DECANTAÇÃO
I
Cobrir das algas a nudez
apenas com o mar
é silêncio precário.
O poema procura
a estrutura que o sustém:
ao encontro do rio
desce o monte
o tempo tardo
é no entanto
parco o silêncio para se construir
queima
a mercê da pele aos lagartos de areia
o estoiro dos cem assombros da serra
no meu canto eu não sei bem o que arde
porque o poema é às vezes ordem
ponte pensada
sobre o lodo
desde o banho do amanhecer
à última estrela da tarde.
II
Fechar das algas
o coração dos dias
com sedimentações
do seu acontecer
e guardá-las por detrás
dos muros que sustentam
as terras.
O rosto do mar sabe-se
deve ser velado e seus rumores
distantes.
Dizer pois palavras que atravessam o tórax
o espelho do esterno
quando a maré cobre
a boca das praias
no meu canto eu não sei bem o que digo
mas sei que dizer palavras
acesas pelo fósforo
da respiração
é fechar serenamente
numa mão o silêncio
e na outra o seu ruído.
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