Nesta manhã soube de ti pelas postagens...Enxerguei teus olhos, tua paisagem que nem conheço, que nem experimentei.Partiste e eu nunca voltei.Aguarda-me em terra porque sem saber, sempre te amei.
Luciano P.
Indecentes Palavras
sábado, setembro 21, 2013
-Não veio....
-Mas como?Ele sempre vem!
-Naquele ano as crianças caçaram vaga-lumes e colheram ameixas amarelas .A mãe os trouxe para perto cantando alguma coisa sobre o sol, a lua...as estrelas.O pai descansando...ouvia ,como menino, esta história toda!
-Mas não era natal?
-Era sim.Quero dizer...era dezembro!...Mas neste tempo eles não sabiam destas coisas de comprar e comprar...e dormiram encantados depois que soltaram as luzes, feito lanternas como barcos no mar.
-Pois é mãe...quem será que inventou o papai noel?
-Mas como?Ele sempre vem!
-Naquele ano as crianças caçaram vaga-lumes e colheram ameixas amarelas .A mãe os trouxe para perto cantando alguma coisa sobre o sol, a lua...as estrelas.O pai descansando...ouvia ,como menino, esta história toda!
-Mas não era natal?
-Era sim.Quero dizer...era dezembro!...Mas neste tempo eles não sabiam destas coisas de comprar e comprar...e dormiram encantados depois que soltaram as luzes, feito lanternas como barcos no mar.
-Pois é mãe...quem será que inventou o papai noel?
quarta-feira, setembro 18, 2013
Jorge Ricardo Dias em indecentes palavras
Dias de Jorge em ricardias: músicas e letras do menino do rio.
1- Sabendo que não gostas de saídas sem despedidas rsrsr... prefiro dizer que estamos em festa! Parafraseando: “O começo é estar pronto”...Pois bem, estás inaugurando a retomada das entrevistas em indecentes palavras.Uma longa história, uma longa história...Mas é fato que as entrevistas me emocionam!E simplesmente quando leio as respostas...choro.Pelo que ali se revela aos poucos, de cada um.Pois bem...Jorge, o que te emociona muito?
Várias coisas me emocionam muito. O que me vem mais imediatamente é a inocência e a beleza. Constatar inocências me renova a crença e a esperança num mundo melhor e também me mostra que o cinismo, que tem crescido, não esterilizou a inocência. Beleza também me toca muito, mais as belezas impalpáveis, as do espírito. Nunca me esqueço do impacto que me causou a exposição da escultora Camile Claudel; suas esculturas, muitas das quais de pequeno tamanho, parecem gritar angústia. A beleza na arte pra mim é muito mobilizadora. Tem poemas que se eu disser em voz alta, corro o risco da voz nem sair. Desprendimentos e fraternidade me comovem também.
2- Pensando nas palavras e no que tens com elas, estas tantas...Que caso de amor é este?
Penso que uma coisa infantil que, nesse caso específico só adultos têm, que é o senso lúdico com as palavras. Você foi feliz ao se referir a essa relação como um “caso de amor”; é uma expressão que sempre uso pra descrever a minha intimidade e prazer ao lidar com elas. Tenho inclusive alguns poemas metalinguísticos sobre isso. É de fato um caso de amor antigo e com todos os ingredientes que todo caso de amor tem. Enamoramentos, inseguranças, rusgas, prazer, crises, alegrias... A palavra é feito larva, sem você perceber te crava.
3- Menino do rio...Perdoa se soa estranho... mas é um elogio! Talvez pelo que aparece nas tuas criações, este ar de moleque, de graça, de infância séria mas...verdadeira.Nas composições em música...como “Bumerangue”... Isso é uma sintonia marcante que nos convida a brincar!Poderia nos contar um pouquinho da tua história de menino...isso que aparece vez ou outra nas palavras que usas?
Vou tentar. Fui um menino introspectivo. Só depois de bem adulto é que fui me dar conta de um dos principais fatores dessa introversão. Desde os 6 anos eu uso óculos e o grau é forte. Isso contribuiu muito pra que eu limitasse meu universo a um perímetro pequeno, dada a minha visão de alcance limitado. Então isso, de certa forma foi compensado com muita imaginação, ou seja, visão física curta, visão imaginativa, não fisica, potente. Com isso eu frequentemente brincava dentro desse microcosmo que fui construindo. Somese a isso meu gosto inato e precoce pela leitura e dei a sorte de ter em casa o que ler e do bom. Devorei uma coleção inteira de livros do Monteiro Lobato e também uns com as fábulas de Esopo. Rapidamente tomei gosto por toda essa riqueza que foi me fascinando. Lá pelos 11 ou 12 anos tomei contato com a poesia e aos 14 li A metamorfose, de Franz Kafka e gostei muito. Daí em diante acho que fui me tornando cada vez mais ávido como leitor. Penso que essa é a origem dessa coisa imaginativa, lúdica e sonora que perpassa a minha escrita.
4- Pois é, Jorge...dizem que o amor não se aprende, ele nasce e teu amor pelas palavras nasceu.Dizem outros que não se aperfeiçoa isso na escola, na universidade, no conhecimento...Não sei, não sei.Costumo pensar que conhecimento e amor andam juntos e que amar é querer saber.Mas, afinal, qual tua formação acadêmica ou de trabalho?
Concordo, Adriana. Porque o coração pode entender e a mente pode sentir, não só racionalizar. Não entendo como entidades uma excludente da outra. Na Física humana duas coisas podem ocupar o mesmo lugar. Meu amor pelas palavras é sim inato, mas ao longo do tempo fui aprendendo a amá-las melhor e também de certa forma retribuir, fazer disso uma interação e não apenas um egoísta sugar de energia. Quanto à minha formação acadêmica...me graduei em Cinema, pela UFF. Não sei até que ponto minha paixão pela fotografia e pelo cinema contribuíram pro tanto de imagética que é a minha poesia. As voltas que a vida dá me levaram a ser, há 24 anos já, terapeuta corporal.
5- Jorge...e as mulheres? E a cidade?
Curioso isso de você fazer essa pergunta casada. Sou um carioca assumida, eterna e irremediavelmente apaixonado pela minha cidade. E até em poema eu já a comparei com uma mulher. O Rio é uma cidade mulher, com suas curvas sedutoras no seu singular recorte geográfico e também por ser femininamente cheia de surpresas. Com frequência nos deparamos com microcidades dentro da cidade. Santa Teresa, Bairro Peixoto e o Alto da Boa Vista são bons exemplos disso. O Rio é uma mulher dessas que ninguém adivinha a idade, seus encantos nos fazem esquecer desses detalhes mesquinhos. E ela mesmo maltratada mantém seu charme e viço. Se houvesse uma mutação genética que levasse os homens a se auto fecundarem e com isso as mulheres desaparecessem da face da Terra, não creio que a humanidade fosse durar nem mais um milênio. Acho que isso resume minha admiração e reverência às mulheres. Se os homens tivessem um pouco mais da profundidade e delicadeza das mulheres, certamente teríamos um mundo melhor.
6- Dizem que o poeta fala de verdades e que isso é extremamente político.Nisso penso que não existe um poeta sem a sua denúncia, seu sagrado destino de dizer o que, certamente, modifica o outro.Não sei se esta intenção é inconsciente,se ela existe na hora da criação.Aliás: como crias teus poemas?Necessitas de algo especial para fazê-los?
Penso que a arte tem sim, um papel que ultrapassa o âmbito do estético. Ela pode formar e mudar consciências, quando não se contenta em ser meramente escapista. Tem textos meus em que abordo questões existenciais, comportamentais, políticas, de forma bem consciente, mas certamente uma parte disso, por estar impregnada na alma, sai de forma menos racional e vem na esteira do lirismo. Receio me estender muito no afã de descrever meu processo de criação, mas vou tentar ser conciso. Meus textos nascem e se desenvolvem de maneiras variáveis. Podem partir de uma palavra isolada, de uma sonoridade, de um estado de espírito singular que me traga imagens que aí converto em palavras para traduzir esse estado, enfim, varia muito e às vezes surpreende até a mim. Vou ilustrar com um exemplo que me ocorreu agora; certa vez estava num reduto carioca de samba de raiz, fui lá conhecer e, enquanto o samba rolava, animado e alto, subitamente me veio ao pensamento a ideia de leveza e a palavra leve e seu duplo significado. Então ali mesmo, nessa situação, mentalmente escrevi um soneto chamado Leve o leve e que, pelo menos conscientemente nada tinha a ver com aquilo que eu estava vivenciando naquele momento. Ah, a música me inspira muito também e adoro escrever ouvindo coisas de que gosto. Me inspira bastante.
7-As preferências existem...não estamos livres delas.Quais tuas criações que mais aprecias?Quais os escritores que preferes enquanto leitor? E os escritores contemporâneos?
Olha, é meio difícil dizer de quais textos meus gosto mais, porque tenho muitos e sou pai afetuoso com todas as crias, mas pra não me omitir e te deixar sem resposta, destaco um soneto chamado Dança, repleto de metáforas eróticas sutis e um poema chamado Continuum que foi escrito de forma circular e de tal maneira que pode ser lido tanto no sentido horário quanto anti horário e faz sentido nas duas direções. Quanto aos meus escritores preferidos, é outra longa história e pra encurtar vou só citar alguns, tanto poetas quanto prosadores: Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Franz Kafka, Edgar Alan Poe, Fernando Pessoa, Jorge Luis Borges, José Saramago e Manoel de Barros.
8- Jorge...sexo, drogas e rock in roll...?O que dizer?
Sexo, se não fosse ele, não estaria aqui dando essa entrevista e não teria ninguém pra lê-la e nem vc pra fazê-la. Com o tempo aprendi que cada um vê as coisas da vida com sua ótica particular e que não devemos ser prescritivos das nossas “verdades”. Relutamos muito ainda em admitir, mas somos cheios de preconceitos. Sexo só tem sentido com amor? São prescrições. Prefiro tentar aceitar a diversidade dos hábitos e conceitos humanos. Drogas, já experimentei cannabis, o santo daime, álcool e açúcar (risos). Só não tenho nenhuma vontade de experimentar as mais destrutivas, mas de novo friso que prefiro não julgar quem as consome. Rock and roll eu curto até hoje, mas sou meio chato e só escuto o que acho realmente bom, assim como no jazz, na música erudita, na MPB, etc. E “sexo, drogas e rock and roll”, eu acho que cada um pode ter a sua versão subjetiva. Eu tenho a minha. Mas isso não publico (risos).
9- Estes dias informalmente falávamos de fantasmas...O que são eles para ti? Ou melhor: eles existem? rsrsr
Tua pergunta me fez lembrar de Sartre, que disse: “o inferno são os outros”. Remete a incompreensão, incomunicabilidade e solidão, mesmo sem estar sozinho. Esse certamente é um fantasma que assombra a muitos, à maioria, eu diria. Amor não correspondido também produz fantasmas meio resistentes a rezas fortes. Mas o consolo é que os artistas sempre arranjam um jeito de tirar proveito mesmo disso e fazer boas limonadas de azedos limões-fantasmas.
10-Terapias?Terá...pias? rsrsr
Vomitar na pia pode ser uma boa terapia, ao menos emergencial, pra aliviar a pressão. Mas se você está perguntado se faço ou já fiz terapia e o que acho disso, eu já fiz, mais de uma vez, diferentes linhas, atualmente não faço, mas se achar um dia que estou precisando, volto a fazer. Dependendo da empatia entre terapeuta e paciente, o que considero fundamental, pode ser muito proveitoso.
11-Tua poesia, para mim, traz um frescor estranho. É familiar demais, naquilo que conserva a rima, a ficção e por vezes ela me faz lembrar minha rua da infância onde a turma jogava bola e não tínhamos hora para dormir. A rua era nossa casa! Tua poesia me faz lembrar disso e...na verdade são ruas distantes, a minha e a tua. Jorge...como pode a lembrança abrir lugar na letra de um outro?
Adriana, só posso entender isso pela ótica e pelo sentimento da humanidade que nos faz iguais. Alguém (quiçá varios alguéns em diferentes momentos) que agora não lembro quem pra citar, disse que quanto mais particulares somos, mais universais. Curiosamente é isso mesmo. Não é por acaso que escritores como Dostoieviski, Shakespeare, Pablo Neruda, cineastas como Felini, Akira Kurosawa, Glauber Rocha, pintores como Da Vinci, Picasso, Portinari, músicos como Bach, os Beatles, Tom Jobim, artistas de diversas culturas e línguas, com suas vivências e expressões artísticas tão locais e particulares, são tão amados, cultuados e conhecidos no mundo todo. A minha rua e brincadeiras infantis é muito afim com a tua e certamente semelhante, mesmo com suas diferenças geográficas e culturais, à maioria das ruas e os personagens infantis que as povoam.
12-Filhos...Pai...?
Tenho dois, já adultos e o caçula mora comigo. Sou meio o arquétipo do pai amigo e de doce convivência. Neste momento estou fazendo a revisão da monografia de conclusão da faculdade da minha filha. Meu caçula faz aniversário junto comigo e todo ano comemoramos juntos e no grande estilo que essa coincidência merece.
13-Blábláblá blog, artistas de rua...e um encantamento pelo que não é tão visível,é detalhe, é o dia a dia da tua poesia...Concordas?O que te faz escrever?
É, acho que concordo sim. Você observou agudamente bem, o encantamente pelo que não é tão visível e o desejo meu de através da escrita trazer isso mais à tona. Tem sim o detalhismo que torço pra não “soar” enfadonho (risos). O que me move a escrever, além do encantamento pela palavra, seus significados, o que elas podem traduzir em termos de ideias e sentimentos, além da sua musicalidade (ser também músico me ajuda nisso), é a necessidade premente de me expressar e meu canal mais fácil pra isso é a escrita e em particular a poesia.. Confesso que não consigo nem imaginar como eu seria hoje se não escrevesse. A escrita, mas devo acrescentar que em quase tão grande escala, também a música, já que amo musicar meus poemas e transformá-los em canções, eu adoro canções, a escrita me constitui. Escrever me traz certo alívio não sei bem de que, talvez das inquietações internas. Meus poemas são minha prole impalpável, são órgãos externos ao meu corpo físico com funções semelhantes aos internos, ainda que abstratas, de metabolimso, nutrição, excreção, oxigenação e circulação.
14-Gostarias de dizer alguma outra coisa?
Quero só dizer que adorei a entrevista, que ela me levou a conversar com o leitor e com você sobre coisas relevantes sobre mim e pra mim e que o mundo ainda vai ser salvo pela beleza. Muito obrigado por essa auspiciosa oportunidade. Um beijo!
Querido Jorge, muito me emociona esta tua visita em indecentes palavras.Por ter sido tu a vir, depois de tanto tempo!É que a casa estava fechada para reformas... necessárias! (esta coragem que se tem quando é desejo escolher!) Pois bem, nesta rua tão tua, tão minha sinto-me honrada com tua chegada, naquilo que nos toma em parte como estrada, este amor que nos faz dizer, cantar e escrever.Esteja sempre convidado , em indecentes palavras...pelo que nos faz crianças ou pessoas...na rua da nossa casa.
Beijo com todas as letras!
Adriana Bandeira
Dias de Jorge em ricardias: músicas e letras do menino do rio.
1- Sabendo que não gostas de saídas sem despedidas rsrsr... prefiro dizer que estamos em festa! Parafraseando: “O começo é estar pronto”...Pois bem, estás inaugurando a retomada das entrevistas em indecentes palavras.Uma longa história, uma longa história...Mas é fato que as entrevistas me emocionam!E simplesmente quando leio as respostas...choro.Pelo que ali se revela aos poucos, de cada um.Pois bem...Jorge, o que te emociona muito?
Várias coisas me emocionam muito. O que me vem mais imediatamente é a inocência e a beleza. Constatar inocências me renova a crença e a esperança num mundo melhor e também me mostra que o cinismo, que tem crescido, não esterilizou a inocência. Beleza também me toca muito, mais as belezas impalpáveis, as do espírito. Nunca me esqueço do impacto que me causou a exposição da escultora Camile Claudel; suas esculturas, muitas das quais de pequeno tamanho, parecem gritar angústia. A beleza na arte pra mim é muito mobilizadora. Tem poemas que se eu disser em voz alta, corro o risco da voz nem sair. Desprendimentos e fraternidade me comovem também.
2- Pensando nas palavras e no que tens com elas, estas tantas...Que caso de amor é este?
Penso que uma coisa infantil que, nesse caso específico só adultos têm, que é o senso lúdico com as palavras. Você foi feliz ao se referir a essa relação como um “caso de amor”; é uma expressão que sempre uso pra descrever a minha intimidade e prazer ao lidar com elas. Tenho inclusive alguns poemas metalinguísticos sobre isso. É de fato um caso de amor antigo e com todos os ingredientes que todo caso de amor tem. Enamoramentos, inseguranças, rusgas, prazer, crises, alegrias... A palavra é feito larva, sem você perceber te crava.
3- Menino do rio...Perdoa se soa estranho... mas é um elogio! Talvez pelo que aparece nas tuas criações, este ar de moleque, de graça, de infância séria mas...verdadeira.Nas composições em música...como “Bumerangue”... Isso é uma sintonia marcante que nos convida a brincar!Poderia nos contar um pouquinho da tua história de menino...isso que aparece vez ou outra nas palavras que usas?
Vou tentar. Fui um menino introspectivo. Só depois de bem adulto é que fui me dar conta de um dos principais fatores dessa introversão. Desde os 6 anos eu uso óculos e o grau é forte. Isso contribuiu muito pra que eu limitasse meu universo a um perímetro pequeno, dada a minha visão de alcance limitado. Então isso, de certa forma foi compensado com muita imaginação, ou seja, visão física curta, visão imaginativa, não fisica, potente. Com isso eu frequentemente brincava dentro desse microcosmo que fui construindo. Somese a isso meu gosto inato e precoce pela leitura e dei a sorte de ter em casa o que ler e do bom. Devorei uma coleção inteira de livros do Monteiro Lobato e também uns com as fábulas de Esopo. Rapidamente tomei gosto por toda essa riqueza que foi me fascinando. Lá pelos 11 ou 12 anos tomei contato com a poesia e aos 14 li A metamorfose, de Franz Kafka e gostei muito. Daí em diante acho que fui me tornando cada vez mais ávido como leitor. Penso que essa é a origem dessa coisa imaginativa, lúdica e sonora que perpassa a minha escrita.
4- Pois é, Jorge...dizem que o amor não se aprende, ele nasce e teu amor pelas palavras nasceu.Dizem outros que não se aperfeiçoa isso na escola, na universidade, no conhecimento...Não sei, não sei.Costumo pensar que conhecimento e amor andam juntos e que amar é querer saber.Mas, afinal, qual tua formação acadêmica ou de trabalho?
Concordo, Adriana. Porque o coração pode entender e a mente pode sentir, não só racionalizar. Não entendo como entidades uma excludente da outra. Na Física humana duas coisas podem ocupar o mesmo lugar. Meu amor pelas palavras é sim inato, mas ao longo do tempo fui aprendendo a amá-las melhor e também de certa forma retribuir, fazer disso uma interação e não apenas um egoísta sugar de energia. Quanto à minha formação acadêmica...me graduei em Cinema, pela UFF. Não sei até que ponto minha paixão pela fotografia e pelo cinema contribuíram pro tanto de imagética que é a minha poesia. As voltas que a vida dá me levaram a ser, há 24 anos já, terapeuta corporal.
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5- Jorge...e as mulheres? E a cidade?
Curioso isso de você fazer essa pergunta casada. Sou um carioca assumida, eterna e irremediavelmente apaixonado pela minha cidade. E até em poema eu já a comparei com uma mulher. O Rio é uma cidade mulher, com suas curvas sedutoras no seu singular recorte geográfico e também por ser femininamente cheia de surpresas. Com frequência nos deparamos com microcidades dentro da cidade. Santa Teresa, Bairro Peixoto e o Alto da Boa Vista são bons exemplos disso. O Rio é uma mulher dessas que ninguém adivinha a idade, seus encantos nos fazem esquecer desses detalhes mesquinhos. E ela mesmo maltratada mantém seu charme e viço. Se houvesse uma mutação genética que levasse os homens a se auto fecundarem e com isso as mulheres desaparecessem da face da Terra, não creio que a humanidade fosse durar nem mais um milênio. Acho que isso resume minha admiração e reverência às mulheres. Se os homens tivessem um pouco mais da profundidade e delicadeza das mulheres, certamente teríamos um mundo melhor.
6- Dizem que o poeta fala de verdades e que isso é extremamente político.Nisso penso que não existe um poeta sem a sua denúncia, seu sagrado destino de dizer o que, certamente, modifica o outro.Não sei se esta intenção é inconsciente,se ela existe na hora da criação.Aliás: como crias teus poemas?Necessitas de algo especial para fazê-los?
Penso que a arte tem sim, um papel que ultrapassa o âmbito do estético. Ela pode formar e mudar consciências, quando não se contenta em ser meramente escapista. Tem textos meus em que abordo questões existenciais, comportamentais, políticas, de forma bem consciente, mas certamente uma parte disso, por estar impregnada na alma, sai de forma menos racional e vem na esteira do lirismo. Receio me estender muito no afã de descrever meu processo de criação, mas vou tentar ser conciso. Meus textos nascem e se desenvolvem de maneiras variáveis. Podem partir de uma palavra isolada, de uma sonoridade, de um estado de espírito singular que me traga imagens que aí converto em palavras para traduzir esse estado, enfim, varia muito e às vezes surpreende até a mim. Vou ilustrar com um exemplo que me ocorreu agora; certa vez estava num reduto carioca de samba de raiz, fui lá conhecer e, enquanto o samba rolava, animado e alto, subitamente me veio ao pensamento a ideia de leveza e a palavra leve e seu duplo significado. Então ali mesmo, nessa situação, mentalmente escrevi um soneto chamado Leve o leve e que, pelo menos conscientemente nada tinha a ver com aquilo que eu estava vivenciando naquele momento. Ah, a música me inspira muito também e adoro escrever ouvindo coisas de que gosto. Me inspira bastante.
7-As preferências existem...não estamos livres delas.Quais tuas criações que mais aprecias?Quais os escritores que preferes enquanto leitor? E os escritores contemporâneos?
Olha, é meio difícil dizer de quais textos meus gosto mais, porque tenho muitos e sou pai afetuoso com todas as crias, mas pra não me omitir e te deixar sem resposta, destaco um soneto chamado Dança, repleto de metáforas eróticas sutis e um poema chamado Continuum que foi escrito de forma circular e de tal maneira que pode ser lido tanto no sentido horário quanto anti horário e faz sentido nas duas direções. Quanto aos meus escritores preferidos, é outra longa história e pra encurtar vou só citar alguns, tanto poetas quanto prosadores: Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Franz Kafka, Edgar Alan Poe, Fernando Pessoa, Jorge Luis Borges, José Saramago e Manoel de Barros.
8- Jorge...sexo, drogas e rock in roll...?O que dizer?
Sexo, se não fosse ele, não estaria aqui dando essa entrevista e não teria ninguém pra lê-la e nem vc pra fazê-la. Com o tempo aprendi que cada um vê as coisas da vida com sua ótica particular e que não devemos ser prescritivos das nossas “verdades”. Relutamos muito ainda em admitir, mas somos cheios de preconceitos. Sexo só tem sentido com amor? São prescrições. Prefiro tentar aceitar a diversidade dos hábitos e conceitos humanos. Drogas, já experimentei cannabis, o santo daime, álcool e açúcar (risos). Só não tenho nenhuma vontade de experimentar as mais destrutivas, mas de novo friso que prefiro não julgar quem as consome. Rock and roll eu curto até hoje, mas sou meio chato e só escuto o que acho realmente bom, assim como no jazz, na música erudita, na MPB, etc. E “sexo, drogas e rock and roll”, eu acho que cada um pode ter a sua versão subjetiva. Eu tenho a minha. Mas isso não publico (risos).
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9- Estes dias informalmente falávamos de fantasmas...O que são eles para ti? Ou melhor: eles existem? rsrsr
Tua pergunta me fez lembrar de Sartre, que disse: “o inferno são os outros”. Remete a incompreensão, incomunicabilidade e solidão, mesmo sem estar sozinho. Esse certamente é um fantasma que assombra a muitos, à maioria, eu diria. Amor não correspondido também produz fantasmas meio resistentes a rezas fortes. Mas o consolo é que os artistas sempre arranjam um jeito de tirar proveito mesmo disso e fazer boas limonadas de azedos limões-fantasmas.
10-Terapias?Terá...pias? rsrsr
Vomitar na pia pode ser uma boa terapia, ao menos emergencial, pra aliviar a pressão. Mas se você está perguntado se faço ou já fiz terapia e o que acho disso, eu já fiz, mais de uma vez, diferentes linhas, atualmente não faço, mas se achar um dia que estou precisando, volto a fazer. Dependendo da empatia entre terapeuta e paciente, o que considero fundamental, pode ser muito proveitoso.
11-Tua poesia, para mim, traz um frescor estranho. É familiar demais, naquilo que conserva a rima, a ficção e por vezes ela me faz lembrar minha rua da infância onde a turma jogava bola e não tínhamos hora para dormir. A rua era nossa casa! Tua poesia me faz lembrar disso e...na verdade são ruas distantes, a minha e a tua. Jorge...como pode a lembrança abrir lugar na letra de um outro?
Adriana, só posso entender isso pela ótica e pelo sentimento da humanidade que nos faz iguais. Alguém (quiçá varios alguéns em diferentes momentos) que agora não lembro quem pra citar, disse que quanto mais particulares somos, mais universais. Curiosamente é isso mesmo. Não é por acaso que escritores como Dostoieviski, Shakespeare, Pablo Neruda, cineastas como Felini, Akira Kurosawa, Glauber Rocha, pintores como Da Vinci, Picasso, Portinari, músicos como Bach, os Beatles, Tom Jobim, artistas de diversas culturas e línguas, com suas vivências e expressões artísticas tão locais e particulares, são tão amados, cultuados e conhecidos no mundo todo. A minha rua e brincadeiras infantis é muito afim com a tua e certamente semelhante, mesmo com suas diferenças geográficas e culturais, à maioria das ruas e os personagens infantis que as povoam.
12-Filhos...Pai...?
Tenho dois, já adultos e o caçula mora comigo. Sou meio o arquétipo do pai amigo e de doce convivência. Neste momento estou fazendo a revisão da monografia de conclusão da faculdade da minha filha. Meu caçula faz aniversário junto comigo e todo ano comemoramos juntos e no grande estilo que essa coincidência merece.
13-Blábláblá blog, artistas de rua...e um encantamento pelo que não é tão visível,é detalhe, é o dia a dia da tua poesia...Concordas?O que te faz escrever?
É, acho que concordo sim. Você observou agudamente bem, o encantamente pelo que não é tão visível e o desejo meu de através da escrita trazer isso mais à tona. Tem sim o detalhismo que torço pra não “soar” enfadonho (risos). O que me move a escrever, além do encantamento pela palavra, seus significados, o que elas podem traduzir em termos de ideias e sentimentos, além da sua musicalidade (ser também músico me ajuda nisso), é a necessidade premente de me expressar e meu canal mais fácil pra isso é a escrita e em particular a poesia.. Confesso que não consigo nem imaginar como eu seria hoje se não escrevesse. A escrita, mas devo acrescentar que em quase tão grande escala, também a música, já que amo musicar meus poemas e transformá-los em canções, eu adoro canções, a escrita me constitui. Escrever me traz certo alívio não sei bem de que, talvez das inquietações internas. Meus poemas são minha prole impalpável, são órgãos externos ao meu corpo físico com funções semelhantes aos internos, ainda que abstratas, de metabolimso, nutrição, excreção, oxigenação e circulação.
14-Gostarias de dizer alguma outra coisa?
Quero só dizer que adorei a entrevista, que ela me levou a conversar com o leitor e com você sobre coisas relevantes sobre mim e pra mim e que o mundo ainda vai ser salvo pela beleza. Muito obrigado por essa auspiciosa oportunidade. Um beijo!
Querido Jorge, muito me emociona esta tua visita em indecentes palavras.Por ter sido tu a vir, depois de tanto tempo!É que a casa estava fechada para reformas... necessárias! (esta coragem que se tem quando é desejo escolher!) Pois bem, nesta rua tão tua, tão minha sinto-me honrada com tua chegada, naquilo que nos toma em parte como estrada, este amor que nos faz dizer, cantar e escrever.Esteja sempre convidado , em indecentes palavras...pelo que nos faz crianças ou pessoas...na rua da nossa casa.
Beijo com todas as letras!
Adriana Bandeira
O amor fora das telas
No filme adotei teu traçado,moço, bandido,afilhado, o padre e a puta vestida de fome e de dor.Mas o vento falou tanto,tanto...Ouça, meu amor, hoje abre a porta com cuidado e deita em concha, mar, azul sagrado, no fundo do meu lado sul.Lá te recebe como porto, cais, estrelas,guias loucos o que nos couber...para desenharmos enquanto a chuva não vem.
No filme adotei teu traçado,moço, bandido,afilhado, o padre e a puta vestida de fome e de dor.Mas o vento falou tanto,tanto...Ouça, meu amor, hoje abre a porta com cuidado e deita em concha, mar, azul sagrado, no fundo do meu lado sul.Lá te recebe como porto, cais, estrelas,guias loucos o que nos couber...para desenharmos enquanto a chuva não vem.
O sonho e a morte
Briguei com o sonho a noite inteira...sobre a razão das coisas, dos assombros, dos medos.E foram tantos argumentos que, ao final, ao final de tudo, me convenci de que o sonho é independente.É...porque por toda a infinita certeza que tracei com palavras e gestos e cheiros, com as precisas verdades escaneadas da mídia, do dito contexto...ainda assim, silenciosamente ele aguardava.Sabia que o cansaço me tomaria.
Por alguns segundos, horas ou gestos, esta noite, uma borboleta me visitou com suas delicadas cores, no céu que carrega em si.O sonho é como a morte dos argumentos...Ele apenas vem, e fim.
terça-feira, setembro 17, 2013
Somos
diferentes, Sancho.O que desejo é somente colher as flores! Meu senhor,
não há colheita delas.Rocinante leva água, pão e armas! E nós mesmos...
apenas as espadas! Silêncio Sancho! Não escutas as vozes que as
estradas nos trazem? São as flores que nascem e eu as colho.Estou com os
olhos cheios delas...para que Dulcinéia me tenha para sempre.
sexta-feira, setembro 13, 2013
Quando
tem cheia de rio, aperto o nó na garganta.Perco o Leco que foi com a
última vez da andança.Um barco passava e recolhi: as roupas, o frio, os
guris...Mas o Leco só abanava o rabo e não entendeu a gente.Leco não
dormiu mais aqui.Arrumei outro, preto, igual mas de latido estranho.E
depois de agora, dois anos...a cheia volta a lembrar.Que Leco vou botar
no lugar?Apesar disso gosto da cheia...dá
esta dor de saber...que a estrada não tem fronteira.A rua, no ano que
foi, há mais de muito depois...tinha o barco maior no meio do meu
galinheiro...e eu me senti dona do lugar inteiro!Gosto de rio que se
enche, que se engravida e volta, que ninguém entende e xinga e
gosta...mata,morre, emagrece, engorda.O rio é mulher, vez ou outra.
domingo, julho 28, 2013
Poemas para crianças
Para Anita, Luiz, Cássio, Carolina,Luti,Deise, Daniela,Joana,Ester,Maira,Aimé e,Léo,Gui,Vagner,Fantasminha Pluft Georgius,Andressa, euzinha,Carlos,Silvio,Naná,Júl io,Neni,Gi,Jú e toda a galera que está vindo aí!
...E tinha um livro que não se podia abrir...um livro esquisito guardado a sete chaves no jardim.Um dia abriu-se sozinho e de tão colorido...vôou pelo dia, pela porta...só para mim.
Para Anita, Luiz, Cássio, Carolina,Luti,Deise, Daniela,Joana,Ester,Maira,Aimé
...E tinha um livro que não se podia abrir...um livro esquisito guardado a sete chaves no jardim.Um dia abriu-se sozinho e de tão colorido...vôou pelo dia, pela porta...só para mim.
Para Anita e as crianças, as mais de mil...de todos nós!
Lá na noite
tem um gato
que se esconde
no retrato
da vó
ela que rodopia
quando a gente
nem sabia
que fantasma
não dança só
agora entendo
o sapato da bailarina
que me leva
feito sina
a saltar
sem nunca
cair
a avó deve rir de verdade
já que estas coisas
nem tem idade
estas que vieram antes de mim.
Lá na noite
tem um gato
que se esconde
no retrato
da vó
ela que rodopia
quando a gente
nem sabia
que fantasma
não dança só
agora entendo
o sapato da bailarina
que me leva
feito sina
a saltar
sem nunca
cair
a avó deve rir de verdade
já que estas coisas
nem tem idade
estas que vieram antes de mim.
Trechos da entrevista à estudante Chaiane Stalter, de Portão:
"... Bem...não decidi escrever.Na verdade é uma necessidade minha, diária.Somos todos escritores porque o inconsciente teme sta estrutura da linguagem: metáfora-metonímia.A escrita é da natureza humana...como o sonho.Porém, alguns registram, publicam, são reconhecidos como escritores.A minha escrita nasceu de uma impossibilidade, quando ainda eu me alfabetizava.Havia dois extremos: a minha facilidade e o discurso materno dizendo que eu teria problemas com a aprendizagem.Eu tinha umas dores de cabeça que com o passar do tempo...revelou-se como sendo enxaqueca.Isso assustava minha mãe que achava que...eu não ia "aprender".
Em análise recordei uma leitura, antes de ir para o colégio...ou seja, antes de entrar no primário eu já lia! Era uma placa próxima aos trilhos dos trens.Dizia: parar, olhar,escutar!Reconheci ali também a minha escolha pela psicanálise! rsrsr Pois é...é nisso que penso na grande diferença entre analisar( estar a frente da análise de alguém) e ler.Acho as duas coisas extremamente parecidas e importantes.Bem...a única diferença é que quando leio, a letra ainda é minha, ou seja, eu me dou ao direito de interpretar como bem entender.Mas, na análise do outro, preciso escutar a letra que não é minha, a palavra que faz diferença não para mim...mas para o outro.Escrever...Ah! Como não falar de si numa letra, numa palavra que é única e sua? "
"...A minha inspiração para escrever é, simplesmente...o som, a palavra, a coisa...qualquer coisa! rsrsr Como eu disse...o poema está lá...basta somente recebê-lo. Gosto de vários autores de diferentes estilos!Sou uma vampira!Gosto não somente da história mas da letra, do sangue do autor.Gosto de pensar de onde ele escreve,d e que lugar subjetivo ele fala! Nisso amo: Clarice Lispector, Saramago, Garcia Marquez,Ítalo Calvino, Lacan( psicanalista),Freud, Cervantes, Sheakspear,Carpinejar,Fernando Pessoa...Gosto da poesia em música de Silvio Rodriguez(poeta cubano),Adoro Pablo Neruda...enfim...estou convencida de que gosto de tudo o que me faz outra."
"...Gosto das tradições gaúchas...mas as de verdade!O que vemos são pseudos tradições, são traços de costumes que não tem lógica alguma.Por exemplo: uma das tradições do gaúcho é o trabalho, o campo! Onde assistimos os movimentos tradicionalistas juntarem-se aos movimentos de preservação, de crítica aos agrotóxicos ou outras questões? Nosso hino é belíssimo mas....atualmente, quando assistimos a luta do gaúcho pelo que lhe é de direito? Então relembro uma belíssima poesia-música de Mário Barbará:"sopram ventos desgarrados carregados de saudade..."
Querida Chaiane Stalter!Agradeço tua atenção e vontade de saber da minha escrita, da nossa, desta coisa toda que é viver num tempo e lugar.Espero ter podido te auxiliar mas, digo com toda a minha verdade, tu me auxiliaste muito...porque escrevendo estas coisas para ti, reconheci outras que eu havia esquecido, me fiz diferente ...e te agradeço, para sempre, por isso.Beijo grande!
"... Bem...não decidi escrever.Na verdade é uma necessidade minha, diária.Somos todos escritores porque o inconsciente teme sta estrutura da linguagem: metáfora-metonímia.A escrita é da natureza humana...como o sonho.Porém, alguns registram, publicam, são reconhecidos como escritores.A minha escrita nasceu de uma impossibilidade, quando ainda eu me alfabetizava.Havia dois extremos: a minha facilidade e o discurso materno dizendo que eu teria problemas com a aprendizagem.Eu tinha umas dores de cabeça que com o passar do tempo...revelou-se como sendo enxaqueca.Isso assustava minha mãe que achava que...eu não ia "aprender".
Em análise recordei uma leitura, antes de ir para o colégio...ou seja, antes de entrar no primário eu já lia! Era uma placa próxima aos trilhos dos trens.Dizia: parar, olhar,escutar!Reconheci ali também a minha escolha pela psicanálise! rsrsr Pois é...é nisso que penso na grande diferença entre analisar( estar a frente da análise de alguém) e ler.Acho as duas coisas extremamente parecidas e importantes.Bem...a única diferença é que quando leio, a letra ainda é minha, ou seja, eu me dou ao direito de interpretar como bem entender.Mas, na análise do outro, preciso escutar a letra que não é minha, a palavra que faz diferença não para mim...mas para o outro.Escrever...Ah! Como não falar de si numa letra, numa palavra que é única e sua? "
"...A minha inspiração para escrever é, simplesmente...o som, a palavra, a coisa...qualquer coisa! rsrsr Como eu disse...o poema está lá...basta somente recebê-lo. Gosto de vários autores de diferentes estilos!Sou uma vampira!Gosto não somente da história mas da letra, do sangue do autor.Gosto de pensar de onde ele escreve,d e que lugar subjetivo ele fala! Nisso amo: Clarice Lispector, Saramago, Garcia Marquez,Ítalo Calvino, Lacan( psicanalista),Freud, Cervantes, Sheakspear,Carpinejar,Fernando Pessoa...Gosto da poesia em música de Silvio Rodriguez(poeta cubano),Adoro Pablo Neruda...enfim...estou convencida de que gosto de tudo o que me faz outra."
"...Gosto das tradições gaúchas...mas as de verdade!O que vemos são pseudos tradições, são traços de costumes que não tem lógica alguma.Por exemplo: uma das tradições do gaúcho é o trabalho, o campo! Onde assistimos os movimentos tradicionalistas juntarem-se aos movimentos de preservação, de crítica aos agrotóxicos ou outras questões? Nosso hino é belíssimo mas....atualmente, quando assistimos a luta do gaúcho pelo que lhe é de direito? Então relembro uma belíssima poesia-música de Mário Barbará:"sopram ventos desgarrados carregados de saudade..."
Querida Chaiane Stalter!Agradeço tua atenção e vontade de saber da minha escrita, da nossa, desta coisa toda que é viver num tempo e lugar.Espero ter podido te auxiliar mas, digo com toda a minha verdade, tu me auxiliaste muito...porque escrevendo estas coisas para ti, reconheci outras que eu havia esquecido, me fiz diferente ...e te agradeço, para sempre, por isso.Beijo grande!
domingo, junho 02, 2013
Da série: Freud e eu
-Então combinei estas coisas comigo...Estes dias ...já faz tempo...conversava com um amigo poeta.Ele compartilhava o mesmo medo que eu.Ele dizia: Adriana...e se eu fico um velho solitário e cheio de manias! E se eu perco a crítica e nem tô mais nem aí? rsrsrs Mas...na época eu também comentei deste meu medo...
-Medo?
-É...de ficar com as manias ahahahah
-hum! Boas?
-como assim?
-Boas manias?
-Ah! Bem ...não sei.Este é o problema!
-Quais?
-hummm ...Dormir vendo tv, tomar café em silêncio,escrever, escrever, escrever...O que mais? Ficar de pijama, não supervisionar o serviço da empregada ahahah...
-Não! Quais os problemas?
-Ah! Bem...naquele dia pensei que tinha medo.Mas nem isso tenho mais!
-...
-Talvez uma saudade...estas de quando eu queria mais do que isso!
-Como assim?
-Quando eu queria mais do que a verdade...será que eu era mais feliz? Não sei.O que eu sei é que hoje não quero mais do que um dia de verdade, de gente de verdade e de palavras de verdade.E quando o dia termina, estou feliz!
-O que é mentira?
-Como assim?Acabei de dizer o contrário! Começa tu aí com isso! Tô falando sério! Não há mentiras!Chego em casa, feliz!
-Esta é uma.
-Como?
-Toda verdade surge daquilo que é seu não.Para que chegue no dia que desejas...ah! Quantas mentiras tens que inventar!
-Não.Acho que estás saindo do teu lugar de analista e fazendo algum juízo de mim.Oras Freud!Vem com esta para cima de mim?
-Analista? Lista de " as" ?
-Como?
-Lista de "as"...conceito lacaniano: a= objeto causa do desejo.Uma lista grande de causas, de coisas que fazem desejar viver, trabalhar e amar.Tuas causas!
-Acho que tu não és do tempo do Lacan...então não podes falar.Aliás:Tu já não morreu,hein?
-Repara que nem o que enxergas é da cor que realmente é.Repara que nem o que desejas, na continuidade das horas...é o que sentes.Repara também que...o que surge é o desejo.E o que surge ainda está por vir.A verdade...está...onde?
-Sem fim.
-humm...
-Mas gosto de arrumar minhas coisas, minhas músicas, meus pertences.
-Até o ...
- objeto a?
Ficamos hoje, certo?
-Então combinei estas coisas comigo...Estes dias ...já faz tempo...conversava com um amigo poeta.Ele compartilhava o mesmo medo que eu.Ele dizia: Adriana...e se eu fico um velho solitário e cheio de manias! E se eu perco a crítica e nem tô mais nem aí? rsrsrs Mas...na época eu também comentei deste meu medo...
-Medo?
-É...de ficar com as manias ahahahah
-hum! Boas?
-como assim?
-Boas manias?
-Ah! Bem ...não sei.Este é o problema!
-Quais?
-hummm ...Dormir vendo tv, tomar café em silêncio,escrever, escrever, escrever...O que mais? Ficar de pijama, não supervisionar o serviço da empregada ahahah...
-Não! Quais os problemas?
-Ah! Bem...naquele dia pensei que tinha medo.Mas nem isso tenho mais!
-...
-Talvez uma saudade...estas de quando eu queria mais do que isso!
-Como assim?
-Quando eu queria mais do que a verdade...será que eu era mais feliz? Não sei.O que eu sei é que hoje não quero mais do que um dia de verdade, de gente de verdade e de palavras de verdade.E quando o dia termina, estou feliz!
-O que é mentira?
-Como assim?Acabei de dizer o contrário! Começa tu aí com isso! Tô falando sério! Não há mentiras!Chego em casa, feliz!
-Esta é uma.
-Como?
-Toda verdade surge daquilo que é seu não.Para que chegue no dia que desejas...ah! Quantas mentiras tens que inventar!
-Não.Acho que estás saindo do teu lugar de analista e fazendo algum juízo de mim.Oras Freud!Vem com esta para cima de mim?
-Analista? Lista de " as" ?
-Como?
-Lista de "as"...conceito lacaniano: a= objeto causa do desejo.Uma lista grande de causas, de coisas que fazem desejar viver, trabalhar e amar.Tuas causas!
-Acho que tu não és do tempo do Lacan...então não podes falar.Aliás:Tu já não morreu,hein?
-Repara que nem o que enxergas é da cor que realmente é.Repara que nem o que desejas, na continuidade das horas...é o que sentes.Repara também que...o que surge é o desejo.E o que surge ainda está por vir.A verdade...está...onde?
-Sem fim.
-humm...
-Mas gosto de arrumar minhas coisas, minhas músicas, meus pertences.
-Até o ...
- objeto a?
Ficamos hoje, certo?
Dias de solidão!
E nas vezes em que estas dores estranhas me acordam, quando sou pequena ainda, como agora, tenho medo do que não lembrar. Permito-me recolher somente os restos de antes , as palavras de antes , as flores que nunca murcham e a água que leva os barcos sem mar. Como parte infinita faço listas, poesias, para guardar como relíquias tudo...sem conseguir o tudo que nunca há.Lembra das corredeiras? Elas não param...quando estou assim! Ainda ontem...te ouvi e hoje há uma chuva sem fim lá fora.Ah! perdoa se a chuva, o mar, e as fomes turvam meus ouvidos neste embaraço de cores! Mas quando assim estou pequena e quieta...não consigo escutar nada que não me faça lembrar de quando aprendi a falar!
E nas vezes em que estas dores estranhas me acordam, quando sou pequena ainda, como agora, tenho medo do que não lembrar. Permito-me recolher somente os restos de antes , as palavras de antes , as flores que nunca murcham e a água que leva os barcos sem mar. Como parte infinita faço listas, poesias, para guardar como relíquias tudo...sem conseguir o tudo que nunca há.Lembra das corredeiras? Elas não param...quando estou assim! Ainda ontem...te ouvi e hoje há uma chuva sem fim lá fora.Ah! perdoa se a chuva, o mar, e as fomes turvam meus ouvidos neste embaraço de cores! Mas quando assim estou pequena e quieta...não consigo escutar nada que não me faça lembrar de quando aprendi a falar!
sexta-feira, março 29, 2013
Contornos
Voltaram um a um das profudenzas, das correntes estranhas, da camada fina que nem é todo o mar. Retornaram aos poucos, restantes, exauridos...dos anos descobertos na quietude sem par.Todos, aos poucos, respirando a verdade que sempre há, iluminados pelas velas do vento que sabem falar.Os barcos, todos eles...voltaram para me levar.
sábado, março 23, 2013
Encontro
E nos dias de frio, colher flores de primavera, como nas noites de antes do fim.E nos calores escaldantes, aliviar os pés nas águas das pequenas vertentes, adolescentes, como sempre ainda somos, por fim.Ah! E nos silêncios que a solidão traz, dar as mãos e escutar, não a voz!...mas somente a respiração.Quando isso acontecer...estarás, estarei.
E nos dias de frio, colher flores de primavera, como nas noites de antes do fim.E nos calores escaldantes, aliviar os pés nas águas das pequenas vertentes, adolescentes, como sempre ainda somos, por fim.Ah! E nos silêncios que a solidão traz, dar as mãos e escutar, não a voz!...mas somente a respiração.Quando isso acontecer...estarás, estarei.
sexta-feira, março 22, 2013
quinta-feira, março 21, 2013
terça-feira, março 19, 2013
segunda-feira, março 18, 2013
Dias de antes
nas primeiras horas do tempo
no plantio das sedes
das vinhas
era o sol
que nos cegava
a fonte
as fotografias
e de agora
tínhamos pensado em voltar nas tardes
como antes
perdidos em traços
amarrados
na saudade que nunca
há de ser
verso
repara que em nós
só resta
o que plantamos
nas mãos a ternura
de quando
acreditei
em nunca
partir.
no plantio das sedes
das vinhas
era o sol
que nos cegava
a fonte
as fotografias
e de agora
tínhamos pensado em voltar nas tardes
como antes
perdidos em traços
amarrados
na saudade que nunca
há de ser
verso
repara que em nós
só resta
o que plantamos
nas mãos a ternura
de quando
acreditei
em nunca
partir.
sábado, março 16, 2013
quinta-feira, março 14, 2013
Amantes
Ouço pela fresta tua procura.E me queres! Olhas na cozinha, na sala...no pátio.Eu estaria colhendo flores? Caminhas pelas ruas, pelos bares.Eu estaria dançando?Ouço somente pelos buracos tua ânsia sem palavra.Há tanto tempo não me falas e não me vês.Ouça-me...lá não estarei.Olha para o lado...enquanto matamos um leão por dia.
quarta-feira, março 13, 2013
segunda-feira, março 11, 2013
Galope galopando...
Num" lembro não senhor! Foi só um galope..."galopando".Um desses de zunir ouvido de cão.Eram muitos, tantos!.Andantes como os outros, foram passando.Deixaram esta poeira, depois da promessa!.Sempre é assim! Poeira!.Mas nem dá para reclamar!Gente que é gente tem destes ventos , estes farelos.Onde se vai... se deixa resto.Eu aqui deixei de querer mal.Até ajuda a passar o tempo.Porque , este sim, o tempo, que não deixa nada prá trás.Falo por experiência, que lembrança não é resto.É dor de viver para sempre cada coisa que nunca foi.
sexta-feira, dezembro 28, 2012
Não carece de nome, doutô, o que faço ou deixo
assim no descanso.É só esta mania de fazer do barro mais que a
sorte...Meu canto!.Mas se lhe fizer um agrado dar o nome de louco, sou
sim...que isso lhe traga um tanto.Mas não leve a mal ou bem, o nome nem
faz minha reza.Gosto de amassar a terra e dela tirar o que vem.Só não
sabia que era pecado cavar coisa assim sem destino e fazer lata,panela
ou carrinho, da lama que vem dali.Achei que no cemitério, a chuva do
corpo da gente, dava para a lama um ar de semente...e fui escavar logo
ali.
Mas não reclamo não...minha única prisão é "apaixonar" por ela...esta solidão.(Adriana Bandeira)
Mas não reclamo não...minha única prisão é "apaixonar" por ela...esta solidão.(Adriana Bandeira)
Palavra por palavra
E se na madrugada fria tomares minha garganta como vinho, partitura, nestas estações que oscilam, em que sou tua...E se nos calores das febres ainda restar meu colo como o que te encaixas, e se me fazes uma outra mulher a cada nova taça...que seja por fim tua voz a minha pátria! Palavra por palavra.
E se na madrugada fria tomares minha garganta como vinho, partitura, nestas estações que oscilam, em que sou tua...E se nos calores das febres ainda restar meu colo como o que te encaixas, e se me fazes uma outra mulher a cada nova taça...que seja por fim tua voz a minha pátria! Palavra por palavra.
sábado, agosto 04, 2012
Esquina de mim
Percebo o tempo nesta dobra diferente do dia em que esqueço,esqueço,esqueço; na ternura dos olhos na madrugada,o prazer estranho de sentir frio e solidão, vontade encarnada de cada segundo de estrada.Percebo o tempo nesta esquina da cidade em que perdi,perdi,perdi...um jeito infantil de dizer não.
Percebo o tempo nesta dobra diferente do dia em que esqueço,esqueço,esqueço; na ternura dos olhos na madrugada,o prazer estranho de sentir frio e solidão, vontade encarnada de cada segundo de estrada.Percebo o tempo nesta esquina da cidade em que perdi,perdi,perdi...um jeito infantil de dizer não.
Terra
Acharam-me estranha ao voltar correndo no tempo, com uma roupa de algodão, ao descer das horas de colheita de uvas.Apontaram-me diferente quando entreguei os dias de abrir estradas e as madrugas a tecer roupas de lã.Olharam-me em suspeita de que havia enlouquecido porque não exitiam mais as uvas e nem o frio.Colocaram-me numa roupa diferente, rindo feito gente dos que chamam sonho de loucura e saudade de dor.E contiuamos ...Araram-me, araram-me...terra semente e flor.
“NOSSO REI MANDOU PEDIR UMA DE VOSSAS FILHAS... EU SOU POBRE,
POBRE, POBRE...Falando da vida com Kleiton Ramil
1- Preciso dizer que aqui não estou isenta, como estes entrevistadores. Não!
Realmente sou parcial rsrsrrs e sinto-me muito bem em falar também. Pois ao
assistir e ouvir a música Bry, à mim, além da beleza da letra, surgiu um som
diferente, de intimidade revelada... como se através dela o compositor quisesse
dizer mais. Isso não é comum a mim. Então lembrei da melodia, daquilo que
cantei em criança, esta denúncia que nem mesma eu sabia: eu sou pobre, pobre,
pobre de marré ,marré, marré... eu sou rica, rica, rica... A parte que mais me
chama a atenção é: nosso rei mandou pedir uma de vossas filhas. Nesta parte
sempre fiquei pensativa... Afinal, sempre alguém, o mundo... nos pede nosso
filho, nossa produção... nosso traço, querendo ou não. Então pensei em Bry
como uma entrega. O que podes me dizer disso, desta tua canção e a história
dela?
Quando morei em Paris, início dos anos 90, fiquei surpreso ao perceber que todas as
crianças conhecem no Brasil essa canção que era praticamente desconhecida por lá. “De
Marré Marré Marré...” refere-se ao bairro Marais, hoje cultuado pelos franceses e a
canção faz referencia aos ricos do Marré de baixo e aos pobres do Marré de cima.
Essa canção infantil caiu como uma luva para abrir a música BRY criada a partir
dessa experiência marcante em minha vida, que foi morar na França. Fiz muitos amigos
por lá, resgatei Kleitons que havia perdido pelo caminho, descobri personas que até
então desconhecia, e remocei uns dez anos pelo menos. Por isso compus esse tema para
levar comigo e dividir com as pessoas aspectos desse momento tão forte. A letra fala
de Bry-Sur-Marne, uma pequena cidade próxima à banlieue parisiense, mas o que as
palavras não conseguem expressar vem através da melodia, da harmonia, das células
rítmicas.
Sim, Bry é uma entrega intensa, parte de minha vida transformada em música,
tanto que ao concluí-la chorei muito movido por enorme gratidão de ter conseguido.
Aproximar-se da forma ideal, ao criar , produz uma avalanche de emoção incontrolável.
Quase todas minhas obras musicais são biográficas, ou pelo menos tratam de coisas
que vivenciei, mas umas são mais verdadeiras do que outras, no sentido de conseguirem
expressar melhor o que se pretende. BRY é uma dessas canções...
2- Lembro dos Almôndegas, do sucesso da dupla Kleiton e Kledir... mas agora é
como se fossem outros, diferentes, melhores. Isso é assim, para ti ou... o público
cresceu, tomou outra forma?
O período do Almôndegas foi muito bonito e poético. Uma grande escola de
vida. Imagina um grupo de amigos (o grupo surgiu de uma turma de 25 pessoas
aproximadamente) todos apaixonados por música, vivendo de roldão atrás de seus
sonhos? Tudo era paixão e deixar acontecer. Nada muito planejado, mas que trazia
importantes resultados movidos pelo prazer diretamente gerado pela música. Havia,
por outro lado, muita ingenuidade e falta de experiência,de profissionalismo. Hoje,
olhando para trás percebo que foi o início de tudo e meu percurso profissional foi
dar prosseguimento aquilo tudo, e até antes daqueles anos 70. Mas ali deu para
perceber que podíamos ambicionar ir muito adiante.
Tanto eu, Kledir e público crescemos juntos acumulando novas experiências
músicas, muitas viagens, estudos, troca de informações com outros artistas...
Muito do que sabemos em música aprende-se fazendo: “O caminho se faz
caminhando”. Mas a isso agregue-se diploma de engenharia + de composição e
regência + mestrado em composição + gostar de pesquisar + curiosidade infinita
+ jeito pra coisa... Daí pode nascer um artista. Não tenho dúvidas que estou sempre
em evolução. A vida artística é muito generosa nesse sentido.
3- A música, o tempo da nota musical... já é uma poesia. A melhor! Então não é
raro que eu pense ser redundante poesia musicada.Porém, existe a letra que casa
com o som e numa parceria belíssima se tem mil poesias. Neste aspecto...poesia,
poesia, poesia. O que é poesia para ti? O que é música?
Não se sabe quem pela primeira vez teve a ideia de juntar um texto a uma música.
Mas com certeza deve ter levado um enorme susto. Há muito poder na música, há
muito poder na poesia. Esses dois mundo reunidos tem um poder incomensurável
e, certamente, instigante se for observado de perto. É maravilhoso, como você diz,
quando as duas vertentes parecem nascidas uma para a outra. Mas não é simples de
dominar essa questão. Prosódia é algo que faz criadores de música mais exigentes
enlouquecerem. Quem sou eu para definir música ou poesia? Só posso dizer que são
boas razões para viver.
4- Quando resgatamos o autor, sua vida, seu cotidiano é somente para apresentar
o quanto é do humano estas “ tais produções artísticas”. É somente destes, nós
mesmos, que pode surgir a arte enquanto trabalho/produção. Quem é o autor de
uma obra?
Muitos anos atrás, compus uma melodia (vocalize da música Circo de Marionetes)
que tinha orgulho de dizer que era uma de minhas mais belas criações melódicas.
Décadas se passaram e, um dia, eu escutava uma obra orquestrada de Mozart quando
ouvi surpreso uma trompa tocando exatamente aquela melodia. Desde então, como já
desconfiava, entendo que um compositor, o autor de uma obra de arte é um repassador
de cultura. Absorvemos tantas coisas interessantes durante nossa vida... É preciso
esforçar-se para merecer esse dom. Receber, repassar. Não é algo de pouco valor poder
servir à musica. É preciso estar disponível.
5- Bem...rsrsr, então vou arriscar: quem é Kleiton?
Quem sou eu? Essa é uma boa pergunta que tenho feito há bastante tempo.
6- Sair do Sul, voltar, turnês, e... a vontade própria. O que é “ a vontade própria?
Olhando para minha carreira, tudo o que se passou comigo, de bom e de ruim, acredito
que fazem parte de um plano, um destino traçado, sobre o qual temos pouco poder.
Claro que todo tempo esforcei-me para imprimir minhas ideias, mas os resultados são
misteriosos.
7- Quando estiveram aqui em Montenegro “Kleiton e Kledir” lembro de uma coisa
engraçada.Passei na rua por ti. Caminhavas pela cidade. Gostas de conhecer os
lugares, as ruas, as entrelinhas? O que são “as entrelinhas”?
Sim. Tenho um prazer especial, em minhas viagens, de me misturar com as pessoas,
as cidades, as culturas locais. Lembro quando nos conhecemos e trocamos algumas
palavras. Tive a impressão de nos conhecermos há muito tempo. Por isso estamos aqui
agora “trocando figurinhas”. Faz sentido. Acima da lógica acredito que temos uma
tribo, espalhada por todo o planeta, com a qual nos identificamos.
Além disso, os artistas, na estrada, podem tornar-se muito solitários se não buscam fugir
dos hotéis e dos compromissos impessoais. A música não resolve tudo.
8- Kleiton: família, cais, palavra e olhar. Poderias nos falar disso... assim como
vier?
Família: dedicação total, tolerância infinita, amor aos borbotões...
Cais: estou sempre a partir, correr riscos, experimentar, perder-me, e retornar para
começar tudo outra vez.
Palavra: pecado não é o que se pensa, mas o que não presta e se transforma em palavras
ou atos.
Olhar: adoro olhar de forma transparente às pessoas. Sem julgamentos prévios.
9- Dizem que aos poetas resta silenciar. Não concordo. O artista nunca silencia
embora, muitas vezes, aparentemente faça isso! Outro dia assisti a uma
entrevista de Geraldo Vandré, que voltava a responder algumas coisas... depois
de anos de suposto silêncio. Percebi, no seu olhar, tanta fala que... se por algum
motivo em alguns momentos continuou calado era muito mais em respeito à
ignorância do entrevistador.rsrsrs...Então, por favor, não fique calado! Rsrsrs
Mas pensando nisso... como tu vês o momento político de nosso “estado” ou
organização enquanto país?
Nasci em uma família que sempre via a política (politicagem) como coisa muito ruim.
Por isso quando penso em política penso de forma ideal, quase ingênua.
Não gosto do que vejo na política brasileira, e nem em outros lugares do planeta. Fala-
se em fim do mundo, mas acho que seria mais proveitoso pensarmos em fim dessa
sociedade que herdamos e não conseguimos modificar. Simpatizo muito hoje em dia
com o movimento Verde que é bem respeitado na Europa. Mas apesar de não ser filiado
a nenhum partido, acho que grandes soluções podem vir daí. Talvez mais da atitude
individual de cada um de nós (vencedor é o que se vence) e da consciência coletiva do
que esperar soluções das “autoridades” que não tem real autoridade ou moral para nada.
10-A incursão de vocês no mundo infantil tem sido... maravilhosa! Minha filha só
canta a dos pirulitos: de chulé, de goiabada rsrsrsrs. Como isso foi acontecendo?
quero dizer...subjetivamente contigo...
Antes de ter filhos, eu já era o tio bagunceiro que criava brincadeiras e estripulias para
a criançada da família. Sempre foi natural para mim essa relação. Acredito que veio do
fato que minha infância foi muito boa, com muita criatividade e espaço para expandir
corpo e mente. Até hoje me sinto um “crianção”, às vezes. Com o disco Par ou Ímpar
e mais recentemente a relação com o grupo Tholl, com quem montamos um belíssimo
espetáculo que gerou o DVD, toda essa boa energia veio à tona. Até pular corda estou
pulando no palco. Meu coração também pula de alegria...
11-Não posso deixar de perguntar... e a maravilhosa parceria de anos com o mano
Kledir?
Falou bem, maravilhosa... Realizar o impossível, juntos. Não sabemos muito bem
até onde somos um e outro na nossa obra. É um exercício constante de humildade e
perseverança. Com muitas alegrias, claro. E isso vem da infância, mas acredito que já
éramos amigos mesmo antes de nascermos...
12-Dizem alguns e me incluo que a música e a letra são a pele, de verdade. Sem
isso, o som e a letra, estamos em carne viva. Então, na minha área, não é raro
assistirmos a mudança de discurso, de lugar subjetivo resultar num poetar.
Sendo algo humano, nada mais natural que isso... Porém, neste mesmo contexto,
existe a fala em que o sujeito não se coloca, apenas exprime o que imagina
que querem dele e existe a fala própria, onde o sujeito está implicado, falando,
gritando o que lhe morde. Nas duas formas, é o sujeito a lidar com um si mesmo.
Mas, afinal... como saber o que é legítimo? Ou as duas formas seriam legítimas?
Acho que não existem artistas 100% legítimos, como gostaríamos. Talvez um Rimbaud,
um Kafka, muitos poucos o tenham sido. Algum desconhecido? Mas a realidade é
dura e crua. Em alguns momentos abençoados abrem-se as comportas e a arte surge.
Nesses momentos alguns privilegiados conseguem entregar-se na sua totalidade. Mas
a maioria dos artistas profissionais oscilam entre a prática do cotidiano, e a arte em si.
São raros os que conseguem resistir aos apelos do sucesso, da vida confortável e sem
preocupações apenas para se entregar de corpo e alma a uma vida artística perfeita.
Vivemos tempos de muita banalidade.
13- rsrsr...Porto Alegre...rsrs
Porto Alegre é meu porto...
14-Nesta grande trajetória o que tu destacarias como os principais acontecimentos
de uma vida, até agora?
Profissionalmente vivi momentos maravilhosos com a música, mas no fim das contas
o que realmente pesa na balança são as coisas mais simples. O nascimento dos filhos, a
presença dos amigos, eternos amigos, cada novo dia que nasce, cada nova canção...
15- Gostarias de dizer mais alguma coisa?
Obrigado pelo convite.
Kleiton, sinto-me honrada em te receber na minha casa, nestas indecentes palavras,
como toda letra que nunca diz tudo, é. (E elas ...não dizem tudo porque querem voltar
a dizer!) Principalmente no momento em que vocês escrevem e compõem às crianças...
nesta vontade de falar com os que logo e já estão. Então é a poesia e música do tempo
de hoje, nesta verdade que nos habita e quer saber sobre todos estes, nós todos, que
compomos o dia-a-dia, longe do que nos faz morrer. Bem,... a vida sempre arde!
Mas “dá uma vontade de...” Viver?
Agradeço tua visita e sinta-se convidado sempre em Indecentes Palavras!
Beijo com todas as letras!
POBRE, POBRE...Falando da vida com Kleiton Ramil
1- Preciso dizer que aqui não estou isenta, como estes entrevistadores. Não!
Realmente sou parcial rsrsrrs e sinto-me muito bem em falar também. Pois ao
assistir e ouvir a música Bry, à mim, além da beleza da letra, surgiu um som
diferente, de intimidade revelada... como se através dela o compositor quisesse
dizer mais. Isso não é comum a mim. Então lembrei da melodia, daquilo que
cantei em criança, esta denúncia que nem mesma eu sabia: eu sou pobre, pobre,
pobre de marré ,marré, marré... eu sou rica, rica, rica... A parte que mais me
chama a atenção é: nosso rei mandou pedir uma de vossas filhas. Nesta parte
sempre fiquei pensativa... Afinal, sempre alguém, o mundo... nos pede nosso
filho, nossa produção... nosso traço, querendo ou não. Então pensei em Bry
como uma entrega. O que podes me dizer disso, desta tua canção e a história
dela?
Quando morei em Paris, início dos anos 90, fiquei surpreso ao perceber que todas as
crianças conhecem no Brasil essa canção que era praticamente desconhecida por lá. “De
Marré Marré Marré...” refere-se ao bairro Marais, hoje cultuado pelos franceses e a
canção faz referencia aos ricos do Marré de baixo e aos pobres do Marré de cima.
Essa canção infantil caiu como uma luva para abrir a música BRY criada a partir
dessa experiência marcante em minha vida, que foi morar na França. Fiz muitos amigos
por lá, resgatei Kleitons que havia perdido pelo caminho, descobri personas que até
então desconhecia, e remocei uns dez anos pelo menos. Por isso compus esse tema para
levar comigo e dividir com as pessoas aspectos desse momento tão forte. A letra fala
de Bry-Sur-Marne, uma pequena cidade próxima à banlieue parisiense, mas o que as
palavras não conseguem expressar vem através da melodia, da harmonia, das células
rítmicas.
Sim, Bry é uma entrega intensa, parte de minha vida transformada em música,
tanto que ao concluí-la chorei muito movido por enorme gratidão de ter conseguido.
Aproximar-se da forma ideal, ao criar , produz uma avalanche de emoção incontrolável.
Quase todas minhas obras musicais são biográficas, ou pelo menos tratam de coisas
que vivenciei, mas umas são mais verdadeiras do que outras, no sentido de conseguirem
expressar melhor o que se pretende. BRY é uma dessas canções...
2- Lembro dos Almôndegas, do sucesso da dupla Kleiton e Kledir... mas agora é
como se fossem outros, diferentes, melhores. Isso é assim, para ti ou... o público
cresceu, tomou outra forma?
O período do Almôndegas foi muito bonito e poético. Uma grande escola de
vida. Imagina um grupo de amigos (o grupo surgiu de uma turma de 25 pessoas
aproximadamente) todos apaixonados por música, vivendo de roldão atrás de seus
sonhos? Tudo era paixão e deixar acontecer. Nada muito planejado, mas que trazia
importantes resultados movidos pelo prazer diretamente gerado pela música. Havia,
por outro lado, muita ingenuidade e falta de experiência,de profissionalismo. Hoje,
olhando para trás percebo que foi o início de tudo e meu percurso profissional foi
dar prosseguimento aquilo tudo, e até antes daqueles anos 70. Mas ali deu para
perceber que podíamos ambicionar ir muito adiante.
Tanto eu, Kledir e público crescemos juntos acumulando novas experiências
músicas, muitas viagens, estudos, troca de informações com outros artistas...
Muito do que sabemos em música aprende-se fazendo: “O caminho se faz
caminhando”. Mas a isso agregue-se diploma de engenharia + de composição e
regência + mestrado em composição + gostar de pesquisar + curiosidade infinita
+ jeito pra coisa... Daí pode nascer um artista. Não tenho dúvidas que estou sempre
em evolução. A vida artística é muito generosa nesse sentido.
3- A música, o tempo da nota musical... já é uma poesia. A melhor! Então não é
raro que eu pense ser redundante poesia musicada.Porém, existe a letra que casa
com o som e numa parceria belíssima se tem mil poesias. Neste aspecto...poesia,
poesia, poesia. O que é poesia para ti? O que é música?
Não se sabe quem pela primeira vez teve a ideia de juntar um texto a uma música.
Mas com certeza deve ter levado um enorme susto. Há muito poder na música, há
muito poder na poesia. Esses dois mundo reunidos tem um poder incomensurável
e, certamente, instigante se for observado de perto. É maravilhoso, como você diz,
quando as duas vertentes parecem nascidas uma para a outra. Mas não é simples de
dominar essa questão. Prosódia é algo que faz criadores de música mais exigentes
enlouquecerem. Quem sou eu para definir música ou poesia? Só posso dizer que são
boas razões para viver.
4- Quando resgatamos o autor, sua vida, seu cotidiano é somente para apresentar
o quanto é do humano estas “ tais produções artísticas”. É somente destes, nós
mesmos, que pode surgir a arte enquanto trabalho/produção. Quem é o autor de
uma obra?
Muitos anos atrás, compus uma melodia (vocalize da música Circo de Marionetes)
que tinha orgulho de dizer que era uma de minhas mais belas criações melódicas.
Décadas se passaram e, um dia, eu escutava uma obra orquestrada de Mozart quando
ouvi surpreso uma trompa tocando exatamente aquela melodia. Desde então, como já
desconfiava, entendo que um compositor, o autor de uma obra de arte é um repassador
de cultura. Absorvemos tantas coisas interessantes durante nossa vida... É preciso
esforçar-se para merecer esse dom. Receber, repassar. Não é algo de pouco valor poder
servir à musica. É preciso estar disponível.
5- Bem...rsrsr, então vou arriscar: quem é Kleiton?
Quem sou eu? Essa é uma boa pergunta que tenho feito há bastante tempo.
6- Sair do Sul, voltar, turnês, e... a vontade própria. O que é “ a vontade própria?
Olhando para minha carreira, tudo o que se passou comigo, de bom e de ruim, acredito
que fazem parte de um plano, um destino traçado, sobre o qual temos pouco poder.
Claro que todo tempo esforcei-me para imprimir minhas ideias, mas os resultados são
misteriosos.
7- Quando estiveram aqui em Montenegro “Kleiton e Kledir” lembro de uma coisa
engraçada.Passei na rua por ti. Caminhavas pela cidade. Gostas de conhecer os
lugares, as ruas, as entrelinhas? O que são “as entrelinhas”?
Sim. Tenho um prazer especial, em minhas viagens, de me misturar com as pessoas,
as cidades, as culturas locais. Lembro quando nos conhecemos e trocamos algumas
palavras. Tive a impressão de nos conhecermos há muito tempo. Por isso estamos aqui
agora “trocando figurinhas”. Faz sentido. Acima da lógica acredito que temos uma
tribo, espalhada por todo o planeta, com a qual nos identificamos.
Além disso, os artistas, na estrada, podem tornar-se muito solitários se não buscam fugir
dos hotéis e dos compromissos impessoais. A música não resolve tudo.
8- Kleiton: família, cais, palavra e olhar. Poderias nos falar disso... assim como
vier?
Família: dedicação total, tolerância infinita, amor aos borbotões...
Cais: estou sempre a partir, correr riscos, experimentar, perder-me, e retornar para
começar tudo outra vez.
Palavra: pecado não é o que se pensa, mas o que não presta e se transforma em palavras
ou atos.
Olhar: adoro olhar de forma transparente às pessoas. Sem julgamentos prévios.
9- Dizem que aos poetas resta silenciar. Não concordo. O artista nunca silencia
embora, muitas vezes, aparentemente faça isso! Outro dia assisti a uma
entrevista de Geraldo Vandré, que voltava a responder algumas coisas... depois
de anos de suposto silêncio. Percebi, no seu olhar, tanta fala que... se por algum
motivo em alguns momentos continuou calado era muito mais em respeito à
ignorância do entrevistador.rsrsrs...Então, por favor, não fique calado! Rsrsrs
Mas pensando nisso... como tu vês o momento político de nosso “estado” ou
organização enquanto país?
Nasci em uma família que sempre via a política (politicagem) como coisa muito ruim.
Por isso quando penso em política penso de forma ideal, quase ingênua.
Não gosto do que vejo na política brasileira, e nem em outros lugares do planeta. Fala-
se em fim do mundo, mas acho que seria mais proveitoso pensarmos em fim dessa
sociedade que herdamos e não conseguimos modificar. Simpatizo muito hoje em dia
com o movimento Verde que é bem respeitado na Europa. Mas apesar de não ser filiado
a nenhum partido, acho que grandes soluções podem vir daí. Talvez mais da atitude
individual de cada um de nós (vencedor é o que se vence) e da consciência coletiva do
que esperar soluções das “autoridades” que não tem real autoridade ou moral para nada.
10-A incursão de vocês no mundo infantil tem sido... maravilhosa! Minha filha só
canta a dos pirulitos: de chulé, de goiabada rsrsrsrs. Como isso foi acontecendo?
quero dizer...subjetivamente contigo...
Antes de ter filhos, eu já era o tio bagunceiro que criava brincadeiras e estripulias para
a criançada da família. Sempre foi natural para mim essa relação. Acredito que veio do
fato que minha infância foi muito boa, com muita criatividade e espaço para expandir
corpo e mente. Até hoje me sinto um “crianção”, às vezes. Com o disco Par ou Ímpar
e mais recentemente a relação com o grupo Tholl, com quem montamos um belíssimo
espetáculo que gerou o DVD, toda essa boa energia veio à tona. Até pular corda estou
pulando no palco. Meu coração também pula de alegria...
11-Não posso deixar de perguntar... e a maravilhosa parceria de anos com o mano
Kledir?
Falou bem, maravilhosa... Realizar o impossível, juntos. Não sabemos muito bem
até onde somos um e outro na nossa obra. É um exercício constante de humildade e
perseverança. Com muitas alegrias, claro. E isso vem da infância, mas acredito que já
éramos amigos mesmo antes de nascermos...
12-Dizem alguns e me incluo que a música e a letra são a pele, de verdade. Sem
isso, o som e a letra, estamos em carne viva. Então, na minha área, não é raro
assistirmos a mudança de discurso, de lugar subjetivo resultar num poetar.
Sendo algo humano, nada mais natural que isso... Porém, neste mesmo contexto,
existe a fala em que o sujeito não se coloca, apenas exprime o que imagina
que querem dele e existe a fala própria, onde o sujeito está implicado, falando,
gritando o que lhe morde. Nas duas formas, é o sujeito a lidar com um si mesmo.
Mas, afinal... como saber o que é legítimo? Ou as duas formas seriam legítimas?
Acho que não existem artistas 100% legítimos, como gostaríamos. Talvez um Rimbaud,
um Kafka, muitos poucos o tenham sido. Algum desconhecido? Mas a realidade é
dura e crua. Em alguns momentos abençoados abrem-se as comportas e a arte surge.
Nesses momentos alguns privilegiados conseguem entregar-se na sua totalidade. Mas
a maioria dos artistas profissionais oscilam entre a prática do cotidiano, e a arte em si.
São raros os que conseguem resistir aos apelos do sucesso, da vida confortável e sem
preocupações apenas para se entregar de corpo e alma a uma vida artística perfeita.
Vivemos tempos de muita banalidade.
13- rsrsr...Porto Alegre...rsrs
Porto Alegre é meu porto...
14-Nesta grande trajetória o que tu destacarias como os principais acontecimentos
de uma vida, até agora?
Profissionalmente vivi momentos maravilhosos com a música, mas no fim das contas
o que realmente pesa na balança são as coisas mais simples. O nascimento dos filhos, a
presença dos amigos, eternos amigos, cada novo dia que nasce, cada nova canção...
15- Gostarias de dizer mais alguma coisa?
Obrigado pelo convite.
Kleiton, sinto-me honrada em te receber na minha casa, nestas indecentes palavras,
como toda letra que nunca diz tudo, é. (E elas ...não dizem tudo porque querem voltar
a dizer!) Principalmente no momento em que vocês escrevem e compõem às crianças...
nesta vontade de falar com os que logo e já estão. Então é a poesia e música do tempo
de hoje, nesta verdade que nos habita e quer saber sobre todos estes, nós todos, que
compomos o dia-a-dia, longe do que nos faz morrer. Bem,... a vida sempre arde!
Mas “dá uma vontade de...” Viver?
Agradeço tua visita e sinta-se convidado sempre em Indecentes Palavras!
Beijo com todas as letras!
quarta-feira, julho 04, 2012
quarta-feira, maio 23, 2012
sexta-feira, maio 18, 2012
quinta-feira, maio 17, 2012
VEM DA RAIZ A PRIMEIRA PALAVRA, ÁRVORE QUE RESTA OU RENASCE
INTACTA PARA SEMPRE
NAS MÃOS...MORADA- Falando de
amor e verdade com o escultor Itelvino Adolfo Jahn
1-O que é...esculpir?
Não se decide
esculpir...esculpir é como sentir sede...
2-Na tua obra, a marca do movimento anda ao lado do
movimento do objeto.É como se houvesse um respeito com a vertente da madeira, a
veia...se posso falar assim? O que há de verdadeiro nesta minha impressão?
Sempre gostei dos
movimentos que cada uma das árvores, troncos, galhos ou raízes apresentam.
Gosto do singular, do irracional, do imperfeito que, para mim, é o imperfeito
que se torna belo.
3-Qual a tua causa? O que faz com que queiras esculpir?
É dar um destino nobre a quem veio para nos ser tão útil
desde o começo da nossa vida até o final dela. Esculpir é uma forma de não
deixar que fique no esquecimento.
4-Foste criado no campo, nos afazeres que te aproximaram das
construções práticas, da terra, dos animas.O que isso influenciou no teu fazer?
Tudo; o simples, o comum e irracional, o belo que isso
passou para mim.
5-Itelvino... a arte escolhe o artista ou...o artista
escolhe arte?
Os dois: são dois anjos de uma só asa que se complementam.
6-Quando a obra é de arte, fica difícil colocarmos um valor
em dinheiro, para levá-la para a sua função: estar para além do artista.Como
acontece isso contigo?
Quando executo uma obra, é parte de mim que se concretiza em
arte; não “cobro” a arte e sim a mão de obra.
7-Trabalhas com madeiras daqui, desta região.Qual a tua
proposta neste sentido?
Minha proposta é trabalhar com as madeiras do Rio Grande do
Sul ( frutíferas, ornamentais, exóticas ou de reflorestamento) desde que já
tenham cumprido sua parte, ou morrido por causas naturais e intempéries. Assim
posso mostrar ecologia e cultura onde nasci.
8-Teu trabalho toca, mexe e desacomoda, como toda a obra de
arte faz.Há um reconhecimento nesta exposição do movimento na madeira , da voz
no silêncio, do sonho no sono.O que tu achas que as pessoas vêem na tua obra?
Não gosto de colocar nome nas obras para que as pessoas
possam sentir plenamente o que veem: o irracional com o racional.
9-Dizes que não colocas nome na obra.O que isso quer dizer?
Não coloco nome nas minhas obras para que as pessoas possam
observar e ver com os próprios olhos e não com os meus, o que se lhes apresenta.
10-Há algum tempo tive o privilégio de encontrar com tuas
peças no saguão do aeroporto.De longe comentei: é o Itelvino! Nisso pergunto:
és tu na obra? Ali, tem exatamente o que do homem? Misturas?
Sim, é o Itelvino, o
homem de corpo e alma transposta na obra.
11-Contas com algum incentivo para logística e outros?
Não. O trabalho tem
tudo no que se refere às questões ambientais, mas ainda não consegui despertar
o interesse das pessoas para obter apoios e parcerias.
12-Estes dias falavas que teu ateliê é ao...ar livre! Também
sobre como concilias a família e teu fazer.Poderias dizer um pouco sobre teu
dia a dia, tua escolha diária por isto?
Dia-a-dia num convívio harmonioso, pois meu ofício faz parte
de mim, como minha família faz.
13-Poderias descrever um pouco o processo com a madeira, o
tempo que levas...tua experiência e as peças que mais te surpreenderam?Quais
teus instrumentos de trabalho?
O processo é muito lento, pois todas as madeiras apresentam
“problemas”, diferentes para serem trabalhados. A primeira etapa é de limpeza (
de terra, cascas, partes queimadas ou até apodrecidas, arames, pregos, pedaços
de ferro incrustados, e tantas outras coisas). Só depois começo a esculpir, o
que também é um processo muito lento, pois todas as ferramentas que utilizo são
manuais. Cada uma das peças tem seu próprio tempo, algumas delas ultrapassando
um ano até sua conclusão. A experiência é de muitos anos, pelo gosto por este
tipo de escultura orgânica. As ferramentas são simples, como formões,
machadinha, grosa, enxó e, para as partes maiores e pesadas, uso a motosserra.
O acabamento final fica por conta das lixas.
14-Quando tu adota a árvore...já pensas que ali tem uma
forma ou isso vai acontecendo?
Quando adoto uma árvore o processo vai acontecendo
naturalmente. Muitas dessas árvores, raízes e troncos,sóimagino mesmo o que
fazer quando está totalmente “limpa”. É aí que começa mesmo o olhar de
contemplação e descoberta de cada movimento.
15-Gostaria de dizer mais alguma coisa?
Gostaria muito de ter o mesmo respeito e reconhecimento que
é dado a outros escultores no Brasil a fora. Preciso de apoiadores,
patrocinadores, parceiros enfim, formas de ajuda para divulgar meu trabalho.
Sei da importância que ele tem no que se refere a questão ambiental, no
respeito à natureza. Gostaria de poder levar minhas obras a várias exposições
para as quais sou convidado, mas ainda não posso “me sustentar”.
Itelvino, a diferença naquilo que te recebe aqui, faz
lembrar o mesmo passo, a mesma estrada que desenha a arte como construção do
ser.
Ainda nas palavras, nossa morada, aquilo que faz esculpir na
morte este punhado de vida, de movimento que tece uma continuação no outro, que
fica diferente quando se deixa tocar pela tua obra; no desejo que se viva para além
de uma única estação, que se fale nas marcas, nas facas e formões que anunciam
o amor pela verdade que se impõe: somos o que fala por nós.
Sinta-se para sempre convidado em Indecentes Palavras,
marcando com tuas mãos a casa-morada de cada um que nasce outro, a cada vez.
Beijo com todas as letras
Adriana Bandeira
Itelvino Adolfo Jahn Filho
Itelvino é um escultor gaúcho, nascido em Montenegro, na
localidade de Campo do Meio. Exerceu diversos tipos de atividades mas, foi como
escultor que se descobriu capaz e realizado.
Executa suas obras a partir de “sobras” de madeiras descartadas
naturalmente ou que, de alguma forma foram retiradas por outras pessoas por
representarem risco físico. Optou por trabalhar com as madeiras aqui do sul e
mantém suas raízes morando e trabalhando na localidade onde nasceu. Trabalha
com madeiras de diversas espécies de plantas desde ornamentais , exóticas até frutíferas.
Dentre suas obras destacam-se: esculturas , esculturas
funcionais ( bases de mesa, mesas de centro, bancos, bancadas, mesas de apoio )
esferas, fruteiras, revisteiros....
Já realizou diversas exposições, individuais e coletivas:
·
Mostra na Copesul – Semana do Meio Ambiente
(2006);
·
Exposição no Espaço Cultural da Câmara de
Vereadores de Montenegro (2006);
·
Mostra na INOVA- Petrobrás (2006);
·
Mostra no Espaço Vida Unimed – Semana do Meio
Ambiente (2008);
·
Mostra no “Mês do Móvel e Design em Gramado”- RS
(2009);
·
Mostra “Casa Cor”- Porto Alegre – RS
(2010,2011);
·
Exposição no Aeroporto Internacional Salgado
Filho em Porto Alegre (2009, 2010, 2011);
·
Exposição em Cuiabá- Mato Grosso;
·
Exposição no Hotel Hilton em São Paulo;
·
Exposição no Hotel Sheraton- Porto Alegre- RS;
·
Participação na” Mostra Casa e Cia Litoral” –
Xangrilá –RS;
·
Exposição na Semana da Floresta – Gramado- RS(
2011);
·
Exposição “Arte Sem Fronteiras”-
Montenegro-Curitiba-2011;
·
Mostra virtual na Galeria Ana Pirollo-2011;
·
Exposição no Shopping Iguatemi Porto
Alegre-2011;
·
Exposição no Shopping Paineiras- Jundiaí – São
Paulo.
Realizou outras atividades relacionadas à sua arte como
·
Execução de um troféu Mérito Empresarial
Associação Comercial e Industrial de Montenegro, para homenagear empresários
locais 2009,2010;
·
Execução de troféu para homenagear o jogador
goleiro Rogério Ceni pelos” 1000 jogos como jogador do São Paulo”;
·
Execução de um troféu para homenagear o
empresário e presidente da FIERGS ,Sr. Heitor Müller.
Recebeu convites para participações em exposições fora do
país(China, Argentina) às quais não participou por falta de parceiros
apoiadores-2011, tendo recebido convite para mais duas para este
ano-2012(julho), na França e Inglaterra.
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