domingo, fevereiro 20, 2011

Café da manhã com Jorge Rein

 Para aquela de ti que faz café


ela passa café e domestica
em domésticas lides os demônios
que hibernam
no borbulhante ventre das chaleiras e do vapor
as musas semifusam
ao tímpano excitado do meu ouvido interno
seus mínimos escândalos
seus boatos obscenos
ela passa café e um tempo obscuro
destila na clepsidra
parcimoniosos séculos
de soturnos humores que gotejam
água mole na pedra do desejo
nem tão dura nem tão paciente quanto
ela passa café e vagaromam
pela cozinha as nuvens
que rabiscam suor nos azulejos
ela passa café e se escultura
alheia às transparências
aos reflexos
aos fogos de artifício que alimenta
na imaginária imagem do seu ritual sereno
ela passa café
se pre e se ocupa
com a inocente química do enredo
ela passa café mas eu mal passo
de um sátiro alquimidas:
tudo transformo em sexo

                    Jorge Rein

4 comentários:

  1. "as musas semifusam
    ao tímpano excitado do meu ouvido interno..."
    e enquanto a chaleira chia, esfumaçam-se em presença, na janela corre o dia, em minha mão elas deixam imagens...

    Amanhece, café pronto, e na mesa a me espreitar um novo poema, elas dormem, e eu já estou domesticado...

    Hey, gosto tanto destas cenas lidas que me atrevo a conVersar junto, para mim isso é poesia.

    Um beijo aos dois e boa semana.

    Carmen.

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  2. Carmen!
    Agradeço muitíssimo e saiba que fico honrada com isso já que o Vidráguas e acasaquecaminha foram minha fonte inspiradora para este blog.
    beijo grande
    adriana bandeira

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  3. Um beijo Querida, boa semana. é assim... enlaçando versos, desejos, poesia seguiremos mais e melhores... gosto muito de estar contigo, aqui e em poesia.

    Boa semana e a poesia de Jorge nos faz seguir conVersando, não é mesmo?

    Carmen.

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  4. É o poema que qualquer um gostaria de ter escrito, com as devidas nuances. De Joaquim Manuel Magalhães, já tinha lido um verso em que ele ligava o café, os sábados e o erotismo, mas não um poema inteiro e completo como este: é tão difícil descrever o mistério do café e de tantas outras coisas da vida.

    António

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