domingo, fevereiro 13, 2011

Freudianas reflexões sobre " os nós" I

A VISÃO EM PARALAXE-NOVO LIVRO DE SLAVOJ ZIZECK-PEQUENA REFLEXÃO
                                                                                     ADRIANA BANDEIRA
A visão em Paralaxe, novo livro de Slavoj Zizek faz título a este comentário. Ainda não li o livro mas, surpreendeu-me a posição discursiva deste pensador de nosso tempo, o que provavelmente vai estar gravado nas entrelinhas de seu texto.
Longe de tê-lo alucinado como o melhor, simplesmente fui surpreendida por um : mãe vem ver um cara “f”  intitulando-se psicanalista teórico!Parei tudo.Diga-se de passagem, parei no meio da construção de um texto sobre “Vício”...ou “O vício de si”.Pois bem, este Slavoj Zizerk coloca-se desta forma mesmo: psicanalista teórico, abrindo uma concepção diferenciada daquela que fundou a psicanálise,uma clínica. Porém, coloca-se não tão longe desta prática, naquilo que fala sobre um social, que só pode ter sido escutado enquanto fala, enquanto sintoma. Nisso argumento que estaria em conformidade com um possível ranço sobre uma clínica individual, burocratizada e fadada ao fracasso enquanto a serviço da fala emergente, do sofrimento que nos vem hoje.Não penso assim mas...quem sabe ele não se diga clínico para não lembrar que é no um a um que ocorrem as revoluções, os movimentos de si, de cada um, porque talvez isso fale dele mesmo, naquilo que somente sua escuta produz em conformidade com sua causa.
Para além dos ranços, é de uma trajetória de escuta da história, do traço social enquanto repetição diferente que ele organiza uma possibilidade.Ele é...genial!
Justo no momento em que eu pensava nas toxicomanias, na drogadição e no olhar dos que consomem crack; justo neste contexto do tal” Vício”  Salavoj, em Roda Viva no youtube, vem me falar da opacidade do olhar daqueles que voltaram do inferno, do holocausto.
Fico pasma! Fico estática voltando há tempo para continuar a ouvi-lo na excursão pela sua fala.
Diz-me ele, ao pé do ouvido, que o holocausto inaugura uma  outra forma do pós traumático.Seria: o sujeito sem seu Ser.Descreve os sobreviventes com aquele olhar sem brilho, aquele jeito zumbi que eu mesma encontro na maioria dos que fazem uso abusivo de drogas.Fala de sua teorização dando conta que este pós traumático funciona nos países do primeiro mundo pois que nos do terceiro, não há pós traumático mas...trauma, e trauma novamente.
Traz Descartes para a discussão situando o sujeito cartesiano como este que desfez-se de seu ser.Isso não lhe pertence mais, sua consciência, sua razão já que o Ser está onde não pensa.A existência está onde não é mas pensa que é.A situação entre pensamento e consciência merece outra leva de reflexões!Deixemos, por hora!
Mais que isto, Slavoj chama Marx para a discussão dando ênfase ao conceito de proletariado marxista como sendo aquele que está alheio ao que produz; não pertence a si ,não só sua força mas também seu pensamento.
Oras...Fico imersa numa posição esquisita em que questiono a obediência ao trabalho requisitado pelo tráfico ( afinal dá dinheiro), ao valor dado ao objeto que transita valoroso como A coisa prometida.
Porém, o trauma que se perpetua, não é mais trauma... É o quê?Aponto uma geração de sujeitos que não vivenciam a violência contra um si mesmo; não estão no trauma, nem no pós trauma. Fazem do estupro um pagamento, da morte um pagamento, da vida... um pagamento no real ...a qualquer coisa que se perpetuou.E o que se efetivou?
No início do séc XVII, quando as crianças passam a ser amamentadas, cuidadas, está o corpo como possibilidade de trabalho, portanto condição de revolução. Hoje o “sopro” é descartável, sem texto que o antecipe ou anteceda, que o vingue no sentido do plantar. Este corpo fadado a ser violado nasce como para a isto se dar. Porém, nem como sacrifício, nem como linhagem  (condição dos filhos antes da revolução francesa), mas como inexistente.
Pois é...O traumático institui uma condição humana que dá conta das aprendizagens  (aprender a falar é traumático), no sentido necessário do trauma.Noutro contexto é da ordem da perversão, da morte simbólica de um sujeito ou de um povo (como foi o caso dos judeus) num espaço de tempo (minutos,horas, dias, anos).Porém, quando falamos de trauma que não há de ser visto como um depois...estamos diante da morte de fato.Então...não há nem “ vício de si”.
Pois bem...este Slavoj me deixou com algumas questões e embora não ache justo, fica esta visão um tanto pessimista.Julgo retornar a este assunto depois de ler o livro e desenvolver um pouco mais o que tenho a dizer sobre: a relação desta falta de um si mesmo  com a possibilidade de ler e escrever .
Convido-os a entrar na discussão.Vamos?
Até mais.
Adriana Bandeira

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