terça-feira, abril 26, 2011

Para conferir

Lançamento do livro do poeta Lau Siqueira
No café-http://www.brooklyncoffeeshop.com.br/site/?page_id=2 

Acessem o blog de Lau Siqueira: Pele-sem-pele
 e o blog: Poesia Sim.

Sem falas

O tempo rasgou minha parede, meu papel enfeite que me abrigava do frio.Cada vez sinto mais o vento gelado do início dos invernos.Ouço pouco e quase não falo porque minha voz é de outra época, é de outras pessoas e sou aqueles que já se foram.Estou fora de um si.Cuidado para não morrer assim,hein?


Firmino Caspel, 95 anos.
OBS: o marcador vozes serve às muitas possibiliddes de fala.

Ponto do que conto

São estas
coisinhas brilhantes
que me fazem
lembrar
como não
é possível juntar
partícula de pó,
sonho,
ser,
outra...
Há cada manhã?

sexta-feira, abril 22, 2011

Bicho esquisito

Nasceram-me uns
buracos
recortes intactos
ventre,olhos, voz.
Um bicho esquisito
gastou seu tempo
em mim
Sou o resto,
madeira esculpida,
puro cupim.

semente

Juntei as flores, num campo de estações.Mais algumas laranjas que nasceram semente e flor.Arrumei a mesa e costurei toalhas que se enfarinharam de pão.O que estranho é este tempo de nuvens, quando dizem que já nem passou.Nele não ouço o que dizes e me carrego... como quem nunca brotou.

Anel de brilhantes

Recebo o presente com gratidão.Esculpindo meu dedo, tua aragem fresca de verão.Seguro e finito o detalhe enfeitado que assegura-me quem sou: apenas uma das que poderias amar.Denuncias a busca  aflita com os olhos, o sexo,a voz. Este presente me liberta, me chama de tantas outras que, não estando tua, desejo ser.

quinta-feira, abril 21, 2011

Culpa da voz

Instaura o vazio
rasura
Eco da voz
censura
que me aponta
estanque, estática
Culpa estranha
do que
jamais fiz.

Para conferir, sarau literário Zona Sul, convite de Cristina Macedo

domingo, abril 17, 2011

Como dizer ?

Com que denúncia abres meu sexo, entrando na palavra da minha dor escrita?Com que direito não me enganas e nem promete casamento, nem reparos, nem unguentos...?Com que olhar me vês calada mudando o jeito de dizer desejo?Em que aventura me imaginas, em que roupas, em que dias num tempo em que não existe nada que não seja um pouco de... alegria?

carícias

Tua mão
meus cabelos
abriu-me o lábio
que por direito
não é meu
nem teu...
mas dos beijos.

O perigo

A verdade sobre nós é que não precisamos de muito.Apenas um lugar seguro para, depois de cem anos, ficarmos a sós.A verdade sobre nós é que, juntos, perderíamos todo este mundo que a espera nos dá.Nossa verdade é grande demais!O perigo é morrermos sem perder.Será?

verdade do sonho

Meu nome
é de todo
um espaço pequeno,
um branco.
Esquecimento,
resto enfadonho
em que inscreveu-se
uma
partícula de alguém
que nunca vai
lembrar porque.

A menina

Vez ou outra ela passa por mim, no tempo.Olhar quieto e tristonho.Vestido vermelho, sapatilhas nos pés e a pequena boneca que enrola num manto.Quando me alcança chega a sorrir, um pouco.Fica feliz por tê-la deixado viver, por encanto.

A ave de dentro

Minha ave de dentro criou asas absurdas, estranhas, que não param de crescer.Tudo antes estava certo num ciclo de vida mansa: comer, voar, viver.Esta outra, diferente, tomou-me emprestado de mim mesma sem saber.Jurei que aprenderia a voar mas não me acostumo a morrer.

Minha nudez

Sobre minha fala indecente, jamais vou dizer que  me pertence. São tuas as roupas esparramas no chão, se-mente.

sexta-feira, abril 08, 2011

Reparos

Quando reparei
me faltava
a espessa camada
que ficara
no ventre da mulher
do pai

Dia de chuva


O encanto das sombras cercou-me impunemente buscando a luz que nem habitava em mim.A luz é sempre da rua, das passagens obscuras, recantos de onde verte a palavra .Por hora ressentida e inquieta convivo com isso, este tecido escuro que me persegue.Por vezes some, adormece e é quando eu...planto terra,esparramo grãos.

Para o Escrito

Aceito tuas carícias deitando-me no chão, na cama, no céu.Recebo tua boca, teu sexo, tuas mãos.Em mim te moldo todo, criando espaços, buracos, onde nem existiam réstias.Serpente que me diz: quem eu era?Abro-me em espera que se esparrama por si.Vertentes que escrevem palavras na pele em flor, em mim.

Corpo diferente

Minhas mãos-pulmão, um médico não entenderia.Olhos fala, língua ouvida.De resto curar a cicatriz com nova ferida que não se desenha só.

Imagem

São tuas as canções de ferro-estrada?É tua a imagem alada de meu corpo quando acordas em mim.Criei asas nestes últimos dias, te visitando quando bem quero.Pensando bem...nunca mais ganhei o céu, preso no vértice-cordel de ter sido criado.

Poeira no fim

Nós
dias da casa
lençóis esculpindo
a voz amada
de longe
como suspiro de sim.
A sós
dias de rua
luas entranhas
iluminando
o desejo de ir.
E se a lua dispara
sua
a nossa canção?
Somos

de todos

poeira no fim
da enunciação.

quarta-feira, abril 06, 2011

O Inventário-II

 Estrada de ferro, olhos da construção II

As roupas lavadas com seus nomes diferentes.No rio em cestas pesadas, guardadas na grama do sol.Eram muitas na denúncia da voz.Com suas manchas de terra, de gozo de gente na solidão que rimava com o chamado do patrão.Lá na casa, a mesa dos filhos transformada em balcão.A comida em panelas sem fim, sem o gosto quente da falta de mais querer.Nas fornadas, os pães sem o tempero gostoso dos olhos de vida que a mãe, antes, tinha.Ao lado do forno, ao lado do rio, era a que nem gemia, nem falava, nem sabia que seu não engasgado retalhava sua falta de partida.Misturando palavra que vinha, farinha de osso, de sabão. Era outra, sem olhos mas com enormes mãos.
Na tarde de sempre o pai nem via.Atrás do balcão,de longe feito um quadro, moldura dos antepassados,bebia o que o corpo nunca mais plantaria.Eu mesma nem esperava a violação que me abriria em tantas.O homem de olhos esquisitos, de roupa lavada e estômago cheio calou-me o grito de medo.Pedinte, exigente de sua parte em mim.Segurou-me os braços, as pernas, a voz.Violou-me como se fosse dele o corpo que estava só.O pai tão longe, na sua sombra, cantava qualquer coisa num som embriagado de entrega, de aceitação.Achei que devia, ao homem, pelo caminho que vinha.Deixei que violasse minhas entranhas como contribuição estranha ao que jamais teria volta.A língua do sexo, a língua fendida, aberta em nova poesia.Seria da violência a falta, que faz nascer a ternura?Seria violenta a escrita da doçura que só, inventa o amor depois da estrada,do trem,depois da dor.

Estação dos Nascimentos

É a estação do tempo
que nos traz as folhas
pelas calçadas.
Ventres aquecidos
para nascer
na madrugada.

terça-feira, abril 05, 2011

O SEGREDO QUE PERPETUA A PALAVRA,É POSSÍVEL DIZER UM POEMA?- Um mergulho na letra de Cristina Macedo



 

 1-O que é escrever poesia?É possível traduzir um poema?

 O escrever poesia, para mim, é um impulso incontrolável. Este impulso     surgiu há pouco, questão de um ano atrás. Não sei te dizer bem porque, mas meus poemas, em sua grande maioria, falam de erotismo. Talvez porque, com o passar do tempo, cada vez se torna mais clara a importância do ser erótico, do expressar o desejo, do poder dizer tudo com todas as letras. O poema é traduzível, sim, embora seja, a meu ver, a tradução mais complexa que existe.

 2-Falando de tradução...Há sempre um mistério na palavra que
 circula entre o que eu desejava dizer e o dito;entre o que foi dito e
 o que foi ouvido.Numa tradução este segredo é colocado em questão,
 quero dizer, é tomado ao pé da letra, nas melhores formas, nas mais
 éticas de se fazer uma tradução.Poderia contar um pouco sobre tua
experiência?

 Experiência extremamente enriquecedora a da tradução de poesia. O tradutor tem que possuir muita
sensibilidade para tentar se aproximar ao máximo da intenção do texto de partida. Não se pode fugir
do significado nem do significante. O conteúdo e a forma devem ser preservados ao máximo.
O ritmo, a musicalidade e a respiração do poeta precisam ser passíveis de serem transportados para outra língua, a língua de chegada.

 3-Neste envolvimento com a letra do outro acabamos nos envolvendo
 com o outro. Aliás, somos estruturados enquanto...significantes.Pois
bem...Estes dias tu falavas nela ( eheheheh) naquela  com quem tu
 estivesse envolvida.Falavas na letra dela como se , de fato, a tivesse
 ouvido ao pé da palavra.Quem é ela?A autora dos textos que
 traduziste?

 Sylvia Plath, poeta norte-americana moderna, nascida em 1932, em Boston.
 Suicidou-se aos 30 anos, em Londres, quando já estava separada do poeta
 inglês Ted Hughes, e deixando um casal de filhos pequenos. Traduzi, juntamente com o poeta
paranaense Rodrigo Garcia Lopes, aquela que é considerada sua obra fundamental: "Ariel". Sylvia Plath é considerada uma das mais importantes poetas americanas contemporâneas: em 1982, recebeu,postumamente, o prêmio Pulitzer na categoria Poesia, com o livro "The Collected Poems".

 4-Deste envolvimento com a letra do outro nunca saímos impunes.
 Não dá.O que a letra desta autora fez diferença na tua vida?

 A poesia da Sylvia me tocou profundamente. Fiquei extremamente envolvida com o sofrimento dessa mulher sensível, sofrida e talentosa. E foi um exemplo para mim sua força de poder escrever, num momento especialmente doloroso de sua vida, seus melhores poemas, os do livro "Ariel": Sylvia escrevia de madrugada, quando os filhos estavam dormindo. Os 40 poemas que compõem o livro, produziu em poucos meses, sendo que 25 deles, somente em outubro de 1962, poucos meses antes de se suicidar.
E, muito importante, a técnica, o ritmo, a escolha das palavras, tudo para ela foi sempre
fundamental: os sentimentos estavam à mercê da técnica.

 5-Também comentavas sobre o “ garimpo” pelos poemas da verdade,
 que seriam de fato da autora.Ocorre que ela, a verdade, sempre
 irrompe, num momento ou noutro.Esta tua busca fez-me pensar sobre o
 que fica, o que um estilo pode fazer surgir no outro como denúncia,
 como ética, como voz.O que achas deste poder da palavra?

 Pois é, o que comentava contigo é que a 1ª versão de "Ariel" foi feita sob a orientação de Ted
Hughes, que publicou o livro na Inglaterra, em 1965, e nos Estados Unidos, um ano depois. Foi um sucesso! O que não se sabia, e que veio à tona em 2004, graças à filha dos poetas, Frieda Hughes, é que a versão de Ted para "Ariel" não era a versão que a própria Sylvia queria, e que tinha deixado pronta antes de se matar. Ted retirou 13 poemas do projeto de Sylvia, e colocou outros 13, a seu bel-prazer. Felizmente isto foi esclarecido, e publicou-se, então, "Ariel, edição restaurada" com o prefácio da filha, dando estas explicações. Este foi o "Ariel" que Rodrigo e eu traduzimos, ou seja, o "Ariel" que a Sylvia pensou.

 6-Acredito que  a poesia, a música...sejam as falas que pertencem
 as pessoas, na sua diversidade.Mesmo o poema popularmente visto como
 “ incompreensível” não tem como ser recebido assim, visto que
 ali onde não compreende faz valer uma certa...condição.Falo da
 condição do questionamento que um poema, um texto traz, quando não
 se trata de entretenimento.Bem...o que achas desta qualidade
 subversiva da escrita?

 Acho que esta condição de ser subversiva é que faz a diferença, é o que nos faz questionar,
aprofundar inquirições. Sempre prefiro o "incompreensível" nas artes em geral.

 7-Seguindo neste tom é fato que da sexualidade nunca se falou
 tanto!Focault na “ história da sexualidade, porém, já aponta a
 forma interessante com que se FALA dela: num tom confessional (
 ehehehehheeh). Concordo.Ele vai mais longe dizendo que se fala para
 não exercer uma sexualidade.Já Freud...bem, Freud nas entrelinhas
 acaba dizendo que a sexualidade não é passível de recalcamento.Ela
 vem!Fala em sublimação não como sexualidade recalcada e sim como
 pulsões encaminhadas, talvez ( digo talvez porque adoro repensar
 Freud e, quem sabe, construir sempre uma nova forma de escutar).Pois
 bem...o que a sexualidade tem em sintonia com a escrita?

 A sexualidade, ou o impulso sexual, o erotismo, o desejo, a paixão, são a própria literatura. Não consigo escrever sem estes impulsos. Minha criação traz, nos contos, o impulso de matar ou morrer; nos poemas, a sexualidade à flor da pele. Mas creio que tu poderias analisar muito melhor do que eu estes impulsos.

 8-No teu blog encontramos pérolas , como uma que acabei roubando
 para o Indecentes Palavras ( eheheheheh). Nele encontro sintonia com
 algumas falas do feminino, de autores mulheres e me pergunto se
 nós...as “ elas” estamos mais falantes sobre nossos
 sonhos.Explico: geralmente é atribuído à mulher um papel de
 queixosa.Por certo talvez tenhamos encarnado o papel de quem fala das
 necessidades.Porém, neste momento,  escuto uma coisa
 diferenciada.Não se trata mais de necessidades mas de...sonhos.Falar
 dos sonhos num domínio público, como um blog.O que achas?

 Acho que é válido, mas sonhos submetidos a técnicas, a se expressar em boa literatura, para que não sejam apenas "diários". Coloco, em meu blog,
muito da voz feminina em suas mais diversas acepções, assim como a voz masculina também, mas sempre privilegiando o talento no manejar a palavra.

 9-Sim!Pois que as mulheres sempre falaram mais, apontaram mais as
 coisas mas numa perspectiva de conjunto, de família, de todos.O que
 é individualizar-se?

 Creio que seja a expressão da mulher enquanto mulher indivíduo, com seus conflitos internos, com sua maneira de ver e pensar o mundo, com seus prazeres e dores, enfim, a mulher enquanto um ser por inteiro, posicionada e dona de si. Aquela mulher que pode ficar sozinha consigo mesma e sentir-se preenchida, acolhida por si.

 10-E a Cristina é...mãe!( eheheheheh).Acho que aí as coisas
 flutuam e nem são barcos(eheheheheh).O que é isso, Cris?

 Ser mãe? É maravilhoso demais! É a completude do ser, é a preservação da vida, um continuar que te renova e te dá forças. Faltaria muito em minha vida, se eu não tivesse sido mãe. Adoro meus filhos, adoro ser mãe, adoro a renovação que os filhos constantemente trazem.

 11-No livro A Arca Profana tens contos que nos capturam pela
 delícia mas, principalmente, pelo inusitado.Na maioria,histórias de
mulheres que poderiam ser qualquer uma de nós.Tu falas de impulsos,
 desde matar uma garotinha que tosse até dominar o homem e
 matá-lo.Porém, sei pelas falas de um bom café( eheheheh) que
 também escreves poesias ( inclusive  a Estação da Cultura desta
 terrinha foi presenteada com uma poesia sobre carnaval).Mas, nas más
 línguas deste mesmo café falavas da crueza da poesia, ou melhor,de
 certa forma, da riqueza dela.Pois bem...dos contos à poesia.Então?

 Os contos fazem parte de minha vida, há muito tempo. E, estranhamente, sempre tendem ao inusitado,realmente. As personagens, quase sempre são mulheres com um sentimento de desconforto, deinadequação ao mundo que as cerca. É como se a mulher, em meus contos, não tivesse outra saída, que não matar ou morrer. (Não acredito nisto na vida real, hahaha). E a poesia! Estou apaixonada por ela, por escrever poemas de amor, de amor erótico, de amor romântico, de amor, enfim. Há um ano só escrevo poemas. Espero que, um dia, rendam um livro.

 12-E os homens Cristina?Achei engraçado que eu saindo de uma
 separação, tu relembrando a tua e me perguntas, Por que ficamos mais
 tempo quando nem dá mais?...É, né?Tu também é assim? Acho que
 sim! ( eheheheheheheheheh).Pois é Cristina, no teu ponto de vista
 como está o amor, no sentido das relações entre os pares?

 Difícil!!! Amo amar, estar apaixonada. No entanto, conversávamos sobre o tempo que se demora para
sairmos de uma relação, quando ela deixa de te oferecer crescimento, amor, quando a rotina te torna menos viva, muito acomodada. Claro que não é fácil. O fim de um relacionamento  causa muita dor,sempre é uma perda. Mas, acho que temos que buscar o mais satisfatório, não desistir do sonho jamais. (Como vês, sou "um pouquinho" romântica...).

 13-Poderia nos falar um pouco da tua experiência como professora?

 Pois é, dou aulas de inglês há séculos. Gosto de trabalhar individualmente com os alunos, ou em grupos bem pequenos, para que o trabalho tenha mais qualidade.

 14-Cristina...qual a diferença entre mestre e professor?Qual a
 diferença entre estes lugares subjetivos de passar um conhecimento
 enquanto busca ou de apenas passar um conhecimento?

 Que pergunta difícil, Adriana! Mas, acho que minha opção por ser professora, passa por uma
necessidade de troca com o ser humano, especialmente por meu trabalho ser bem personalizado, isto é,chego muito perto de meu aluno. Além de transmitir a ele meu conhecimento da língua inglesa, transmito experiências de vida e recebo isso em troca.

 15-Poderias nos contar uma experiência, em segredo ( eheheheh),
 inusitada, engraçada, na tua vida de escritora, esposa, mãe,
 namorada?

 O que pensei, neste momento, foi minha hesitação em mostrar a meus filhos, principalmente ao filho
homem, minha produção erótica. Já falei meus poemas em vários saraus, inclusive nos meus (SARAU
LITERÁRIO ZONA SUL), e eles estavam assistindo. Para minha filha, já tinha lido em casa.
Meu filho ouviu os poemas sendo ditos em público. Mas pensei: afinal de contas, todos somos seres eróticos, ou não? Acho até que foi muito positivo eles vivenciarem este lado da mãe deles. E gostaram muito!

 16-Quais os trabalhos que podes destacar como os que são do
 coração?

 Meus? Todos! Contos na coletânea "Pontos de Partilha", contos de "Arca de Impurezas" e "Arca
Profana", que mencionaste, e os poemas que tenho criado. Todos são meus filhos muito queridos também.

 17-Amigos...Cristina, o que são amigos?

 Com o passar do tempo, percebemos o papel fundamental que os amigos têm em nossa vida. Precisamos deles para vivermos melhor, para compartilharmos experiências, para chorarmos e rirmos juntos. Quero ser tua amiga, viu?

 18-Soubemos que recebeste um prêmio em reconhecimento ao teu
 trabalho. Podes nos contar um pouco sobre isso?

 Foi maravilhoso! Recebi, com várias outras mulheres, o diploma de "Mulheres de Destaque 2011",oferecido pela Sociedade Partenon Literário. A ideia partiu do escritor Benedito Saldanha, grande incentivador da cultura aqui em Porto Alegre. O evento aconteceu na Câmara de Vereadores e me senti muito prestigiada, motivada a continuar com meu trabalho em prol da cultura.Preciso emoldurar o diploma, para lembrar sempre deste estímulo.

19-Estes dias falávamos sobre o mar.Também dizíamos desta
 necessidade de estar escrevendo.Tu anunciavas: vou para a praia e lá
 desligo.Então?

 O mar...coisa maravilhosa, não? Me sinto melhor perto do mar! Mergulho naquelas águas e me sinto muito viva. É um momento, para mim, de muita reflexão sobre o que fiz e estou fazendo de minha vida.Desligo dos compromissos e me ligo em projetos e na criação literária. Várias vezes, durante o ano,tenho necessidade de sentir o mar.

 20-Gostaria de deixar aqui no Indecentes Palavras algo “ a
 mais”?

 Quem sabe um poema?

 SEXO

 Desejo
 assim benfazejo
 que bem faz o amor
 sem decifrar o código
 Desejo
 que injeta a seiva
 na veia úmida
 na boca do gozo
 Desejo
 que revela minha fome
 no ósculo
 e, tosco, desvela o promíscuo.

 E, Adriana, te agradecer por esta entrevista e por tua inteligência.
 Grande beijo,
 Cris

 Nunca saímos impunes de um mergulho. Sempre somos outros na
 descoberta do que nos habita.A tradução em pouso, a denúncia
 escrita de que ainda há voz quando se tem um estilo faz da tua obra
 outra, a ser descoberta pelo leitor.Traduzir-se na crueza da rua, na
 velha casa que sempre perpetua, no final, o que há de verdade.É
 nisso que penso quando te ouço falar do teu trabalho, dos teus poemas
 e dos teus contos.Porém, quando leio penso...sabe- se lá..., senão
 que o registro de uma fala é só o que vale a pena.Sinto-me
 agradecida e honrada em compartilhar contido Indecentes Palavras.
 Esteja, sempre!

 Beijo com todas as letras.

 Adriana Bandeira


Cristina Macedo: cris-cristinamacedo.blogspot.com

domingo, abril 03, 2011

Reconstrução

Faz tempo que não te escrevo.Precisava te reconstruir.Mas...com que verdade me tomaste assim?

tráfico

Sonego o valor primeiro, minha temperança, meus seios... pelo que não hei de pagar.Jamais caberia na receita o remédio, paixão,doença que me faz respirar.Talvez a melhor verdade ainda esteja na delícia, lida em segredo, do que nunca quis escrever.Faço tráfico de letra sem medo de morrer.Não há vida sem o roubo deste tempo, é matar para nascer.

Há mais

Tenho pouca memória
sendo sem lugar
nada que não
seja minha lembrança
teu olhar.
Não possuo frase
que venha como
do tempo,de repente
de anos atrás.

esta vontade solta
de uma voz,de uma vez
ser-me outra
que um dia fui
em ti
Amais?

sábado, abril 02, 2011

Sobre as idéias de Márcio

Sim Márcio.Tenho pensado que leitor e " escrevedor" são lugares subjetivos diferenciados.Contudo, talvez o lugar de leitor seja o mais próximo da representação primeira.Quando escrevemos apenas registramos  um texto inscrito com nossa própria voz.Quando escrevemos...transcrevemos uma leitura que já nem é a mesma mas é uma leitura.O sujeito leitor é o outro da escrita.Pois bem...um colega, Fernando Hartmann fala disso muito bem na sua tese de doutorado.O que tenho pensado diz respeito a esta relação do ser com seu texto.Isso desenha o humano.Carmen, no comentário ao texto de Lau também colocou sobre as várias outras formas de escrita: as artes.Seguimos?

Márcio Almeida Nicolau na discussão sobre leitura e escrita : Lau,adriana,Márcio...

Autor e leitor são papéis que se confundem. Leio em parte o que está no papel e uma outra parte sou eu mesmo. Quando escrevo, me reparto e é como um parto mesmo. Mas o texto parido é um sujeito, um ser que por mais que eu denomine e adjetive, assume novos predicados, conjugando outras ações. 

A arte literária não imita vida literalmente.

“Em essência a atividade criadora repete, inconscientemente, a incessante recriação do milagre da vida no organismo; (...) Ela não repete ou copia a natureza; mas obedece às mesmas leis que esta: transpõe-nas para o plano da criação consciente, isto é, humana.” (PEDROSA, Mário, 1947) 

Este é meu acréscimo a discussão.
Marcio Almeida Nicolau
http://intertexual.blogspot.comq acompanhem o blog de Márcio