domingo, maio 15, 2011

POEMAS DE RUA...A CIDADE EM MIM IV

 A casa morta


E depois de atingida, ainda viva, aguardava inerte.Braços e pernas dilacerados, com o olhar no trilho inexistente, esperança que traz o tempo de volta.Jazia imóvel e relutante de escapar dali, carregando só as ruínas, sem a própria alma.Por algum tempo respirou, contrariando as leis das demolições.Braços, pernas e sexo, violados pela colonização que se repete nas ruas e praças, matando o que restou  de palavra-paixão.
Com a mão já morta acenava incrédula: lá vinha ele com o chapéu para trás.Sentou-se, com o cigarro que carregava na orelha, de onde a fumaça escuta o apito do trem.Eu que nem fumo, nem canto, fumei e cantei uma música que nem conhecia, só para pedir desculpas por ter chegado tão tarde!
"Volgmut"enrolou fumo e tecido, panelas e palavras num mesmo grande saco: viagem.Olhou-me em dizeres de perda, embarcou no trem que nem existe mais.Antes, a casa dando-lhe a mão, morreu com sua alma, em paz.
Quando a nova construção surgiu tão rápida, invadindo a praça e a delícia, nunca mais pude morrer.Virei fantasma do desejo de ser.

2 comentários:

  1. Linda despedida da casa que deixou de ser,
    na pele sentida

    Abraço!

    Marlene

    ResponderExcluir
  2. Oi Marlene!
    Bem vinda em indecentes palavras.Pois é...esta casa existiu mesmo e...as pessoas e os sentimentos realmente rasgaram a pele.
    Venha sempre!
    beijo grande
    adriana bandeira

    ResponderExcluir