domingo, dezembro 19, 2010

O nome

                                                             
 Eu queria mesmo o pontilhão... que em dia de chuva atravessar arroio com bota, enche de água ,que rumina o frio até os ossos.Ah!O pontilhão!Ainda no tempo da professora, que botava jeito nos que não queriam atravessava às pressas, a largura do rio que tomava o inverno. Êta que a gente se esquentava na pinga de fora, trazida em garrafão. Ela nem se importava... Por vezes vi nos olhos uma festa, enchendo a boca de delícia, se fosse  tomar.
Era bonita e bem feita. Dizia das palavras qualquer coisa que me abrisse a pensar. Começou com o nome. Não só o meu, não!O de todo o mundo. Mas o meu nome, para ela, era especial.Dizia com as mãos,quando pegava na minha, escrevendo um A grande,como caverna para a gente se encontrar.
Eu pensava estas coisas... que vergonheza! Mas que eu pensava não posso me safar. E ela, enrolando, falando com as mãos, olhos, boca e peitos.Conseguia perceber sua respiração.Levantava e abaixava no vestido, a quentura de colo na palavra Antônio.Era meu nome...meu nome...
Acostumei a atravessar o tal arroio, de pé no chão para não molhar as botas. Um dia ela vendo riu-se finada do meu cuidado.Foi aí que falou,quis  saber do pontilhão.Vai que tem jeito,dizia ela, de construírem um?
Pensei, repensei e na minha idéia nunca tinha ouvido falar em algo assim, que unisse as pontas,os lados distantes pelo desejo de se juntar.
Ah!Mas eu queria!Digo, saber mais dela, dos cabelos dela,de como respirava quando era verão.Mas quieto, que não sou louco de assustar a moça e dizer que eu saberia a media exata de seus peitos.Quantas vezes estive com eles no pensamento da mão?
Tem sim!Mão tem pensamento que foi com ele, dela, que aprendi a escrever meu nome,depois de homem feito.Apesar da casca da árvore já ter riscado a pele,saberia dizer o tamanho exato do coração dela.
Ah!Não sei! O nome?O meu é Antônio, para sua graça. Por isto vim, para falar do pontilhão. Ali para os lados das linhas de leite,onde o arroio da Santinha corta a fazendo do patrão,o Luís Quinta.
O nome do quê?Dela?Não perguntei, não perguntei. O que importa, não? Só vim para saber se o prefeito sabe fazer pontilhão, destes que junta dois lados, duas terras, os olhos de lá com os de cá...destes que faz nascer cantoria e professora,que reúne a turma quando está frio.
O quê?Ah!O nome disto... olha amigo,o nome disto que sinto...acho que é amor.É amor grande,destes de escrever o nome!

Adriana Bandeira

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