A Nuvem Improvisada ou Duma Resposta ao Salmo de Huchel
Para a Adriana Bandeira, com admiração e estima
«Nenhum mundo é meu.
Todos estão em mim desde que existo.
E a minha voz nasceu para falar do último,
Porque ele nunca existirá,
E é incrível que não haja fim.»
Ocaso IV, de Jorge de Sena
Saberemos, por certo
como ler os silenciosos traços
os nós dos brancos espinhos, nas tão claras
e improvisadas cinzas em azul quase céu,
como sombras espalhadas pelo corpo adentro
as primeiras palavras aclaradas pela manhã.
E dos moldes que se trazem da coronária matriz
do salmo, da melodia
saberemos, pelo breve toque na vaga pele do dia
no pouco antes, o que na hora se guarda estreito
a hora
que pelo toque das matinas, tomará do primeiro sopro
do pouco vento, o peito do pássaro acontecido
em chamas
e no renovado horizonte,
o abrigo duma manhã mais no mundo.
Dir-nos-ão insignificante,
a sombra espalhada pelo corpo adentro
e em segredo, por nos sabermos nesta manhã
os primeiros habitantes imaginários,
quase anjos rupestres, e contudo
o fruto do ventre
acontecido por cântico da terra
por pássaro que nos acorda,
acontecido sino do tempo,
o sopro que nos reclama
em improviso e imperfeita cópia do primeiro instante.
E no peito, a percepção da estrela que trazemos
por provisório coração, a estrela armilar
onde por uma manhã construímos uma casa,
será átomo, um pouco de ar
o manuscrito improvisado, da onda
uma asa quase, dentro da palma da mão.
Então,
haveremos por refeito, o livro, o dia
a porta aberta
e por luz, o poema
desalinhado, adentro revolvido, improvisado
salmo e sombra, o espinho agreste
que saberemos trazer do traço,
e por perto, por nuvem
o acontecer novo do mendigo fiapo do céu,
o acontecer adivinhado, e contudo
não mais que uma manhã renovada no mundo.
Maio 2011, 2
Leonardo B.
http:/abarcadosamantes.blogspot.com/
Leonardo que belo presente, um poema merececido!!
ResponderExcluirParabéns por toda poesia que brota por aqui Adriana.
Beijos, boa semana.
Carmen.