terça-feira, junho 07, 2011

O SOM DA PRIMEIRA CASA,ESQUINA,ESTRADA:O LUGAR DE EXISTIR- Conversando com Davi,Veloso,Nino,Daguia e Nilton.




INDECENTES PALAVRAS- Primeiro pensei em fazer algumas perguntas, deixá-las prontas e...depois achei melhor que elas surgissem na rua também...porém, aqui estão, algumas feitas e casa e outras...nesta possibilidade de surgirem.Para vocês, qual a diferença entre a casa e a rua?

DAVI- A diferença é que em casa se estuda sozinho. Não tem como te sensibilizar...te motivar.Na rua...soltinho rsrsrsrs. Está para as emoções...
NILTON- Em casa o universo é reduzido...sem possibilidade de dividir a música.Não se guarda para si mesmo.
NINO- Em casa estudamos...na rua apresentamos
NILTON- Em casa os familiares reclamam do barulhos.Tocar em casa...tocar na rua...O estudo está sendo proveitoso.O pessoal acompanha o processo de estudo.As pessoas dizem se melhoramos ou não... rsrsrsrsrrss.
VELOSO- A rua envolve uma liberdade e em casa...escolhemos.Na rua encontramos os amigos e...tocamos.Existe uma liberdade para brincar com a música.

INDECENTES PALAVRAS- Isso diz respeito ao público e ao privado, ao íntimo espaço do si mesmo e ao que constitui o si mesmo: a língua falada por todos, e todos...é a rua! rsrsrsrsrs.Neste aspecto, falando de música, a linguagem da música antecede o músico, já está ali antes...e determina algumas coisas.O que, para vocês, determinou a escolha por um instrumento?

DAVI- O meu é machista!rsrsrsrs É o instrumento que te escolhe! A música me escolheu... Todo ser humano nasceu cantando, ele veio falar depois...Imitava os passarinhos, os sons da natureza...Todo ser humano é...músico.É...eu só não escolho a música quando me pagam.Com a bateria foi assim.Meu primeiro instrumento foi o sax...a bateria estava lá...E aí...É um casamento! Se escolhesse outro instrumento...pareceria traição.Sempre penso como transmitir à ela.Tudo é percussão: o barulho das pessoas, o som das coisas...A música é uma matemática.A música em si é a matemática.Não tem fim!
NILTON- A sonoridade do sax, um instrumento romântico, músicas tocadas com bom gosto...É difícil escutar um saxofonista tocando ruim.A sonoridade reproduz a voz humana.O sax ...canta! rsrsrsrsrsrr
DAVI- Então dá prá dizer que todo instrumento quer reproduzir a voz humana.O instrumento explica os sentimentos da alma.Romântico..pq é calmo,relaxante...não é fofoca íntima? rsrsrsr”Lupicínio Rodrigues” rsrsrsrsrsrs...Para nós, na brincadeira, música romântica seria isso..rsrsrsrsrs.
VELOSO- O sax faz ...solo.Uma só voz, fala...Só dá para fazer uma nota por vez.
DAVI- É um instrumento de melodia.O instrumento do ...jazz.
VELOSO- Concordo com o Davi...Até os 13 anos eu não dava bola para a música...Nesta época existiam os bailes de formatura.No baile de formatura da minha irmã, pela primeira vez ouvi um grupo, ao vivo.Aquele solo de guitarra...Me pegou! Tanto pedi que minha mãe  me colocou numa aula de violão...Não aprendi!Não conseguia...Depois de algum tempo, encontrei-me sozinho com a guitarra e ...ela me escolheu!Sou de Uruguaiana e comecei a participar de programas de rádio ao vivo....comecei a colocar na prática o autodidatismo...Meu percurso de aprendizagem foi ...estudar em casa e tocar nas casas de mulheres, casas noturnas,cabarés,como chamavam.Os músicos tops....estavam lá! rsrsrsrrsrs Os músicos ficavam lá...uma semana, duas...

INDECENTES PALAVRAS- Era uma...pensão ?rsrsrsrsr

VELOSO- Transformava-se! rsrsrsrs
DAVI-  O beco das garrafas era assim...no Rio de Janeiro.
NINO- Como eu gostava de cantar...precisava de um instrumento de acompanhamento.

INDECENTES PALAVRAS- O sax é sozinho...o violão...acompanhado.rsrsrrsrs

NINO- Na década de 60 tocávamos nas calçadas...e alguém sempre sabia tocar.Aquele era o cara!Naquela época os bolinhos nas calçadas eram permitidos.Hoje acho que não!Nunca estudei música.Aprendi a tocar assim.Comecei a tocar...uma amiga me dava as notas principais....fez os desenhos e eu reproduzia.Eu assistia os conjuntos e  observava.É pura abstração!


INDECENTES PALAVRAS- Tocar um instrumento ...a sonoridade tem um alcance privilegiado.Falo do alcance subjetivo, do “ tocar” no outro de forma única que não está determinada pelo som ou nota mas ...pelo recebimento de melodia.Para alguns um som pode ser harmonioso e belo, para outros...Vocês sentem-se tocados pela música?Quais?De que forma?

DAVI- Sentimos! Muito.
NILTON- a sonoridade dos instrumentos...alguém já imaginou um filme sem trilha sonora?Todas as ações, emoções são representadas por um tipo de som!Um momento de pavor...uma outra emoção...alegrias...Sou levado pelo instrumento.
DA GUIA- Comecei aprender tocar violino há pouco tempo.Venho para a rua e me sinto como se estivesse na escola aprendendo português, pela primeira vez.

INDECENTES PALAVRAS- Uma alfabetização?

DA GUIA- Sim...é como se eu estivesse me alfabetizando num outro sentido.Penso que estou aprendendo a escrever ou a falar, matemática...
DAVI-Tu te deixa ir...tipo um orgasmo...rsrsrsr. A emoção é tanta que rola sentimentos...Onde estive...é isso que me pergunto!
VELOSO- Quando tu estás com o instrumento...tu estás buscando o conhecimento daquilo!

DA GUIA- Comecei a tentar entender a teoria...depois comecei a tocar...

INDECENTES PALAVRAS- Estaria tomado pelo aprendizado, neste momento?

NINO- É...para te entregar para a música...tem que estar com ela dentro de ti.
VELOSO- Eu sou um aprendiz em violoncelo! Dá uma ansiedade louca!Eu quero ter o mesmo rendimento que com a guitarra!

INDECENTES PALAVRAS- Por que...a rua?

NILTON- Do ponto  de vista aprendiz...vou usar uma frase do Da Guia: desinibição.É um complemento às aulas...um “extra classe importante”rsrsrrs .
DAVI- A rua foi para o artista o lugar de subsistência, do dia  de hoje.A rua não precisa de repertório, as pessoas passam e algumas músicas são bem aceita.O rolar o chapéu, as moedinhas...Dá a subsistência do dia de hoje.Como no Brasil não temos esta cultura, o artista brasileiro acha que indo para rua é...pedir esmola.o pessoal que passa...acha que botar cinqüenta centavos...é pouco.Acha que não vale a pena.O serviço de rua é para que ele seja reconhecido, o artista, pelas pessoas comuns,como qualquer um.O artista de rua não pede para ninguém.Ele  só é reconhecido pelo povo.O trabalho de rua é feito das seis às sete da noite.As pessoas saem do trabalho e ficam ...mais calma.

INDECENTES PALAVRAS- Poderiam contar um pouco da história  deste espaço aqui?Falo deste agrupamento no café da cidade, rsrsrsrs Num café só para homens?
NILTON-  Quem que disse?Não tem placa!rsrsrrs
DA GUIA- o café é que é o culpado! rsrsrsrrs O café sempre foi um ambiente dos homens.Na época as mulheres não saíam...esta liberdade é um tanto assustadora, hoje.Antigamente eu mandava nelas...agora eu tenho medo delas.Ela nos intimidam na  sua liberdade.Tudo isso vai passar depois que “ela se regularizar”...

INDECENTES PALAVRAS- Quem regulariza a mulher? rsrsr
(risada geral)
INDECENTES PALAVRAS- Cá entre nós...Isso é uma coisa um tanto Machista,não? Rsrsrsr

VELOSO- Eu entendo mais do meu instrumento do que da mulher rsrsrs
DAVI- O ponto é...masculino.A esquina democrática, a boca maldita...a florida...Aqui é livre...mas, é um ponto masculino!

INDECENTES PALAVRAS- Ah! rsrsrsr.O ponto é masculino! A vírgula..?
(muito riso e som de instrumentos.Os rapazes já começam a se impacientar e a tocar alguma coisa ,intercalando as respostas com o sons)


INDECENTES PALAVRAS- O que é  a ....mulher?



DAVI- diz que na Bíblia as coisas estão mudando srsrsrsrs
DA GUIA- O  motivo da minha existência! Sem ela eu não estaria vivo.
VELOSO- Prá mim é a razão principal da minha existência...Sem mulher é como mineral sem gás..
(risadas)
NINO- É o outro lado da mesma moeda.
NILTON- A rosa que floresce meu jardim...rsrsrsr.É o elo de união...sentimentos.

INDECENTES PALAVRAS -Pois é...nossa cidade carece de espaços assim, embora daqui saiam músicos e artista brilhantes.Qual seria a causa disso?

DAVI- Esta falta é geral.Não é só Montenegro.A imagem está no lugar do espetáculo humano.E o artista sumiu.Então...facilitou o instrumento,professores...mas não  a vida do artista; lugar do artista.

INDECENTES PALAVRAS-Quais os projetos?
NilTON- Nada é programado.É espontâneo.Aleatório...Penso: vou levar o instrumento ...vou brincar.
DA GUIA- Aula de desinibição...para enfrentar os professores lá na Fundarte!rsrrsrs
VELOSO- Acho que isso  de se reunirem,vai acontecer naturalmente.Este prazer tendem a se repetir...

INDECENTES PALAVRAS- Qual a diferença entre a música e a mulher?

VELOSO- Nenhuma!
DAVI- Todo músico sonha em ter uma mulher...
DA GUiA- Se eu soubesse isso...
NILTON- As duas coisas desafinam...sai do tom...tem que afinar!

INDECENTES PALAVRAS- mas que coisa! ( rsrsrsrs)..Isso é coisa que se diga,Nilton! Homem não desafina!
Estes dias eu e Lucimaura encontramo-nos por acaso e sentamos para assistir alguns tocando em frente ao café.Era verão e pedimos uma cervejinha rsrsrsrs .Ouvimos das mulheres que passavam ...e não dos homens, algo assim:  “que horror!” rsrs
(risos e música!)...se quer coisa melhor?
Quero agradecer por esta ternura, esta forma de amor especial que faz com que tenhamos a música na calçada; esta voz diferente de cada um dos seus instrumentos, enquanto sonham com a mulher, a cidade e as letras que ainda não conhecem. Só me escapa um pouco uma reflexão pequena de que se a música no café dos homens se espalha, os pontos também são falas e recebem à todos nós.
Agradecida pelo acolhimento, pelo café, pela delícia de estar entre vocês.
Beijo com todas as letras
adriana bandeira

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