segunda-feira, março 28, 2011

São tuas as minha mãos, as palavras entre nós - Texto de Leonardo B. para Indecentes Palavras

De Improviso
Para a Adriana Bandeira,


O momento,
do momento que se traz cá dentro
como um lume que não se apagou,
como o retrato repentino
da gente que nos ficou no peito,
gaiola em desajeito
de folha e arame improvisado,
como horizonte de mar que se acontece preso ao céu.
E sem preparo
invento, do instante
o tanto ou quanto só,
cheio do que a memória guardou
no rio de dentro,
na margem do forte tambor aluvião.
E de súbito, o momento
do momento que em forma de gente restou
antes ou depois,
do mínimo espaço
do tempo,
do vento vago que se arruma cá dentro,
resto de momento que em mim trago
como brasa dum lume que não se apagou.
Dum gesto, um momento
um passo que trago do levante,
que fica,
dentro do tudo o que me basta, agora
e do instante,
agora, do pouco eu
que invento
ou improviso,
de todo meu passo
futuro e passado,
a gasta pedra onde
em sangue,
também sou letra, momento meu
onde me teimo ficar inscrito,
como mínimo espaço do tempo que me divide,
resgate urgente
do pouco,
pouco do mundo, de repente.
E quem diria que
aqui, ali, mais adiante
no peito, no rio breve, na palavra,
dentro do lume que não se apaga
cá dentro, afinal
também há gente?

Leonardo B- abarcadosamantes.blogspot.com

Março 2011, 27
[breve aparte: o original deste “improviso” surge assim, tão de repente, na caixa de
comentários num post da Adriana Bandeira, numa versão menos elaborada, e aqui
ligeiramente alterada, mas orientada pelo mesmo principio… apenas em passo, caminho
um pouco diferente, porque o principio e fim continuam inalterados: estas poucas
palavras meio desalinhadas (ou alinhadas, conforme a perspectiva), pertencem à
Adriana Bandeira, ainda que saídas de minha mão.]
|imagem: reprodução de Francine Van Hove|

3 comentários:

  1. Que belo encontro de versos, de conversas, de poesia.

    Um abraço aos dois, parabéns!

    Carmen.

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  2. Um palavra seria sempre pouco, tão imensamente pouco perante

    Um imenso e grato abraço, Adriana

    Leonardo B.

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  3. Leonrado...a gratidão se foi embora pela denúncia simples da cumplicidade.Que seja este, sempre, teu cais.
    beijo grande
    adriana bandeira

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