Estrada de ferro, olhos da construção II
As roupas lavadas com seus nomes diferentes.No rio em cestas pesadas, guardadas na grama do sol.Eram muitas na denúncia da voz.Com suas manchas de terra, de gozo de gente na solidão que rimava com o chamado do patrão.Lá na casa, a mesa dos filhos transformada em balcão.A comida em panelas sem fim, sem o gosto quente da falta de mais querer.Nas fornadas, os pães sem o tempero gostoso dos olhos de vida que a mãe, antes, tinha.Ao lado do forno, ao lado do rio, era a que nem gemia, nem falava, nem sabia que seu não engasgado retalhava sua falta de partida.Misturando palavra que vinha, farinha de osso, de sabão. Era outra, sem olhos mas com enormes mãos.
Na tarde de sempre o pai nem via.Atrás do balcão,de longe feito um quadro, moldura dos antepassados,bebia o que o corpo nunca mais plantaria.Eu mesma nem esperava a violação que me abriria em tantas.O homem de olhos esquisitos, de roupa lavada e estômago cheio calou-me o grito de medo.Pedinte, exigente de sua parte em mim.Segurou-me os braços, as pernas, a voz.Violou-me como se fosse dele o corpo que estava só.O pai tão longe, na sua sombra, cantava qualquer coisa num som embriagado de entrega, de aceitação.Achei que devia, ao homem, pelo caminho que vinha.Deixei que violasse minhas entranhas como contribuição estranha ao que jamais teria volta.A língua do sexo, a língua fendida, aberta em nova poesia.Seria da violência a falta, que faz nascer a ternura?Seria violenta a escrita da doçura que só, inventa o amor depois da estrada,do trem,depois da dor.
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