domingo, junho 02, 2013

Procuro teu verso na chuva , nas partes úmidas da terra, onde meu corpo nasceu.Não percebes que não tenho roupas sem o desejo teu?
Poemas de rua

A calçada desenhou uma palavra com giz.E foi onde aprendi a ir de mim, de ti...de tudo o que não desenha mais, como o outro lado da rua faz, antes de também seguir.
Dias de mulher
Ando no sempre da volta terrestre.Circulante, estreita, uma lágrima de tempo certo.Ando no sempre de uma descoberta, e se me quiseres...não espera: pega-me pela simples mão.
Aos poucos componho meu quarto, engano, meus livros e discos estranhos.Aos poucos construo minha casa, minha cama, minha parede de sorrir.Aos poucos volto do mundo como morri e sem esperar nada, sem que saibas, volto por ti.
Da série: Freud e eu
-Então combinei estas coisas comigo...Estes dias ...já faz tempo...conversava com um amigo poeta.Ele compartilhava o mesmo medo que eu.Ele dizia: Adriana...e se eu fico um velho solitário e cheio de manias! E se eu perco a crítica e nem tô mais nem aí? rsrsrs Mas...na época eu também comentei deste meu medo...
-Medo?
-É...de ficar com as manias ahahahah
-hum! Boas?
-como assim?
-Boas manias?
-Ah! Bem ...não sei.Este é o problema!
-Quais?
-hummm ...Dormir vendo tv, tomar café em silêncio,escrever, escrever, escrever...O que mais? Ficar de pijama, não supervisionar o serviço da empregada ahahah...
-Não! Quais os problemas?
-Ah! Bem...naquele dia pensei que tinha medo.Mas nem isso tenho mais!
-...
-Talvez uma saudade...estas de quando eu queria mais do que isso!
-Como assim?
-Quando eu queria mais do que a verdade...será que eu era mais feliz? Não sei.O que eu sei é que hoje não quero mais do que um dia de verdade, de gente de verdade e de palavras de verdade.E quando o dia termina, estou feliz!
-O que é mentira?
-Como assim?Acabei de dizer o contrário! Começa tu aí com isso! Tô falando sério! Não há mentiras!Chego em casa, feliz!
-Esta é uma.
-Como?
-Toda verdade surge daquilo que é seu não.Para que chegue no dia que desejas...ah! Quantas mentiras tens que inventar!
-Não.Acho que estás saindo do teu lugar de analista e fazendo algum juízo de mim.Oras Freud!Vem com esta para cima de mim?
-Analista? Lista de " as" ?
-Como?
-Lista de "as"...conceito lacaniano: a= objeto causa do desejo.Uma lista grande de causas, de coisas que fazem desejar viver, trabalhar e amar.Tuas causas!
-Acho que tu não és do tempo do Lacan...então não podes falar.Aliás:Tu já não morreu,hein?
-Repara que nem o que enxergas é da cor que realmente é.Repara que nem o que desejas, na continuidade das horas...é o que sentes.Repara também que...o que surge é o desejo.E o que surge ainda está por vir.A verdade...está...onde?
-Sem fim.
-humm...
-Mas gosto de arrumar minhas coisas, minhas músicas, meus pertences.
-Até o ...
- objeto a?
Ficamos hoje, certo?


Como pode
o traço
da mão
ser breve e
passageira estrada
para tua boca
teu corpo
tua palavra
como pode
o destino
recordar
do nada
o dia
a hora
a fala
em que o desejo
te desenhou
em mim
Pele

Na pele
da cor
das horas
esta fresta
estranha
da palavra
agora
pedindo
mais do que
o tempo pode
nunca dar
pedindo
para
ficar
Dias de sereia
E na pressa das pedras o pó construiu uma palavra e mais uma e mais.Fui invadida por estrelas nuas, letra por letra até aprender a nadar.
Poemas de rua
E se na rua a hora da febre me tomar, serei parte, estarei em casa, como o vento que passa, como uma forma de amar.
Dias de tristeza
Quero uma palavra que me dê o espaço, buraco da urgência do ir; quero uma voz que me chame no tempo em que aprendi a sorrir.
Poemas de frio

alcança
a pétala
da letra
para vestir
a flor
de inverno
que se
aquece
somente
da palavra
que vem
deste rio
Dias de solidão!

E nas vezes em que estas dores estranhas me acordam, quando sou pequena ainda, como agora, tenho medo do que não lembrar. Permito-me recolher somente os restos de antes , as palavras de antes , as flores que nunca murcham e a água que leva os barcos sem mar. Como parte infinita faço listas, poesias, para guardar como relíquias tudo...sem conseguir o tudo que nunca há.Lembra das corredeiras? Elas não param...quando estou assim! Ainda ontem...te ouvi e hoje há uma chuva sem fim lá fora.Ah! perdoa se a chuva, o mar, e as fomes turvam meus ouvidos neste embaraço de cores! Mas quando assim estou pequena e quieta...não consigo escutar nada que não me faça lembrar de quando aprendi a falar!