quinta-feira, fevereiro 24, 2011

PULSAR, SÓ SENDO PEDRA QUE HABITA DESEJO DE NÃO TER FIM- O jantar na Peña Del Sur


1-Começo perguntando sobre o nascimento desta idéia, desta construção psíquica da Peña. Falamos em extensão da casa, tanto no aspecto subjetivo quanto no aspecto físico.Fiquei pensando que pedra é o coração.No sentido de que há de ser duro o suficiente para viver por alguém ou por alguma coisa.Há de ser forte o tanto que precise para plantar construção de mais uma...pedra fundação.Só isso faz pulsar.O que pensam destas coisas? O que é a Peña?
A Peña surgiu do  desejo de oferecer um espaço onde coexistisse arte e gastronomia....
2-A Peña  foi desejada, imaginada, estudada.Percebe-se nos mínimos detalhes um cuidado com traços de humanização.Tenho para mim que,diferente do que se imagina, os objetos não servem somente para a decoração.Dizem respeito a uma história,uma marca que se hoje não reconhecemos de imediato,sabemos do que se trata.O detalhe,penso, é toda  a verdade que só se apresenta assim.Então:o que é o JANTAR?
O JANTAR a meu ver é o  “clímax” da Peña. É a hora em que os comensais recebem o alimento. Sensações vão se complementando à medida que o alimento vai sendo saboreado, acredito que para alguns esse momento funciona como uma terapia, reequilibrando seu estado psíquico....
3-Vocês servem carne e outros...Cortes diferentes que dão o sabor.No meu trabalho os cortes é que dizem da delícia.Explico: tanto na escuta psicanalítica quanto na escrita a pontuação, a voz que diz...é que serve algo da verdade.Neste aspecto ela é só...a delícia da hora, crua como sempre é só.Os cortes são o gosto.Qual a diferença, neste aspecto entre carne e alma?
Na nossa situação especificamente penso que carne e alma se complementam, no sentido de que o boi ser vivo que fornece a matéria prima carne para o preparo do alimento na forma como preparamos acaba propiciando uma interação desses dois aspectos.. tendo em vista a transformação espiritual que provoca em alguns.....
4-É...então falávamos nas mulheres e alguém disse: ...vamos voltar a falar de carne! (ehehehehe). Nesta conversa deliciosa e divertida me concedo retornar ao que dizíamos. Acho que o Leandro falava algo sobre sempre ter sido sustentado, enquanto desejante, pelas mulheres. Pensei na mãe, nas mulheres da sua vida, na Mirelli que hoje está ali lado a lado. Pensei também na diferença entre carne e mulher.Já explico!Já explico!Usa-se palavras semelhantes sobre o ato sexual e o ato de alimentar-se.Fala-se em: comer.Isso não é por acaso.Mas, afinal: o que seria ter na mulher o seu sustento?
É ter a oportunidade de amá-las todas nas suas diferentes formas possíveis.... amor pra mãe, pra irmã, pra madrasta etc,  mas principalmente pra amante, onde o desejo de “comê-la” nos proporciona as melhores sensações de prazer.....
5-Agora há pouco achei um vídeo sobre o filme Um homem, uma mulher.Ela fala a ele sobre as coisas originais e maravilhosas que tem o Brasil.Ele, dirigindo, passa a imaginar vários momentos em que estariam juntos, enquanto ele aprende a cantar o samba Sarava.Hoje os homens imaginam estas coisas?As mulheres se deixam invadir assim?
Sem dúvida, tenho pra mim que sempre o maior desejo da mulher é se deixar invadir pelas boas e verdadeiras intenções dos homens....
6-Então a questão talvez seja o permitir-se.Vocês diziam do desejo de que aqui as pessoas...aconteçam.A dificuldade para homens e mulheres é de se dizerem, de estarem habitantes de sua verdade.Isso diz respeito a comer, deixar-se invadir, deixar falar e cantar.Já tiveram muitos convidados, pessoas de fora e daqui.Quais os momentos mais interessantes de pessoas comuns ( que nem sabem que são artista) que fizeram lugar na lembrança de vocês?
Lembro de uma noite em que um canadense que até lembrava um pouco o Neil yang se aproximou do Rodrigo Magrão e perguntou pra ele em inglês se ele sabia tocar tal música, o Magrão deu o primeiro acorde e o canadense, que na ocasião estava com mais uma turma de estrangeiros, pegou o microfone e enfilerou uma três ou quatro canções... enfim, tiveram várias ocasiões parecidas com essa....

7-O Leandro falava sobre o desenho que representa a Peña: os índios ao redor da caça. O sacrifício lembra o que funda a civilização humana: a lei.A mais primitiva delas diz respeito ao incesto e dela resultam as outras.A lei do pai...a que diz que a mãe não será de todos, ou a mulher não será de todos.E o Leandro falava disto ardendo no fogo, enquanto assava a carne (eheheheh).Quero dizer que comer carne é algo muito antigo.Nestas reuniões eram ofertadas as melhores, mais valiosas verdades.Os índios comiam para que o pai lhes encarnasse em sua força e amor.Acho que amor é dom que se alcança ao outro,numa perspectiva de dar o que não se tem.O que o Peña tem em comum com isto?Podes contar um pouco sobre a história disso tudo?
Na Peña é tudo muito explícito e interativo, desde o preparo dos alimentos, totalmente aparente  até a coexistência dos comensais, tendo em vista que temos praticamente um único ambiente... nesse aspecto imagino que fica difícil não fazer desse momento uma oferta a verdade....
8-Já faz algum tempo que tenho certeza que poesia faz revolução. Como não é capaz de exercer poder pelo discurso ( a verdadeira poesia faz poetar, não insere ninguém em idéia alguma), faz abrir possibilidades diferenciadas de estar no mundo.Falávamos em Silvio Rodrigues e a revolução que sua poesia acaba propondo.Qual a influência disto?Onde está Silvio Rodrigues?(eheheheh).
Essa eu passo....
9-Então vermelho é mais caro ( eheheheh)... Zé conversava concordando com a cor das unhas das mulheres. Acabamos concordando que existe uma cor que diz algo. Então?
Pois sim,  me gusta a mulher determinada e destemida, a pureza das unhas vermelhas é incomparável

10-Logo vocês pensam em inaugurar uma biblioteca neste espaço. Acho que escrever e costurar é quase a mesma coisa. Nunca tinha pensado em escrever e comer. Mas, pensando bem...abre-se a carne a cada vez, quando a palavra nasce sem piedade.O que uma biblioteca faz por aqui?
Fará oportunizar que possíveis interessados leitores conheçam as literaturas ali expostas, a idéia é que o cliente estando interessado possa levar o livro e conhecer as obras e seus autores...
11-Depois de nossa conversa fiquei pensando muito. Não costumo comer carne...para fingir que não sou carnívora(ehehehehe).Se a idéia era que da Peña as pessoas saíssem diferentes...comigo funcionou ( ehehehehehe).Mas pensei também sobre o ritual, a necessidade que o humano tem de estar inscrito em algum lugar, por lhe faltar o instinto perfeito do animal.Há alguns anos tínhamos papéis definidos, inclusive de nossos pequenos sacrifícios.Hoje há uma ausência destas referência o que acaba aumentando a angústia: o que o mundo quer de mim?Neste sentido, o mundo fica irremediavelmente terrível. Elaboro uma idéia de que no consumo excessivo de drogas esta angústia acaba dando o corpo em sacrifício...E muitas vezes nem mais isto é.Bem, mas existe na tua fala, no gesto, esta mordida que acompanha o Diego K e, de certa forma, o que causa este blog.Uma voz quebrada e reconstruída  que faz valer uma denúncia.Tu te darias...ao quê?
Me dou ao trabalho de esforça-me para que as pessoas que chegam a Peña Del Sur, tenham a genuidade da nossa proposta enquanto um espaço de gastronomia e arte..

12-Então uma companhia que...”Não tenho jeito para varrer”,”acho que é machismo” (ehehehhehee).Como vocês vêem estas diferenças?
Falta de objetivo comum
13-Machismo é fazer valer uma mentira. A de que a mulheres não existem. Por isso a piada de que todo o machista seria um homossexual. Mas repara que Inclusive os homossexuais são um, enquanto na sua relação.Hoje por email um amigo dizia que nos dias de hoje as mulheres recebem quem bem quiserem nas suas camas.Respondi que talvez às mulheres falte o principal.Talvez a cama de uma mulher tenha que ser feita por ele, um homem.Neste aspecto perdemos.Todos!Pois bem, para vocês o que é machismo?O que é feminismo? Gostaria que respondessem os eles e elas desta Peña ( ehehehehehe).Pode ser?
Machismo a meu ver é justamente o que colocastes acima, o egoísmo das atitudes

14-“ Não te culpes” dizia o Zanatta ( ehehehehehe). A Peña recebe as palavras e, por isso, as pessoas.Tu falavas desta disponibilidade em receber algo .O que é isso para ti?Para quê serve?
Receber para possibilitar a troca. Ou até mesmo a renúncia....  serve para descobrir se se faz realmente importante
15-Das pessoas que recebem, dos artistas, dos trabalhos feitos em parceria, quais os que tu podes destacar?
Todos de certa forma são determinantes, todavia nos primeiros momentos creio que o Luiz Américo Alvez Aldana e seu La cañera, o Vandré da Rosa e o Luciano Rhodem, o Juliano e o Vinícius do Timbre Gaúcho, o Rodrigo Magrão, o Fernando Ribeiro, o Castelo Vargas foram de suma importância para a formação da identidade artística da Peña.
16-Falando com um amigo ele lembrou das peñas uruguaias.Procurou no Google e viu o nome da rua.Logo que cheguei ouvi alguém dizer isso: a rua foi colocada pela idéia.O que nasce primeiro: o nome, palavra ou o corpo ?
O corpo.....
17-Terias algo mais a registrar aqui?
 gratidão pela oportunidade, apareça mais vezes...
Saludos
Zezé Pinto
Ficaria horas elaborando perguntas e comendo carne e me deixando invadir pelas delícias.Ficaria em respeito ao que nos cabe, como parte em sacrifício pelo que lhes causa, minha palavra também.Estaria costurando em máquinas antigas, furando os dedos, os discursos perfeitos, só para existir um que não.Restaria, passando este tecido, se  neste tempo ainda os ferros fossem em brasas, como a carne assando as frases, restando o corpo em oração.Agradeço a existência de vocês neste nosso lugar, nesta rua que é minha e de todos os que quiserem andar.Recebam-me sempre, por favor, neste mar.
Venham sempre, ao Indecentes palavras, me deixar respirar.
Beijo com todas as letras
Adriana Bandeira
Em tempo...lembrada por Carmen Presotto, escrevo no depois, agora, o endereço da Peña: Rua Che Guevara esquina Aloys Kerber-Bairro São João-Montenegro,RS-Brasil.
Fones: 51-36328654 ou 81919896
email: contato@penadelsur.com.br
site: http://www.penadelsur.com.br/
Salutos,
           como diz o Zz.

4 comentários:

  1. A Peña é feminina, uma idéia. A Peña vem antes da humanização de todos nós, acho. Precede ao ideal e a civilização dos corpos que perambulam por lá, também acho. Quase impossível situá-la - a idéia - na história. Consigo, talvez, traçar uma modesta comparação antropológica e a colocaria como fenômeno social, produto de comportamentos (Lenadro e Zezé) irracionais, dominados por uma grande confusão. ... é feminina.

    ResponderExcluir
  2. Bem vindo Luiz!
    Sim!Fenômeno social, neste tempo e lugar.Talvez feminina porque depende de quem a toma, de quem a frequenta, de quem a visita.Neste aspecto aquilo que falávamos sobre psicanálise...uma mulher não existe.Ela torna-se.A Peña acontece, a cada vez.Parabéns aos protagonistas desta história, incluindo o grupo La Cañera, citado como referência à produção cultural.Volte sempre ao Indecentes Palavras, inclusive com teus poemas, clip é voz.
    beijo grande
    adriana bandeira

    ResponderExcluir
  3. O corpo.... sempre nasce antes da palavra e da linguagem e deste genial encontro saio corporizada poeticamente, parabéns aos dois e a ti Adriana um abraço e meu carinho, este espaço está melhor a cada postagem.

    Esqueceste de dar a localização? Hey, desejo muito conhecer este lugar mágico, onde carne é corpo e poesia.

    Carmen.

    ResponderExcluir
  4. Sim! Em tempo vou postar agora a localização deste espaço de nãos e temer a carne que tanto nos embaraça( ehehehe).bem lembrado, Carmen!
    beijo

    ResponderExcluir