quinta-feira, março 31, 2011

O Inventáro

ESTRADA DE FERRO- OLHOS DA CONSTRUÇÃO I

Antes das réstias no chão das tábuas, a mãe moía o trigo, pão, fornalha.O pai tinha aquele alarido de mãos grossas, tanta fala.Abria a terra e plantando, sonhava com o que viesse colher.Foram os olhos da mãe, o pão.E o braço do pai toda a água do mundo.Por isso naquele dia havia de ser coisa muito séria.Aquela voz entre dentes propondo morada em pensão.Homens de fala enrrolada, macacão azul de abrir estrada.O pai pensou,repensou.Os olhos do homem eram de um azul de céu que, sabíamos, não existe.O Artigas falava de novo, em castanho olho redondo, reinventando o que a fala ardia: eles querem pouso e roupa lavada.Comida.Pagam pelo mês até seguirem para a outra vila.São trinta...Não há jeito...o trem vem para cá!Iam querer mulher...se tiver lugar.
A mãe...sem olhar.O pai sem os braços, sem o traço que o fez até ali.Não voltaram mais daquele dia que me fundava.Sou a que faltou, a palavra.

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