1-Pedro Jalvi...Lá de cima se vê o quê?Se sente o quê?Dá para falar?
Lá de cima a gente vê como tem pessoas pequenas que, no entanto, imaginam ser grandes.
Vemos, também, que nem tudo é tão grande que não possamos ficar acima. Afora isso, o
estar lá no alto, voando, é das melhores sensações que o ser humano pode experimentar.
Além da autoconfiança temos de confiar no equipamento; é preciso a noção exata do que
se está fazendo; e quais são os nossos limites. Quem voa, sem sombra de dúvidas, é um ser
humano diferenciado. E muito melhor.
2-Depois de muitos anos te reconheci numa foto estranha, no Orkut, em que estás junto a uma
aparelhagem esquisita.O que é?Precisamos saber!
É um pára-motor. Simplificando: trata-se de um motor aeronáutico que vai conectado às
costas do piloto através de um equipamento. A “asa” é um parapente. É a menor aeronave
motorizada capaz de transportar pessoas, que temos por aí. Eu voava com um equipamento
destes. Vendi-o devido a uma crise financeira.
3-lembro do Netojos II !rsrsrsrsrsrs...Aquele grupo de teatro que reanimava as artes
dramáticas de nossa cidade depois de muito anos.Estamos ficando velhões , hein Jalvi?
rsrsrsrsrs.Pois é, não lembro direito quais os personagens, qual o texto na época.Porém, vou
te confessar, que lembro da tua voz! rsrsrsrsr.Era o comentário das atrizes nos bastidores!
rsrsrsrsrsrs.Outra hora conto mais das coisas que falávamos...sobre a tua voz.Ou não
conto,jamais!rsrsrsrsrrsPois bem...para ti Jalvi, o que é ter uma voz que causa gosto aos
outros?
É, e lá se vão trinta anos...Bah, devias ter me contado na época sobre os cochinhos nos
bastidores... Eu era tímido pra caramba, embora já trabalhasse em rádio e fazendo teatro.
Quando me elogiavam ficava tão vermelho quanto um pimentão. Pois, é! A minha voz
continua a mesma, mas, em compensação, os meus cabelos... Adriana, eu sempre digo que
para apagar a história só matando os velhos. Pois bem, esta alusão ao Grupo Netojos II (não
esquecendo que nos anos 40/50 houve o Netojos I), nos remete ao fato de que Montenegro
foi muito mais rica artística e culturalmente do que é hoje, e, no entanto, agora é que a
chamam de “Cidades das Artes”. De alguma forma este passado precisaria ser resgatado - e
devidamente registrado - para que a geração atual e as futuras saibam que nem tudo por aqui
foi a mediocridade que se vê hoje.
4-Costumo dizer que a voz é o sujeito.Nos seus diferentes discursos, nas suas diferentes
posições e endereçamentos.Porém, ocorre que quem narra um fato, principalmente num
veículo de imprensa, de propagação da notícia, precisa, imagino, nãos e apresentar tanto, não
comover-se tanto.Como é, para ti, dizer-se, aos ouvintes?
Olha, Adriana, cada situação é uma situação. Eu sempre digo para quem está começando: no
rádio a entonação da voz, numa locução, pode se tornar um editorial; na televisão, uma
expressão facial - além do tom de voz -, da mesma forma, será interpretada como uma
opinião. Mas as minhas experiências, através da voz, são muitas e riquíssimas. No rádio
profissional ,antigamente, só uma boa voz não bastava. O talento, como um todo, era
fundamental. Tempos atrás (hoje isto já quase não existe) se criava uma relação de muita
confiança entre o ouvinte e o locutor, o comunicador. Ao longo da minha carreira vivi
situações riquíssimas deste envolvimento, desta relação estreita com os ouvintes. O meu
trabalho em rádio sempre foi além da notícia (também era a notícia, é claro). Eu nunca fiquei
no ar menos de cinco horas consecutivas, de segunda à sexta. Os meus programas sempre
iniciaram às sete horas da manhã e se estendiam até o meio-dia. Imagine, então... a gente
passava a ser quase um familiar dos ouvintes. Hoje se fala muito no Zambiazi, mas este
trabalho desenvolvido por ele, fazíamos muitos anos antes. A diferença é o fato dele atuar
dentro de Porto Alegre e com o respaldo da estrutura da RBS. Para quem trabalhava no
interior se tornava muito mais complicado. Adriana, vivi fatos emocionantes, decepcionantes,
alegres, tristes, indiferentes, enfim. No rádio que eu faço, o dia de hoje não é igual ao de
ontem e nem será ao de amanhã. Para teres idéia deste envolvimento, já vivi o caso de uma
adolescente condenada à morte por uma doença incurável que dizia não aceitar morrer sem
me conhecer pessoalmente; de uma senhora idosa (já falecida) que, por vontade dela, tornou-
se “vó adotiva” dos meus filhos e os tratava como se fossem netos de sangue. Também passou
a cuidar de mim como a um filho. Ela, uma senhora culta, dizia que os filhos legítimos não lhe
davam a mesma atenção que eu dedicada à ela. Olha, foram tantas histórias bonitas nestes
mais de trinta anos. E em várias cidades. Hoje em dia nos Facebook e Orkut da vida, pessoas
me localizam e, num primeiro momento nem sei de quem se tratam, mas daqui há pouco
começam a descrever situações e eu acabo ligando-as a estes acontecimentos proporcionados
pelo rádio. Tenho muitas histórias bonitas e se fosse narrá-las aqui não haveria espaço
suficiente no teu blog. Já na parte jornalística, propriamente dita, também vivi situações
grandiosas. Antes de completar vinte anos de idade, já havia entrevistado presidente da
República, o general João Batista Figueiredo; consegui entrevista exclusiva com o governador
do Estado, Amaral de Souza (naquele tempo isto era quase impensável, devido ao regime
militar, pior ainda para um “pós-adolescente”). Fazer jornalismo era mais do que cumprir
expediente e apresentar um trabalho qualquer. Era viver aventuras. De todos os tipos. E hoje
quando eu vejo a gurizadinha da Imprensa(e não só nos veículos de Comunicação do interior,
nos grande também), em sua maioria medíocres, “arrotando” como se fossem os “caras”, fico
indignado. Como já disse anteriormente, sobra tecnologia e falta talento. O rádio, jornal e tv
não me deram dinheiro, mas, com certeza, proporcionaram grandes, enormes emoções.
Parodiando Roberto Carlos, eu posso dizer em alto e bom som que emoções eu vivi!
5-A tua paixão por voar...no teu tão esperado texto de encontro ( rsrsrsrsrrs), quando
aceitaste o convite para Indecentes palavras, relatas teu sonho de menino de ...voar.E aí, como
encaminhaste isso?
A minha paixão por tudo o que voa começou quando criança. Eu morava no Passo da Cria,
próximo a uma das cabeceiras da pista de pouso e decolagem do Aeroclube de Montenegro
(naquele tempo lá era interior do município). As minhas brincadeiras, em cima das árvores,
eram “de avião”. Eu saltava do telhado da casa com guarda-chuvas, simulando pára-quedas.
Quando nos mudamos para a cidade, casualmente passei a residir ao lado da casa do falecido
Paulo Streb, que era piloto e pára-quedista. Ele me oportunizou voar as primeiras vezes no
avião Paulistinha que havia no Aeroclube. Lembro até hoje a matrícula da aeronave: PP-RPJ (as
duas últimas letras, iniciais de Pedro Jalvi). Eu só não fui, aos 13 anos de idade, para a Força
Aérea Brasileira porque a minha mãe não permitiu. Queria ser piloto da Esquadrilha da
Fumaça. Bem, o sonho de ser piloto de avião se perdeu nas dificuldades financeiras para
custear um curso. Mas aos dezessete anos me tornei pára-quedista, esporte com o qual
também sonhava. Foi em Caxias do Sul. Vivi o pára-quedismo por mais de vinte anos. Mas a
prática deste esporte era bem diferente dos dias atuais, por vários aspectos. Desde a questão
segurança até os tipos de equipamentos. Atualmente, podemos dizer que é uma atividade
quase cem por cento segura. A tecnologia domina a fabricação de equipamentos. Para teres
uma idéia, no tempo em que fiz o curso levávamos quase seis meses do início das aulas até o
primeiro salto. Hoje, tu chegas pela manhã na área de salto e à tarde já fazes o primeiro salto
livre, acompanhado de dois instrutores. Nas “antigas” a gente saltava em queda-livre e ao
comandar o pára-quedas ficávamos torcendo para que o “redondão” abrisse, pois panes eram
comuns. A navegação do velame, um suplício; e a aterragem, uma incógnita. Mas havia mais
beleza em tudo. Era romântico. Tem um filme bem antigo (baixei na Internet), que assisto
quando bate a saudade daqueles tempos. O nome é “Os Pára-Quedistas Estão Chegando”,
com o Burt Lancaster. A estória se desenrola de forma muito semelhante ao que fazíamos,
viajando por várias cidades em atividade de saltos. A cada fim-de-semana novas aventuras.
Os “pqds” eram recebidos nas cIdadezinhas como verdadeiros heróis. As crianças tocavam na
gente para ver se éramos “de verdade”! Tudo muito bonito. Tenho saudade. Parei com o
pára-quedismo quando as áreas de saltos viraram “área de negócios”; os clubes se
transformaram em empresas e a prática do esporte passou a ser coisa para a elite financeira,
tais os custos que passaram a ter. Não era mais para mim. Afora isso, comecei a ver os
caras “fumando” coragem para saltar. Sempre detestei drogas. Não as aceito sob qualquer
pretexto, muito menos no esporte e num esporte como este, de alto risco. Paralelamente ao
pára-quedismo, conheci o vôo livre. No final dos anos 80 comecei um curso de pilotagem de
asa delta, em Igrejinha, (eu morava, então, em Taquara),mas não continuei devido à mudança
de cidade. Mais adiante surgiu no Brasil o parapente (que é primo em segundo grau do pára-
quedas e parente distante da asa delta). Fiz uns treinamentos e uns vôozinhos, mas, devido a
nova mudança de cidade, não continuei. Alguns anos depois retomei o vôo em parapente.
Neste ano estou parado face à alguns percalços, mas pretendo recomeçar em breve. Em
síntese (nem tão sintética assim) é isso. Mas continuo um apaixonado por aviões e por tudo
que voa, e, hoje, o computador também me permite voar diversas máquinas por vários céus...
6-A cidade e a voz...é algo assim como acostumarmo-nos coma s esquinas e as pequenas
praças.Então, existem aqueles que falam em função de um ideal político, de algo que requer
a denúncia....E outros falam porque amam o lugar onde nasceram e fazem da sua voz, a dos
outros.Estas seriam posições apontadas por mim, é claro.Mas tu,Jalvi...de onde tu falas?
Adriana, ao longo de 34 anos (comecei com pouco menos de 14 anos de idade, acreditem!
) o meu ideal sempre foi fazer algo pelos menos favorecidos; dar voz àqueles a quem nunca
possibilitaram o direito de expressão. Muitas pessoas pensam que o Jalvi brigão (no bom
sentido e, às vezes, no mal, também); que diz aquilo que outros não têm coragem; que coloca
o dedo na ferida; que “mete a mão” nos grandões, surgiu ontem (porque fiquei década e meia
fora de Montenegro). Nada disso. Eu iniciei profissionalmente já fazendo “bronca”! Nem 15
anos eu tinha quando duas viaturas da Brigada Militar foram me prender no estúdio da Rádio
América (tempos da ditadura militar), numa operação com direito à sirenes abertas, carros
entrando na contra-mão, homens armados até os dentes descendo das “pata-chocas” (como
eram chamadas as viaturas à época), tudo porque critiquei com veemência e a indignação de
adolescente, já inconformado, a BM e o Exército, porque militares mataram um motoqueiro
pelas costas, em Passo Fundo, e, depois, quando dos protestos, teve a matança de meia
dúzia de manifestantes. Anos mais tarde o destino me levou àquela cidade, onde fiz um
pouco de história também. Nas muitas outras cidades por onde passei não foi diferente.
A minha trajetória no rádio, tv e jornal, daria um livro de muitas páginas. Só que a minha
cidade, infelizmente, não me conhece profissionalmente e nem a minha história. Ainda por
cima, alguns babacas, do mesmo meio profissional, e também de fora, sempre procuraram
diminuir ou abafar esta trajetória. Motivados por ciúme e inveja, sentimentos que sempre
acompanham os incapazes. Então, Adriana, de onde eu falo? Eu falo de onde ninguém quer ou
não gosta de falar, por falta de coragem, de argumentos, de honestidade ( e esta é a palavra
mágica: honestidade). Eu falo -e falarei ainda mais quando a Montenegro FM estiver no ar -
por este povo que continua sem voz diante de tantos poderosos que não só tem direito à voz,
como, aproveitando este “direito”, gritam bastante sem que alguém faça um contraponto no
mesmo tom e volume.
7-Sobre as falas e suas vicissitudes...Dizem alguns que as mulheres falam demais
rsrsrsrrsrs.Dizem alguns que elas dizem a verdade rsrsrsrsrsrs.Ocorre que, existem estudos,
as más línguas, como gosto de dizer, que às mulheres está dado um lugar de falta de
reconhecimento, vindo a ser suprimido somente, para algumas, se um homem as escuta
fazendo valer o que foi dito.De forma sutil e nem sempre...,veja bem! Nem sempre!, concordo
com isso.Assisto algo assim os mais diferentes âmbitos.O que achas disso?
Adriana, se nós, os homens (falo “homem”, no sentido sexo masculino) ouvíssemos mais as
falas das mulheres, faríamos menos besteiras, tenha certeza. A mulher tem mais sensibilidade,
e, parece, “vê além” para e em tudo. Se no decorrer da minha vida tivesse ouvido mais as
mulheres, menos besteiras fariam parte do meu curriculo. Com certeza!
8-Ao longo dos anos o que mudou por aqui?
Montenegro cresceu (só geograficamente que não. Ao contrário, diminuiu bastante), o
dinheiro trocou de mãos, surgiram novas oportunidades, etc. Mas gostem ou não, a verdade
é uma só: a mentalidade da maioria continua a mesma coisa. Medíocre. Putz, acho que isto
é coisa de “DNA” do município. Como disse, fiquei quinze anos fora e vi e vivi muitas outras
cidades, com povos diferentes e diferenciados. Depois retornei e a mentalidade reinante não
havia se alterado. Em algumas situações até piorou. Quando da volta, residindo novamente
aqui mas trabalhando em outros municípios, acontecia aquele choque: durante a semana
convivia com um tipo gente e sua maneira de pensar; aos fins de semana, na minha terra, algo
totalmente diferente. Aqui é preciso ser meio como Dom Quixote, lutando contra moinhos de
vento, e se trata de uma luta totalmente inglória. Como gosto da minha cidade, e nesta altura
do campeonato não vou mais trocá-la, resolvi relaxar e... Mas às vezes perco a paciência,
principalmente quando vejo uma nova elite econômico/financeira/política, sem cultura, sem
vivência, sem nada de bom para oferecer, usando o “zé povo” como escada para subir ainda
mais alto. Também a elite de outrora, hoje decadente, usando dos mesmos expedientes
para tentar se manter, de forma desesperada, nestes lugares elevados. Me indigno mesmo.
E mais “louco” fico quando vejo uns bobões, pensando serem espertos – mas na verdade são
meros instrumentos - dando guarida a este tipo de coisa. Imaginam ser inteligentes, mas, na verdade, são uns burrões, trouxas. O que é bem pior.
9-Assisti ao filme feito pelo Adriano Alves,Leandro Gonçalves e outros...Aquele dos
Crisóis.Muito legal! Crescestes enquanto ator,não?Como é este teu envolvimento com a
representação?A voz é uma forma de representar?Como forma as filmagens?
Adriana, depois que fiz teatro em Montenegro, acabei em Taquara. Lá, tinha a Ângela
Gonzaga, atriz de teatro premiadíssima(irmã dos professores Sérgius e Régis Gonzaga), que
integrava um famoso grupo de Porto Alegre (não recordo o nome agora). A Ângela, reiteradas
vezes me convidou para fazer teatro, com o devido aperfeiçoamento, é claro, em Porto Alegre.
Não quis. Talvez tivesse dado certo e seguido carreira. Mas sabe daquela história de ter um
passarinho na mão ao invés de dois voando? À época já estava com filhos e não podia correr
riscos. Mas o rádio também é um exercício diário de interpretação. Tu precisas fazer com que
o ouvinte “veja” aquilo que estás falando. A narração esportiva, por exemplo (narrei futebol
profissional por mais de vinte anos), é um exemplo. Tu tens que contar em velocidade as cenas
que passam rapidamente à frente dos teus olhos, sem errar, dosando na emoção,
interpretando o acontecimento no momento exato, fazendo projeções dos instantes
seguintes, e tudo de forma muito equilibrada. Ah, e sendo submetido a julgamento por
milhares de pessoas cara a cara, dentro do estádio. Tem de ser “artista”, não tenhas dúvida.
Bem, mas depois, nos anos 90, fiz muito comercial de TV como ator e locutor. Como os anos
não perdoam, o tempo passou, o cabelo escasseou e a balança indicou que a fase estava por
acabar. A etapa de “galã mexicano” se expirara. Nestes períodos surgiram muitos convites
para vôos mais altos, como São Paulo e Rio de Janeiro. O meu temor sempre foi o de arriscar
tendo crianças pequenas (fui pai muito jovem) e, ao mesmo tempo, guardava no meu íntimo
aquela imensa vontade de voltar para Montenegro, ficar próximo dos familiares, e ter “uma
casinha branca com varanda, um lugar de mato verde pra plantar e pra colher” (música do
Gilson). E que continua sendo o meu sonho... Eu andava por diversas geografias, mas sempre
com o pensamento e os olhos voltados para Montenegro. Agora, depois das voltas do mundo
e das voltas que o mundo deu (outra música, esta do Demétrius), me arrependo de não ter
arriscado. Refletindo friamente acho que teria me saído bem. Talvez hoje eu pudesse ser um
vilão da novela das nove, não é? Queres que eu seja sincero? Me arrependo muito, mas muito
mesmo, em ter retornado para Montenegro, rejeitando oportunidades para as quais outras
pessoas dariam qualquer coisa em troca para tê-las. Não valeu à pena mesmo, embora esteja
tentando, e faz tempo, aplacar os prejuízos causados por estas escolhas. Aliás, em última
instância, nós somos frutos das nossas escolhas, não é mesmo? Mas, voltando ao assunto
propriamente dito: tivemos aquelas experiências com os filmes do Adriano Alves de Oliveira.
Pena que as boas iniciativas em Montenegro morrem na casca. Hoje, com o advento da TV
Cultura, e com os recursos técnicos disponíveis seria bem mais fácil produzir outros filmes,
curta-metragens, mini-séries, tele-teatros, etc. Esta idéia dos filmes locais deveria ser
retomada. Eu sempre quis fazer um curta-metragem em cima do conto “Um Dia a Lua Cai”, do
Pedro Stiehl, mas, infelizmente, ficou só na vontade. Hoje em dia com este fundo de incentivo
à Cultura, em Montenegro, até daria para retomar a proposta, mas, imagine, quando vissem
na documentação Pedro Jalvi Machado e Pedro Stihel, os “pedros” acabariam
levando “pedradas” e não dinheiro... Para uns e outros que mexem com “cultura” por aqui,
nós ainda somos malditos. Mas veja que beleza aquela produção do Paraguaio, em parceria
com o Diego K, numa música e letra do Pedro Stiehl (o vídeoclip “Não te Culpo”, no Youtube).
Quer dizer: em Montenegro o que não falta é gente de talento, mas talento este que, via de
regra, é abafado pela mediocridade...
10-As mulheres...O que é amar uma mulher?É possível?
Vai da calmaria ao turbilhão. Mesmo assim, se isso não fosse possível, o mundo seria em
preto-e-branco.
11-A cidade, a mulher...encontra semelhanças?Quero dizer, quando falas para A cidade...é
uma forma de amar?
Ah, eu e Montenegro tem sido um grande caso de amor não correspondido. É desigual. Só eu
amo. Mas acredito que em breve vou conquistá-la e haverá reciprocidade neste sentimento. E
isto vai se dar através da Rádio Montenegro FM, que em breve estará no ar.
12-Sabendo da nova rádio...Poderia contar um pouquinho do processo de criação disso?
Adriana, quanto eu tinha vinte e dois anos de idade já era sub-gerente de rádio. Logo depois,
fui alçado à gerência e, de lá para cá, dirigi seis emissoras de rádio, quatro dentro do mesmo
grupo de Comunicação. Antes disso tinha sido apresentador de telejornais. Também fui editor
e diretor de jornais. Trabalhei em agências de publicidade. Enfim, fiz de tudo em Comunicação.
Neste setor ganha dinheiro quem vende, e bem, publicidade. A minha praia nunca foi vendas,
mas criação, produção, etc. A minha especialidade era pegar um veículo de
Comunicação “quebrado “ e levantá-lo em pouco tempo, tornando-o rentável e com
credibilidade junto ao público. Modéstia à parte, nunca falhei nisso. Eu era gerente da Rádio
Santa Cruz, uma emissora muito forte do interior, quando vendemos a emissora para a Igreja
Católica. Fui para lá com a missão de reerguer a rádio e vendê-la. A missão foi cumprida. Não
cheguei a sair de Santa Cruz do Sul, pois o prefeito de então, Sérgio Moraes, me convidou para
assessorá-lo e, também, veio a proposta do Grupo Gazeta de Comunicação para trabalhar lá.
Aceitei as duas propostas. Lá pelas tantas, a rede em que eu trabalhava, antiga proprietária da
Rádio Santa Cruz, quis que eu retornasse para fazer a transição da Rádio Progresso, em Novo
Hamburgo, cuja freqüência foi vendida para o Grupo Sinos, e levar para aquela cidade a
emissora, também de nome Progresso, que funcionava em São Leopoldo. Era uma coisa
totalmente louca e fadada ao fracasso. Deu certo. Depois, prefeito de Santa Cruz me chamou
de volta. Lá fui eu e fiquei em Santa Cruz até ser contratado para coordenar a campanha de
Iolanda e Heitor à Prefeitura de Montenegro. À partir daí decidi fincar pé em Montenegro e
não mais sair daqui. Procurei o Adriano Alves de Oliveira e propus a criação de uma entidade, a
Associação Pró Desenvolvimento de Montenegro, para solicitarmos a abertura de licitação
para a implantação de uma emissora de rádio comunitária aqui no município. E assim foi feito.
Outras entidades participaram da disputa e nós acabamos os vencedores. O início de tudo foi
em 1996 (a concessão de um canal de rádio ou televisão é muito demorada) e se estendeu até
junho do ano passado (2010) quando recebemos a outorga do Ministério das Comunicações.
Daí, era preciso a aprovação do Congresso Nacional. Imagine, num ano eleitoral como fazer
andar qualquer projeto dentro da Câmara dos Deputados e do Senado? Conseguimos. Agora
só resta aguardarmos a finalização de alguns trâmites burocráticos e a finalização do projeto
técnico para a Rádio Montenegro FM ir ao ar. Mas um dos motivos que nestes anos não sai
mais de Montenegro para trabalhar fora, é que a Legislação que regula a concessão de canais
comunitários, diz que os sócios tem de ser residentes no município área de atuação da
emissora. Para trabalhar fora teria de morar neste outro município. Em sendo assim, estaria
enganando um órgão federal, o Ministério das Comunicações, e não gosto destas coisas de
fachada. Preferia carregar um pouco de “pedra” neste período, mas fazendo as coisas com
total lisura. A diferença é que agora vou poder empreender aqui na minha terra o rádio
vitorioso e de sucesso que fiz em tantas outras cidades. É incrível, mas embora tenha sido um
profissional premiado e de longa carreira, a minha própria cidade ainda não me conhece como
comunicador. A nossa rádio vai ser democrática, dando voz a todos os segmentos da
comunidade montenegrina, e lutando sempre pelas causas da nossa gente. Não tenha dúvida
que a Rádio Montenegro FM vai escrever novas páginas na história da Comunicação em nosso
município.
13-Quais os trabalhos que mais te deram gosto em realizar? Todos da área de Comunicação.
Mas os programas de rádio tinha um gosto especial, pois eu ajudava muitas, mas muitas
pessoas mesmo. Tenho histórias lindas sobre isto. E, veja bem, nunca pedi nada em troca,
como muitos fazem: usam a força de um programa de rádio, “ajudam” pessoas, mas depois
querem o voto numa eleição. Em municípios de porte, como Passo Fundo e Santa Cruz, eu
poderia ter concorrido a vereador com todas as chances de êxito. Preferi não trair a confiança
dos meus ouvintes, pois, naquela época, sempre dizia que não os faria de trampolim para
seguir carreira política. Através dos programas de rádio fizemos obras sociais grandiosas,
ajudando famílias e, também, comunidades inteiras. Graças a Deus, tenho muitas e belas
histórias para contar aos meus netos. Pobre de quem não as têm.
14-Voar...O que é voar?O que é falar?O que é ...existir neste lugar e tempo?
Voar... em todas as áreas e em todos os momentos da minha vida acho que sempre voei.
Voar é se superar, vivendo a todo instante uma grande e nova emoção; é o estar no alto,sabendo que no momento de pousar a operação tem de ser perfeita. E o voar te faz sentir mais profundamente a existência, te dando a noção exata do tempo, pois tu te sentes mais gente e gente diferente, escapando da linha da mediocridade, em que tantos fazem questão de permanecer.
. 15-Jalvi...a pior mordida é a do amigo.a pior das traições, das desilusões nem sempre é da ordem passional no sentido sexual.A traição de amigo, quase mata! Para ti...o que é ser e ter amigos?
Ah, Adriana, amigo verdadeiro é coisa em extinção. Hoje em dia sempre há algum tipo de interesse norteando as relações. Olha, tenho muitos conhecidos. Amigos mesmo, o número não equivale aos dedos de uma mão. Ao que parece nos dias atuais as pessoas fazem questão de serem maus caracteres e isso só faz aumentar as traições. Quem me tem por amigo, pode ter certeza que não será traído. Fidelidade é imprescindível. Mas dificilmente se encontra reciprocidade. E às vezes faz uma falta danada um amigo de verdade!
16- Qual a função da informação?Quero dizer...quando a notícia aparece é dela sua conseqüência.Costumo pensar que a notícia é,sempre, a fala que nos alcança em algum momento. A boa, a ruim...A notícia é quase uma dor de verdade que sucumbe a qualquer explicação.Neste sentido aproxima-se da poesia porque nos carrega...sabe-se lá para onde.O que achas disso?
A informação é esta grande alavanca que está, mais do que nunca, movimentando o mundo.
Quando digo isso me refiro a todos os tipos de informação. Já a notícia, a informação
jornalística, nos últimos anos também assumiu grande importância. Antigamente as emissoras
de rádio, por exemplo, priorizavam a música, o entretenimento e os noticiosos não passavam
de um apêndice na programação para mero cumprimento da Legislação. Hoje, não. Temos
rádios que têm 24 horas de notícias. Assim como emissoras de tv exclusivamente noticiosas.
Eu até não diria que a notícia tem uma proximidade com a poesia, mas com uma crônica do
dia a dia.
17-Tem mais alguma coisa que gostarias de dizer em indecentes palavras?
Que nem todas as palavras são indecentes! E a palavra continua sendo a arma mais poderosa
colocada à disposição do povo. Saibamos usá-la com decência para combater os indecentes.
Querido Jalvi...é um prazer imenso te reencontrar!
O prazer é todo meu!
O estranho e inusitado é te encontrar em foto, por email e...não em voz.É certo que ela é apenas um traço que me traz até aqui, lembrando de tempos encantadores,de pessoas que queriam voar.Traz-nos até hoje, em indecentes palavras, em que se ouve uma canção, a melhor delas, o desejo de reencontar. Assim, aqui, me vi em ti, ensaiando, lendo teu texto como “ script”, te recebendo como parte feliz desta cidade, deste lado de mais.Sempre ,por aqui, te aguardo, como a um balão colorido que possa chamar para passear ,pela notícia da vida que se há de falar.Venha sempre!
Beijo com todas as letras
adriana bandeira
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