quarta-feira, julho 06, 2011

Poemas de rua...a cidade em mim: colonização



Ruídos de antes

Assombra a voz
que desata o rio.
É de restos a língua
da pátria descalça.
Ouço  segredos  da mata,
 numa mistura de pele
 e mar.
Ainda o estalo da casa
 rezando missa, matando gente
 para os animais.





Tempo da Enunciação

Fui colonizada, importunada pela estrada esquisita que sangra ainda o ventre do mês. Concebida na ordem estranha que determina uma, a cada vez. Por hora escondida ,ouço homens falando sobre terras, segredo de guerra.Ainda pronunciam meu nome como parte de acordo, trabalho do sonho, para dormirem em paz.




Palavra de índio

Tínhamos um segredo. Não seríamos os únicos no infinito azul da água e do céu. Revelado, nas folhas que surgiram do riso alado, reverenciamos a verdade incansável da primeira invasão.Hoje ainda os gritos e a palavra, que carregamos na pele da mão.
Adriana bandeira
Abril 2011


Sinal de nascença
Recolho do braço o relógio do pai .Já não o tenho mas está ali, a marcar.Na hora do sempre açoitando negro fujão.Só não entendo as roupas que lavo, o canto que falo, sem calar.Tão longe de casa, pele escura sem marca.Construindo  estrada que não tem perdão.
Adriana Bandeira
Abril 2011


Dia de fala
A fome mata o amor. O rio acorda e leva e trás. Abre o bicho no meio que a carne se aproveita  mais.Olha nos olhos que é para não ter covardia.Hora do descanso, do desfecho, da folia.A Nega prepara o azeite.Torresmo do bicho morto na enchente.Ladrão?Eu sou o carneador, o amador do cheiro de gente.
Adriana Bandeira

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