quinta-feira, maio 17, 2012

VEM DA RAIZ A PRIMEIRA PALAVRA, ÁRVORE QUE RESTA OU RENASCE INTACTA  PARA  SEMPRE  NAS MÃOS...MORADA-  Falando de amor e verdade com o escultor Itelvino Adolfo Jahn



1-O que é...esculpir?


 Não se decide esculpir...esculpir é como sentir sede...



2-Na tua obra, a marca do movimento anda ao lado do movimento do objeto.É como se houvesse um respeito com a vertente da madeira, a veia...se posso falar assim? O que há de verdadeiro nesta minha impressão?


 Sempre gostei dos movimentos que cada uma das árvores, troncos, galhos ou raízes apresentam. Gosto do singular, do irracional, do imperfeito que, para mim, é o imperfeito que se torna belo.





3-Qual a tua causa? O que faz com que queiras esculpir?

É dar um destino nobre a quem veio para nos ser tão útil desde o começo da nossa vida até o final dela. Esculpir é uma forma de não deixar que fique no esquecimento.



4-Foste criado no campo, nos afazeres que te aproximaram das construções práticas, da terra, dos animas.O que isso influenciou no teu fazer?


Tudo; o simples, o comum e irracional, o belo que isso passou para mim.




5-Itelvino... a arte escolhe o artista ou...o artista escolhe  arte?

 Os dois: são dois anjos de uma só asa que se complementam.





6-Quando a obra é de arte, fica difícil colocarmos um valor em dinheiro, para levá-la para a sua função: estar para além do artista.Como acontece isso contigo?


Quando executo uma obra, é parte de mim que se concretiza em arte; não “cobro” a arte e sim a mão de obra.


 



7-Trabalhas com madeiras daqui, desta região.Qual a tua proposta neste sentido?


Minha proposta é trabalhar com as madeiras do Rio Grande do Sul ( frutíferas, ornamentais, exóticas ou de reflorestamento) desde que já tenham cumprido sua parte, ou morrido por causas naturais e intempéries. Assim posso mostrar ecologia e cultura onde nasci.




8-Teu trabalho toca, mexe e desacomoda, como toda a obra de arte faz.Há um reconhecimento nesta exposição do movimento na madeira , da voz no silêncio, do sonho no sono.O que tu achas que as pessoas vêem na tua obra?


Não gosto de colocar nome nas obras para que as pessoas possam sentir plenamente o que veem: o irracional com o racional.



 




9-Dizes que não colocas nome na obra.O que isso quer dizer?


Não coloco nome nas minhas obras para que as pessoas possam observar e ver com os próprios olhos e não com os meus, o que se lhes apresenta.






10-Há algum tempo tive o privilégio de encontrar com tuas peças no saguão do aeroporto.De longe comentei: é o Itelvino! Nisso pergunto: és tu na obra? Ali, tem exatamente o que do homem? Misturas?


 Sim, é o Itelvino, o homem de corpo e alma transposta na obra.





11-Contas com algum incentivo para logística e outros?


 Não. O trabalho tem tudo no que se refere às questões ambientais, mas ainda não consegui despertar o interesse das pessoas para obter apoios e parcerias.






12-Estes dias falavas que teu ateliê é ao...ar livre! Também sobre como concilias a família e teu fazer.Poderias dizer um pouco sobre teu dia a dia, tua escolha diária por isto?


Dia-a-dia num convívio harmonioso, pois meu ofício faz parte de mim, como minha família faz.




13-Poderias descrever um pouco o processo com a madeira, o tempo que levas...tua experiência e as peças que mais te surpreenderam?Quais teus instrumentos de trabalho?


O processo é muito lento, pois todas as madeiras apresentam “problemas”, diferentes para serem trabalhados. A primeira etapa é de limpeza ( de terra, cascas, partes queimadas ou até apodrecidas, arames, pregos, pedaços de ferro incrustados, e tantas outras coisas). Só depois começo a esculpir, o que também é um processo muito lento, pois todas as ferramentas que utilizo são manuais. Cada uma das peças tem seu próprio tempo, algumas delas ultrapassando um ano até sua conclusão. A experiência é de muitos anos, pelo gosto por este tipo de escultura orgânica. As ferramentas são simples, como formões, machadinha, grosa, enxó e, para as partes maiores e pesadas, uso a motosserra. O acabamento final fica por conta das lixas.



14-Quando tu adota a árvore...já pensas que ali tem uma forma ou isso vai acontecendo?


Quando adoto uma árvore o processo vai acontecendo naturalmente. Muitas dessas árvores, raízes e troncos,sóimagino mesmo o que fazer quando está totalmente “limpa”. É aí que começa mesmo o olhar de contemplação e descoberta de cada movimento.






15-Gostaria de dizer mais alguma coisa?


Gostaria muito de ter o mesmo respeito e reconhecimento que é dado a outros escultores no Brasil a fora. Preciso de apoiadores, patrocinadores, parceiros enfim, formas de ajuda para divulgar meu trabalho. Sei da importância que ele tem no que se refere a questão ambiental, no respeito à natureza. Gostaria de poder levar minhas obras a várias exposições para as quais sou convidado, mas ainda não posso “me sustentar”.







Itelvino, a diferença naquilo que te recebe aqui, faz lembrar o mesmo passo, a mesma estrada que desenha a arte como construção do ser.

Ainda nas palavras, nossa morada, aquilo que faz esculpir na morte este punhado de vida, de movimento que tece uma continuação no outro, que fica diferente quando se deixa tocar pela tua obra; no desejo que se viva para além de uma única estação, que se fale nas marcas, nas facas e formões que anunciam o amor pela verdade que se impõe: somos o que fala por nós.

Sinta-se para sempre convidado em Indecentes Palavras, marcando com tuas mãos a casa-morada de cada um que nasce outro, a cada vez.



Beijo com todas as letras



Adriana Bandeira





Itelvino Adolfo Jahn Filho

Itelvino é um escultor gaúcho, nascido em Montenegro, na localidade de Campo do Meio. Exerceu diversos tipos de atividades mas, foi como escultor que se descobriu capaz e realizado.  Executa suas obras a partir de “sobras” de madeiras descartadas naturalmente ou que, de alguma forma foram retiradas por outras pessoas por representarem risco físico. Optou por trabalhar com as madeiras aqui do sul e mantém suas raízes morando e trabalhando na localidade onde nasceu. Trabalha com madeiras de diversas espécies de plantas desde ornamentais ,  exóticas até frutíferas.

Dentre suas obras destacam-se: esculturas , esculturas funcionais ( bases de mesa, mesas de centro, bancos, bancadas, mesas de apoio ) esferas, fruteiras, revisteiros....

Já realizou diversas exposições, individuais e coletivas:

·         Mostra na Copesul – Semana do Meio Ambiente (2006);

·         Exposição no Espaço Cultural da Câmara de Vereadores de Montenegro (2006);

·         Mostra na INOVA- Petrobrás (2006);

·         Mostra no Espaço Vida Unimed – Semana do Meio Ambiente (2008);

·         Mostra no “Mês do Móvel e Design em Gramado”- RS (2009);

·         Mostra “Casa Cor”- Porto Alegre – RS (2010,2011);

·         Exposição no Aeroporto Internacional Salgado Filho em Porto Alegre (2009, 2010, 2011);

·         Exposição em Cuiabá- Mato Grosso;

·         Exposição no Hotel Hilton em São Paulo;

·         Exposição no Hotel Sheraton- Porto Alegre- RS;

·         Participação na” Mostra Casa e Cia Litoral” – Xangrilá –RS;

·         Exposição na Semana da Floresta – Gramado- RS( 2011);

·         Exposição “Arte Sem Fronteiras”- Montenegro-Curitiba-2011;

·         Mostra virtual na Galeria Ana Pirollo-2011;

·         Exposição no Shopping Iguatemi Porto Alegre-2011;

·         Exposição no Shopping Paineiras- Jundiaí – São Paulo.

Realizou outras atividades relacionadas à sua arte como

·         Execução de um troféu Mérito Empresarial Associação Comercial e Industrial de Montenegro, para homenagear empresários locais 2009,2010;

·         Execução de troféu para homenagear o jogador goleiro Rogério Ceni pelos” 1000 jogos como jogador do São Paulo”;

·         Execução de um troféu para homenagear o empresário e presidente da FIERGS ,Sr. Heitor Müller.

Recebeu convites para participações em exposições fora do país(China, Argentina) às quais não participou por falta de parceiros apoiadores-2011, tendo recebido convite para mais duas para este ano-2012(julho), na França e Inglaterra.

















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