o ritmo da escrita de A Negra ama Jesus parecido com o dos que caminha em grande jornada. É rápido e lento, é pausado e forte... para chegar lá.O que é a escrita enquanto ritmo?Onde desejam chegar?</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Marcus -</i> A Negra Ama Jesus quer imitar o tempo mítico do terno gozo que o estelar medo infunde no ser humano, ou seja, ressuscitar na poesia. A pátria origina-se deste medo da sua própria morte.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">8-A arte e a ...cidade ( ehehehehe). Nasceu da cidade a arte ou da arte a cidade? Pois é, pois é...Como A Negra ama Jesus pensa esta relação ?</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Marcus -</i> A cidade artisticamente se faz. A dor erige um amoroso e lento processo de civilização. A arte alivia esta dor.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">9-Causar indignação e esperança, causar uma revolução em língua brasileira, causar movimentos como <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“Abrir a Ferro e Sal”...”Com olhares de Dona Deusa”...Sei que Silvia Goulart e Marcus Minuzzi são os idealizadores deste projeto.O que causou este envolvimento, este desejo ?O que os move neste sentido?</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sílvia -</i> A nossa união. O casamento. Depois de uma crise muito grande no casamento, buscamos a reconstrução. Um processo difícil e demorado. Nos reencontramos querendo criar este vínculo divino através da arte. Portanto, a cura. Se você observar, as poesias estão repletas deste tema. “Bordamos, espetamos, despertamos a dor, para depois a curar.” É o trecho de um poema meu. “Cortar a ferro e a sal” é quase um feitiço, uma força feminina em busca do seu amor. Além de tudo, o amor pelo Brasil. Todos os elementos e símbolos brasileiros estão presentes. A “revolução em língua brasileira” é a proposta do novo espaço forjado pela ótica feminina.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">10-O bem<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e o mal...é o que aparece em muitas composições.Bordar, espetar, curar. A relação da cura com a doença; o pathos ( paixão) do<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>humano que traz dor mas também toda a delícia de criar e amar.O que seria “ cura”, neste sentido?</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sílvia -</i> Acho que acabei respondendo acima. Em toda a relação homem/mulher, abrem-se feridas, isto é inevitável. As mágoas, as rusgas, enfim, tudo que nos coloca adversários. É uma guerra. Por isso, transformamos esse guerrear num guerrear divino. Guerreamos brincando com a arte. Escrevendo, pintando. Fazendo de nossa casa um templo. Resolvemos nossas dores e diferenças neste espaço. Se você assistir a um de nossos vídeos vai aparecer no final: produzido no espaço mitológico do guerrear divino entre Dona Deusa (Sílvia) e o Boi Arteiro (Marcus). Isto é a cura – a arte. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">11-Pelo tanto que conheço (que ainda é pouco) e desejo conhecer o trabalho de vocês, diria que é de fundação, de alicerce, de transmissão de algo. Neste sentido, passar adiante o faltante, o que convoca a cirandar,costurar,escrever,pintar.O que é este espaço<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>enquanto lugar físico?</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">12-E enquanto lugar simbólico, nesta terra, neste tempo?</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Marcus -</i> A ciranda ordena a lembrança da forma circular. O ouro que descobrimos artisticamente harmoniza o anseio por amor infinito como a violência e a pobreza da vida cotidiana. Girar é tornar a pobreza um espaço olímpico, ou seja, divino. A representação do ouro artístico brasileiro está na cultura popular, especialmente no carnaval. O mito brasileiro tira da espacialidade tropical uma alegria que torna seu tempo molemente aquoso.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">13 - Vocês são gaúchos e do mundo. Como chegaram neste espaço e tempo?</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Marcus -</i> Sair do Rio grande do Sul nos trouxe para o coração do Brasil. A aventura da exploração de um sertão moderno nos torna a cada dia mais brasileiros.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">14-Gostariam de dizer mais alguma coisa?</span></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sílvia -</i> Gostaria de dizer da alegria imensa de poder falar d’A Negra. Perguntas tão precisas, que refletem o quanto a entrevistadora captou bem a essência do projeto. Este projeto é de todos. Começa aqui em nossa casa. Mas esperamos criar pernas, braços, vozes, para que possamos reinventar relações. Estamos gestando algo que muitas vezes causa estranhamento, dúvidas, as pessoas não entendem. O nome é inusitado, mas chama para o Brasil. Para a mãe de leite, a negra ama. Para o carma crístico, a fé em <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Jesus, a religiosidade. Já rezamos o rosário incessantemente para prosseguirmos nossa vida a dois, já o fizemos, sim. Estamos andando e crescendo, temos certeza de que é uma missão.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: white; font-family: Calibri;">Agora, terminando por aqui, lembrei de uma inscrição de sonho muito particular.Sempre achei que eu era filha de Pequena, minha mãezinha que tinha a pele escura.Ainda lembro do susto quando me disseram que não.Oras! As pessoas dizem tantas coisas!Quem sabe direito sobre filiação! Pequena...mãezinha para sempre,do coração!Pois é...A Negra Ama Jesus , mãe universal ,possivelmente adota a todos que tem palavra de vestir.Além de agradecer a entrevista prometo à mim conhecê-los, aí no Cerrado, para encontrar comigo mesma, meu Diabo Velho e anoitecer com Coralina a desenhar a janela.Fico feliz e grata pelo nosso encontro , por compartilharem conosco esta obra magnífica de humanidade e amor.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: white; font-family: Calibri;">Beijo com todas as letras</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: white; font-family: Calibri;">Adriana Bandeira</span></div>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-49742739790268697392011-01-05T05:58:00.000-08:002011-01-05T06:14:01.223-08:00LETRA DE PELE,FEMININOS OSSOS QUE FAZEM CANÇÃO -Entre duas: palavra e palavra,Carmen Silvia Presotto<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;"><span style="color: windowtext;"></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">1-Devemos ao Luis Seguilla nosso encontro. Melhor! Devemos à fome de Luis estarmos hoje, conversando (ehehehehh). Para além de, quem sabe, termos que oferecer a ele um jantar sempre que venha, em pagamento pela dívida, gostaria de saber de teu envolvimento com a poesia portuguesa que é riquíssima.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Adriana que bom esta fome de encontros, de conVersar, de compartilhar e devemos sim a Luís Serguilha um jantar de encontros, porque desde aquele dia do encerramento da festipoa, onde ele era um dos convidados,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>não desgrudamos mais de estar juntas em palavras e poesia. Ah, e convidemos o Fernando, já que é dele o grande trabalho deste encontro (rs!)</span></div><h3 style="margin: auto 0cm; text-align: justify;"><span style="color: white;"><span style="font-size: 14pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 13.5pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Bem, a Poesia Portuguesa, chegou até a mim através de Pessoa, como deve acontecer com muitos. Na Faculdade de Letras lemos Camões, mas quem mais me fez vibrar e ir atrás dos recantos lusitanos foi Amália Rodrigues, muito antes, quando menina ao escutar os fados, ao escutar sua voz sentia um encantamento intenso.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Vieram também outras canções, Tanto Mar de Chico Buarque nos sinalizando setas daquela mundo e depois veio o mar de </span><span style="font-size: 14pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade e meu amor aumentou... vieram os contemporâneos, veio HerbertoHelder, Serguilha, veio Domingos da Mota, Sylvia Beirute e António Amaral Tavares e sabemos que ainda virão tantos outros</span><span style="font-size: 14pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">.</span><span style="font-size: 14pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="font-size: 14pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 13.5pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;"></span></span></h3><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">2-Raramente saio de casa. Já fui apelidada de tatu bola, por uma amiga. No lançamento do livro “ O melhor da festa”, na festipoa, fui. Adorei!Meu habitat natural!Pois bem...a primeira poesia tua que ouvi foi: o Luis está com fome.Vocês não querem comer alguma coisa?Quero dizer que o que me chamou a atenção foi qualquer coisa do pó e do pão. Algo como o universal em qualquer língua, como o reconhecimento de que podemos sair e buscar o pouco que se faz necessário. Na verdade não há exageros se pensarmos que não nos conhecíamos e que Luís era um convidado na festa, sem muitos conhecidos também.Pois bem...entre os desconhecidos: a fome!(ehehehe). Carmen...do que tens fome?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;"></span><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;"></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Tenho fome de gente Adriana, é banal mas tenho. Sou uma sedenta por trocar vivência, por aprender, por escutar histórias e causos. Quando descubro uma nova palavra vibro que nem criança e as palavras chegam com pessoas, com conversas, com leituras, não é mesmo?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Sofro de um canabalismo literário... Às vezes sou uma criança grande, e nesses momentos necessito de outros, porque vivemos um tempo em que nos relacionamos muito, conversamos muito em tempo real, em trocas de e-mails, em troca de poemas, temos milhões de amigos, temos milhões de escritos, mas a cada tanto preciso de um reconhecimento olho a olho, humano por demais, que me leiam de fato, que revise meus poros, que me espante as horas mormacentas. Tenho fome de sentar para conVersar e fazer girar a linguagem que é a nossa maior riqueza, porque fui criada assim numa roda de diálogos, de bate-papo, de giros amigos. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">-“Tomazzini, isto há de ser uma aventura”!Lembra? Luis falando por nós à nossa amiga. Há algo a<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ser dito, neste sentido, porque fui xingada pelos filhos, quando voltei as três da manhã (eheheheh). Conversamos sobre poesia,casais,separações,encontros.Falavas de teu amor pela escrita, pelos amigos e, de certa forma, pelo momento, instante.O tempo fazendo poeira (eheheh). Há quanto tempo escreves? Como descobriste teu desejo em relação as letras?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Sim, o tempo fazendo poeira e nós perfilando os vôos...Te leio e me dou conta<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de como é difícil abandonarmos a culpa milenar de estarmos feito outras, lá, amando o momento, xingadas por poemar, conversar... é difícil, para alguns, compreenderem que somos muitas em um só corpo. Os filhos, a família nos querem sempre inteiras e de preferência em tempo integral, mas isso é bom, porque nos dividimos de fato no papel para escrevermos <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e aí escrevemos aos dias:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>cartas, diários, bilhetes, mails, mais tardes poemas, depois crônicas,e poemas,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>novelas e poemas e se vivermos a tempo escreveremos romances e sempre poemas... um fado isso, não?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Meu desejo em relação as letras começou com 13 anos, num poema em homenagem ao aniversário<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de minha cidade Sarandi. Ganhei o concurso e nunca mais parei de escrever, penso que nesse desejo esteja o desejo de ser amada, de existir para sempre e então, penso que estar no jornal da cidade, sendo lida me fez perceber que no escrito está a imortalidade. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;"><span style="color: white;">Na minha opinião, o maior sonho de todo escritor é morrer no papel pelo simples fato de saber que um dia vai morrer de fato, narcisismo primário... Então, por sentir fortemente o vazio, a dor da partida, vamos simbolizando e treinando o momento derradeiro em vírgulas, em travessões, em dois pontos, em ponto e vírgula, em ponto<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e eu, em reticências meus vício retrô... (assim posso morrer três vezes, hehehe)<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">4-Quando entrei em vidráguas para dar uma olhadinha... Não saí mais.Há uma denúncia do profano, do escondido.Diz-se isto, geralmente, do feminino mas...O que pensas de Ferreira Goulart?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Hehehe, que bom que percebes isso lá <personname productid="em Vidráguas. Realmente" w:st="on">em Vidráguas. Realmente</personname> o escondido fascina, penso que <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>isto esteja na poesia, um lugar onde profanamos a morte, a vida, o desejo, o amor, mas nunca um poema, já que nos deslocamos entre metáforas sempre e sempre que nos chega um poema é uma alegria, lemos com maior carinho cada versos, cada momento. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">O feminino de que falas penso ser uma compensação da criação, pois vemos o ato de criar como uma posição feminina da linguagem, não um gênero do corpo. É ruim quando colocam a carne onde não deve, mas sabemos que as palavras não deveriam pesar, apesar de pesar a alguns<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>muito. No entanto, para nós palavras são carne, comestíveis e por isso tenho fome de conVersar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Gullar é nosso maior poeta vivo, está aí para comprovar a importância do escrever, do poemar, do repensar e de existirmos com ele além do Poema Sujo, uma obra de Arte. Gullar é onde nada é mais</span><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">5-Vidráguas é um convite. Ali<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>estão reunidos poemas, textos, reflexões de várias pessoas.Como pensaste Vidráguas?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;"><span style="color: white;">O Vidráguas foi pensando por mim e Ricardo Hegenbart, meu parceiro Vidráguas, justamente como este lugar onde muitos poderiam existir em poemas, em textos, reflexões, fotografias. Por isso, mantemos a casa aberta, falamos sempre, que se for bom para nós será bons aos outros, acho que<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>este é o nosso princípio. Algo do religare grego penso eu, agora, porque essa é nossa<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>religião: fazer aos outros o que desejamos para nós e assim tem sido... lemos, escutamos, conversamos, publicamos no site, trocamos ideias, publicamos em livro sempre respeitando quem chega, respeitando o estilo, algo muito difícil hoje em dia, alguns até se espantam com tal democracia, mas driblamos a demagogia<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>dos que não acreditam e seguimos... Vidráguas é nossa Ítaca, e todos devem ter uma para seguir em frente.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">6-Anáguas ! Quem não lembra desta palavra? Aquela saia colocada por baixo, aquela forma diferenciada de esconder , cuidados com todo o prazer.Mais do que isto anáguas é uma SAIA, um verbo no imperativo que escorrega moldando um vestido,uma pontinha de renda a denunciar o que escapa.Textos eróticos?O que são?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Hey, aí está a sublimação do que falo ser possível <personname productid="em poesia. Já" w:st="on">em poesia. Já</personname> no falo está o “falo” então, vivemos escorregando nossa sexualidade entre palavras, entre meias palavras, algo que<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>sabemos ser vital em sentimentos, porque a coisa é fálica sempre... por baixo dos panos<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>há muitas escaramuças em todos os sentidos da linguagem, mas nos textos eróticos podemos ser sempre potentes, as deusas, os heróis, os piores, os melhores, os desejáveis de sempre amor, etéreos, e aí penso entrar o amor platônico, já que sem Eros não há vida, sem Eros tudo será morte, será nada, e como não queremos mortalhas, buscamos<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Anáguas, buscamos o sensível para amar além da idade, além do tempo, além do além... e a Arte não teme se desnudar, porque nascemos nuas de palavras, nascemos escondidos de vida e aos poucos vamos formando nossas segundas peles, nossas defesas de viver e nossas anáguas de morrer sempre<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>com muito amor de construção!!</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Criamos a coleção Anáguas para trabalharmos a poesia erótica <personname productid="em Vidráguas. Este" w:st="on">em Vidráguas. Este</personname> ano teremos mais publicações e também estaremos criando uma coletânea de poemas eróticos, já estás convidada a participar.</span><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;"></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;"></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">7-A sexualidade e a poesia... O que uma coisa tem em comum com a outra?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Tudo, porque a palavra é a carne do poeta. Com palavras nos desnudamos, nos vestimos, amamos, suamos, porque a palavra é nossa holografia, nossa linguagem, nosso sentir e nosso fluir e isso é a Poesia, um tempo de viver de amor mesclado de desejo e, por isso, digo que está em todos os gêneros. A Poesia é a mãe da linguagem, e na linguagem está a nossa sexual idade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E deve ser leve, deve ser anáguas...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">8-Por causa da fome do Luis também acabaste me falando de teu envolvimento com a psicanálise. Como isto também me fala...Pois bem, os dois lugares, de escritor e psicanalista dizem respeito a palavra.Qual a diferença entre estes dois lugares?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Aprendi com um grande Poeta, Oscar Miguel Menassa, que quando a escuta é poética a palavra será<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>psicanalítica. Também compreendi com ele que quando é possível o poema, será possível a vida... mas, deixei o lugar de psicanalista para me vestir de<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>poeta, escritora, editora e a usar a psicanálise como ferramenta para meu conviver entre as pessoas e a escritura diária.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;"><span style="color: white;">Mas, tanto poeta quanto o psicanalista, tem na palavra a materialidade com que se tece os sonhos. Freud nos dois princípios do suceder psíquico nos revela isso, temos duas vidas, uma sonhada e uma desperta, então os dois lugares trabalham por esta construção e digo sempre: sonhar sonhamos todos, a diferença estará no que fizermos com os sonhos... e como diz Gullar, a vida não nos basta, por isso a reinventamos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">9-Carmen escreve...a mulher Carmen escreve. Marido, filhos...Há uma diferença importante entre o ficcional e o tempo real, de um sujeito.Neste sentido, o titulo desta entrevista: duas Carmens- palavra e palavra.Como percebes isto?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;"><span style="color: white;">Amei esta letra de pele, com ela tatuas o fazer poético, a importância da escritura na minha vida. Sim, há diferenças entre as Carmens , mas há quem confunda, isso é do nosso ofício, então, penso que quem não pode confundir somos nós mesmos.. a mão que escreve é a mesma que educa, que alimenta, que ama, que odeia, mas a que vive é sempre mão dupla, às vezes tripla até... então, espantemos os “euísmos” e vamos viver em muitos contextos, difícil mas possível.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">10- E a editora? Já pensavas em tê-la? Qual o principal objetivo nisto?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">A editora foi nascendo junto com o nosso trabalho, crescendo junto a mim e Ricardo. Ao perceber a dificuldade de poetas jovens, menos conhecidos de existir, vimos que é importante estarmos abertos para que cheguem novos escritos, novos momentos. Pensamos a editora como um trabalho artesanal, isto é, de escutar e respeitar cada um que nos procura, ler os escritos, respeitar a Voz que se apresenta, sugerir, trabalhar junto e incentivar e propiciar a quem desejar a ter o seu livro, falamos em livro do autor, porque pensamos que quem chega a nós tem sua trajetória para narrar, contar, concretizar, para isso nos ausentamos e buscamos construir com quem chega. Escutar, projetar, viabilizar<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>um sonho possível... e principalmente, incentivar e fomentar a Poesia no mercado, é difícil, mas se está sendo bom para nós, será bom para outros. Já falei em outra entrevista, mas repito aqui, o editor de hoje me parece ter o mesmo papel do antigo livreiro, alguém que lerá os manuscritos e estará próximo do sujeito da publicação, entrecruzando escritos, viabilizando caminhos. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;"><span style="color: white;">E nunca se escreveu e se publicou tanto poesia quanto hoje, então algo está mudando... antes, não sabíamos que a maioria banca seus livros, agora isso é conversa comum, penso que a diferença estará no que se fizer com o que<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e com quem publicarmos, por isso pensamos cada livro como um projeto de vida.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">11- Agora... Postigos!Tem um poema aqui que me pega de jeito. Perdoa, mas vou transcrever: “Existe um sono a que chamo silêncio/velho mapa de onde voam meus pés/vento/em que me espelho momentos/existe um tempo em que desperto memórias/terras/em que calço meus rastros/fendas/onde soluço meus ossos.” É Pisares, em Postigos.Pois é minha amiga...pode falar um pouco deste silêncio até os ossos?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Incrível, mas amo este poema e este primeiro verso estava muito tempo em mim, onde ia seguia com ele anotado nos cadernos... aí, teve um dia que comecei uma oficina de quatro encontros com Gullar no Polo do pensamento no Rio e escuto algo dele, sobre o livro que havia encaminhado a sua editora, <personname productid="Em Alguma Parte Alguma" w:st="on">Em Alguma Parte Alguma</personname>,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e que havia um poema que se chamava “Reflexão sobre o osso da minha perna” e ao falar ele nos recita uma parte do poema, ou todo, não recordo... só sei que ao escutar “...de mim/já que a pele/e a carne/ irrigam-nas o sonho e a loucura...” despertei ao meus versos e solucei até os osso...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;"><span style="color: white;">É como ele diz no poema e tento dizer<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>em meus soluços enrodilhada em seus versos: “o osso é<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>parte mais dura e a que menos sou eu...” o osso é desprovido de carne, de palavras, de vida e dura.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Então, que as musas existem, existem...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>mas, que nos peguem trabalhando, como aconteceu com<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>meu “muso” Gullar. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">12-Quando me explicavas o que era Postigos, pensei no abrir e fechar dos olhos que registra sempre o diferente. São as denúncias de que somos sempre outros, de instante a instante. Também pensei no inconsciente e suas escapadelas, como piscadas de olho na janela ( eheheheh). Enfim!pensei em muita coisa.Porém, mais do que<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>se imagina há um apelo para a conversa.Tua escrita chama outra, teu poema pede que se responda com poesia.” Versos que conversam”, não é ?Podes falar um pouco disto?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Sim. Acredito nisso. Acredito que os versos conVersam. Não há dom sem trabalho, isso precisamos entender, divulgar e passar a diante. Poeta que lê poeta tem mil versos na mão...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>muitos ainda falam em dom,como falam em vocação para professor, para médico e com isso dizem também: se é dom vem de graça, não custa nada, então nada a trocar, porque se não há valor de troca, não há mercado ... mas sabemos e vivenciamos já, que os tempos estão mudando, os blogues aumentando, a poesia se volatizando e sabemos que ler vicia, escrever vicia, contar vicia, conversar vicia, Arte e Poesia vicia, são hábitos que temos que ter a diário, por isso nunca se escreveu e leu tanto poesia, é verdade, mas talvez porque agora estamos nos publicando, estamos na rede, estamos na leitura de todos e não mais ouvindo: não, poesia não vende, não muda isso, não isso, não aquilo... bem, sabemos ainda não vende, mas cada vez mais lida será que não venderá? Algo está mudando e rápido Adriana e para melhor!!!</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;"><span style="color: white;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>13-No lançamento do livro Postigos... também fui! Acho que estou ficando saidinha (ehehehehe). O acolhimento dados aos convidados, o piano e os amigos fizeram com que o lançamento de Postigos parecesse um pouco como... uma celebração de nascimento.Mas não somente do livro!Não! Fomos chamados, convocados a ler e reinventarmo-nos a cada poema.Sei que lançaste primeiro no Rio de janeiro e depois aqui no StudioClio.Como foi esta experiência?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Postigos é um livro e<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>são portinholas, são janelas, são reflexos de leituras e de conVivência,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>nele está a Lua, a mulher, as dobras do tempo e encaiXes, está o selo Vidráguas. Nele estão os olhares atentos e amigos de intenso tempo que acreditam no amor de construção, nos tijolos invisíveis de nosso cotidiano. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Por isso, Postigos é uma festa sim. Postigos para mim, para Ricardo, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>para Vidráguas é uma célebre ação, tem que ser comemorado. No Rio, com Marcio, Saulo, Oliani. Aqui, com Ricardo e Tiago, Américo, Adriana, Berenice, Tânia e Pedro Du Bois, Denise, Ronald, tinha que ser festejado entre os acordes de Chopin, no StudioClio com amigos e familiares, poetas e escritores. No livro, ainda estão Aline, António, Ivan, Gerci, Walmor e Nestor...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sim, um livro que reúne versos, imagens, áudio, música e amigos é uma grande comemoração Vidráguas, porque entre nós os versos conVersam, amam, e ganham vida e postigam (rs)!</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">14-Qual a diferença entre pele e palavra, Carmen?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">E, há?!! </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">A pele é a palavra da alma, ela responde, ela conversa e atua... Eu, sou exemplo disso, vive na pele o que deveria ter vivido no papel. Imagina que tive por muito tempo uma dermatite de contato<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>grave, quase crônica. Mil e um medicamento, sempre com o anti-alérgico na mão, até conhecer um dermatologista que me disse: isso é psicosomático, Carmen... eu sabia, mas como curar, como tornar consciente o problema?... foi aí que ele me disse: olha cada vez que der desespero e começar a te coçar, em vez de rasgar a pele, seja a hora que for, tenha sempre um caderno e uma caneta perto, escreva cada reação, cada momento vivido dessa coceira e todas as sextas-feiras venha aqui para me ler o que escreveres... gente escutar isso, foi um bálsamo, não precisa mais me rasgar e assim tive meu primeiro leitor depois do poema que fiz aos 13 anos, e ter um leitor cura, porque escrever para ser escutada me curou. Não cito o nome aqui, mas quem quiser pode dar meu telefone que passo, ok?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;"><span style="color: white;">Por isso, escuto a todos. Observo que cada poema traz algo da pele da mão que escreve e respeito muito isto, pois foi assim que curei uma dermatite de contato ao ser lida. Então Adriana, essa é a diferença da palavra, para mim ela estava na pele, colada nela estava meu desejo, apenas faltava quem o interpretasse.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">15-Gostarias de registrar mais alguma coisa?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;"><span style="color: white;">Um beijo grande Adriana e obrigada por este convite, li a entrevista de Jorge, um primor e me honra estar agora em conversas ao seu lado. Parabéns pelo blog Indecentes Palavras, por teus escritos e que bom que nos encontramos e saibas que lá em Vidrágua e em meu coração já estás tatuada.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Seguimos!!<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">O que dizer, Carmen?Talvez não precise mas deixo escrito sobre a satisfação do nosso encontro, da dívida que tenho com a fome de Luis, da referência que tens sido na minha estrada; por não me sentir tão sozinha ao tê-la, para sempre, convidada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: windowtext; text-effect: engrave;">Beijo com todas as letras</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-color-alt: red; text-effect: engrave;">Com todas as letras, e tônicas acentuadas sempre, beiiiiiijos! Gracias.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-86607962747507118452010-12-26T09:46:00.000-08:002010-12-26T10:42:16.625-08:00A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER- Uma noite em Buenos Aires com Carlos Karnas<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: Calibri;">1 - Olha só Carlos... acabei de me dar conta de que te conheci num quarto com divã (eheheheh). Explico: ganhei teu livro “Um quarto de mil” de presente, com uma indicação de que provavelmente gostaria. Comecei a ler e não parei mais... Mas, esta forma peculiar que tive contato com teu texto faz com que eu pergunte: o que tu tens a dizer sobre a psicanálise?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-language: PT-BR;">Que coisa, hein? Presentearam-te com feito meu e me conheceste em quarto com divã? Caramba! Não sabia disso, do local agora revelado. Parece-me maravilhoso! O que haverá de verossímil entre o fato (ato) e o meu "Um Quarto de Mil"? Daqui poderemos viajar por significados e significantes; pelo real, simbólico e imaginário até o 'corte', para utilizarmos termos psicanalíticos, não é mesmo? E como assim? - talvez seja a hora de perguntar. E o que eu tenho a dizer sobre a psicanálise? Simples: nada ou quase nada. Faço ficção. O meu descomprometido envolvimento com seres psicanalistas me fez observar que eles são tão comuns mortais e frágeis. E sacanas. Por vezes diferem tanto do ofício que praticam que o comprometem. Já os presenciei insossos, desinteressantes, medrosos e arrogantes Já percebi os que transam mal e as suas manias incríveis. Duvido do amor que muitos pregam. Entretanto carregam, conservam e sustentam um discurso. Diz-se um saber. Mais: têm o privilégio de saber das aflições, angústias, temores e a negritude da alma do analisando que quer dar conta da falta ou encontrar a saída para o seu impasse. Tudo e todos fazem 'sintoma'. Então, da psicanálise, endeusada por analista e pelo analisando, faço-a um fetiche ficcional. Nunca me deitei no divã, não me deitarei para análise. No divã penso em outras coisas prazerosas para o corpo e para a alma, mesmo que ele seja estreito. Ouço, os outros, falarem. Não procuro leitura sobre a psicanálise, mas não a desprezo quando surge. Imagino e crio diante do que ouço e leio. Provavelmente traduza o que surge de almas. Lembro do título “Escolha”, um dos meus contos do livro “Um Quarto de Mil”. Sugiro-te a releitura e que o (a) nosso (a) leitor (a) de agora o leia também. Provavelmente eu seja metafórico. Engraçado (ou gozo, gozado)! Ao receber essas tuas perguntas para respondê-las, sabes o que me veio à mente? Algo banal, mas melodioso, a letra de uma música de Nando Reis: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“(...) Por onde andei, / enquanto você me procurava, / será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava? / Agora eu sinto a sua falta / e a falta é a morte da esperança, / como em dia que roubaram o seu carro / deixou uma lembrança. / Que a vida é mesmo coisa muito frágil, / uma bobagem, uma irrelevância, / diante da eternidade / o amor de quem se ama.”</i> Joga isso para onde quiseres: canta, brinca, manipula, despreza. É psicanálise? Apenas um escrito? Palavras? Uma declaração? Uma canção? Algo mais? O quê? Eu me divirto e dou risadas com a mais de dúzia interpretações que vou estabelecendo agora na minha vertente. Então proponho para ti e leitores que também se soltem nessa vereda, com graça, leveza e pensar. Sem deduções. Não sofro o suficiente à ponto de abraçar ou ser abraçado pela psicanálise. Questiono-me, sim, incessante e insistentemente. Mas, na psicanálise, que é a dos outros e a de cada um, recolho belas histórias, alegres e sofridas. Na ficção se trabalha melhor a verdade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: Calibri;">2 - Também sobre ‘Um quarto de mil”, não reparei logo sobre tua proposta de escrever contos com, exatamente, 250 palavras. Poderia falar um pouco disto, de onde veio esta idéia?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Está lá em “Gênese”, o conto que inaugura o “Um Quarto de Mil”. Alguém pede ao porteiro um quarto de mil. Outro, o que está atrás do balcão, olha atônito aquele pedinte, nada diz e lhe alcança uma chave. O pedinte a pega, paga e se desfaz. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Afinal, que lugar é esse?”</i> Está lá escrito. Serei eu ou o personagem quem pergunta? Quanto a mim, pessoa, talvez eu seja irrelevante, de existir limitado no permanente e interminável exercício de realizar coisas inconsequentes. Por isso desencavo dignidades assim como os meus próprios personagens. Produzo textos, contos com as imagens que capto, com os cotidianos lembrados, as alucinações, fantasias e tentativas experimentais com as palavras. A partir da leitura de muitos escritores e contistas, imaginei tentar algo diferente para mim. Os meus escritos ficcionais e intimistas, sonhados e experimentados, são cenas e fotografias humanas, são fantasias e intempéries as quais estabelecem as delícias e os conflitos dos amantes na penumbra e no fulgor de cosmologia aberta ou fechada. E onde acontece, o gemido da dor e do prazer? O momento de simplesmente cerrar as pálpebras? Mais propriamente em alcovas, onde o pensamento mais instigante permeia todo o resto que poderá fermentar no breu. Quarto, o ambiente, é intimidade e revelação, ao mesmo tempo templo de se praticar e conviver com o que se quer. Quarto é compartimento e nave. Pois então, por que não estabelecer aquela aliança simbólica entre o ambiente, os temas dos escritos e as personagens, num formato igualmente compartimentado de textos com exatas 250 palavras? “Um Quarto de Mil”. Essa ideia vingou na minha cabeça como uma marca e diferença para eu me lançar como escritor. Persegui isso com afinco, aplicação, alegria e sofrimento. Consegui a minha fórmula interior, talvez intelectual. Assim estabeleci um regramento à minha produção, ao meu desconhecido estilo de escrever. Pratiquei a exatidão com disciplina para estabelecer a marca que, agora, ninguém mais poderá me tirar. Ela é única, universal. Não existe na literatura o que criei e atingi. Enfim, a minha diferença e o meu diferencial. Sacrifiquei muitas histórias para elas se conterem em 250 palavras. Isso resultou num advento para o leitor: textos compactos, rápidos e fáceis de ler, mas com o impulso de se pensar no que está escrito, em se pensar mil coisas. Em 250 palavras há conto, que poderá ser romance, peça de teatro, sinopse de filme. Não te parece assim o meu “Um Quarto de Mil”? Penso que produzi contos ficcionais breves para o imaginário do leitor fluir. Quem não o leu, experimente-o.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: Calibri;">3 - Teu texto é encantador. Retrata uma época, um tempo e os traços das relações pessoais. Num dos contos falavas das lacanianas e do quanto não aceitavam dividir seu divã com ninguém mais (eheheheh). A preocupação com esta idéia me custou uma protelação na minha vidinha (ehehehe). Pois bem, pergunto: o que você acha que mudou na forma das pessoas se relacionarem?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Êta perguntinha capciosa. Fico surpreso ao saber que um conto meu possa ter influenciado na protelação de algo da tua “vidinha”, como dizes. Que coisa, hein! A psicanálise não fala do mal-estar da cultura? Olha, eu nada sei sobre isso. Considero-me ingênuo e desqualificado para falar desse tema. Eu apenas observo comportamentos nas pessoas, nos casais. Tu citas um dos meus contos envolvendo psicanalistas lacanianas. “Leonina” é o título. Sei que muitas estão putas comigo. As lacanianas, especialmente, me surpreendem sempre. Percebo que não conseguem ser no real aquilo que elas mesmas discursam ou gostariam ser. Há dicotomia entre o discurso e a prática delas. Entre querer ser e praticar, as e os lacanianos que conheço se traem. Divirto-me com isso. Mas, sim, os relacionamentos das pessoas mudam, constantemente mudam. Vivemos tempos de exigências e não nos damos conta que exigimos cada vez mais. Estamos pouco tolerantes e a cumplicidade, me parece, é efêmera, está abandonada, esquecida ou se tornando desconhecida no semântico. Há fundamentações passadas e históricas que eram parâmetros nas relações. Mudaram, continuam mudando. Estabelecem-se os estorvos, os incômodos, os dissabores nos relacionamentos dos homens e mulheres, machos e fêmeas. Liberações, independências, autonomias e novas posturas se estabeleceram para o afloramento de muitos desejos. Parece que homens e mulheres (até elas) disputam virilidades permanentemente (viril = relativo ao homem, objeto das mulheres). Isso também acontece entre gays e lésbicas, apesar de entender que no homossexualismo os relacionamentos podem atingir graus extremados, em tudo (Esse universo está presente em muitos dos meus contos). Provavelmente estejamos vivendo confrontos de um novo aprendizado, com volúpia, pouca harmonia e muita angústia. Como escrevi em “Contornos”, um personagem desabafa: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“</i></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: TT1DC4o00; mso-fareast-language: PT-BR;">Acontece que de tempos em tempos me canso de ser homem. E me canso do meu rosto, dos meus olhos, cabelos, do meu corpo, do que vejo, da minha sombra. A fantasia me invade e me liberta, por pouco tempo. Ela é simbólica. Certas noites, sozinho, penso nela. Certas noites, sozinha, talvez ela pense em mim. Certas noites, se isso acontece ao mesmo tempo, nos relacionamos sem saber.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">”</span></i><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> Eu mesmo estou me dizendo isso. Que coisa, não é mesmo? Por isso me esforço em buscar nesgas compreensíveis na alma feminina, para mim e para aquilo que escrevo. Mas é difícil. O que quer uma mulher? Ela existe? Ah, essas e suas inconstâncias! Pois os meus contos do “Um Quarto de Mil” estão recheados de personagens inconstantes em cenários igualmente inconstantes. As intermitências humanas. Tentei estabelecer algumas inquietações sobre o gozo feminino e algumas desqualificações impostas aos homens. Nem sei se cheguei perto disso. Tanto é que fiz uma introdução – talvez filosófica neste meu livro. Escrevi: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“E se forem esqueletos as minhas palavras? Não importa, te provei que ainda sou o que sou, depois de tantos anos. Meu coração, adocicado e rebelde, é acariciado pelo perfume de jardim existencial que o acolhe. Nele, convive com as artimanhas da vida. Persistente, ele te faz companhia ao seguires o teu destino.”</i></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: Calibri;">4 - Tu ou você? Pergunto porque és aqui do sul e moras, atualmente, em São Paulo. Poderias compartilhar conosco um pouquinho da tua história de vida? Tudo, tudinhooo não, somente um quarto de mil (eheheheh).</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Há um romance meu, inconcluso, em que o personagem se defronta exatamente com essa questão: tu ou você. Há mais de um quarto de século longe da minha terra, Porto Alegre, de repente descobri que tinha perdido um pouco, ou muito, da minha identidade sulina. Isso me fez mal. Passei então a me desdobrar em falar ‘você’ no ambiente de convivência local, mas a praticar o ‘tu’ na linguagem escrita. Ultimamente tenho estado mais assiduamente no sul e aí percebi que tenho dificuldades de falar como gaúcho. Faço esforço para resguardar minhas raízes e a reentonar característica peculiar da fala gaúcha. O sul, o meu estado e a minha cidade me fazem falta. Cansei de vagar por terras estranhas e de estar tanto tempo em São Paulo. Tomei a decisão de voltar. É no sul, na minha terra que quero viver, morrer e então seguir para o céu de Aldebarán. No chão da minha origem tudo me encanta, me comove e me induz. Lá respiro e solfejo, vejo encantamentos, belezas e prazeres. Saí da minha terra sentindo-me um proscrito. Vivi todos esses anos como renegado, excluso. Minha formação profissional e acadêmica está no jornalismo. Contabilizo que exerci o bom combate por onde andei. Vivenciei períodos e cenas históricas e a minha participação, postura e atitudes me remeteram a ser personagem citado em alguns livros e obras de jornalistas escritores amigos meus. Citado e presente em narrativas generosas desses autores, um belo dia alguém me fez a pergunta que começou a ser repetida por outros e outros: “Quando vais escrever e publicar o teu livro?” Escamoteei-me do jornalismo e parti para a ficção. É onde estou. E contando verdades, e empregando a palavra ‘tu’.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: Calibri;">5 - No nosso primeiro encontro nos reconhecemos em função dos vários emails trocados. Paguei o café prometido (ehehehe) que, se não me engano, foi no Margs. Neste encontro falavas da saudade aqui do sul. Como é viver em São Paulo? Como vês a tua terra, assim de outro lugar?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Não estás enganada, Adriana. Foi no MARGS o café pago por ti depois da nossa conversa em tarde fria na cúpula da Casa de Cultura Mário Quintana. O cenário do Guaíba, estar no local que conheci quando Hotel Majestic, as pessoas, a cultura, a vida e as belezas daí, a civilidade gaúcha e os meus próprios sentimentos me impelem fortemente voltar ao sul o mais breve possível. O trabalho e a minha atividade profissional me fizeram abandonar o sul. Mas, saí daí sabendo que algo deixava, que alguma coisa não estava na minha bagagem para as andanças que pratiquei por tantos anos. Família, profissão, tudo se reformatou em novas paragens, não o meu sentimento. Ele ficou amortecido e ganhei idade, tempo suficiente para saber que não sou feliz longe de Porto Alegre. É nessa cidade que tenho a minha origem, a minha história alegre, onde estão as pessoas amigas e companheiros que amo. É nessa cidade que sinto a vida pulsar, presencio pequenas singelezas e delicadezas difíceis de serem encontradas em outros lugares. Não importa. Minha identidade está em Porto Alegre. Penso que São Paulo me ganhou, me usou, fiz por São Paulo, mas nada mais tenho ou levo daqui. Cosmopolita eu aqui virei eremita. Vivo num sítio no interior. A cidade onde vivo me homenageia, é pacata, quase histórica. Mas o meu coração continua no sul, não tem jeito. Comecei a fazer incursões periódicas a Porto Alegre há pouco tempo. Descobri que perdi essência existencial por estar longe dela. Já morri demais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: Calibri;">6 - O texto, o traço do escritor é único. Um estilo que assina sua produção. Porém, no meu entendimento, os lugares de onde escreves são diferenciados. Por exemplo, como jornalista ou como escritor de contos. O que pensas sobre isto?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Sabes de uma coisa? Eu não me considero mais jornalista. Sou outra coisa mambembe, indefinida, à procura, o que agora escreve. Estou longe dos textos jornalísticos. Não os quero. Considerar-me escritor... acho que ainda tenho percurso para trilhar. Apenas abri uma nesga de incursão. Provavelmente tenha feito o meu ‘passe’, me autorizado - com a cumplicidade de leitores experimentais - a ser escritor a partir das minhas próprias experimentações e alquimias com as palavras. Senti o peso da responsabilidade de escrever e me obriguei a conversar mais aprofundadamente com outros autores. Temos um traço comum, a seriedade do ato de escrever. Há os que valorizam a história, outros a palavra ou a linguagem. Há os que se massageiam com as suas idéias e fantasias. Eu escolho a palavra, a linguagem. É ela a que me atém, nela e por ela me apóio. Escrevo muitas vezes meio que possuído por algumas entidades fantasiosas, místicas, espirituais, sei lá. Ao chegar ao final e ao reler o que escrevi, isso às vezes me espanta e eu não acredito ter sido o autor daquilo. Vou seguindo, trabalhando e convivendo com as minhas próprias intermitências. O “Um Quarto de Mil” foi assim. Outras criações minhas poderiam estar à frente desse livro. Entretanto, abandonei tudo o que já havia escrito para dedicar-me com exclusividade aos contos ficcionais breves de 250 palavras. A obra foi oferecida a diversas editoras, mas as propostas são indecentes ao autor. Então decidi fazer o lançamento independente da obra e me submeter, apenas, ao sistema estabelecido de comercialização. Criei uma página na internet e faço mala direta. Sem pressa. Quem se interessar vai lá: </span><a href="http://www.carloskarnas.com.br/"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">http://www.carloskarnas.com.br</span></a></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: Calibri;">7 - Trocamos... quantos emails, mesmo? Lembro que um dia tu me enviaste um número (eheheh). Para além das correções que me fazias, nos meus “atos falhos” ( é assim que chamas), falavas da preocupação com uma certa leveza, uma busca pela simplicidade de certos encontros, certos momentos. No teu texto, porém, encontramos<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>personagens que se dizem, que pesam nas suas escolhas. Qual a diferença entre escrever e viver?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Ambos pesam. Escrever e viver é existir. A existência é regida por sentimentos, desejos e imprevisibilidade. Também por atitudes. Nada é certo, nada é seguro, a não ser a morte, sem vida e sem textos. O tempo, fatos e atos nos impõem marcas indeléveis. Personalidades, histórias pessoais, vivências, experimentações, comportamentos, a genética e tantos outros ingredientes determinam nossos rumos. O inconsciente também. Vale tanto para o viver quanto para o ato de escrever. Mas, de todas as influências, o desejo talvez seja o mais relevante: o querer fazer algo que te marque e te estabeleça com dignidade. Acho que a vertente é por aí. Mas, enfim, talvez seja louvável o discernimento. Podemos impor nossos próprios pesos, mas não seria justo jogá-los, os demasiados pesados, para outras pessoas. Pelo menos de maneira inconsequente. Entretanto, há situações em que a realidade se impõe com tanta grandiosidade que não devemos ter atitudes falsas, cínicas. O ato de escrever é absolutamente solitário, único. O escritor se delicia com a prática, mas também sente a carga do ato. São os momentos, lampejos existenciais que nos impulsionam e nos determinam. Acho que isso acontece fortemente na escrita ficcional. Sempre digo que o conteúdo do meu livro é momento, instante ficcional. Parece ser, pode ser, é ou não é. Que cada um decida, que o leitor decida. A conotação é diferente para o que escreve biografia ou pratica a literatura reportagem, da história. Mas, continuo afirmando: </span><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-language: PT-BR;">na ficção se trabalha melhor a verdade.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: Calibri;">8 - No nosso café, contou-me sobre a<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>troupe dos Karnas ( ehehehe). Estes filhos artistas! Poderia compartilhar conosco esta história?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Pois é, o estilo familiar acho que fomentou e definiu a trajetória dos filhos. Uma única filha parece seguir a vida normal, ao ser comerciante. Todos os demais enveredaram pela seara das artes e espetáculos. Um filho é ator, formado na EAD-SP, diretor teatral, também dançarino, faz preparação corporal de atores, faz cinema, é músico, compositor e tem a banda “Crika y Os de Solares”. Outro é ator de teatro e cinema. Os dois já se apresentaram em países da Europa e nos Estados Unidos. Uma filha perseguiu a mesma trajetória no teatro e cinema e hoje é professora de yoga. Por fim, o caçula, é artista dedicado à técnica do grafitti. Liberalidade, estilo e vivência familiar talvez tenham determinado o rumo de cada um. Tanto é que um deles, o adotivo – por querer ser adotado pela família –, chegou até nós pelo apoio e sustentação que dávamos aos demais filhos que se iniciavam na prática do teatro. Nossa casa sempre ficou de portas abertas ao meio artístico e cultural, do Brasil e do exterior. Significativos momentos culturais já aconteceram dentro da nossa casa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: Calibri;">9 - Manaus... Pescando peixe com uma antena?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Eheheh! Trata-se de uma charge feita por queridíssimo amigo meu. Engraçadíssima. Ao sair de Porto Alegre fui desenvolver um trabalho de reestruturação de uma rede de TV no Amazonas. Lá fiquei um ano. Esse meu amigo, para gozar da minha cara e das dificuldades que eu enfrentava, criou e me mandou uma charge. Eu era caracterizado como um ribeirinho manauara, vivendo numa palafita com antena parabólica e, sentado em atitude desconsolada, pescando peixe num rio, que poderia ser igarapé. Hilária a charge. Conservo-a até hoje. Sobre isso, refresquei a memória dele na última Feira do Livro de Porto Alegre. Não nos víamos há mais de 30 anos. Rimos felizes.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">10 - Estivesse na feira do livro lançando “Um quarto de mil”. Como foste acolhido por estas bandas daqui?<span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Então, participar da Feira do Livro de Porto Alegre me foi emocionante. Há 30 anos, acho, que não palmilhava a feira. Fui assíduo visitante dela, como garimpeiro e comprador de livros. Este ano, com o lançamento do “Um Quarto de Mil”, alimentei a idéia de participar dela como autor. Pensei nisso até como ato de respeito, de oferta à minha cidade para nela lançar o meu livro num evento tão importante e magnífico. Pela metade do ano fiz contatos e comecei a trocar ideias com amigos escritores e jornalistas. Com a ajuda deles peregrinei todos os passos até a Câmara Rio-grandense do Livro aceitar a minha participação e agendar sessão de autógrafo. Na verdade foi esta a minha primeira experiência de autografar numa feira como a de Porto Alegre. Surpreendi-me, na noite de autógrafo, com a quantidade de amigos, companheiros e pessoas que compareceram para me prestigiar e me abraçar. Foi também um valioso e grandioso momento de matar a saudades de pessoas que não via há décadas. Muitas delas tive dificuldades de lembrar-me dos nomes. Defrontei-me com fisionomias que mudaram. Ao meu redor estabeleceu-se uma pequena confraria de jornalistas, escritores, intelectuais, políticos, parentes e desconhecidos que me propiciaram alegrias e bem-estar. Vivenciei uma tontice emocionada. A mídia me deu atenção inusitada e me ajudou muito na divulgação. Tudo me compensou e me deixou pensativo. Aquele momento alimentou ainda mais a minha vontade de voltar às minhas origens. É aí que eu vivo, sou alegre e feliz, aí na minha Passárgada cheia de energia, beleza, prazer e emoção.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">11 - Entre vários emails um não me sai da cabeça ( eheheheh).<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A receita de sopa de capeletti e aquele molho com tomates secos para o pãozinho torrado... Ah! Também aquela estória da maçã em fatias com nata, que eu duvidei que era bom, provei e... ( eheheheh). Desde lá passei a respeitar a mesa e me interessei a fazer coisas diferentes para reunir as pessoas. Pergunto: o que tem em comum uma boa mesa e um bom texto?<span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">O manjar, minha querida, o manjar. O deleite para o espírito. Por viver só, num sítio, afastado da cidade e no meio da roça, desenvolvi gostos e prazeres particulares. Permito-me e proporciono-me manjares solitários, algumas vezes frugais, mas requintados. Um bom texto não proporciona justamente isso? Um alimento? Uma iguaria apetitosa e que enleve o espírito? Ah, o prazer! A linguagem! (Bah! Não sabia que as minhas receitinhas fizeram sucesso contigo! Uau!)</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">12 - Também a idéia sobre um saber... Lembro que decifraste algumas coisinhas como, por exemplo, minha paixão pela dança. “Adios Nonino”... Piazzola. Podes falar um pouco sobre tua relação com a música?<span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Música me é vital e talvez ela possa ser mais completa que a própria literatura, ao amalgamar palavras e melodias transformando-as em linguagem harmônica universal. Ouço música, escrevo ouvindo música. Aprecio a dança, bailados, pares dançando. Adoro o insinuante. Sou frustrado por não saber dançar e por não ter tido, ainda, a iniciativa de aprender. Mas é o tango com os bandoneóns, tocado e dançado, que me emociona mais. Para mim não existe aquela preferência por gênero musical. A música me é um afago sentimental e emocional. Se ela me arrepiar, fizer palpitar o meu coração e lacrimejar os olhos estará eleita. E ao elegê-la, desfruto-a como amante, com todas as práticas permitidas e não permitidas, pelo menos no pensamento e no imaginário. Por vezes os meus textos nascem a partir da música, desse lampejo fulgoroso para percorrer trilhas inimagináveis. Consciente e inconscientemente.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">13 - No almoço de novembro combinamos:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>comida leve e conversa mais leve ainda. Saladinha, tempo sem fim... Algumas coisas do Carlos eu desconhecia. Neste dia falavas sobre a ineficiência do direito: Adriana, para o amor não há lei. Há normas para separação de bens, casamento, união estável... Para o amor enquanto sentimento não há. Ficamos pensativos sobre: será que o amor é fora da lei? ( ehehehheeh). Pois é meu amigo... o que achas disto?<span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Putz! Será que cheguei mesmo a falar tanto assim? Pois é, a palavra ‘amor’ está tão batida que pode estar ficando banalizada para cair no desprezo ou desinteresse. Ando pensando em criar outra palavra, um novo termo com novo significado para a que usualmente está estabelecida. Sabemos tudo do amor? O que é o amor? O que é amar? Como se ama? E será que o ato de amar precisa da palavra? Pensando bem, o amor é fora da lei, porque o amor se estabelece entre dois ou mais seres onde prevalecem cumplicidades. As cumplicidades são particularidades de interesses comuns e cada ser é o seu próprio universo que não dita regras necessárias. Diz-se das formas de amar, maneiras de amar, atitudes amorosas, demandas de amor. Há regras nisso? Entretanto, os desfazimentos, mesmo os do amor, acabam condicionando deveres e obrigações, especialmente perante a lei e mesmo nos acordos particulares. É mais difícil e doloroso romper. Não há temores para se amar, pois o que virá sempre será bom. Romper, terminar, acabar sempre dão medo, mesmo quando necessários. O momento seguinte é o do desconhecido. Por isso ditam-se regras e lei. O assunto é infindável e sempre permitirá o idílio e o desprezo, o doce e o amargo, a leveza e o peso da nossa existência. Tudo para ser aproveitado e discorrido nas linguagens todas, pela palavra na literatura.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">14 - Descrevias uma cena em que a mulher dançava de meia calça e pés no chão. Falavas disto tão intimamente que era como se descrevesse uma noite comum. Teu texto passa exatamente isto, uma procura pela cumplicidade ou, em alguns momentos, demarcas a falta disto. É uma escrita que mapeia um tempo. Talvez pelo instante das 250 palavras, talvez porque deixe claro a ficção restaurando as vivências de um homem de sua época. Vais me corrigir (eheheheh)?<span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Laconicamente: não te corrijo. A leitura é tua.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">15 - Diz-me seguidamente: sozinho, em casa, eu danço bem! Falas também do quanto achas bonito o tango, naquilo que expressa de cumplicidade. Viste bem qual o título desta entrevista, hein? E o tango? Queres explicar?<span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Aqui, sim, devo te corrigir: eu não danço bem, pelo contrário, muito mal. Ouso dançar. Sozinho. Faço isso, ocasionalmente. Na verdade, sou parceiro e dançarino com as minhas emoções, sentimentos e fantasias. Pratico, eventualmente, a dança dessa forma e, por incrível que pareça, deslizo, rodopio e persigo ritmos. Aí mesmo, em Porto Alegre, uma amiga me convidou e insistiu para irmos a uma casa de dança. Suei frio. Era noite de tango. Encolhi-me, ela voltou a insistir. Fomos. Dançamos outros ritmos. Envergonhei-me. Ela foi uma dama, de fineza indescritível. Conduziu-me, pacientemente, meus passos e corpo ao ritmo. Depois ela me fez um comentário: a dança sempre deve ser praticada com parceiro ou parceira. O que se acostuma a dançar só perderá a desenvoltura ao dançar acompanhado. Cheguei a falar isso para ti? Não lembro. Sei que te falei em tango. O tango aparece nos meus textos como elemento existencial, apaixonante, deslumbrante, aliciador, pecaminoso, amante, envolvente, forte, de aceitação e submissão, cúmplice, parceiro e sexual. – Em “Submissos”: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“</i></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: TT1DC4o00; mso-fareast-language: PT-BR;">Imaginou qualquer similaridade ao tango e à paixão portenha. Então alguém surgiu como companhia experimental e ela pôs em pratica aqueles caprichos mais alucinados: os que constrangidos senhores de meia idade já não conseguiriam aprimorar por iniciativa própria. Por isso ela naufragou no seu instinto e liberou o licencioso que dela precisava ebulir.”</span></i><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: TT1DC4o00; mso-fareast-language: PT-BR;"> Em “Cela”: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Ele já estava miserável, depois de presentear as suas riquezas amorosas e destinar um patrimônio para aquela mulher que o seduziu numa casa noturna em que os dois dançavam tangos e milongas.”</i> Em “Despedida”: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Exalou seus odores generosos como se estivesse no cio. Excitada fez o convite para dançar ao som de uma musica derradeira. Um tango. Nessa arte, dor e paixão complementam o amor. Os corpos dos bailarinos se desnudam e realçam loucos desejos em passos decididos e elegantes. Na parada brusca a mulher afrouxa o sexo.”</i>. Há também o conto “Restos”. Gosto muito deste </span><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">–.</span><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: TT1DC4o00; mso-fareast-language: PT-BR;"> Enfim, tango para mim é um universo. </span><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Há um filme, se não me engano de Almodóvar, intitulado Tango. Lindíssimo, uma ópera completa. Eu recomendo a todos para o assistirem. Comentei isso contigo, não é verdade? Caminhávamos pela Rua da Praia. Aproximava a nossa despedida. Passamos diante de uma porta e lá estava a placa: Aulas de Tango. Apontei para aquela placa e chamei a tua atenção. Sorriste. Percebi o leve balançar do teu vestido verde, o teu frescor. Então me disseste e propuseste-me: “Vou me matricular em aulas de tango. E iremos dançar tango uma noite em Buenos Aires”. Preciso ir mais adiante?</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">16 - No retorno de nosso almoço falavas de leveza. O que é leveza para ti?<span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">É o que temos aqui. Felicidade.</span></i><span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">17 - Gostaria de dizer mais alguma coisa?<span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Aqui no teu Indecentes Palavras, as palavras indecentes ainda não apareceram. A leveza, a arte, a magia das palavras, o sentimento, a emoção e o respeito determinam a vertigem. Há linguagem e arte estabelecidas. É poesia a que comanda. Tentei me conter nesse viés e nesse tecido. Às vezes ouso ser obsceno, não consigo. Conhecemo-nos este ano por iniciativa tua, ao me enviares e-mail a partir da leitura que fizeste do meu livro “Um Quarto de Mil”. Construímos uma correspondência particular e não desprezamos as oportunidades de nos encontrarmos. A palavra, a literatura e algumas confidências nos mantém. Apreciamos-nos e navegamos nesse córrego nem sempre manso. Há trechos turbulentos. Já experimentamos alguns exercícios juntos, como o de tentarmos escrever o “Contos do Mar Sem Fim” - algo que surgiu assim do nada, das nossas palavras trocadas, como um repente. Ele está suspenso, inerte depois de um corte. Sei do ar que precisas para respirar, para viver, para amar. Sei de algumas batalhas tuas, do teu permanente esforço de seguir, de ir, alcançar... o quê mesmo? Dou-te força, te desejo sucesso, te quero bem. Aprecio o que escreves, o poético e singelo que há em ti, na tua literatura, na tua linguagem. Instigas. Aprendo contigo. E penso em Aldebarán. E será que o teu leitor, o que está lendo agora sabe, conhece Aldebarán? Aldebarán poderá ser a nossa próxima e derradeira estação.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: white;">Carlos... sinto-me honrada por estares aqui. Sou grata pelo nosso encontro na vida, na rua (o blogue é estar na rua), nesta busca em comum pela leveza das coisas boas, esta brisa pequena que nos leva a pensar em Aldebarán, a pensar em seguir pelo MAR SEM FIM.<span style="font-family: 'Times New Roman','serif'; font-size: 12pt; line-height: 115%;"></span></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: Calibri;">Beijo com todas as letras</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="color: white; font-family: Calibri;">Adriana Bandeira</span></div>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-66543323492715872582010-12-19T07:58:00.000-08:002010-12-19T07:58:02.474-08:00AMOR DE ESCREVER O NOME - entrevista com Jorge Rein<span style="font-family: Calibri;"></span> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">1-Tive contato com teu texto, pela primeira vez, ao ler Contos de Abandono, coletânea que participamos juntos, de onde passamos a trocar emails.Surpreendeu-me a verdade com que fazias algumas transposições de palavra-cena,dramaturgo que és, sem perder o texto.É como se a cena seguisse em continuação da palavra e isto é a verdade.Pois bem...se concordas com esta minha<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>impressão, poderias dizer um pouco sobre tua forma de pensar o texto para teatro?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>R- Cheguei ao texto teatral quase por acidente, na pretensão de contar uma história que excedia os limites do conto, que tinha sido, até aquele momento, o caminho em que fazia andar as minhas narrativas. Talvez venha daí a sujeição dos meus textos dramáticos aos moldes de outras literaturas. Na ausência de estudos formais ou mesmo de interesse em conhecer a fundo as técnicas da carpintaria teatral na sua versão escrita, optei por descrever apenas a magia sem a preocupação de dominar os truques. Meu teatro é mais intuitivo do que teórico, e um tanto obsessivo nas rubricas, território em que abusa da subjetividade na tentativa de comunicação mais direta e profunda com a sensibilidade do eventual diretor ou do ator <personname productid="em potencial. Escrevo" w:st="on">em potencial. Escrevo</personname> como se a leitura do texto fosse o objetivo, assim como acontece em outros gêneros. No teatro, porém, a publicação é uma etapa intermediária. O objetivo final é o da encenação, que altera o texto ao emprestar-lhe não só outras leituras, mas também outras escritas. Não sou ciumento em relação a isso. A encenação é uma obra coletiva, um processo em que algo se perde, algo se ganha e tudo se transforma.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">2-Há pouco tempo assisti teu texto sendo lido por excelentes atrizes. Nele trazia Marie numa fala sobre seu homem e suas incertezas.Causou-me emoção ao perceber nos dizeres<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>as de tantas vozes do feminino que perguntam-se sobre o “ lugar mulher”.Lembro que a fala de Marie, esposa de um homem que se deixou “ estudar” pela ciência( faz xixi somente nos potes capturados pelo médico, só come ervilhas, e outras obediências ) circula entre a prostituta, a mãe e a esposa.”Queria meu homem de volta...mas meu homem é do patrão”.Neste sentido Marie vem dizer sobre esta condição das mulheres de serem...de quem mesmo?Hoje mais do que nunca os homens são do patrão, de várias formas: patrão capital, patrão pobreza, patrão carro do ano, patrão política, patrão ciência, etc ... E as mulheres...também? Como inventaste Marie e sua fala?Como vês esta questão do pertencimento para homens e mulheres?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">R – Marie pretende ser um resgate da visão feminina em Woyzeck, a obra clássica de Georg Büchner. É possível que seja a novidade formal que esta peça inacabada representou na dramaturgia da sua época que tenha garantido o fenômeno da sua permanência. Mas também é preciso reconhecer em Büchner o mérito de ter sido um precursor ao levar a um teatro burguês, ainda nem totalmente livre de um ranço aristocrático, o universo dos despossuídos, dos sem voz, dos humilhados. Nesta obra ele identifica alguns dos mecanismos que possibilitam o exercício dessa humilhação: a hierarquia militar, a petulância às vezes imoral ou antiética dos falsos próceres da ciência, as convenções sociais, as etiquetas, a corrupção social e política em todas as esferas, e até mesmo a igreja. São essas as instâncias em que o poder se expressa, vigentes até hoje com mais alguns acréscimos de globalização, moda, consumo, propriedade dos meios de comunicação, etc.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É contra essa estrutura que Marie se revolta. É essa a situação que ela não aceita.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não a incomoda o fato de pertencer a um homem, prática que o casamento recomendava na época, mas não suporta assistir impassível à degradação do seu marido, que perde a dignidade e a condição humana em nome de uns trocados que possam garantir seu papel de provedor.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ao vender o seu corpo Marie não está à procura de outro lucro que não seja o de cutucar a indolência do cônjuge através daquilo que ela mesma considera a humilhação suprema, porque acredita ser a última chance de redenção de Woyzeck. Sua própria imolação é o meio que ela encontra para recuperar a dignidade daquele homem, obrigando-o a cometer um ato que a sociedade aprova e que a justiça raramente condena.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não é o tipo de heroísmo que eu pessoalmente recomende.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não tentem fazer em casa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">3-Ainda falando de Marie... Ao escutar teu texto definitivamente tive certeza de que a escrita não é definida por um sexo.Quero dizer que tu enquanto homem terias uma “ fala feminina”.Como pensas esta questão do gênero na escrita?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">R – Existem inegáveis diferenças anatômicas entre homens e mulheres.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E é bom aproveitá-las.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Porém, quando invadimos o território da criação artística, a sensibilidade fala mais alto do que hormônios e glândulas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E a sensibilidade pode ter sua porção inata, mas obedece mais a imposições sociais em que é (des)educada.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Desde o “homem não chora” até “a mulher é o sexo frágil” nos vendem a ilusão condicionada de que devem ser diferenciadas, por gênero, não apenas as falas, mas também sentimentos, funções ou temáticas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não acredito numa literatura feminina e outra masculina no estilo dos banheiros de qualquer local público. Desconfio dos preconceitos das proibições de entrada. É possível produzir, sempre que não se fuja a um certo nível de cumplicidade com o sexo oposto e se deixem fluir as sintonias humanas, escritas que não obedeçam à estrita correspondência das gônadas. O artista às vezes é o ventríloquo, às vezes é o boneco ou a boneca que fala.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não me deixam mentir, entre outras provas, algumas das melhores canções de Chico Buarque de Holanda.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">4-Assisti esta leitura no teatro de Arena.O teatro de Arena é conhecido por ter abrigado toda a fala artista de subversão aos ditames de determinada época.Subversivo é o inconsciente que nos habita e vem falar o que não deveria.Tens alguma história com este espaço físico,teatro de Arena, ou com este espaço subjetivo da falar o que não deve?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">R – Cheguei ao Brasil em 1971. O Teatro de Arena era ainda uma criança. Rebelde, mas com causa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A tradição de ser um foco de resistência já era sua marca registrada. Com exceção de esporádicos episódios de censura sofridos ainda no Uruguai, meu prejuízo maior foi como espectador, como ouvinte e leitor impedido de ter acesso aos produtos culturais que a ditadura barrava.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eu mal engatinhava na língua portuguesa naquela época e, por esse motivo, a minha incipiente produção dispensava as tesouras alheias. Os meus textos eu mesmo censurava. E não sobrava nada. Hoje em dia sou bem mais tolerante e falo o que não devo com a maior das naturalidades. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">5-(eheheh )...Vou falar... Falando sério, estamos num trabalho a quatro mãos já faz algum tempo.Um texto erótico em que damos continuidade a dois personagens numa troca amorosa, seus encontros enquanto amantes.Eu nunca havia escrito estas coisas .É a minha primeira vez,deixo claro!( ehehehehehe) É possível que venhamos a publicar...quem sabe!Como está sendo esta experiência para ti?O que mais te encanta nesta experiência?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">R –Não era segredo, Adriana? Essa história do WikiLeaks está também pegando no teu blogue? Falando (quase) sério, então.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não sou, no texto erótico, um marinheiro de primeira viagem, mas sim na construção <personname productid="em parceria. E" w:st="on">em parceria. E</personname> devo confessar que é bem mais agradável que se virar sozinho, o que não é novidade. Não sei no que vai dar, se é que vai dar um dia, em termos de matéria publicável, mas caminhar contigo na aventura virtual das (des)cobertas tem sido um exercício fascinante.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sempre que algum artista se equilibra no fio escorregadio da sensualidade, o risco que se corre é o de descambar na gratuidade da pornografia. Considerando que a fronteira entre esse dois terrenos costuma apresentar-se como uma linha sutil e subjetiva, o jeito é relaxar, deixar que o texto flua na criação natural do próprio clima. Isso me dá um prazer que imagino recíproco. Se for pornografia, pelo menos que não seja gratuita. Vamos cobrar por isso, minha amiga.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">6-Quando começamos a troca de emails como amigos me despedi com o simpático: bj.Tu, na mesma hora escreveste:” Adriana, beijo se dá e se escreve com todas as letras!”Isso fez uma marca interessante.Não tenho mais como esquecer disto: beijar e escrever com todas as letras!Tanto que é esta a tua marca neste humilde blogue ( eheheheh).Brinco que se trata de AMOR DE ESCREVER O NOME...É comum situarmos, nos dias de hoje, uma certa abreviação da vida que, não raro, aparece registrado na escrita.Há uma pressa de capturar sabe-se lá o quê.Pois bem...como tu percebes isto?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">R – Toda linguagem é, na sua funcionalidade, apenas uma ferramenta de comunicação. Para que essa transmissão de conteúdos aconteça, basta que o emissor e o receptor da mensagem sejam usuários de um código em comum. As línguas se dividem em duas categorias: dinâmicas e mortas. Por isso não sou contra a incorporação de novos termos, o desuso de outros que sofrem de obsolescência ou a alteração dos significados em função de novas exigências. Mas a língua também é identidade (no meu caso, por causa do sotaque, identidade secreta). Faz parte do meu jeito brincar com as palavras e não percebo nisso um desrespeito a uma norma sagrada. Acho que o que me incomoda, no jargão cibernético, é justamente essa presa de abreviar as palavras para dizer mais de algo que às vezes muito pouco interessa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Já na literatura, pratico e aprecio as narrativas breves, mas teimo em separar joio –ou joias– do trigo, degustação de fast-food literário. Com relação ao <i style="mso-bidi-font-style: normal;">bj </i>talvez seja a mais pura implicância. É que a imagem que surge em minha mente, ao topar com essa fórmula, é a de duas dondocas se encontrando numa loja elegante, encostando suas faces e estalando os seus lábios no ar. Isso é bj. O que eu chamo de beijo é outra coisa. Se for isso, dispenso. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">7-Falando de...&.Quando li & pela primeira vez achei divertidíssimo.Na minha visão estreita que via teoria em tudo, pensei<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>no objeto “a” de Lacan como este tal &, representando tão bem.Quando li pela segunda vez, me perdi e pensei nas várias falas do cotidiano, nos detalhes da vida que são as marcas de fato.Quando li pela terceira vez percebi toda a dor da vida, do sexo, do silêncio, da maternidade, da violência...Ainda não li pela quarta vez.Quem sabe o que ainda vem...Concluo, sem concluir, que & é tudo isto e ainda mais.Assim,situo tua escrita como de inscrição.Quero dizer que ela é sempre outra, pronta para desvelar tantos outros eus e palavras que habitam a todos.Por favor ,( eeheheheh) responda-me: o que é & para ti?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">R – &<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>foi o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tour de force</i> da minha vida, por motivos diversos que hoje não se aplicariam. Eu vinha de alguns anos de um silêncio provocado pela necessidade de mudança de idioma –identidade incluída- para as minhas escritas, lendo muito e ouvindo mais ainda na pretensão de que a estreia não sofresse dos vícios de um sotaque que me denunciaria.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O saldo de um aurelião despedaçado, que conservo como uma relíquia, é prova de que a luta foi renhida. Ao mesmo tempo, a produção da obra, nos aspectos formais, me exigia um trabalho de artesanato ou de ourivesaria na feitura das fichas de leitura, na mesma quantidade das cartas de um baralho, todas elas com idêntico número de linhas, e ainda um que outro arroubo quase que concretista no verso ou no universo de alguma dessas fichas. A oitava maravilha dos computadores de uso doméstico ainda não existia e a primeira versão de & foi manuscrita, letra de imprensa em folhas quadriculadas, na razão de uma letra por casinha. Todo esse tempo o texto em gestação fermentava e adquiria novas significâncias, camadas palimpsestas que o leitor mais atento desvenda nas leituras sucessivas, ou que ele mesmo cria.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não sei se vale a pena procurar dentro de & os ecos mais umbertos da obra aberta ou o lacaniano objeto das ausências. Gosto de imaginar que o conteúdo da caixinha de & é um espelho. Mas certamente isso é pretensão minha.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">8-Jorge, quais os trabalhos que podes citar que te trouxeram grande prazer em fazer?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">R – É mais comum o alívio, a sensação de um peso que transfiro, a expulsão dos fantasmas dos porões, algo que me liberta. De prazer mesmo essa louca aventura que estamos cometendo e um história infantil que escrevi em homenagem à minha neta.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">9-É verdade que depois de & me autorizei a fazer poesia .Tenho teu texto como sendo poesia, embora te digas “ dramaturgo”.O que é arte?O que é poesia?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">R – Eu sou muito inconstante. Sempre ando apaixonado por alguma nova definição de arte com a qual tropecei no meio do caminho, como se fosse pedra.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Aí vai a mais recente: “Quando algo corrompe a natureza da acomodação e sacode nossa falha razão, estamos diante da Arte”. É de Adriana Bandeira. A poesia, por sua vez, é o resumo da ópera. É ela que sustenta não só a literatura, também todas as outras formas de expressão artística. É só ela que autoriza sintonias de fruição, de emoção, de partilha, de um ser e de um sentir inexplicáveis. Raramente elaboro um poema formal. Não estou me referindo a uma questão de ritmos, melodias, rimas ou métricas, mas ao sentido estrito de um formato peculiar da mancha gráfica impressa na página. Ao mesmo tempo, suponho que há poesia em tudo o que eu escrevo. Ou é isso que almejo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">10-Voltando ao primeiro café juntos... surpreendeu-me tua resistência: “ não quero te conhecer”, foi o que me disseste!Falamos em troca de sobrenomes, em troca de livros...pois bem, como sentes esta questão do “ conhecer o outro”?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">R – Realmente fica um pouco difícil convencer alguém a não levar uma declaração dessas para o lado pessoal. Na verdade, pretendia ser um elogio ao teu trabalho como escritora. Quando a obra de um artista me impressiona, é aí que não faço questão de conhecer o criador pessoalmente. É uma espécie de fobia solidamente sustentada em experiências prévias de desastrosas decepções. Não adianta me torturar, que não vou citar nomes. Acredito que ficou suficientemente claro, na continuidade da nossa amizade, que foste uma das raras exceções que confirmam a regra. Não me arrependo de ter te conhecido. Agora que provei, eu quero é mais.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">11-Gostaria de deixar registrada mais alguma coisa?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">R –<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Acho que me excedi nessa tendência à verborragia. Ficou longa a entrevista. Te autorizo a cortar o que achares demais. Beijo sim, bj não!</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">Agradeço pela<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>verdade esculpida,denúncia contida,pelo amor que fez nascer em mim ;por estar conversando conosco, por aqui.E...queremos saber quando vens com Alice para conhecer nossa Estação da Cultura!</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">R – Logo no primeiro trem.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">Beijo com todas as letras!</span></div>Jorge Rein é dramatugo,escritor.Vencedor de alguns prêmios pelo seus textos encenados.Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3599316829614612905.post-33225422668274296432010-12-15T11:02:00.000-08:002010-12-27T14:19:52.955-08:00Falando sério com Diego K<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_g26UObOuo4M/TRkQp0UibcI/AAAAAAAAABA/ndNwSo0QHvU/s1600/PIC_0035.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" n4="true" src="http://4.bp.blogspot.com/_g26UObOuo4M/TRkQp0UibcI/AAAAAAAAABA/ndNwSo0QHvU/s320/PIC_0035.JPG" width="320" /></a></div><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">1-Qual a tua primeira lembrança acerca deste interesse pelas artes visuais?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">5 ou 6 anos, no "jardim de infância". Em uma semana, fiz o mesmo desenho todos os dias: uma casa e um pássaro com uma flor no bico. O primeiro desenho começava com o pássaro à esquerda da página. Nos desenhos seguintes, ele foi "voando pela folha" até chegar à direita. Acredito ter sido minha primeira noção de animação.</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>2-Comentava contigo a respeito de autoria. Percebe-se que tu és um homem “ mordido” pelo teu trabalho.Quero dizer que o que fazes está estranhado em ti, que o que produzes tem autoria, tem a tua marca.Pois bem...Concordas comigo?Como percebes a tua autoria naquilo que compõe um trabalho?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">Sim. O que eu faço geralmente envereda pelo fantasioso, pelo lúdico. Talvez seja um protesto à sermos "só isso que somos". Ou vestígios da pureza da infância que resistem ao tempo. Ainda não cheguei a uma conclusão se os trabalhos que faço são prisão ou liberdade. Prisão porque sem os trabalhos não sei se teria um "eu". Existe um Diego que não está associado ao eu trabalho? Consigo acordar amanhã e dizer: "Hoje vou largar tudo e virar agricultor"? Liberdade porque cada trabalho novo vem com uma pergunta que desfaz as respostas prontas até então.</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">3-Por que Diego Ka?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">Na condição de homem mordido, mordi meu sobrenome =D</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">4-A primeira vez que tive contato com tuas idéias foi na criação da capa do Chá das Cinco.Percebi que me perguntaste sobre algumas coisas, sobre algo do texto, algumas palavras chaves e, de pronto, compuseste a belíssima capa do livro.Pois é...o que move teu trabalho de criação?As cores, as palavras, percepções?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Calibri;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;">Penso que todo trabalho criativo verdadeiro é espontâneo. Até tenho dúvidas se o artista é realmente dono do seu trabalho, visto que sua imaginação entrega o caminho pronto. Michelângelo exemplificou bem: "</span></i><span style="color: #4f81bd; mso-bidi-font-style: italic; mso-themecolor: accent1;">A figura já está na pedra, trata-se de arrancá-la para fora</span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;">". Procuro manter a imaginação bem nutrida: ao invés de olhar reto e objetivo pras coisas, me perco nas percepções periféricas. Depois, as perguntas e palavras-chaves <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>apontam a direção, e a imaginação dá a resposta. Nesse cenário, sou apenas a ferramenta.</span></i></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">5-Quais as coisas mais importantes para ti?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">Não vivi o suficiente pra definir o que é realmente importante, ou descobrir, ou me conformar. A importância das coisas é volátil e efêmera. Um grande amor pode tornar-se uma pálida lembrança. Uma profissão pode resultar na confissão de que não faz mais sentido. De todas as coisas, perguntar e ter dúvidas parece a mais importante no momento. Verdades e caminhos prontos hermeticamente fechados em palavras e entidades absolutas aborrecem e emburrecem. Atualmente considero importante a transformação, valorizo e prezo a transformação. E quando encontro respostas pras coisas, me pergunto se não estou ficando ignorante.</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>6-Quais as principais dificuldades de Diego Ka?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">Algumas vezes, carecer da técnica necessária para realizar determinado trabalho que foi imaginado.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ter o domínio da técnica para concretizar a imaginação com esmero é um ato de respeito a si mesmo.</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">7-Num texto teu que eu li, escreves sobre as diferenças. Fala em cores, em pensamentos, neste abismo que é próprio ao ser humano: o que sinto,vejo ou falo não determina como o outro vê, escuta ou fala.Pois é...percebe-se uma certa ética a respeito do cuidado com o outro. Como lidas com isto já que trabalhas com imagens e criação e sempre estas coisas estarão alheias ao que, de fato, imaginamos?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">Não faço coisas pensando no que os outros irão pensar, porque não sou "os outros". Não tenho a carga de memórias e emoções deles pra ficar delimitando "isso é bom"<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e "isso não é bom". Tenho apenas a minha carga de memórias e emoções. Embora o trabalho de criação seja egoísta, a percepção é coletiva. O que procuro é respeitar e atender ou superar a expectativa coletiva no tocante satisfação, geralmente com temáticas benignas, emotivas, belas. O meu norte vem de símbolos universais (um sorriso é um sorriso e uma coisa boa em qualquer lugar do planeta) e percepções de massa (você pode realmente odiar rap e amar Beethoven, embora outras pessoas adorem rap; mas um rapper pode dizer com sinceridade "Beethoven é a pior coisa que já escutei, isso fere meus ouvidos"?)</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">8-Quais os trabalhos teus ou em parceria que poderias citar ?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">Sempre gostei muito dos trabalhos de computação gráfica, como as aberturas de programas produzidas para a TV Cultura de Montenegro desde sua inauguração, e a TV Mais de Novo Hamburgo. Algumas ilustrações renderam um espacinho na memória, como uma campanha pra Gasoline (marca de roupa) e outra pra Souza Cruz, com pinturas a óleo de animais. Na produção de vídeo, um que teve um resultado bem satisfatório foi o 2º Caderno Pedagógico, para a Fundarte. Algumas capas de livro também foram divertidas de fazer, como a tua (Chá das 5), do Carlos Leser (In Extremis) e do Pedro Stiehl (Rapsódia em Berlin). Nem sei se eu posso falar isso, mas a mão que aparece na capa do livro do Stiehl é do Mister, que freqüentava o Café Comercial.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eu falei pro Ângelo (Daudt, fotógrafo): "Cara, preciso duma mão, LITERALMENTE" heheh e ele me veio com essa. </span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">9-Quer deixar registrada alguma coisa mais?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #4f81bd; mso-themecolor: accent1;"><span style="font-family: Calibri;">Virou Cartório agora pra ficar registrando coisas? hehehe</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">Agradeço muitíssimo tua entrevista. É de fato um prazer teres aceito ser meu convidado. Andiamo,Diego.Andiamo!Mas...cartório não combina muito comigo,não.Registro de palavra,sim!Que a gente escreve para repartir.Como as tuas...belíssimas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">Beijo com todas as letras</span></div><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"></div>Adriana Bandeirahttp://www.blogger.com/profile/09351742117342462305noreply@blogger.com0