Ruídos de antes
Assombra a voz
que desata o rio.
É de restos a língua
da pátria descalça.
Ouço segredos da mata,
numa mistura de pele
e mar.
Ainda o estalo da casa
rezando missa, matando gente
para os animais.
Tempo da Enunciação
Fui colonizada, importunada pela estrada esquisita que sangra ainda o ventre do mês. Concebida na ordem estranha que determina uma, a cada vez. Por hora escondida ,ouço homens falando sobre terras, segredo de guerra.Ainda pronunciam meu nome como parte de acordo, trabalho do sonho, para dormirem em paz.
Palavra de índio
Tínhamos um segredo. Não seríamos os únicos no infinito azul da água e do céu. Revelado, nas folhas que surgiram do riso alado, reverenciamos a verdade incansável da primeira invasão.Hoje ainda os gritos e a palavra, que carregamos na pele da mão.
Adriana bandeira
Abril 2011
Sinal de nascença
Recolho do braço o relógio do pai .Já não o tenho mas está ali, a marcar.Na hora do sempre açoitando negro fujão.Só não entendo as roupas que lavo, o canto que falo, sem calar.Tão longe de casa, pele escura sem marca.Construindo estrada que não tem perdão.
Adriana Bandeira
Abril 2011
Dia de fala
A fome mata o amor. O rio acorda e leva e trás. Abre o bicho no meio que a carne se aproveita mais.Olha nos olhos que é para não ter covardia.Hora do descanso, do desfecho, da folia.A Nega prepara o azeite.Torresmo do bicho morto na enchente.Ladrão?Eu sou o carneador, o amador do cheiro de gente.
Adriana Bandeira
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